JORNALISMO POLICIAL: AS DIFICULDADES DE INFORMAR DURANTE O PROCESSO DE PACIFICAÇÃO DO COMPLEXO DO ALEMÃO SAMANTHA MILLAN
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- Cláudio Farias Sacramento
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1 I JORNALISMO POLICIAL: AS DIFICULDADES DE INFORMAR DURANTE O PROCESSO DE PACIFICAÇÃO DO COMPLEXO DO ALEMÃO SAMANTHA MILLAN RESUMO O assunto central do trabalho são as dificuldades apresentadas diante do trabalho do jornalista em guerras urbanas, localizadas em sua grande maioria em favelas. O trabalho apresenta um pouco sobre a criação e a história do jornalismo policial, explica ao leitor o que são guerras urbanas, contextualiza o leitor em uma dessas guerras em especial e informa as dificuldades do jornalista de informar a sociedade o acontecido em lugares que oferecem grande risco de vida. O trabalho também questiona se realmente é parte do trabalho do jornalista subir ao morro para contar uma história, mesmo que por vezes esse jornalista possa perder a vida. PALAVRAS-CHAVE: Jornalista; favelas; jornalismo policial; dificuldades; sociedade; guerras urbanas; complexo do alemão 1) INTRODUÇÃO O tema do artigo é a dificuldade de se fazer jornalismo durante operações em morros da cidade do Rio de Janeiro, dando ênfase a grande operação de pacificação no Complexo do Alemão. A escolha do tema foi feita em razão dos recentes acontecimentos em novembro de 2010 durante seu processo de pacificação. A operação contou com centenas de policiais, incluindo as forças armadas. Mais de duzentos jornalistas estavam envolvidos na cobertura da ocupação do Complexo Alemão. Com o seguinte acontecimento, põe-se novamente na pauta do dia uma discussão presente há pelo menos duas décadas no jornalismo praticado nas grandes metrópoles, de como deve ser a postura do jornalista durante uma cobertura de operações policiais. Tiros, morte e riscos estão presentes no desafio diário do repórter policial, porém é papel do jornalista subir o morro e por sua vida em risco para contar melhor uma história?
2 II O objetivo do artigo é apontar os desafios de um jornalista durante uma operação policial para analisar se realmente é necessário o profissional passar por situações de risco para informar a sociedade do acontecido. 2) JORNALISMO POLICIAL De acordo com uma matéria publicada em 2003, pelo jornalista Sérgio Dávila, repórter da Folha, jornalismo é a atividade do profissional responsável por procurar informações e divulgá-las segundo o interesse público, relacionando os fatos e suas conseqüências. O jornalismo está seguimentado em editorias como esportiva, cultural, policial, entre outras. É denominado jornalismo policial a especialização do repórter nos fatos criminais, judiciais, de segurança pública e em investigações policiais. Segundo o artigo Jornalismo Investigativo e Policial: os bastidores da produção jornalística de assassinatos em série e crimes que abalaram a sociedade, as primeiras coberturas desta editoria surgiram no século XIX, nos jornais sensacionalistas da Inglaterra e dos Estados Unidos. Porém, desde a metade dos anos 90, a cobertura de crimes tem ganhado espaço nos veículos de informação de todo o mundo. Isso se deve ao aumento da violência, globalização do crime e a sofisticação do modo de atuação dos criminosos atualmente. O jornalista Eduardo Fuccia acredita que o principal motivo para as matérias de caráter policial terem ganhado espaço na mídia seja o interesse público. Claro que existem mais razões pra o crescente aumento da cobertura policial e todas elas somadas geram o principal motivo para os meios de comunicação se dedicarem cada vez mais espaço ao noticiário criminal: o interesse pelo assunto por grande parte da audiência (FUCCIA, 2008, p15). Sendo considerado de grande interesse público, Fuccia defende a especialização do repórter que atua nesse segmento. Pela crescente difusão de notícias policiais e pelo interesse que elas despertam, a reportagem policial requer especialização (FUCCIA, 2008, p27). É exigido um bom senso durante o compromisso social da reportagem policial, pois é necessário conquistar o respeito e a confiança das fontes, recebendo assim informações privilegiadas. Conhecido por ser um setor de alto risco para os profissionais, exatamente pelo fato do jornalista ter que lidar com crime e criminosos, o profissional dessa área
