DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE PERCEVEJOS EM CULTIVO DE TRIGO 1

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1 DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE PERCEVEJOS EM CULTIVO DE TRIGO 1 JUNG, Affonso Hermeto 2 ; GUEDES, Jerson Vanderlei Carús 3 ; VALMORBIDA, Ivair 4 ; STACKE, Regis Felipe 4 ; CAGLIARI, Deise 4 1 Trabalho de Pesquisa UFSM 2 Programa de Pós-graduação em Engenharia Agrícola (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil 3 Professor de Entomologia, Departamento de Defesa Fitossanitária, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil 4 Curso de Agronomia (UFSM), Santa Maria, RS, affonsojung@hotmail.com; jerson.guedes@gmail.com; RESUMO Com o objetivo de analisar a distribuição espacial de Oebalus ypsilongriseus, foi realizada uma amostragem em lavoura de trigo no ano de 2010, em Santa Maria - RS. O perímetro da área foi demarcado com auxílio de um GPS, com interface para computador-de-mão (Pocket PC). Utilizou-se o programa computacional CR-Campeiro para confeccionar os grides de amostragem. A densidade populacional foi estimada através da coleta com rede entomológica de 0,38 m de diâmetro, com 10 redadas de 0,80 m cada, totalizando uma área amostrada de aproximadamente 3 m² em cada um dos pontos. A análise da variabilidade espacial e a geração de mapas foi feita através de semivariogramas, utilizando o programa computacional ArcGis 9.3. Para a análise da dependência espacial, foi utilizada a classificação de Cambardella et al. (1994). O semivariograma apresentou distribuição espacial considerada fraca, e o mapa da distribuição espacial demonstrou o comportamento agregado do inseto. Palavras-chave: Amostragem; Geoestatística; Agricultura de Precisão. 1. INTRODUÇÃO Áreas cultivadas durante o ano todo no sistema de plantio direto com rotação de cultura, cultivando-se no verão soja ou milho e trigo ou aveia no inverno, fornecem condições ideais para a sobrevivência de insetos polífagos. Isso pode ocorrer com a população de pentatomídeos que pode aumentar de tal modo a causar danos significativos em várias culturas (CHOCOROSQUI, 2001). Os pentatomídeos, conhecidos por percevejos, são principalmente sugadores de sementes e atacam plantas durante o período reprodutivo e desse modo possuem importância econômica em regiões produtoras de grãos (CHOCOROSQUI; PANIZZI, 2004). As plantas hospedeiras são importantes recursos alimentares para o desenvolvimento das ninfas e a reprodução dos insetos adultos, além de servirem de abrigo (PANIZZI, 1997). Em função da busca por plantas hospedeiras mais adequadas para sua alimentação, oviposição e desenvolvimento de sua prole, os percevejos adultos migram de uma cultura para outra (PANIZZI, 1991). 1

2 Os percevejos Oebalus ypsilongriseus, e O. Poecilus, são as espécies que mais comumente atacam a panícula do arroz, causando grandes perdas à cultura (FERREIRA, 1998). Durante a entressafra os adultos dessas espécies ficam abrigados em montes de palha e de madeira, sob casca de árvores, na base de plantas e fendas no solo. No início da primavera entram em atividade, podendo ser encontrados alimentando-se de sementes em desenvolvimento em um ou mais de seus vários hospedeiros nativos existentes nas proximidades ou no interior das lavouras, sobre os quais geralmente acasalam e fazem a primeira postura (FERREIRA et al., 2001). Lopes et al. (1974), relacionaram em trabalho realizado no Rio Grande do Sul, que trigo, aveia e azevém servem de hospedeiros de O. ypsilongriseus. De acordo com os autores, o conhecimento das plantas hospedeiras de um grupo de insetos é importante para estudos de bioecologia, flutuaçao populacional e previsão de surgimento de novas pragas. Programar o manejo integrado de pragas, monitorar as populações de percevejos nas entressafras e plantas hospedeiras é importante para determinar a abundância de pragas e o provável tempo de invasão nas culturas. Esse passo inicial é, geralmente, desconsiderado ou subestimado (PANIZZI; PARRA, 2009). Contudo, o monitoramento da população de pragas é a base para a prática do Manejo Integrado de Pragas (MIP), indica a localização, ocorrência e a distribuição da população em uma área determinada. A partir do monitoramento, os agricultores podem ter maior controle da distribuição e variação de insetos - praga na sua área agrícola, auxiliando no processo da tomada de decisão e adoção de estratégias de manejo mais eficazes. Assim, o levantamento georreferenciado através de programas geoestatísticos que geram mapas de distribuição espacial e ocorrência de insetos em uma determinada área, contribuem para entender as variações das populações no espaço-tempo, dispersão, deslocamento, migração, crescimentos e declínios populacionais, (AGUERO, 2010). Desse modo, se torna uma alternativa eficaz e de baixo custo que pode ser usada, como ferramenta importante no estabelecimento das estratégias de controle de insetos-praga. O objetivo desse trabalho foi analisar a distribuição espacial de Oebalus ypsilongriseus em lavoura de trigo no município de Santa Maria. 2. METODOLOGIA O trabalho foi realizado no ano de 2010 em uma área de 9,47 hectares cultivada com trigo, no município de Santa Maria, Rio Grande do Sul. O local tem como coordenadas geográficas latitude 29 43'47,52 S, longitude 53 45'26,77 W e altitude de 102 m. O perímetro da área foi demarcado com o auxílio de um GPS de navegação, marca Garmin, modelo GPS10, com interface para computador-de-mão (Pocket PC). Utilizou-se o software 2

