Superior Tribunal de Justiça

Transcrição

1 AgInt na MEDIDA CAUTELAR Nº GO (2016/ ) RELATOR : MINISTRO HUMBERTO MARTINS AGRAVANTE : MARIA ELIAS DE MELO ADVOGADOS : ADRIANO WALDECK FELIX DE SOUSA E OUTRO(S) SANDRO WALSECK FELIX DE SOUSA AGRAVADO : ESTADO DE GOIAS PROCURADOR : RONALD CHRISTIAN ALVES BICCA E OUTRO(S) EMENTA ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. CARTÓRIO. REGISTRO DE IMÓVEIS. DISCIPLINAR. PEDIDO DE EFEITO SUSPENSIVO. PENALIDADE DE REPREENSÃO. AUSÊNCIA DE FUMUS BONI IURIS E DE PERICULUM IN MORA. 1. Medida cautelar ajuizada com o fito de atribuir efeito suspensivo a acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, contra o qual foi interposto recurso ordinário em mandado de segurança (RMS /GO); a requerente postula haver fumaça do bom direito nas suas alegações de nulidade do acórdão recorrido. 2. A requerente alega nulidade, pois, no Estado de Goiás, inexistiria uma legislação específica para os procedimentos disciplinares em relação aos delegatários dos cartórios, e isso tornaria nula a aplicação da penalidade de repreensão; não obstante, ao menos de forma perfunctória, é razoável aceitar que, no caso de inexistir procedimentos específicos para os delegatários, que sejam aplicadas as regras procedimentais gerais dos servidores públicos (Lei Estadual /1988), combinada com o rol de penalidades e das disposições específicas da Lei 8.935/ A narrativa de que teria acontecido uma fraude no registro do imóvel não é contraditada; somente é postulado que seja feita uma nova valoração dos fatos, para se eximir a requerente de eventual responsabilidade, interpretação que não é de plano clara e evidente, induzindo a ausência de fumaça do bom direito. 4. Não se evidencia fumus boni iuris na alegação de violação da proporcionalidade pela aplicação da penalidade menos gravosa possível: repreensão (art. 32, I, da Lei 8.935/94). 5. Inexiste o aventado periculum in mora, uma vez que a repreensão é pena que pode ser retirada dos assentamentos registrais da oficial, caso haja o prevalecer do seu ponto de vista quando for julgado o feito principal. Página 1 de 8

2 ACÓRDÃO Agravo interno improvido. Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça "A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo interno, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)." Os Srs. Ministros Herman Benjamin, Mauro Campbell Marques, Assusete Magalhães (Presidente) e Diva Malerbi (Desembargadora convocada do TRF da 3a. Região) votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília (DF), 09 de agosto de 2016(Data do Julgamento) MINISTRO HUMBERTO MARTINS Relator Página 2 de 8

3 AgInt na MEDIDA CAUTELAR Nº GO (2016/ ) RELATOR : MINISTRO HUMBERTO MARTINS AGRAVANTE : MARIA ELIAS DE MELO ADVOGADOS : ADRIANO WALDECK FELIX DE SOUSA E OUTRO(S) SANDRO WALSECK FELIX DE SOUSA AGRAVADO : ESTADO DE GOIAS PROCURADOR : RONALD CHRISTIAN ALVES BICCA E OUTRO(S) RELATÓRIO (Relator): O EXMO. SR. MINISTRO HUMBERTO MARTINS Cuida-se de agravo interno interposto por MARIA ELIAS DE MELO contra decisão monocrática de minha relatoria que indeferiu pedido de liminar na medida cautelar ajuizada com o objetivo de atribuir efeito suspensivo ao recurso ordinário em mandado de segurança (RMS /GO) interposto, com fundamento no art. 105, inciso II, alínea "b", da Constituição Federal, contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás cuja ementa transcrevo (fls , e-stj): "MANDADO DE SEGURANÇA. NOTÁRIOS E REGISTRADORES. PROCESSO DISCIPLINAR. PROCEDIMENTO DA LEI N /88. PENA APLICADA. ACÓRDÃO DA CORTE ESPECIAL. AUTORIDADE COATORA. MÉRITO DO ATO PUNITIVO. IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO PELO PODE JUDICIÁRIO. I - Não se extingue o mandado de segurança por ilegitimidade passiva da Corte Especial do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, porquanto, apesar de a execução do acórdão compef r as seu Presidente, se a decisão foi proferida pelo colegiado, nele se identifica a autoridade coatora para suportar a ação mandamental. II - É pacífico o entendimento do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás pela aplicação da Lei Estadual n /88, Estatuto dos Servidores Públicos Civis do Estado de Goias, para a apuração de falta funcional praticada por delegatários das funções notariais, e de registro, dada a ausência de procedimento específico estabelecido pela Lei n 8.935/94, não comprometendo de ilegalidade a penalidade imposta em processo administrativo disciplinar em que assegurados a ampla defesa e o contraditório. III - Não compete ao Poder Judiciário avaliar a existência da falta funcional, a autoria e a sanção imposta, aplicada em Página 3 de 8