3 III tem que estar preparado para lidar com represarias e ameaças de bandidos e até mesmo de policiais corruptos, que muita das vezes não quer que a verdade factual chegue até a sociedade. 3) GUERRA URBANA E O PROCESSO DE PACIFICAÇÃO DO COMPLEXO DO ALEMÃO O aumento alarmante da criminalidade nos dias atuais nas grandes metrópoles é o resultado do descaso e a pouca falta de interesse por parte das autoridades em combater o crime organizado. Combater essa situação atual, para muito significa começar uma guerra urbana, já que os criminosos atuais estão com grande armamento bélico. Grande parte dessas armas são escondidas em lugares de difícil acesso, as favelas. Atualmente no Rio de Janeiro, existem 481 favelas e 144 complexos espalhados pela cidade. Um desses complexos em especial, o Complexo do Alemão, localiza-se na zona norte da cidade e possui treze favelas. Era considerado por muitos, uma das áreas mais violentas e o ponto mais estratégico do narcoterrorismo no Rio, até a chegada da pacificação. Diante de tamanha criminalidade, os governantes precisavam tomar alguma atitude para limpar a cidade e prepará-la para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, ambas sediadas no Rio. A criação da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) foi exatamente para esse propósito. O projeto pretende instituir polícias comunitárias em favelas, com a intenção de desarticular quadrilhas que antes controlavam estes territórios. No fim de 2008 foi implantada a primeira UPP na favela Santa Marta. Desde então, não parou mais. Atualmente são dezoito UPPs instaladas na cidade do Rio de Janeiro. O plano era pacificar o Complexo do Alemão posteriormente, porém graças a uma série de atos violentos ao redor da cidade em novembro de 2010 que causaram mais de 180 veículos queimados, 39 mortes e mais de 70 prisões, foi preciso pedir apoio logístico da Marinha do Brasil, Exército Brasileiro e da Força Aérea Brasileira para combater o tráfico e os criminosos nas favelas. No dia 25 de novembro, aconteceu a maior ofensiva da Polícia Militar do Rio de Janeiro, com seu Batalhão de Operações Especiais (Bope) atuando ao lado da Polícia Civil do Rio de Janeiro, liderada pela Coordenadoria de Recursos
4 IV Especiais (Core) e em parceira com o Corpo de Fuzileiros Navais. Toda essa operação em conjunto resultou na tomada do território da Vila Cruzeiro, região que estava sob poder dos narcotraficantes do Comando Vermelho. Durante a ocupação, os criminosos da região conseguiram escapar para o Complexo do Alemão, ocupado por uma quadrilha da mesma facção criminosa. Em 27 de novembro, os policiais entraram no conjunto de favelas e assumiram o controle da comunidade em menos de duas horas, prendendo trinta criminosos e apreendendo dezenas de armas e dez toneladas de drogas. A operação começou às oito horas da manhã e às 13h22min as bandeiras do Brasil e do Rio de Janeiro foram hasteadas no alto do teleférico do morro do Alemão, representando o Estado se fazendo presente na comunidade. Para o autor do artigo científico O Medo Nos Une, a implantação da UPP mostra que as políticas adotadas partem de um princípio repressor, que não tem como função proteger o cidadão, e sim manter uma ordem social desigual (JUNIOR, 2010, p1). Todo o ocorrido tem sido chamado de Guerra do Rio de Janeiro e especialistas consideram que esta e uma das maiores operações policiais já realizadas nas favelas da cidade. Atualmente a aérea permanece ocupada pelas Forças Armadas até ser implantada no local uma Unidade de Polícia Pacificadora, a fim de pacificar totalmente e eliminar o tráfico na região. 4) DIFICULDADES DO JORNALISMO DURANTE A PACIFICAÇÃO Durante toda a operação no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro, mais de duzentos jornalistas e fotógrafos foram até o local apurar a ocupação e fazer parte desse momento histórico em meio a tiros, riscos e desafios, para poder expor a sociedade o acontecido. Porém, para fazer parte de uma operação de risco como essa, é preciso mais do que experiência, é preciso conhecimento, treinamento e equipamentos necessários que garantem a segurança do jornalista. Todas as equipes de reportagem que participaram da cobertura utilizaram, além dos microfones e câmeras, coletes a prova de balas; uma cena pouco comum para os brasileiros, acostumados a ver imagens como essas apenas em conflitos fora do país. É necessário também o apoio do veículo de comunicação para garantir a integridade física do repórter e assim o sucesso da reportagem.