3 CR-Campeiro, tecnologia móvel embarcada, para dividir a área experimental em grides regulares de amostragem. A dimensão do gride de amostragem foi de 50 x 50 m totalizando 37 pontos na área de estudo. Em cada ponto amostral, foram realizadas coletas com rede entomológica de 0,38 m de diâmetro, com 10 redadas de 0,80 m cada, ao nível superior das plantas, representando aproximadamente 3 m² de área amostrada. Os percevejos coletados, foram armazenados em frascos plásticos e conduzidos ao Laboratório de Manejo Integrado de Pragas (LabMIP), da UFSM, para posterior identificação das espécies e quantificação de adultos. A variabilidade espacial foi realizada através da análise do semivariograma, que indica o comportamento das semivariâncias em função da distância, podendo assim definir o modelo da variabilidade espacial de insetos. O programa computacional ArcGis 9.3, utiliza a metodologia dos mínimos quadrados para os ajustes dos modelos e como critérios para seleção do modelo, usa o coeficiente de determinação e a soma de quadrados de resíduos. O semivariograma foi ajustado pelo modelo exponencial que proporcionou a obtenção de seus parâmetros (efeito pepita, patamar e alcance). Tais parâmetros, foram empregados diretamente na interpolação por krigagem ordinária no programa computacional ArcGis 9.3, para a geração dos mapas da densidade populacional de percevejos (DAL PRÁ et al., 2011). Para a realização da análise da dependência espacial, foi utilizada a classificação de Cambardella et al. (1994). Esta metodologia considera de forte dependência espacial o semivariograma que têm o valor do efeito pepita < 25 % do patamar, moderada quando entre 25 e 75 % e de fraca quando > 75 %. Os dados referentes ao número de percevejos amostrados por ponto foram submetidos à análise geoestatística, a partir dos quais foram ajustados modelos teóricos para a interpolação das variáveis. Em etapa subsequente foi confeccionado o mapa populacional gerado por krigagem ordinária pelo programa computacional ArcGis 9.3. O mapa foi gerado com o número de classes variando de acordo com a densidade populacional com intervalo fixo de cinco percevejos adultos. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na área cultivada com trigo havia infestação natural da espécie O. Ypsilongriseus, e dessa forma o semivariograma foi ajustado pelo modelo exponencial para a densidade total do percevejo (Figura 1). 3

4 γ Distance, h 10-2 Figura 1: Semivariograma ajustado pelo modelo exponencial para a densidade de O.ypsilongriseus. Santa Maria, RS, A distribuição espacial de O.ypsilongriseus foi considerada de dependência fraca, pois os valores de patamar e efeito pepita foram similares. Segundo Liebhold et al. (1993), quando existe dependência espacial entre os pontos amostrados, a distribuição dos insetos é caracterizada como agregada, e, nesse caso, a geoestatística é a ferramenta mais adequada para estudar as populações de insetos. O valor do patamar foi de 95,67, o do efeito pepita de 81,81 e a relação entre os parâmetros foi de 85,50%, sendo superior aos 75% que evidencia a baixa dependência espacial segundo a classificação de Cambardella et al. (1994). Outro fator que concorda para a baixa dependência é o alcance de 395 metros, sendo uma distância grande para a interpolarização de dados, onde possivelmente o mapa apresentou erros. A partir da densidade de O. Ypsilongriseus foi confeccionado o mapa que demonstrou que a área de infestação do percevejo concentrou-se em três locais na lavoura (Figura 2). 4

