Anais XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 13 a 18 de abril de 2013, INPE

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1 Mapeamento das Áreas de Reflorestamento no bioma Cerrado, com base em imagens LANDSAT 5 - TM: um estudo de caso para a Fronteira Agrícola no Oeste da Bahia, Brasil Cassiomar Rodrigues Lopes¹ Manuel Eduardo Ferreira² Alessandro Abreu Lemos² Lauro Joaquim Tiago² ¹ Universidade Federal de Goiás - UFG/EA Programa de Pós Graduação em Agronegócios - PPAGRO Caixa Postal Goiânia - GO, Brasil cassiomar.lopes@ifg.edu.br ² Universidade Federal de Goiás - UFG/IESA Lab. de Processamento de Imagens e Geoprocessamento - LAPIG Caixa Postal Goiânia - GO, Brasil manuel@iesa.ufg.br; alessandro_abreu5@hotmail.com; latiago-@hotmail.com Abstract According to the 2006 agricultural census data, conducted by the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE, 2006), there are in the Cerrado biome significant reforestation areas, especially in the Western region of Bahia state. In this context, and focusing in the historical dynamic reforestation process in Cerrado region, this research aimed to map and analyze the eucalyptus crop areas located at the municipalities of Jaborandi, Cocos and Correntina (Bahia), which represent one of the last agricultural frontiers in Brazil. For performing this analysis, we employed Landsat 5 TM imagery, covering the scenes 229/069, 229/070, 220/069 and 220/070, through the years 1990, 2000 and 2010, and visual technics of image interpretation to identify areas of existing reforestation. In a preliminary assessment, it was observed a large concentration of reforestation areas in 1990, with 1,009 km², followed by km² in 2000, and km² in One of the factors that had influenced this plantation are decline was the forest-based products devaluation due to the global economic crisis, discouraging the farmers for such cultivation. Other more detailed studies are yet necessary, aiming to compare other eucalypt crop areas in Cerrado, as well as to understand and support new scenarios (actual and future) of possible reforestation areas in this biome. Key-words: Cerrado biome, Bahia, reforestation areas, eucalyptus, remote sensing, Landsat. 1. Introdução O bioma Cerrado, com uma área core presente em 10 estados brasileiros (incluindo o Distrito Federal), é uma das savanas mais ricas do mundo em termos de biodiversidade, com inúmeras espécies da fauna e flora endêmicas, além de ser reconhecido como o berço das águas, por abrigar nascentes de três importantes bacias hidrográficas da América do Sul (Araguaia-Tocantins, São Francisco e Bacia do Prata). Apesar dessa condição privilegiada, o Cerrado também está na lista dos ecossistemas ameaçados de extinção, conforme mapeamento recente por meio de imagens de satélite, o qual indica uma taxa de conversão antrópica na ordem de 40% sobre a área original (Sano et al., 2008), com atividades de agricultura intensiva e pastagem cultivada. Este bioma torna-se, assim, uma região ideal para a intensificação da tecnologia na agricultura, seja por meio da mecanização ou na utilização de agroquímicos/defensivos. Esse processo acabou por favorecer a entrada de novos cultivos, como, por exemplo, a silvicultura de eucalipto em sua área nativa, estimulada pela grande demanda de mercado das indústrias moveleiras, siderúrgicas, carvão vegetal e celulose. Conforme dados da Associação Brasileira 2843

2 Técnica de Celulose e Papel (ABTCP, 2011), os produtos florestais geraram US$ 99 milhões na balança comercial do primeiro semestre de 2011, respondendo por 11,5% do faturamento do Agronegócio brasileiro. Acompanhando esta tendência, a base florestal brasileira, hoje estimada em 2,2 milhões de hectares de florestas plantadas, deve aumentar em até 45% em uma década, e atingir 3,2 milhões de hectares até Diante do exposto, este artigo busca identificar, com base na interpretação visual de imagens de satélite (Landsat 5 TM), as áreas produtoras de eucalipto na região Oeste da Bahia, mais precisamente nos municípios de Cocos, Jaborandi e Correntina, regiões já conhecidas pela expansão do agronegócio no Bioma Cerrado. Os anos selecionados nesta análise, importantes na expansão da fronteira agrícola nesta região, foram 1990, 2000 e Os resultados deste estudo irão subsidiar outros estudos sobre a dinâmica de cultivo do eucalipto nesta região e em outras partes do bioma Cerrado, favorecendo ainda a geração de cenários futuros sobre a expansão espacial e econômica deste cultivo, em consonância com a conservação do Cerrado. 2. Materiais e Métodos 2.1. Área de Estudo A área de estudo compreende o limite do Bioma Cerrado, na região Oeste do Estado da Bahia, conforme pode ser observado na figura 1, mais precisamente nos municípios de Jaborandi, Cocos e Correntina. Estes municípios foram selecionados para o estudo por serem destaque no cultivo de eucalipto, conforme o censo agropecuário do IBGE (IBGE, 2006), onde a soma da produção representava um valor superior a 40% da área total plantada no Bioma Cerrado no ano pesquisado (ABRAF, 2007). Figura 1. Área de estudo no Oeste da Bahia, nos municípios de Correntina, Jaborandi e Cocos. 2844

