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- Cláudia de Almada Bonilha
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1 A importância do Alqueva na Região Alentejana Autor(es): Publicado por: URL persistente: Ferreira, Marisa Publindústria URI: Accessed : 24-Oct :59:29 A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis, UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s) documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença. Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s) título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do respetivo autor ou editor da obra. Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por este aviso. impactum.uc.pt digitalis.uc.pt
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3 GRANDES CULTURAS A IMPORTÂNCIA DO ALQUEVA NA REGIÃO ALENTEJANA U ma comitiva da União Europeia, constituída por vários jornalistas europeus, visitou em Junho o Alentejo para ver de que forma o Alqueva mudou a vida dos produtores alentejanos. A AGROTEC embarcou nesta viagem e questionou o porta-voz da União Europeia sobre as mudanças na Política Agrícola Comum (PAC). O Alentejo corresponde a 1/3 do território de Portugal e é conhecido como o Deserto português devido à carência de água que a região sofre. A falta de recursos hídricos na região é apontada como um dos principais entraves ao seu desenvolvimento, o que impede a modernização da agricultura e da sustentabilidade do abastecimento público de água. Para resolver os problemas de água que a região sofria, e sofre, foi criado o maior reservatório de água artificial da Europa a Barragem do Alqueva. O principal objectivo deste projecto era o de possibilitar o regadio para toda a zona do Alentejo e ainda a produção eléctrica. 74 Por: Marisa Ferreira Fotos: Filipe Pombo, AFFP O projecto do Alqueva começa a ser desenhado em 1968 com a celebração do Convénio Luso-Espanhol para a utilização dos rios internacionais. As obras preliminares iniciam-se em 1976, mas páram passados dois anos (1978). Em 1995, as obras são retomadas. O dia 8 de Março de 2002 fica marcado pelo encerramento das comportas e pelo início do enchimento do maior lago artificial da Europa. O Alqueva tem uma influência directa distribuída por 20 concelhos dos distritos de Beja, Évora, Setúbal e Portalegre. Com uma altura de 96 metros acima da fundação e comprimento de coroamento de 458 metros, a Barragem do Alqueva é complementada por uma Central Hidroeléctrica que se encontra na Barragem de Pedrogão a 23 quilómetros a jusante de Alqueva que está equipada com uma Central Mini-hídrica. A principal estação elevatória situa-se na Albufeira de Alqueva, enquanto a estação elevatória dos Álamos retira a água de Alqueva e distribui-a por todo o subsistema de abastecimento de água de Alqueva. Esta Barragem é constituída por várias redes primárias e secundárias, bem como por estações elevatórias, barragens intermédias, reservatórios e redes de drenagem e viária. Todos os factores que foram referidos anteriormente fizeram alguns responsáveis da União Europeia (UE) querer ver de perto o exemplo de Alqueva, e trazer com eles alguns jornalistas dos Estados-membros. Segundo Roger Waite, porta-voz da Agricultura e Desenvolvimento Rural da UE, o Alqueva é um excelente exemplo de como projectos como este podem fazer a diferença numa região, e onde não é necessário esperar 10 anos ou passar quatro gerações para se verem resultados. A combinação entre fundos portugueses e fundos estruturais europeus, mas também o facto de os agricultores também estarem a investir, apesar do projecto de Alqueva ainda não estar completo, já está a transformar uma área onde não existia muita água e que estava a decair