5 Figura 2: Mapa da distribuição espacial de percevejos O. Ypsilongrises resultantes da Krigagem ordinária. Santa Maria, RS, Os maiores picos populacionais do inseto ocorreram em três focos de infestação, sendo que, em dois locais alcançou 43 percevejos por ponto amostral, evidenciando uma distribuição de forma agregada do inseto. As áreas no mapa com número de insetos amostrados maior que 20 percevejos, caracterizaram os locais de concentração, abrangendo 0,50 ha e com uma representação em torno de 5,3 % do total da área. A área total de infestação, de acordo com a distribuição das classes foi de 3,16 ha, correspondendo a aproximadamente 33,3% da área total (Tabela 1). 5

6 Tabela 1: Distribuição por classe populacional da densidade de percevejos O. Ypsilongriseus. Santa Maria, RS, Classes Área (ha) % da área total 0 5 6,31 66, ,03 10, ,75 7, ,88 9, ,29 3, ,12 1, ,06 0, ,02 0, ,01 0,1 Total 9, De acordo com as informações apresentadas neste estudo, podemos destacar a importância da distribuição espacial no monitoramento de pentatomídeos, através do uso da geoestatística como ferramenta chave para a definição de grides de amostragem e distribuição espacial de percevejos. Além disso, quanto menor for o espaçamento utilizado para realizar a amostragem, mais precisa será a caracterização da distribuição espacial (DAL PRÁ, 2010). O conhecimento da distribuição espacial destes insetos, pode auxiliar na definição de estratégias de manejo economicamente viáveis, com baixo impacto ambiental pela minimização do uso de agrotóxicos. 4. CONCLUSÃO A análise do semivariograma permitiu modelar a variabilidade espacial de O. ypsilongriseus em cereais de inverno e o mapa da distribuição espacial demonstrou o comportamento agregado do percevejo na área estudada. REFERÊNCIAS AGUERO, M. A. F. Distribuiçao espacial e temporal de percevejos pentatomideos em sucessões culturais sob pivo central e áreas adjacentes f. Dissertação (Mestrado em Agronomia)- Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria,

7 CAMBARDELLA, C. A. et al. Fieldscale variability of soil properties in central Iowa soils. Soil Science Society of America Journal, Madison, v. 58, n. 6, CHOCOROSQUI, V. R. Bioecologia de espécies de Dichelops (Diceareus) (Heteroptera: Pentatomidae) e danos em soja, mlho e trigo no Norte do Paraná. Curitiba, f. Tese (Doutorado), Entomologia, Universidade Federal do Paraná. Curitiba, CHOCOROSQUI, V. R.; PANIZZI, A. R. Impact of cultivation systems on Dichelops melacanthus (Dallas) (Heteroptera: Pentatomidae) population and damage and its chemical control on wheat. Neotropical Entomology, Londrina, v. 33, n. 4, DAL PRÁ, E. Geoestatística e imagens orbitais para caracterizar a distribuição espacial e danos de larvas de melolontídeos em cereais de inverno f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola) Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, DAL PRÁ, E. et al. Uso da geoestatítica para caracterização da distribuição espacial de larvas de Diloboderus abderus. Ciência Rural, Santa Maria, v.41, n.10, out, FERREIRA, E. Manual de identificação de pragas do arroz. Santo Antônio de Goiás: EMBRAPA - CNPAF, p. (EMBRAPA CNPAF. Documentos, 90). FERREIRA, E.; VIEIRA, N. R. de A.; BARRIGOSSI, J. A. F. Percevejo das panículas do arroz: fauna Heteroptera associada ao arroz. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, (Embrapa Arroz e Feijão. Circular Técnica On-line, 43). Disponível em: < Acesso em: ago LIEBHOLD, A.M.; ROSSI, R.E.; KEMP, W.P. Geostatistic and geographic information system in applied insect ecology. Annual Review of Entomology, Palo Alto, v.38,p , LOPES, O. J.; LINK, D.; BASSO, J.V. Pentatomideos de Santa Maria lista preliminar de plantas hospedeiras. Ciência Rural, Santa Maria v.4, PANIZZI, A. R. Ecologia nutricional de insetos sugadores de sementes. In: PANIZZI, A.R.; PARRA, J. R. P. Ecologia nutricional de insetos e suas implicações no manejo de pragas. São Paulo: Manole, cap. 7, p , PANIZZI, A. R. Wild hosts of pentatomids: ecological significance and role in their pest status on crops. Annual Review of Entomology, Palo Alto, v. 42,

8 PANIZZI, A. R. ; PARRA, J. R. P. Bioecologia e nutrição de insetos. Base para o manejo integrado de pragas.1. ed. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, v p. 8