Agradeço, na pessoa do Senhor Professor André Moreira, o honroso convite para nesta Sessão poder participar.
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- Mônica Carneiro Campelo
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1 Intervenção do Presidente do Conselho Diretivo ARS Norte Seminário de Encerramento Projeto ARIA Centro Hospitalar de São João, EPE 4 de dezembro de 2015 Exmºs Senhores Prof. Doutor Sebastião Feyo Azevedo Magnífico Reitor da Universidade do Porto Diretor da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação Prof. Doutor Pedro Moreira Prof. Doutor Nuno Montenegro Faculdade de Medicina da Universidade do Porto Prof. Doutor Eduardo Oliveira Fernandes Coordenador do Projeto ARIA Prof. Doutor André Moreira Dr. Manuel Amaro Ferreira Vogal do CA do Centro Hospitalar de São João Demais entidades Minhas Senhoras e meus Senhores Agradeço, na pessoa do Senhor Professor André Moreira, o honroso convite para nesta Sessão poder participar.
2 O projeto (ARIA) abrange as áreas da saúde e do ambiente interior, com especial foco na qualidade do ar e na saúde em escolas do ensino básico da cidade do Porto. Com o trabalho pelas equipas desenvolvido terá com certeza sido possível caracterizar a situação atual e, desta forma, a nós que temos a responsabilidade na prestação de cuidados de saúde, ser-nos-á possível adequar estratégias em função da pesquiza e dos resultados obtidos. Segundo a OMS, a saúde reflete-se na capacidade de realizar o potencial pessoal e de grupo e de responder positivamente aos desafios do ambiente, destacando-se a população, independentemente da idade, como o seu principal recurso. Abordada assim, de forma sistémica, não é possível definir um padrão único que a determine. O que parece ser atualmente incontestado é a necessidade de se definirem orientações e matrizes sobre ambientes de interior e exterior promotores de saúde, assentes nas diferenças sociais, culturais e comportamentais com que, no dia-a-dia nos vamos confrontando. Sendo o tema deste Seminário: Sensing the environment in alergy, é do conhecimento geral que a qualidade do ar interior influencia a qualidade de vida dos ocupantes dos edifícios e, assim sendo, no caso de desrespeito pelas normas instituídas, pode ter implicações significativas no estado de saúde dos mesmos Pág. 2
3 ocupantes alunos, crianças em idade pré-escolar e mesmo latentes no caso de berçários, creches, jardins-de-infância, etc. Minhas Senhoras e meus Senhores Nos últimos anos temos assistido a uma maior sensibilização de governos e populações face à problemática das questões relativas à qualidade do ar interior, e em especial no âmbito de locais de trabalho e de locais de utilização pública. Como sabemos, o local de trabalho constitui um tipo de ambiente particular, submetido a contingências especiais. É lá que passamos cerca de metade do nosso tempo de vigília, daí que os efeitos tóxicos, o stress e o desconforto que lhe estão associados, atinjam níveis muito mais elevados que os do ambiente exterior ou o das habitações. Vários estudos realizados sobre a natureza da poluição do ar exterior e interior mostram que a qualidade do ar é um fator primordial na exposição das pessoas e que conforme as condições climáticas, hábitos, tipo de trabalho, tem uma ação mais ou menos nociva nas populações. Para otimizar a eficiência energética dos edifícios foi necessário proceder a uma melhoria do isolamento, reduzindo ao mesmo tempo a renovação de ar entre o interior e exterior, criando por vezes situações indesejáveis em matéria da qualidade do ar e com Pág. 3
4 efeitos de gravidade variável para a saúde dos ocupantes das edificações. Embora as técnicas de construção de edifícios tenham evoluído com o objetivo de melhorar o conforto dos seus utentes, acontece que, no que respeita à deficiente qualidade do ar neles introduzido, através dos variados sistemas de condicionamento de ar e ventilação e de alguns materiais utilizados na sua construção, apareceram diversas doenças e perturbações mais ou menos graves naqueles que os utilizam. Um dos fenómenos associados a este problema é o chamado "sick building syndrome" ("síndroma do edifício doente"), que se manifesta pelo aparecimento, nos locais de trabalho (escolas e escritórios, por exemplo), de variados sintomas, tais como irritação das mucosas do globo ocular, nariz e garganta, distúrbios neuropsiquiátricos, afeções cutâneas ou sintomatologia respiratória (nomeadamente episódios de asma). Estes sintomas agravam-se ao longo do dia, quando a permanência nos edifícios é prolongada, diminuindo à noite e nos fins-de-semana, ou quando se melhoram as condições de ventilação dos locais. A investigação das causas destes sintomas permitiu concluir que várias destas situações estão associadas a substâncias existentes em ambientes interiores e que são capazes de provocar efeitos Pág. 4
