A ARTE NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
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- Aníbal Lisboa Veiga
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1 A ARTE NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Amanda Cristiane Facio 1 - UELPR Aquilane Beserra Marcelino 2 - UELPR Eixo Educação de Jovens e Adultos e Profissionalizante Agência Financiadora: CAPES Resumo O presente trabalho visa contemplar uma reflexão acerca da Arte e suas diferentes linguagens artísticas, nas práticas pedagógicas de ensino e aprendizagem na Educação de Jovens e Adultos. Como justificativa coloca-se a necessidade da pesquisa ampliar a formulação teórica sobre o tema, visto que as experiências em sala de aula, por meio do PIBID (Programa Institucional de Bolsa de iniciação à Docência), demonstraram a ausência das práticas educativas relacionadas à Arte, e suas manifestações artísticas, na educação de jovens e adultos, e quando estas são realizadas ocorrem de forma mecânica e superficial. Em termos metodológicos optamos por uma pesquisa bibliográfica pautada nas obras de Paulo Freire, dentre outros autores que deram embasamento para pesquisa, além da análise das disposições da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9394/96, no que tange a modalidade de Educação de Jovens e Adultos e as Diretrizes Curriculares da mesma. A pesquisa permitiu concluir que embora o ensino de Arte muitas vezes ocorra de maneira mecanizada e descontextualizada, demonstrando o despreparo dos educadores, esta se revela como um instrumento capaz de intervir, recriar e transformar a realidade que estão inseridos, despertando a consciência crítica dos educandos, ao mesmo tempo em que respeita a singularidade e especificidade da Educação de Jovens e Adultos. Constatamos então a necessidade de investimento na formação dos educadores que ensinam nesta modalidade, tanto no que tange a compreensão da Educação de Jovens e Adultos e a especificidade de seus educandos, quanto às práticas de ensino de Arte, sendo imprescindível fomentar as discussões teóricas na área. Palavras-chave: Educação de jovens e adultos. Linguagens artísticas. Ensino e Aprendizagem. 1 Graduanda em Pedagogia na Universidade Estadual de Londrina UEL, integrante do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência. amandafaccio03@gmail.com 2 Graduanda em Pedagogia na Universidade Estadual de Londrina UEL, integrante do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência. aquilanemarcelino@gmail.com ISSN
2 19952 Introdução Este trabalho apresenta um estudo sobre a arte e suas diferentes linguagens artísticas, nas práticas pedagógicas de ensino e aprendizagem na Educação de Jovens e Adultos, a fim de fomentar a reflexão sobre a relevância da arte na formação desses educandos. Como justificativa coloca-se a necessidade da pesquisa ampliar a formulação teórica sobre o tema, visto que as experiências em sala de alfabetização e anos iniciais, por meio do PIBID (Programa Institucional de Bolsa de iniciação à Docência), demonstraram a ausência das práticas educativas relacionadas à Arte, e suas manifestações artísticas, na Educação de Jovens e Adultos, e quando estas são realizadas ocorrem de forma mecânica e superficial. Como metodologia, nos apropriamos em uma pesquisa bibliográfica, pautada nas obras de Paulo Freire (1981, 1986, 1987 e 1996), assim como, analisamos as disposições da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9394/96, no que tange a modalidade de Educação de Jovens e Adultos e as Diretrizes Curriculares da mesma. Em termos de estruturação, em nossa pesquisa inicialmente nos preocupamos em caracterizar a modalidade de ensino da Educação de Jovens e Adultos, identificando as especificidades desses educandos, em seguida abordamos a compreensão de Arte no currículo da Educação de Jovens e Adultos. A pesquisa nos permitiu a problematização de como vem sendo efetuado o ensino de Arte nas instituições educativas da EJA, possibilitando assim, uma reflexão acerca da educação bancária e da infantilização de sua prática. Especificidades da Educação de Jovens e Adultos A modalidade de ensino de Educação de Jovens e Adultos (EJA) se destina aos jovens e adultos que não tiveram a oportunidade de iniciar ou concluir os ensinos Fundamental ou Médio na idade adequada, seja pela ausência de tempo, ou por necessidades consideradas mais relevantes, gerando seu fracasso e evasão escolar. Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/ 96) em seu artigo 37º parágrafo 1º: Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames (BRASIL, 1996).