3 2.2. Base de dados e Procedimentos de análise A base de dados utilizada para mapear as áreas de reflorestamento de eucalipto consistiu em imagens orbitais do satélite Landsat 5 TM, para os anos 1990, 2000 e 2010, cenas 229/069, 229/70, 220/069 e 220/070. As cenas foram adquiridas no Catálogo de Imagens do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), e corrigidas geometricamente com base nos mosaicos ortorretificados de imagens Landsat - TM do projeto GeoCover (NASA/USGS). Todas as imagens analisadas são referentes ao mês de agosto, para evitar cobertura de nuvens. Após o registro, cada imagem foi submetida a uma interpretação visual, objetivando a identificação das áreas com plantios de eucalipto. Com auxílio no mapa de uso da terra para o Cerrado (e no respectivo relatório), realizado pelo PROBIO/MMA (ano-base 2002), as novas feições de reflorestamento foram identificadas nas imagens, com posterior vetorização e edição em um Sistema de Informações Geográficas. A figura 2 ilustra esta fase. Outros dados secundários também foram empregados neste estudo, como os limites municipais e estaduais, dos biomas, bem como a localização de sedes municipais / outras localidades, providos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Figura 2. Imagens de satélite Landsat 5 - TM, composição RGB 453, ilustrando as áreas com reflorestamento no município de Cocos (BA), com a respectiva interpretação visual e vetorização para três períodos: 1990 (a), 2000 (b) e 2010 (c). 3. Resultados e Discussão A respeito da silvicultura (cultivo de florestas) no Brasil e, em especial no bioma Cerrado, observa-se uma expansão do setor, antes restrito a certas localidades nas regiões Sul e Sudeste, para novas áreas em todo o território nacional, com o objetivo de abastecer a demanda de mercado interno e externo de produtos de base florestal. Dados censitários do IBGE (2006) já apontavam a importância do Oeste da Bahia para a expansão dos reflorestamentos, região esta que concentra a maior parte deste cultivo no Cerrado (quase a metade). Neste conjunto se destaca Cocos, com uma área de cultivo de ha, seguida por Jaborandi, com ha e, por fim, Correntina, com ha (dados IBGE, 2006). Nossos resultados confirmam esta forte participação do Oeste da Bahia nas estatísticas de produção do eucalipto. Conforme a interpretação das imagens de satélite, ilustradas nas figuras 3 (1990), 4 (2000) e 5 (2010), o ano de 1990 se caracterizou por ter a maior área destinada a este cultivo, totalizando 1.009,31 Km², com predominância do cultivo no município de Jaborandi, e menor incidência em Correntina. Considerando a área territorial dos municípios da análise, a participação em percentual com áreas de reflorestamento é próxima de 5%. Entre 1990 e 2000 houve uma queda da área de reflorestamento (Figura 4), passando este de 1.009,31 Km² (Figura 3) para 902,2 Km², ou seja, uma queda percentual de 10,6% neste período. Mas a maior queda das áreas cultivadas com eucalipto foi no ano de 2010, com uma redução de aproximadamente 80% se comparada com os anos de 1990 e 2010, 2845