4 Figura 1 Herdade do Freixo do Meio economicamente, afirmou o porta-voz da UE para os assuntos ligados com a Agricultura e para o Desenvolvimento Rural à AGROTEC. Esta visita da comitiva da UE a Portugal, mais precisamente à região do Alentejo, não visou só o Alqueva e o seu funcionamento, mas também a visita a algumas explorações para ver a forma como esta Barragem mudou a vida de muitos dos agricultores. A visita que se dividiu por dois dias levou-nos a conhecer vários exemplos da boa gestão dos fundos europeus, bem como a mudança que o Alqueva trouxe à vida das pessoas. A Herdade do Freixo do Meio, a Fundação Eugénio de Almeida, a Herdade do Gavião, e ainda a Herdade Vale da Rosa, foram alguns dos exemplos que os jornalistas e a comitiva da UE puderam ver de perto. Para Roger Waite, porta-voz da UE para a Agricultura e Desenvolvimento Rural, a agricultura não é só um problema português, é um problema de todos os europeus. Os Estados-membros têm de desenvolver programas que promovam a produção agrícola. Segundo o porta-voz da UE que acompanhou a visita a Portugal dos 17 por cento de ajudas financeiras que são desbloqueadas para o sector agrícola, só 5 por cento deste dinheiro é gasto no sector. A grande maioria do orçamento não é usado para o desenvolvimento agrícola, daí estarmos a desenvolver em Bruxelas um método de distribuição melhor para os produtores, explicou Roger Waite. Na sequência destas palavras, Roger Waite abordou também a questão da nova Política Agrícola Comum (PAC), cuja medida principal passa pela forma como os países vão passar a receber os apoios da UE. Temos de mudar a forma como os países gerem os fundos e pensarmos no futuro, não podemos continuar a dar os subsídios pelo legado histórico dos países, mas sim pelo número de hectares produzidos. PRINCIPAIS MUDANÇAS DA PAC A nova Política Agrícola Comum (PAC), que entrará em vigor em 2014, tem como plano o reforço da competitividade e da sustentabilidade agrícola, para assim manter a sua presença em todas as regiões, a fim de garantir aos cidadãos europeus uma produção de alimentos saudáveis e de qualidade, para preservar o meio ambiente e para ajudar a desenvolver as zonas rurais. A nova PAC pretende lutar contra a mudança climática, para apoiar o emprego e o crescimento, promover a inovação e aumentar a competitividade económica e ecológica na agricultura. Segundo Dacian Ciolos, Comissário Europeu para a Agricultura e Desenvolvimento Rural, a Comissão Europeia propôs uma nova parceria entre os cidadãos europeus e os seus agricultores para enfrentar os desafios da segurança alimentar, o uso sustentável dos recursos naturais e crescimento. Para o Comissário, as próximas décadas serão cruciais para estabelecer as bases para uma agricultura forte, capaz de lidar com as mudanças climáticas e da competição internacional, sem descurar as expectativas do público, pois a Europa precisa dos seus agricultores. E os seus agricultores precisam do apoio da Europa. A Política Agrícola Comum é a nossa produção de alimentos, e é o futuro de mais de metade dos territórios da União Europeia, referiu Dacian Ciolos em comunicado dado aos jornalistas que acompanharam a visita da UE ao Alentejo. Roger Waite afirma que o que a Comissão Europeia quer é uma distribuição justa dos fundos. Nós queremos nos afastar das referências históricas que custaram muito à CAP em termos de investimento no futuro, referiu à AGROTEC. OS DEZ PONTOS FUNDAMENTAIS DA REFORMA 1.ª Reorientar os apoios ao rendimento, a fim de estimular o crescimento e o emprego, para melhor desenvolver o potencial agrícola da UE. Para isto, a Comissão propõe-se apoiar a renda do agricultor de uma forma mais justa, mais orientada às suas necessidades e mais simples. O apoio ao rendimento básico vai abranger apenas agricultores activos. Estes apoios poderão ir desde por exploração, não ultrapassando os , tendo em conta o número de empregos criados. Também será distribuído de forma mais equitativa entre os agricultores, entre as diversas regiões e entre os Estados-Membros. 2.ª A volatilidade dos preços é uma ameaça para a competitividade a longo prazo do sector agrícola. A Comissão propõe redes de segurança de intervenção e de armazenamento privada, que são mais afetivos e mais ágeis para os sectores mais expostos, e ainda promover a criação de seguros e fundos mútuos. 3.ª Para reforçar a sustentabilidade ambiental da agricultura e melhorar os esforços dos agricultores, a Comissão propõe-se gastar 30 por cento dos pagamentos directos especificamente, para a melhor utilização dos recursos naturais. Estas AGROTEC / SETEMBRO