3 19953 A Educação de Jovens e adultos deve ser entendida como um direito individual e de classe, com qualidade social, indo contra toda forma de exclusão/discriminação, promovendo uma educação voltada ao conhecimento e a integração na diversidade cultural. Conforme o Parecer 11/2000 no Brasil: (...) país que ainda se ressente de uma formação escravocrata e hierárquica, a EJA foi vista como uma compensação e não como um direito. Esta tradição foi alterada em nossos códigos legais, na medida em que a EJA, tornando-se direito, desloca a ideia de compensação substituindo-a pelas de reparação e equidade. Mas ainda resta muito caminho pela frente a fim de que a EJA se efetive como uma educação permanente a serviço do pleno desenvolvimento do educando (BRASIL, 2000 p. 66). Desta forma, Paulo Freire (1981 p. 74) alerta que o ato educativo: (...) visto de um ponto de vista libertador, é um ato de conhecimento, um ato criador, em que os alfabetizandos exercem o papel de sujeitos cognoscentes, tanto quanto os educadores. Obviamente, então, os alfabetizandos não são vistos como vasilhas vazias, meros recipientes das palavras do educador. O conhecimento precisa ter um olhar para a compreensão das práticas individuais e da própria sociedade que está inserido. Na proporção que ocorrer esse reconhecimento, realiza-se o encontro entre aqueles que são oprimidos, não ficando mais como minorias divididas entre si, na qual passa a existir também. A partir de então, começam a se reconhecer enquanto pessoa, na qual estavam em desigualdade de sua existência, e se percebem como seres humanos de uma mesma caminhada. De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação de Jovens e Adultos: É característica dessa Modalidade de Ensino a diversidade do perfil dos educandos, com relação à idade, ao nível de escolarização em que se encontram, à situação socioeconômica e cultural, às ocupações e a motivação pela qual procuram a escola (BRASIL, 2006). O adulto que ingressa na modalidade de Educação de Jovens e Adultos possui sua concepção própria de mundo, traz consigo suas experiências vividas, junto com seus valores éticos e morais e princípios constituídos ao longo de sua vida. São na maioria homens e mulheres trabalhadores, que chegam à escola após uma longa jornada de trabalho, muitas vezes exploradorados e sem muitas oportunidades para que possa se desenvolver, com ritmos de aprendizagem e estruturas de pensamento completamente variados. Daí a importância que Freire (1987, p. 17) atribui a uma Pedagogia que faça da opressão e de suas causas objeto da reflexão dos oprimidos, de que resultará o seu engajamento
4 19954 necessário na luta por sua libertação, em que esta pedagogia se fará e refará. Para o autor, somente na medida em que se descubram hospedeiros do opressor poderão contribuir para o partejamento de sua pedagogia libertadora. É por meio da tomada de consciência da real condição material de exploração à qual os sujeitos humanos trabalhadores estão submetidos, que se dará a transformação da realidade. Paulo Freire (1986 p. 38) ressalta ainda que os que estão abertos à transformação sentem um apelo utópico, mas também sentem medo. São afastados da convicção de que a educação deveria libertar. Eles voltam a estudar com objetivos que para eles parecem pequenos, se mostram resistentes à nova concepção de escola que os coloca como sujeitos do processo educativo, que espera deles práticas ativas de aprendizagem, mas na medida em que vão se conscientizando surgem novos objetivos e sonhos maiores. Assim, a EJA, dispõe de homens e mulheres distintos, sendo necessário que seus educadores estejam preparados para lidar com as diferentes dificuldades e experiências trazidas por esses educandos, aproveitando esse conhecimento para sala de aula e além dela, promovendo a capacidade de aprender, não apenas para se adaptar, mas, sobretudo para transformar a realidade, para nela intervir, recriando-a. Deste modo, a EJA: Tem como finalidades e objetivos o compromisso com a formação humana e com o acesso à cultura geral, de modo que os educandos aprimorem sua consciência crítica, e adotem atitudes éticas e