ATIVIDADES LÚDICAS NO ENSINO DE QUÍMICA NÍVEL MÉDIO INTEGRADO A FORMAÇÃO PROFISSIONAL

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1 ATIVIDADES LÚDICAS NO ENSINO DE QUÍMICA NÍVEL MÉDIO INTEGRADO A FORMAÇÃO PROFISSIONAL Yasmin Monique Alves Silva¹, Bruno Nogueira de Sousa², Sandra Cristina Marquez³, Cinthia Maria Felício 4 1,2 3 4 Alunos do curso de Licenciatura em Química do Instituto Federal de Ciências e Tecnologia Goiano;yasminmonike05@hotmail.combrunonogueira1997@hotmail.com; Professora Pesquisadora do Curso de Licenciatura em Química do Instituto Federal de Ciências e Tecnologia Goiano; sandra.marquez@ifgoiano.edu.br., Professora Pesquisadora do Curso de Licenciatura em Química do Instituto Federal de Ciências e Tecnologia Goiano; cinthia.felicio@ifgoiano.edu.br Eixo 01: Ensino e aprendizagem de ciências. Resumo: Este trabalho apresenta a visão de alunos da 1ª série do ensino médio técnico integrado em agropecuária e alimentos a respeito do uso de jogos e aulas práticas em aulas de química e a influência que estes tem no processo de ensino e aprendizagem. A análise foi feita, após a aplicação do lúdico por meio de uma pesquisa qualitativa com os alunos e observação direta por parte dos bolsistas do PIBID,que avaliaram a interação dos alunos com o lúdico. A aplicação de recursos lúdicos auxilia o aprendizado,conforme relatou a maioria dos estudantes que participaram das atividades. As observações das aulas durante as atividades lúdicas aplicadas em diferentes turmas apresentou diferentes reações com ampla participação dos estudantes, o que sugere a importância de um olhar atento do professor para o reconhecimento das especificidades de cada turma ao elaborar uma proposta de atividade lúdica.cabe ressaltar que uma minoria (3%) se declarou indiferente ao uso das atividades lúdicas,assim o professor necessitaria buscar formas alternativas para tentar envolve-los nas atividades ou propor outros tipos de atividades. Os resultados com a participação de bolsistas ID, sugerem que estas abordagens podem ser utilizadas como uma boa estratégia de ensino de conceitos, pois aumenta o interesse dos alunos pelos temas a serem estudados.e favorece reflexões e vivências do lúdico desde a formação inicial de professores,o que pode propiciar o desenvolvimento de uma cultura lúdica na educação pela química. Palavras-Chave: Jogos; Percepções sobre o lúdico; Motivação; Ensino de química. Introdução O estudo da química por estudantes do ensino médio, é dificultado por diversos fatores: pela complexidade do conhecimento químico, pelas abordagens tradicionais centradas na transmissão de conteúdo ou pela forma fragmentada e descontextualizada que são apresentados. Destaca-se ainda a excessiva ênfase na memorização de fórmulas, equações e cálculos matemáticos, que muitas vezes não parecem fazer sentido para os alunos, causando muitos bloqueios e desinteresse, construindo a visão de que a Química é uma ciência desvinculada do mundo, e seu ensino inútil para suas vidas (CHASSOT, 2004). Essa ênfase predominante no ensino tradicional tem influenciado negativamente a visão que os alunos trazem desta ciência e dificulta na aprendizagem Página 303

