Resenha: Ori and the Blind Forest (PC e Xbox One, 2015)

Transcrição

1 Resenha: Ori and the Blind Forest (PC e Xbox One, 2015) por Marcia Silva Fonte: Ori and the Blind Forest é um jogo de plataforma 2D independente desenvolvido pela produtora Moon Studios que chegou ao mercado em março de 2015 para as plataformas Windows e Xbox One. O jogo pertence a um gênero de plataforma chamado metroidvania, um estilo de jogo em que todas as fases estão interconectadas por um grande mapa que é revelado aos poucos ao personagem por meio da coleta de chaves que desbloqueiam passagens ou por novas habilidades aprendidas pelo protagonista, que lhe permite visitar áreas até então inacessíveis, dando ao jogador a possibilidade de revisitar fases já jogadas para desbloquear caminhos e encontrar lugares secretos, estilo semelhante ao dos jogos das séries Metroid e Castlevania. Neste caso o mapa em si é a floresta Nibel, corrompida por uma força maligna, tornando-se infértil e tomada por criaturas ofensivas, como aranhas, gosmas espinhentas etc. E o seu papel no jogo é conduzir o pequeno Ori em sua jornada para salvar Nibel, restaurando os três elementos da vida (água, vento e calor) e trazendo o equilíbrio novamente para a floresta.

2 Fonte: Apesar da história de Ori and the Blind Forest ser bastante simples, ela é narrada de uma maneira tão delicada e sensível que me lembrou bastante o estilo da Pixar de contar histórias, tanto é que o jogo consegue emocionar logo nos seus dez minutos iniciais, tal qual o excelente estúdio de animação de Up Altas Aventuras (2009). Infelizmente não consegui chegar ao final do jogo, mas os comentários gerais são de que ele é igualmente tocante, fazendo muita gente chorar. Esse aspecto da narrativa merece destaque pois aponta para uma nova fase dos jogos atuais de dar maior destaque a suas histórias, aprofundá-las e investir no vínculo emocional entre jogador e personagem. Se há dez anos a ideia de um jogo te fazer chorar parecia meio ridícula, hoje é uma realidade com jogos como Ori and the Blind Forest, The Walking Dead Season One (2012), The Last of Us (2013) entre outros, mostrando que o estigma que ligava superficialidade a jogos está sendo superado, o que é muito positivo. Além do aspecto narrativo, o jogo também se destaca por sua arte espetacular. Nibel é tão maravilhosa, repleta de detalhes, cores e efeitos que muitas vezes me via querendo jogar apenas pelo deleite visual. O jogo parece uma pintura e certamente é o mais bonito que eu já joguei. As transições entre regiões são muito suaves e orgânicas e cada parte da floresta possui uma paleta de cores diferenciada, o que ajuda na localização geográfica do jogador. E aqui Ori and Blind Forest ajuda a quebrar outro estereótipo, o de que jogos independentes tem sempre um visual limitado, pois definitivamente este não é o caso.

3 Fonte: O som do jogo também não fica atrás. O destaque vai para o tema principal da série que é lindíssimo, delicado, melancólico e marcante, mas no geral todas as trilhas apresentadas ao longo do jogo são de altíssima qualidade, assim como seus efeitos sonoros. Tanto a trilha sonora quanto o visual do jogo lembram muito o estilo do estúdio Ghibli, de Hayao Miyazaki, que é outro estúdio de animação que dispensa comentários, e de fato, é uma referência admitida pelos desenvolvedores de Ori and the Blind Forest. Isso demonstra uma preocupação da Moon Studios em buscar referências no cinema de animação e isso irá se refletir não apenas no visual detalhado do jogo como também em suas animações, todas muito fluidas e dignas de um longa-metragem animado. Falando um pouco da jogabilidade, um dos aspectos mais interessantes do jogo é seu dinamismo. Ori, o protagonista, é um filhote em pleno desenvolvimento e, por isso, ao longo do jogo ele vai aprendendo novas habilidades que se refletem em novos comandos para o jogador. Isso é muito legal pois um novo comando só aparece quando o anterior já foi usado à exaustão, evitando que o jogador se perca no meio de tantos comandos já que eles nos são apresentados e associados aos poucos. Além disso, esse aspecto deixa o jogo cada vez mais complexo e permite o acesso de Ori a novas partes do mapa e a novos estilos de fase, que variam desde pular muito alto, escalar, voar, enfrentar chefões e até fugir de uma inundação insana.