compromisso político, para o desenvolvimento da sua autonomia, visando superar defasagens de escolarização e acesso ao conhecimento escolar (BRASIL, 2006). As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação de Jovens e Adultos (Parecer CNE/CEB 11/2000 e Resolução CNE/CEB 1/2000) ressaltam que essa modalidade requer um modelo pedagógico próprio, que considere as necessidades de seus alunos e seja incentivadora das potencialidades dos que as procuram, estabelecendo que: Como modalidade destas etapas da Educação Básica, a identidade própria da Educação de Jovens e Adultos considerará as situações, os perfis dos estudantes, as faixas etárias e se pautará pelos princípios de equidade, diferença e proporcionalidade na apropriação e contextualização das diretrizes curriculares nacionais [...] (BRASIL, 2000). Ainda, as diretrizes identificam como eixos articuladores do currículo da Educação de Jovens e Adultos: cultura, trabalho e tempo. Historicamente, a cultura curricular tem privilegiado uma forma mecânica e instrumental de organização dos saberes. Nesse contexto, a Arte mesmo sendo um dos eixos norteadores da cultura que se trabalha em sala de aula, vem
5 19955 sendo explorada e trabalhada de uma forma infantil e mecanizada junto aos educandos da instituição, sendo necessária uma reflexão acerca da sua utilização no ensino. Entrelaçando a Arte à Educação de Jovens e Adultos Pensar a formação desses educandos, em sua dimensão global, implica reconhecer a Arte como um conhecimento capaz de possibilitar a valorização das suas singularidades, especificidades e experiências de vida. A compreensão da Arte como um instrumento de produção de significações, que permite o reconhecimento e exploração das diferentes linguagens, como artes visuais, dança, teatro, música, grafite, entre outras, é necessária para que se possa intervir, recriar e transformar a realidade. Segundo Freire (1996, p. 24): Estar no mundo sem fazer história, sem por ela ser feito, sem fazer cultura, sem tratar sua própria presença no mundo, sem sonhar, sem cantar, sem musicar, sem pintar, sem cuidar da terra, das águas, sem usar as mãos, sem esculpir, sem filosofar, sem pontos de vista sobre o mundo, sem fazer ciência, ou teologia, sem assombro em face do mistério, sem aprender, sem ensinar, sem idéias de formação, sem politizar não é possível. Freire (1987), ainda nos alerta para o que denomina de educação bancária, em que o conhecimento é depositado de forma autoritária sobre os educandos, promovendo apenas uma memorização mecânica dos conteúdos, tornando-os receptores passivos. Segundo o autor nesta concepção não há criatividade, não há transformação, não há saber. Só existe saber na invenção, na reinvenção, na busca inquieta, impaciente, permanente, que os homens fazem no mundo, com o mundo e com os outros. Alvares (2006) afirma que os educandos da EJA são detentores de uma visão de mundo bastante peculiar, pois são sujeitos protagonistas de histórias reais e ricos em experiências de vida (...) com crenças e valores já constituídos. Desde modo, se mostram resistentes às práticas educativas que o submetam à ações criativas, atuando de forma ativa em todo processo, pois trazem as representações do modelo tradicional de escola, compatível à educação bancária que vivenciaram em seu passado. As Diretrizes Curriculares Nacionais enfatizam que a preposição de conteúdos para essa modalidade de ensino deve ser pautada a partir de três eixos de aprendizagem: produção, apreciação e contextualização. Ou seja, os educandos deverão desenvolver habilidades que permitam situar a Arte, e suas diferentes linguagens artísticas, como objeto sócio-histórico e