4 processo administrativo disciplinar, respeitadas as garantias constitucionais do contraditório e defesa plena, vedada a análise do mérito do ato punitivo, reservada a verificação da sua compatibilidade com a lei e a Constituição. SEGURANÇA DENEGADA". Na petição inicial, é descrito que a requerente foi punida com a pena de repreensão, após a tramitação de processo administrativo disciplinar. Alega que o feito disciplinar seria nulo, uma vez que realizada com base nos termos da Lei Estadual /88 (Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado de Goiás). Alega, ainda, que não haveria infração administrativa, bem como que a punição aplicada seria desproporcional. Pede liminar para suspender a aplicação da pena (fls. 2-10, e-stj). O pedido de liminar foi indeferido, uma vez que ausentes o fumus boni iuris e o periculum in mora. Segue ementa da decisão que indeferiu o pleito de liminar, que agora é agravada (fl. 587, e-stj): "ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. CARTÓRIO. REGISTRO DE IMÓVEIS. DISCIPLINAR. PENALIDADE DE REPREENSÃO. AUSÊNCIA DE FUMUS BONI IURIS E PERICULUM IN MORA. LIMINAR INDEFERIDA". No agravo interno, a parte alega que teria havido indevida incursão no mérito da controvérsia, bem como que possuiria fumus boni iuris, uma vez que não haveria diploma legal para amparar a aplicação de penalidade aos delegatários das serventias extrajudiciais, não sendo cabível a eles o uso dos procedimentos destinados aos servidores públicos do Estado de Goiás. Alega que o periculum in mora é o potencial agravamento de outras faltas enquanto não deslindado o mérito do RMS /GO (fls , e-stj). O ESTADO DE GOIÁS junta peça e pede o improvimento do agravo interno. Alega que não há falar em fumus boni iuris e nem tampouco em periculum in mora. É, no essencial, o relatório. Página 4 de 8

5 AgInt na MEDIDA CAUTELAR Nº GO (2016/ ) EMENTA ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. CARTÓRIO. REGISTRO DE IMÓVEIS. DISCIPLINAR. PEDIDO DE EFEITO SUSPENSIVO. PENALIDADE DE REPREENSÃO. AUSÊNCIA DE FUMUS BONI IURIS E DE PERICULUM IN MORA. 1. Medida cautelar ajuizada com o fito de atribuir efeito suspensivo a acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, contra o qual foi interposto recurso ordinário em mandado de segurança (RMS /GO); a requerente postula haver fumaça do bom direito nas suas alegações de nulidade do acórdão recorrido. 2. A requerente alega nulidade, pois, no Estado de Goiás, inexistiria uma legislação específica para os procedimentos disciplinares em relação aos delegatários dos cartórios, e isso tornaria nula a aplicação da penalidade de repreensão; não obstante, ao menos de forma perfunctória, é razoável aceitar que, no caso de inexistir procedimentos específicos para os delegatários, que sejam aplicadas as regras procedimentais gerais dos servidores públicos (Lei Estadual /1988), combinada com o rol de penalidades e das disposições específicas da Lei 8.935/ A narrativa de que teria acontecido uma fraude no registro do imóvel não é contraditada; somente é postulado que seja feita uma nova valoração dos fatos, para se eximir a requerente de eventual responsabilidade, interpretação que não é de plano clara e evidente, induzindo a ausência de fumaça do bom direito. 4. Não se evidencia fumus boni iuris na alegação de violação da proporcionalidade pela aplicação da penalidade menos gravosa possível: repreensão (art. 32, I, da Lei 8.935/94). 5. Inexiste o aventado periculum in mora, uma vez que a repreensão é pena que pode ser retirada dos assentamentos registrais da oficial, caso haja o prevalecer do seu ponto de vista quando for julgado o feito principal. Agravo interno improvido. VOTO Página 5 de 8