5 V A cobertura jornalística envolveu centenas de profissionais, horas ininterruptas de transmissão e entradas ao vivo por insistência, além de uma madrugada inteira de espera pela ocupação. Imagens mostrando a fuga em massa de bandidos da Vila Cruzeiro para o Complexo do Alemão em diferentes ângulos causaram espanto a quem assistiu e, rendeu as emissoras do Rio de Janeiro, altos índices de audiência durante sua programação. Essas mesmas imagens chocantes acabaram sendo comentadas posteriormente através da rede social Twitter pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope) como um desserviço prestado pelas aeronaves das emissoras brasileiras. Muitas vezes a imprensa acaba invadindo espaços que não a pertencem, dificultando assim o trabalho dos policiais envolvidos. O reconhecimento do papel político do jornalismo, porém, obviamente não lhe confere o direito de substituir outras instituições. Apesar disso, é notório que a imprensa vem procurando exercer funções que ultrapassam de longe o seu dever fundamental, assumindo frequentemente, tarefas que caberiam à polícia ou à justiça (MORETZSOHN, 2003). O compromisso do jornalista sempre foi com a verdade factual, porém a cobertura da imprensa durante a operação distorceu um problema social grave e complexo a uma simples guerra do bem contra o mal (JUNIOR, 2010). A imprensa acabou adotando uma postura de franca propaganda ao projeto das UPPS, como se as mesmas fossem uma forma mágica de acabar com toda a criminalidade presente no Rio de Janeiro e fazer com que essa solução de problemas seja vista pela imprensa internacional. Graças a todo o destaque, comprometimento, profissionalismo e riscos que essa cobertura jornalística gerou, o telejornal da emissora Rede Globo concorreu e ganhou um dos prêmios mais importantes da televisão mundial na categoria notícia, o International Emmy Awards Porém, mais que um prêmio ou grande audiência, o comprometimento com a sociedade deve ser mantido como uma dos principais obrigações do jornalista, pois o cidadão precisa saber o que está acontecendo no alto da favela e para conta essa história é preciso chegar até lá.
6 VI 5) CONCLUSÃO A criminalidade vem aumentando cada vez mais nas grandes metrópoles brasileiras e são várias razões para a mesma acontecer, fome, desigualdade, exclusão social e descaso por parte das autoridades são algumas delas. Graças a todas essas razões citadas acima, os criminosos aproveitaram a chance para aumentar seu poder bélico e sofisticar seu modo de atuação, fazendo com que o trabalho da polícia, despreparada, torne-se cada vez mais difícil. Com a criminalidade em alta, a cobertura de crimes tem ganhado espaço nos veículos de informação de todo o mundo devido ao grande interesse público com o assunto. Diante disso, tornou-se cada vez necessária a presença do profissional preparado para lidar com esse tipo de cobertura, o jornalista policial. Devido a uma série de atos violentos ao redor do Rio de Janeiro, tornou-se essencial fazer uma grande operação policial no Complexo do Alemão, localizado na zona norte da cidade. Mais de duzentos jornalistas participaram da ocupação a Vila Cruzeiro e ao Complexo do Alemão em novembro de 2010 com a intenção de informar a sociedade dos conflitos que ali estavam acontecendo, mesmo sendo essa operação de risco. Concluí-se então que se o jornalista não subir ao morro para contar o que aconteceu, ninguém mais contará, ou então as autoridades farão o serviço, entretanto as mesmas talvez não contem à sociedade o que realmente aconteceu, a verdade. Acredita-se que o profissional tenha que acompanhar sim as operações policiais desde que o jornalista nunca queira ocupar o lugar do policial ou ir despreparado para uma cobertura como essa, que requer equipamentos de segurança e treinamento. Foi relatado também que melhor que um prêmio internacional ou uma grande audiência pela reportagem, o fundamental é o compromisso do jornalista de informar a sociedade dos fatos ocorridos. Sendo assim, qual é o papel social do jornalista durante guerras urbanas?
7 VII REFERÊNCIAS FUCCIA, Eduardo Velozo. Reportagem Policial: Um Jornalismo Peculiar. Santos: Realejo, 2008 JÚNIOR, José Coutinho. O medo nos une. Jornal Laboratório do Curso de Comunicação PUC-SP. São Paulo, dezembro MEDEIROS, Clarissa Pippi; ALVES, Gilson; MENEZES, Matheus Riué Boia. Jornalismo Investigativo e Policial: os bastidores da produção jornalística de assassinatos em série e crimes que abalaram a sociedade. Revista Finagrama: Revista Científica Interdisciplinar da Graduação. São Paulo: ano III. Fev Nº2, p MORETZOHN, Sylvia. O caso Tom Lopes: o mito da mídia cidadã. Biblioteca on-line de ciências da comunicação. Rio de Janeiro, PAIVA, Cláudio Cardoso de. De olho nos traficantes, malandros e celebridades: um estudo de mídia e violência urbana. Biblioteca on-line de ciências da comunicação LEITÃO, Míriam. Dessa vez pode ser diferente: a cidade está ligada ao alemão. O Globo. Rio de Janeiro, 27 nov Disponível em < Acesso em 01 out BOPE DIZ QUE COBERTURA TELEVISIVA DA RECORD E DA GLOBO SÓ SERVEM PARA ATRAPALHAR. 26 nov Disponível em < Acesso em 01 out
8 VIII OBJETIVO DO JORNALISTA É DIVULGAR O QUE É DE INTERESSE PÚBLICO. 15 set Disponível em < Acesso em 02 out. 2011
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