6 19956 cultural, além de instigar a sensibilidade, percepção, imaginação e criatividade. Assim, a Arte deve proporcionar aos educandos a integração de suas experiências coletivas, sociais e pessoais, quebrando resistências e procedimentos mecânicos. Deste modo, na Educação de Jovens e Adultos o ensino de Arte deve se adequar ao contexto do educando, tornando-se significativo para este, sendo importante conceber a Arte, como defende Barbosa (2017, p.3), como um instrumento para a identificação cultural e o desenvolvimento dos educandos, importante para a visualização de quem somos, onde estamos e como sentimos, propiciando o pensar, o expressar-se e o transformar-se. Outro fator a ser pensado é a infantilização do ensino na EJA, refletido tanto nas atividades quanto na postura dos professores, especialmente quando se trata do ensino de Arte, como nos alerta Freire (1981, p. 12): Textos, de modo geral, ilustrados casinhas simpáticas, acolhedoras, bem decoradas; casais risonhos, de faces delicadas, às vezes ou quase sempre brancos e louros; crianças bem nutridas, bolsinha a tira-colo (...). Neste sentido, o autor ressalta a importância do educador problematizador, cuja relação dialógica irá permitir a libertação da consciência humana e sua emancipação, encontrando na práxis, enquanto reflexão e ação transformadora da realidade, a fonte de conhecimento reflexivo e criação. Alertando-nos ainda que: se pretendemos a libertação dos homens, não podemos começar por aliená-los ou mantê-los alienados. A libertação autêntica, que é a humanização em processo, não é uma coisa que se deposita nos homens. É práxis, que implica na ação e na reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo (Freire, 1987, p. 38). Assim, a Arte tem função fundamental na formação dos educandos e tende a ser utilizada de forma que possibilite uma transformação no olhar destes, construindo uma consciência crítica e reflexiva aos estar articulada com a realidade em que vivem. Um olhar que possibilite analisar, questionar, criar e recriar. Considerações Finais A pesquisa nos possibilitou refletir sobre as práticas de Arte na Educação de Jovens e Adultos, seus desafios e conflitos. Por meio de nossa experiência na sala de aula da EJA, enquanto integrantes do PIBID, observamos a dificuldade dos educadores em trabalhar o ensino de Arte. Sua prática, muitas vezes, é acompanhada da ausência de fundamentação teórica, com metodologias voltadas à
7 19957 mecanização dos conteúdos, resultando na infantilização do ensino, voltada, segundo Freire, no que fazer. Temos como embasamento teórico os princípios de Paulo Freire, que acredita em uma educação libertadora, problematizadora, despertando nos educandos uma consciência crítica, que possibilite sua emancipação, não permitindo que os reconheçam como vasilhas rasas, como na educação bancária, pois o educando da EJA traz consigo uma experiência de vida, valores e costumes da cultura em que está inserido. Daí a importância de contextualizar os conhecimentos, de buscar pelos temas geradores, e utilizar a Arte, e suas diferentes manifestações artísticas, como um instrumento para desenvolvimento da conscientização individual e coletiva dos educandos, transformando o meio e a si mesmo. É necessário compreender a EJA como espaço de fomento da Arte e de sua ação criativa, capaz de possibilitar o desenvolvimento integral do ser humano, compreendendo-o enquanto um ser criador, dinâmico e transformador. Sendo também fundamental investimentos na formação dos educadores, tanto no que tange a compreensão da modalidade da Educação de Jovens e Adultos e a especificidade de seus educandos, quanto às práticas de ensino de Arte. REFERÊNCIAS ALVARES, Sonia Carbonell. Arte e Educação Estética para Jovens e Adultos: as transformações no olhar do aluno. São Paulo, BARBOSA, Ana Mae. Arte, Educação e Cultura. Disponível em: < =84578>. Acesso em: 1 abr BRASIL. Lei n de 20 dezembro de Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 23 dez BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação de Jovens e Adultos. Curitiba BRASIL. Ministério da Educação. Parecer CNE/CEB 11/2000, Dispõe sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade. 5ª ed., Rio de Janeiro, Paz e Terra FREIRE, Paulo; SHOR, Ira. Medo e Ousadia. O Cotidiano do Professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
8 19958 FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. ed. 25. São Paulo: Paz e Terra, FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. ed. 17. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
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