4 Fonte: No jogo, Ori é acompanhado de Sein, um espírito da floresta no formato de um ponto de luz. É ele que protege Ori, sendo a principal arma do jogo, pois dispara raios nos inimigos. Durante a jornada, o jogador pode coletar células de habilidade (artefatos laranjas) para realizar melhorias na chamada Árvore de Habilidades, que se divide em três ramos de evolução: o ramo vermelho, ligado a melhoria do poder de ataque de Sein (o ataque básico do jogo); o ramo roxo, relacionado a utilidades como a coleta facilitada dos itens espalhados nos mapas do jogo; e o ramo azul, ligado ao uso do Elo da Alma (a mana do jogo e responsável pelos ataques mágicos, por assim dizer). Ori and the Blind Forest permite que o jogador utilize um joystick ou o teclado para jogar. Como eu não tenho um joystick, optei pela segunda alternativa. Neste caso, o jogo ficou um pouco mais complicado, pois para executar muitos dos comandos era necessário utilizar as duas mãos no teclado, mas outros exigiam uma mão no teclado e outra no mouse. Esse processo de alternar o posicionamento das mãos o tempo todo para jogar tornou a jogabilidade um pouco confusa para mim, além de ter ficado muito mais difícil de avançar no jogo. Tanto que, acabei travando na fase da inundação, pois me faltou habilidade de coordenar todos os comandos em tão pouco tempo para conseguir fugir. Sugiro que joguem com o joystick, pois acredito que o controle do jogo fica muito mais fácil assim, apesar de não ter testado.

5 Fonte: Uma característica bem legal do jogo é a possibilidade de salválo no momento em que o jogador achar mais conveniente e isso garante que o próprio jogador defina os momentos mais críticos que exigem um save, respeitando a individualidade de cada pessoa, pois cada um pode ter dificuldades em momentos diferentes do jogo. Entretanto, isso não quer dizer que o jogo pode ser salvo a todo momento, já que para invocar os saves, chamados de Elos da Alma, o jogador gasta células azuis de energia ( mana ) recolhidas ao longo do jogo, que também são usadas para abrir portas ou destruir inimigos mais poderosos. Portanto, é necessário seu uso estratégico, para não se correr o risco de ficar sem energia para seguir o jogo e precisar retornar para coletar mais. Outro ponto interessante do gameplay é o contador de mortes embutido no jogo. Até o momento em que eu joguei havia morrido já 290 vezes! O jogo tem duração de 6 a 8 horas, mas isso para os mais habilidosos, eu, por exemplo, tive tantas dificuldades que levei cerca de 5 horas para chegar a cerca de 1/3 do jogo. Apesar de todos os pontos positivos apontados, minha experiência não foi completamente perfeita no jogo. Além do problema do teclado, já comentado, fiquei bastante chateada com a lentidão gráfica do jogo em alguns momentos. Meu notebook não tem uma configuração ruim (processador i7, 16gb de memória RAM e placa gráfica GeForce 860M), mas, mesmo assim, por vezes o jogo parecia com lag devido aos muitos elementos animados que constituem seu cenário. Tudo isso seria uma reclamação boba se houvesse a possibilidade de alterar as configurações gráficas do jogo.

6 O problema é que não há. No máximo é possível mexer na resolução do jogo, o que não é suficiente para resolver o problema. Fonte: Outro aspecto ruim é a movimentação do personagem Ori. Entendo que sua animação foi feita para tornar tudo muito fluido e bonito. Entretanto, isso faz com que o personagem sempre dê um passinho a mais depois de você ter deixado de apertar o botão para andar ou pular a mais, passando da plataforma que você deseja cair e esse detalhe minúsculo resulta em muitas e muitas e muitas mortes bobas causadoras de irritação e frustração profundas. Como se o jogo já não fosse desafiador o bastante por seus inúmeros comandos. Uma reclamação que encontrei de outros jogadores é que ao finalizar o jogo não é possível voltar aos lugares inexplorados anteriormente no mapa o que, para os desavisados, deve ter sido também muito frustrante. Portanto levem isso em consideração quando estiverem jogando e ansiosos para chegar ao final. Por fim, encontrei um bug que fazia com que após acessar um programa qualquer no Windows e voltar ao jogo em fullscreen por ALT+TAB o ponteiro do mouse sumia no ambiente do jogo e a única maneira de resolver o problema era reiniciando-o, isso não acontecia sempre, mas o suficiente para me fazer perder o avanço conquistado depois do último checkpoint algumas vezes.

7 Fonte: Veredito: apesar dos pequenos bugs e dificuldade imensa para avançar em certas fases do jogo, Ori and the Blind Forest vale muito a pena. Eu provavelmente só não irei zerá-lo por falta de tempo, mas com certeza é um jogo que ficará na memória por ter conseguido aliar uma história simples, mas tocante, a um ambiente visual impecável e jogabilidade desafiadora e original. Altamente recomendável!