2 dos alunos, que não conseguem compreender a relação entre o que é estudado na sala de aula e sua vida cotidiana (OLIVEIRA,2004). Nesta perspectiva podemos perceber que o uso de atividades lúdicas pode auxiliar no processo de ensino-aprendizagem, propiciando melhorias nas relações professor/aluno e aluno /aluno, o que propicia mais interação e engajamento ao estudo, propiciando desenvolvimento da criatividade e imaginação, melhorias cognitivas e até afetivas (SOARES,2008). Além disso, o jogo pode favorecer o desenvolvimento do raciocínio investigativo, instigando os alunos na elaboração de hipóteses, como uma estratégia para solução de problemas que podem surgir, a partir de uma atividade lúdica, como um jogo. Soares (2004) apresenta propostas e procura fazer associações entre as características do jogo e as teorias de aprendizagem, indicando desta forma possíveis razões para explicarmos como o uso de recursos lúdicos poderia promover a construção e ampliação de conhecimentos. Outro aspecto em relação a adoção de atividades lúdicas refere-se ao desenvolvimento do senso crítico do aluno, pela liberdade e voluntariedade que este tipo de atividade pode favorecer, a partir da intencionalidade lúdica do professor/mediador da atividade (FELICIO,2011). Neste sentido, o professor pode construir parcerias com seus alunos e elaborar atividades que atendam a seus anseios e necessidades. Um aspecto importante e que requer atenção do professor diz respeito à construção das regras: devem ser objetivas e aceitas por consenso, se possível construídas com os alunos, mas nunca devem ser impostas, pois então se perderia o caráter lúdico e grande parte de seu potencial pedagógico. Outro aspecto também importante, segundo Huizinga (2005) o jogo tem um fim em si mesmo, portanto o ganho de medalhas ou recompensas tira o caráter de gratuidade que toda atividade lúdica precisaria ter e com isto pode diminuir o seu potencial pedagógico. Para ser utilizado estrategicamente, seja para ensinar ou para avaliar o aprendizado, o jogo precisa ser conhecido em seus fundamentos e desenvolvido pelo professor que conhece os princípios do lúdico e se esforça por mediar e equilibrar as funções lúdicas com os objetivos educacionais, ao que Brougère(1998) denomina de paradoxo do jogo. Neste sentido Kishimoto (1994), sugere que para se alcançar o desenvolvimento cognitivo e o prazer que as atividades lúdicas propiciam, é necessário conciliar de forma equilibrada, duas funções: a lúdica referente ao entretenimento e a Página 304

3 educativa relacionada à assimilação do conteúdo. E essas duas funções devem estar equilibradas, porque se a função lúdica predominar sobre a educativa, não passará de diversão, um mero passatempo e entretenimento e se a função educativa for a dominante será apenas mais um material didático. A função lúdica pode envolver tanto aulas práticas, como atividades e jogos dos mais diversos tipos, conforme a cultura e interesses da turma em que se deseja trabalhar tais atividades. O importante é que os envolvidos na proposta possam auxiliar o aluno a ter um esforço espontâneo e motivação necessários ao estudo e consequentemente melhorias no aprendizado (TEIXEIRA,1995). O reconhecimento deste tipo de atividade em sua função didática permite a partir da elaboração das regras, relacionar atividades dessa natureza, ao ensino de conceitos, proposta pelo professor com o intuito de mediar estratégias que assegurem a construção do conhecimento e envolvimento voluntário dos alunos (NUNES,2004). Dentro de uma proposta de desenvolvimento de atividades lúdicas para o estudo de conceitos em química básica, o professor precisa considerar algumas questões: conhecer as concepções e disposições dos estudantes quanto ao uso de atividades lúdicas, identificar a cultura lúdica da turma e sua predisposição em participar da atividade proposta(voluntariedade). Essas questões são fundamentais para o início de qualquer proposta que busque a aprendizagem pelo conhecimento da natureza lúdica inerente a todo ser humano e presente as mais diversas culturas (HUIZINGA, 2005; BROUGÈRE, 1998). O planejamento de toda atividade com fins de ensino é importante para que os objetivos educacionais sejam atingidos. Cunha (2012) considera que antes de levar qualquer proposta lúdica para a sala de aula, o professor deveria: observar o que precisa ser adaptado ou mudado na atividade para se atingir objetivos educacionais em cada uma das suas turmas, conhecer características da turma a ser aplicada, analisar as dificuldades, características e conceitos que poderão ser abordados. Durante a aplicação na sala de aula o professor deve exercer bem a função de mediador, condutor e orientador da atividade, esclarecendo e buscando consensos entre os participantes e as regras do jogo. O desenvolvimento de uma cultura lúdica pode ser um importante instrumento didático, por oferecer aos alunos uma possibilidade para a elaboração do conhecimento, respeitando as diversas singularidades, que se forem exploradas de maneira adequada e Página 305