5 nocivos no indivíduo, tais como bio aerossóis, compostos orgânicos voláteis com origem em produtos de uso doméstico, tapetes, tintas ou produtos de revestimento, ou partículas de dimensões variadas. Na maior parte dos casos, a concentração de partículas no interior em ambientes interiores é sensivelmente superior à do ar exterior, embora estejam fora de qualquer fonte de poluição particular. Na verdade, o próprio ser humano é um dos principais geradores de partículas há estudos que documentam variações na emissão de partículas associadas às atividades desenvolvidas (entre 100 mil partículas por minuto produzidas por um trabalhador com atividade reduzida, até milhões de partículas por minuto produzidas por um trabalhador a desenvolver um trabalho que exija um exercício físico intenso). Um estudo norte-americano revelou que em 9% dos 7 milhões de m 2 estudados em edifícios/instalações foram encontrados níveis considerados elevados de bactérias potencialmente causadoras de alergias, tais como Actinomyces e outras (nomeadamente Legionella pneumophila causadora de doença dos legionários). Em cerca de 34% dos edifícios/instalações estudados foram encontrados níveis elevados de fungos patogénicos ou causadores de reações de hipersensibilidade, tendo sido encontradas Pág. 5
6 principalmente espécies do género Candida, Aspergillus, Chriosporium, Rhizopus, Fusarium, Penicillium, Streptomyces. Algumas das consequências mais graves para a saúde associadas a ambientes interiores com má qualidade do ar são alergias, pneumonias (doença dos Legionários), asbestose e cancro do pulmão. Segundo o Departamento de Saúde Pública da ARS Norte, as doenças alérgicas são causas frequentes de morbilidade, atingindo grupos etários muito jovens (nomeadamente em edificações escolares e de ensino). A nível europeu considera-se que 25 a 30 % da população sofre de diferentes tipos de alergias, com implicações no absentismo. A sua prevalência é maior nas zonas urbanas, devido em especial a fatores do ambiente interior dos edifícios. A resolução deste problema passa, entre outras medidas, por reduzir concentrações elevadas de partículas e poluentes no interior dos edifícios. Nesse sentido, deverão ser observados aspetos inerentes não só à conceção de sistemas climatização em matéria de temperatura e humidade, como também a necessidade de uma renovação de ar capaz de garantir uma qualidade do ar que não constitua um risco para a saúde. Pág. 6
7 Uma chamada de atenção para os estudos epidemiológicos relativos à qualidade do ar interior, que são relativamente escassos no nosso País, com uma possível exceção para o problema do fumo de tabaco em ambientes interiores, devido sem dúvida a uma tomada de consciência recente do problema. No entanto, em Portugal e em especial na região Norte há alguns estudos efetuados, entre os quais se destaca o Projeto QUAES Qualidade ambiental nos estabelecimentos de ensino de 1º ciclo básico e alterações no estado de saúde das crianças, da iniciativa do Instituto Ricardo Jorge, tendo como parceiros as autarquias do Porto, Matosinhos, Vila do Conde e Vila Real e a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, bem como o apoio da ARS Norte. Este estudo, desenvolvido entre 2003 e 2007, envolveu 35 escolas do Porto, Matosinhos, Vila do Conde e Vila Real, num total de quatro mil alunos, e permitiu verificar que nas escolas avaliadas se registavam níveis de dióxido de carbono acima do aceitável, e em alguns casos, ultrapassando três vezes o valor limite. O mesmo se verificou no que diz respeito aos microorganismos e aos fungos. Mais recentemente, entre 2008 e 2013, o Departamento de Saúde Pública da ARS Norte avaliou as condições de conforto térmico e as concentrações de dióxido de carbono em unidades de saúde públicas da região Norte internamento e ambulatório tendo Pág. 7
8 verificado haver algumas situações em que não estavam reunidas as condições ambientais para garantir o conforto térmico, quer de utentes, quer de profissionais. Foram igualmente identificadas concentrações de dióxido de carbono superiores ao permitido por Lei, aspeto relacionado com a deficiente ventilação dos espaços e a ocupação dos mesmos. Foi dado conhecimento de todos os resultados às direções das unidades avaliadas, com recomendações para que fosse garantida uma mais adequada ventilação dos diferentes locais, bem como a adequação da ocupação/lotação face às características estruturais e de funcionamento dos mesmos. Por último, chamo a atenção que o recentemente divulgado Programa Nacional de Saúde Escolar 2015 tem indicadores de avaliação relativos aos estabelecimentos de educação e ensino que forem alvo de avaliação do risco para a saúde no ambiente escolar, incluindo a qualidade ambiental (qualidade do ar interior). Minhas Senhoras e meus Senhores Para nós que assumimos responsabilidades de gestão e que privilegiamos como primeira linha a prevenção e, só numa segunda, a prestação de cuidados, temos que centralizar a nossa Pág. 8
9 intervenção promovendo uma cultura de hábitos e ambientes saudáveis e de qualidade de vida, envolvendo nos projetos a participação comunitária e a ação intersectorial, cuja operacionalização a nível local, se deverão constituir como instrumentos fundamentais a uma estratégia de desenvolvimento sustentado. Para concluir esta breve intervenção diria que estamos a cumprir com o que nos comprometemos fazer. Esperamos, contudo, que, da parte dos nossos parceiros, nomeadamente da Segurança Social, das autarquias, das escolas, dos lares, centros de dia, creches e infantários, de outras organizações e da sociedade civil em geral, se empenhem igualmente, não só, na resposta a outros níveis, na preservação dos espaços de interior, verdes e lugares de lazer existentes, como pelo alargamento destes ou de outras novas alternativas que, em complementaridade, possam também contribuir para o enriquecimento do bem-estar físico e psíquico das populações. Renovo o agradecimento pelo convite. Muito Obrigado Prof. Doutor Alvaro Santos Almeida Presidente do CD da ARS-Norte Pág. 9
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