4 totalizando 180,76 Km². Os gráficos representados pela figura 6 ilustram esta dinâmica nas áreas cultivadas, inclusive em relação à área territorial dos municípios estudados. Com relação à área de plantio em potencial, ilustrada nas figuras 3, 4 e 5, estas dizem respeito aos talhões ainda bem definidos e atualmente sem plantios, indicando que o local já fora cultivado com eucalipto. Tais áreas podem apresentar mudas destas plantas (cujo tempo médio para o crescimento e corte é de 7 anos), porém não detectadas com as imagens orbitais em questão. Outra situação a ser considerada é a de que tais áreas podem voltar a ser empregadas para o reflorestamento. Esta análise das áreas em potencial foi realizada com base na imagem Landsat 1990 (mês de agosto), totalizando uma área de 1.786,75 Km². No entanto, e conforme ilustrado na figura 1, muitas áreas de reflorestamento foram convertidas para outros cultivos, como soja, milho e algodão, causando uma queda na produção de eucalipto; um dos motivos desta redução pode ser explicado pela desvalorização destes produtos madeireiros no período entre 2000 e 2010, em consequência de algumas crises econômicas mundiais. Para se ter uma ideia, os valores praticados com os produtos florestais chegaram, em 2009, a R$ 350,00 o metro cúbico (preço da madeira serrada). Após a crise mundial de 2010, o valor do metro cúbico chegou a R$ 1.100,00 no final de 2011 (CIF, 2012). Figura 3. Áreas utilizadas para o reflorestamento nos municípios de Correntina, Jaborandi e Cocos (Oeste da Bahia) no ano de 1990, sobrepostas com o limite das áreas de plantio em potencial. 2846

5 Figura 4. Áreas utilizadas para o reflorestamento nos municípios de Correntina, Jaborandi e Cocos (Oeste da Bahia) no ano de 2000, sobrepostas com o limite das áreas de plantio em potencial. Figura 5. Áreas utilizadas para o reflorestamento nos municípios de Correntina, Jaborandi e Cocos (Oeste da Bahia) no ano de 2010, sobrepostas com o limite das áreas de plantio em potencial. 2847

6 km ² Área de Reflorestamento % de Participação Participação da Área de Reflorestamento x Área total dos Municipios em % 4,00 3,00 2,00 1,00 0 0, Figura 6. (Gráfico esquerdo) Evolução das áreas de reflorestamento com eucalipto na área de estudo. (Gráfico direito) Participação das áreas de reflorestamento Vs. área total dos municípios, em %. 4. Conclusões Neste artigo, buscou-se mapear as áreas de reflorestamento nos municípios de Jaborandi, Cocos e Correntina, os quais foram destaque de produção no censo agropecuário 2006, realizado pelo IBGE. Para tanto, foram analisadas imagens de satélite do sensor Landsat 5 TM, nos anos de 1990, 2000 e Dentre os principais resultados, foi identificada uma forte presença na área de reflorestamento nesta região, embora esteja esta atividade cedendo espaço para outras commodities agrícolas, como a soja e o algodão. Assim, enquanto em 1990 a área com eucalipto na referida área de estudo era de Km², em 2010 este valor caiu para 180 Km². Um dos fatores que influenciaram esta queda em área plantada na região foi a desvalorização dos produtos de base florestal, devido a crise econômica mundial, desmotivando o produtor rural para tal cultivo. É provável que este cenário não se altere enquanto a economia mundial continuar em crise, embora o valor negociado para a madeira de reflorestamento (m 3 ) tenha aumentado consideravelmente em 2011, quase 3 vezes em relação a Por fim, ressaltamos a necessidade de novas pesquisas, incluindo análises comparativas com outras regiões do Cerrado, para melhor compreender a dinâmica temporal desta atividade agrícola, bem como para descobrir as culturas para as quais o reflorestamento perdeu área nos últimos anos. Estes dados servirão de base para novas análises, dentre estas a geração de cenários, indicando as possíveis novas áreas de reflorestamento no bioma Cerrado. Agradecimentos Agradecemos ao Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento, da Universidade Federal de Goiás (LAPIG/UFG), pelo apoio na obtenção e processamento dos dados. À CAPES, pelo financiamento do projeto, através da concessão de bolsa de estudos ao primeiro autor. Referências Bibliográficas ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PRODUTORES DE FLORESTAS PLANTADAS (ABRAF). Anuário estatístico da ABRAF 2007, ano base Brasília, DF: ABRAF,

7 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA TÉCNICA DE CELULOSE E PAPEL ABTCP Panorama do Setor. Disponível em: < Acessado em: 30 nov., CIF. Centro de Investigações Florestais. Disponível em: < Acessado em 17 de Nov IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Bando de dados SIDRA, Censo Agropecuário Disponível em: < Acessado em 20 de Jun Sano, E. E.: Rosa, R. ; Brito, J. L.; Ferreira Júnior, L. G. Mapeamento semidetalhado (escala 1: ) da cobertura vegetal antrópica do bioma Cerrado. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 43, n.1, p ,