6 (Relator): liminar. O EXMO. SR. MINISTRO HUMBERTO MARTINS Deve ser mantida a decisão monocrática que indeferiu o pedido de Em linhas apertada síntese, a impetrante se insurge contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, que manteve a aplicação da pena aplicada após a tramitação de processo disciplinar. A penalidade aplicada foi de repreensão, prevista no art. 32, I, da Lei 8.935/94. Transcrevo trecho do decisum, no qual se postula a atribuição de efeito suspensivo (fl. 522, e-stj): "(...) É pacífico o entendimento do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás pela aplicação da Lei Estadual nº /88, Estatuto dos Servidores Públicos Civis do Estado de Goias, para a apuração de falta funcional praticada por delegatários das funções notariais e de registro, dada a ausência de procedimento específico estabelecido pela Lei nº 8.935/94, não comprometendo de ilegalidade a penalidade imposta em processo administrativo disciplinar em que assegurados a ampla defesa e o contraditório. (...)". A requerente alega que, no caso do Estado de Goiás, inexistiria uma legislação específica para os procedimentos disciplinares em relação aos delegatários das serventias extrajudiciais, e isso tornaria nula a aplicação da penalidade de repreensão. Entendo, ao menos em uma análise perfunctória, de forma diversa e considero que é razoável aceitar que, no caso de não haver procedimentos específicos para os delegatários, sejam aplicadas as regras gerais dos servidores público, de cunho procedimental, combinada com o rol de penalidades e das disposições específicas da Lei 8.935/94. Não vejo a fumaça do bom direito nesta alegação. No mais, as duas outras alegações de nulidade do feito disciplinar estão referidas à ausência de conduta infracional por parte da impetrante, bem como pela ausência de razoabilidade na pena aplicada. Analiso a primeira. Página 6 de 8

7 O relatório da comissão processante consta dos autos (fls , e-stj) e é elucidativo. A conduta apurada foi a não observância de uma fraude, a qual seria facilmente observável. Determinado imóvel teve pedido de retificação de CNPJ no seu registro. Ele pertencia a uma determinada empresa. Porém, foram juntados documentos de outra empresa para constar no registro geral de imóveis como proprietária, por meio de retificação. Pelo que foi concluído pela comissão processante, a fraude seria facilmente detectável e não o foi, não tendo havido observância, por parte da oficial de registro, da melhor técnica para verificação documental. No mais, sendo a fraude considerada como simples e evidente, estaria configurada a infração disciplinar. A narrativa demonstra que, na análise típica dos procedimentos de cautela, parece haver conformidade na aplicação da penalidade. Alegações trazidas no agravo interno, em prol de justificar a atuação da requerente, de que foram usados dados confiáveis para embasar a alteração do CNPJ demandariam um exame mais detido, que deve ser reservado ao momento de mérito. Não vejo, ao menos no exame perfunctório, a ausência de uma conduta. A fraude documental ocorreu, e isso não é contraditado. Não há fumus boni iuris na presente alegação. Por derradeiro, houve uma terceira alegação, consubstanciada na postulação de ausência de proporcionalidade no julgamento do feito e na pena resultante. Observo que a penalidade aplicada foi a mais leve, prevista no art. 32, I, da Lei 8.935/94, ou seja, a repreensão. Tampouco, não localizo, em uma mirada típica da apreciação cautelar, a violação da proporcionalidade. A pena aplicada foi a menos gravosa. Ausente o fumus boni iuris. No mais, inexiste periculum in mora, uma vez que a repreensão é pena que pode ser retirada dos assentamentos registrais da oficial, caso haja o prevalecer do seu ponto de vista quando for julgado o feito principal. Ante o exposto, nego provimento ao agravo interno. É como penso. É como voto. MINISTRO HUMBERTO MARTINS Relator Página 7 de 8

8 CERTIDÃO DE JULGAMENTO SEGUNDA TURMA AgInt na Número Registro: 2016/ MC / GO Números Origem: PAUTA: 09/08/2016 JULGADO: 09/08/2016 Relator Exmo. Sr. Ministro HUMBERTO MARTINS Presidente da Sessão Exma. Sra. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. JOSÉ FLAUBERT MACHADO ARAÚJO Secretária Bela. VALÉRIA ALVIM DUSI AUTUAÇÃO REQUERENTE : MARIA ELIAS DE MELO ADVOGADOS : ADRIANO WALDECK FELIX DE SOUSA E OUTRO(S) SANDRO WALSECK FELIX DE SOUSA REQUERIDO : ESTADO DE GOIAS PROCURADOR : RONALD CHRISTIAN ALVES BICCA E OUTRO(S) ASSUNTO: DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO - Serviços - Concessão / Permissão / Autorização - Tabelionatos, Registros, Cartórios AGRAVO INTERNO AGRAVANTE : MARIA ELIAS DE MELO ADVOGADOS : ADRIANO WALDECK FELIX DE SOUSA E OUTRO(S) SANDRO WALSECK FELIX DE SOUSA AGRAVADO : ESTADO DE GOIAS PROCURADOR : RONALD CHRISTIAN ALVES BICCA E OUTRO(S) CERTIDÃO Certifico que a egrégia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: "A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo interno, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)." Os Srs. Ministros Herman Benjamin, Mauro Campbell Marques, Assusete Magalhães (Presidente) e Diva Malerbi (Desembargadora convocada do TRF da 3a. Região) votaram com o Sr. Ministro Relator. Página 8 de 8