4 intencional, pode favorecer a socialização, desenvolvimento cognitivo e social, que pode facilitar a aprendizagem (MALDANER, 2003). Neste sentido este trabalho aborda a visão dos alunos, por meio de aplicação de jogos e atividades lúdicas a fim de verificar se as alternativas favorecem o processo de ensino-aprendizagem dos alunos do ensino técnico em alimentos e agropecuária integrados ao ensino médio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano (IF Goiano) situado em Morrinhos - GO. Metodologia O trabalho apresentado foi realizado em duas turmas do 1ª ano integrado ao ensino técnico em agropecuária e alimentos, envolvendo um total de 35 alunos do Instituto Federal de Ciências e Tecnologia Goiano, e dois bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID). Para a coleta de dados foi acompanhado a aplicação de um jogo denominado Dominó realizado por dois bolsistas do projeto sob supervisão da professora da sala. O jogo foi aplicado em uma turma organizada em sete grupos de cinco alunos que deveriam ligar ânions e cátions formando o maior número de fórmulas e nomes de compostos iônicos possíveis. No decorrer das aulas, o conteúdo aplicado após ligações químicas, foi proposta uma atividade denominada de geometria com a utilização de um programa de computador GaussView 5.0 para projetar as geometrias em 3D, Após a projeção das estruturas usando o Datashow, foram elaboradas algumas estruturas respeitando a geometria molecular. Para tal foram utilizadas bolinhas de massa de modelar como átomos e palitos de dente para representar as ligações químicas entre os átomos que compunham as moléculas estudadas. Após a aplicação do jogo e da atividade, foi realizada uma investigação com o objetivo de analisar qualitativamente como o uso do lúdico contribuiria com o aprendizado, segundo a percepção dos estudantes. Resultados e Discussões Página 306

5 Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) o ensino de química deve fornecer ao aluno a capacidade de ser um cidadão ético que saiba o que é, e como funcionam o mundo ao seu redor, ter em mente os principais conhecimentos químicos em uma visão macroscópica e microscópica, para que possa levar a interferir no que prejudica o meio ambiente (BRASIL,1999 ). O professor deve buscar recursos para facilitar o processo de ensinoaprendizagem de química para torná-lo mais agradável e dinâmico. Deste modo, o educador necessita assumir seu papel efetivo de modificador social, capaz de propor mudanças que despertem no aluno o desejo de aprender e buscar conhecimentos novos, além de dar-lhe condições de adquiri-lo de forma agradável e prazerosa, explorando situações condizentes com a realidade do cotidiano (SZUNDY 2005). Cabe então ao professor aplicar novos recursos que permitam o aluno melhorias no aprendizado, uma opção seria utilização de atividades lúdicas. O ensino lúdico pode proporcionar aulas atraentes, motivadoras e envolventes no sentido de mobilizar as ações e esforços dos estudantes, ocasionando aulas mais produtivas, permitindo com que haja a integração do aluno com a disciplina. Nesse sentido, observou-se o comportamento e interesse dos alunos durante as atividades propostas pelos bolsistas e as conclusões sobre tais observações foram organizadas no quadro a seguir: Turma de Agropecuária Turma de Alimentos Mais ativa, compreendem rapidamente o Mais acomodada, parecem compreender o conteúdo e discutem entre si a matéria. conteúdo mais lentamente, e não discutem entre si a matéria. Tiravam dúvidas abertamente com o professor. Tiravam dúvidas em menor frequência. Durante a aplicação do e Durante a aplicação do Químico da de geometria maior participação, curiosidade tiveram menor empenho, comparado ao e atividade, comparado a participação nas aulas interesse apresentado nas aulas expositivas. expositivas. Após a aplicação das atividades, não tiraram Após a aplicação das atividades a turma dúvidas a respeito da matéria. mostrou-se bem ativa querendo questionar e solucionar dúvidas referentes ao conteúdo. Quadro 1: Algumas características observadas em cada turma, conforme visão dos Bolsistas ID Foi realizada uma pesquisa com os alunos se a utilização de jogos, e atividades lúdicas melhoraram sua compreensão. As respostas dos alunos quanto ao lúdico em sala de aula foram positivas pois 90% deles afirmaram compreender melhor o assunto, pois quando se apresenta uma visão macroscópica do conteúdo, as aulas tornam-se bem mais interessantes, produtivas, menos cansativas e focadas no conhecimento. Página 307

6 O uso de jogos em sala de aula pode trazer benefícios tais como, melhorias nos processos cognitivos, desenvolvimento da afetividade, da socialização, da motivação e da criatividade (MIRANDA,2001). Os restantes dos alunos que (3%) se posicionaram indiferentes quanto ao desenvolvimento das atividades na turma, talvez pela forma como o jogo foi desenvolvido e não atender suas expectativas, ou mesmo por sua cultura que pode ter sido adultificada (CHATEAU, 1987) e apresentarem uma visão negativa deste tipo de atividade na escola. Porém as atividades aqui analisadas não são suficientes para se chegar a uma conclusão sobre este aspecto e novas investigações seriam necessárias para se chegar a resultados mais significativos. Considerações finais Os jogos e atividades lúdicas são importantes para o aprendizado dos alunos, notou-se durante a aplicação das atividades que cada aluno tem o seu modo de aprendizagem, devendo ser respeitado o tempo e limite de cada um. A utilização de atividades lúdicas no ensino de química básica pode ser um bom recurso para professores utilizarem nas aulas, desde que mantenham o equilíbrio entre as funções lúdicas e as didáticas. As atividades lúdicas podem motivar os alunos e auxiliar no desenvolvimento da atenção. Nas atividades observadas e desenvolvidas pelos bolsistas do PIBID, foi um sucesso pois notou-se que os alunos de ambas as turmas aprenderam e aplicaram o conteúdo de forma diferente, mais motivada, com exceções de alguns que não se sentiram à vontade durante a aplicação do jogo, e por consequência não leva ao prazer do aluno, logo desmotivava-se. O professor precisa conhecer e explorar as situações de aprendizagem possíveis para que enquanto os alunos se divertem eles também aprendam. Em síntese, o uso de recursos lúdicos se mostrou uma excelente alternativa para a ensino de química como elemento facilitador no processo de ensino-aprendizado. Referências BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais (Ensino Médio). Parte III - Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília: Ministério da Educação MEC, Secretaria de Educação Média e Tecnológica Semtec, Disponível em: < Acesso em: dezembro BROUGÈRE, Gilles. A criança e a cultura lúdica. Rev. Fac. Educ., vol.24, n b. CHASSOT,A.I.;Para que(m) é útil o ensino? 2ª ed. Canoas: Ed. Ulbra, CHATEAU, J.; O jogo e a criança. São Paulo: Summus, CUNHA, M. B.;Jogos no Ensino de Química: Considerações Teóricas para sua Utilização em Sala de Aula.Química Nova.Vol. 34, n 2, maio Página 308

7 FELICIO, M. C.; Do compromisso á responsabilidade lúdica: o ludismo em ensino de química na formação básica e profissionalizante. Tese de Doutorado. Universidade Federal de Goiás, HUIZINGA, Johan. Homo Ludens Perspectiva, O jogo como elemento da cultura. São Paulo: KISHIMOTO, T. M. O Jogo e a Educação Infantil. São Paulo: Pioneira, MALDANER, O. A. A formação inicial e continuada de professores de química: professores pesquisadores. 2 ed., Ijuí, UNIJUÍ, MIRANDA, S. No Fascínio do jogo, a alegria de aprender. In: Ciência Hoje, v.28, 2001 NUNES, A. R. S. Carolina de Abreu. O Lúdico na Aquisição da Segunda Língua. (2004) Disponível on-line em: ttp:// Acesso em:27/02/2017 OLIVEIRA, V.B. de. ;Jogos de regras e resoluções de problemas. Editora: Vozes, 2ª edição SOARES, M.H.F.B.; Jogos para o ensino de química: teoria, métodos e aplicações. GUARAPARI- ES: EX LIBRIS, SZUNDY, P. T. C. A construção do conhecimento do jogo e sobre o jogo: ensino e aprendizado de le e formação reflexiva. Tese de doutorado em linguística aplicada a estudos de linguagem, PUC-São Paulo, TEIXEIRA, C.E. J. A ludicidade na escola. São Paulo: Loyola, Página 309