5 GRANDES CULTURAS medidas a diversificação de culturas, manutenção das pastagens permanentes, a preservação dos reservatórios ambientais e paisagens são práticos, simples de implementar e terão um verdadeiro efeito ecológico. 4.ª Para produzir mais, com menos e melhor, a Comissão propõe a duplicação do orçamento para a agricultura, investigação e inovação, nomeadamente através de uma nova Parceria Europeia para a Inovação. Estes fundos, incluindo os que são disponibilizados através da nova Parceria Europeia para a Inovação, vão apoiar projectos de pesquisa relevantes para os agricultores, incentivando uma maior cooperação entre cientistas e agricultores. Bem como uma mais rápida de transferência de resultados positivos do laboratório para o campo, e fornecer uma melhor informação e dispositivo para os agricultores. 5.ª A agricultura desempenha um papel vital como o primeiro passo na cadeia de abastecimento alimentar, mas o sector é altamente fragmentado e não estruturados, e o seu valor acrescentado não é reconhecido. Para reforçar a posição dos agricultores, a Comissão propõe-se apoiar as organizações de produtores, desenvolver organizações interprofissionais, e desenvolver as vendas directas entre produtores e consumidores. 6.ª As especificidades de cada território devem ser levados em conta e as iniciativas ambientais serão incentivadas a nível nacional, regional e local. Para isso, a Comissão propõe duas prioridades específicas para restaurar a política de desenvolvimento rural, preservar e valorizar os ecossistemas, e ainda a eficiência dos recursos e da luta contra as alterações climáticas. 7.ª Dois terços dos agricultores têm mais de 55 anos. Para ajudar a geração mais jovem a envolver-se no sector agrícola, a Comissão propõe a criação de um auxílio à disposição para os agricultores com menos de quarenta anos de idade, durante os primeiros cinco anos de seu projecto. 8.ª Para promover o emprego e empreendedorismo, a Comissão propõe uma série de medidas para estimular a actividade económica nas zonas rurais e incentivar iniciativas de desenvolvimento local. Por exemplo, um kit inicial será criado para apoiar projectos de microempresas com financiamento de até ao longo de cinco anos. O líder dos grupos locais terá a sua acção reforçada. 9.ª Para prevenir a desertificação e preservar a riqueza da nossa terra, a Comissão está a proporcionar uma oportunidade para os Estados-membros continuarem a ajudar os agricultores em zonas com desvantagens naturais, com um suporte adicional. Isto é, além de outras ajudas já disponíveis no âmbito da política de desenvolvimento rural. 10.ª Para evitar encargos administrativos desnecessários, a Comissão propõe uma simplificação dos vários mecanismos administrativos da PAC, incluindo as regras dos sistemas de condicionamento e de controlo, sem perder a eficiência. Além disso, a ajuda aos pequenos agricultores é também simplificada. Para este último, uma taxa fixa de 500 a 1000 por exploração e por ano será criada. A venda de terras por pequenos agricultores que cessem a actividade agrícola a outros agricultores, que queiram reestruturar suas fazendas, será incentivada. Este último ponto já foi pensado pelo actual Governo português. O Banco de Terras faz parte do programa de consolidação do sector agrícola em Portugal. Para o secretário de estado da Agricultura, José Diogo Albuquerque, com o qual a comitiva da UE e os jornalistas tomaram o pequeno-almoço no primeiro dia da visita, os portugueses têm de voltar ao que é básico na economia com a crise. A prioridade centra-se nos jovens agricultores também, para que estes façam mais investimentos na área, referiu José Diogo Albuquerque. Figura 2 José Diogo Albuquerque CARACTERÍSTICAS ÚNICAS DO ALENTEJO Outro dos objectivos da UE está relacionado com a quantidade de culturas que um mesmo agricultor produz no terreno que possui. O Alentejo, onde prevalece o sistema de montado e onde a água continua a escassear em algumas zonas, tem sofrido algumas alterações com a construção do Alqueva. Figura 3 Herdade das Murteiras 76
6 Alguns agricultores, como é o caso do dono da Herdade do Freixo do Meio, Alfredo Cunhal Sendim, já apostam num sistema de produção de vários produtos com eficiência ecológica. Para Alfredo Cunhal Sendim a eficiência ecológica cria sistemas mais eficientes através do uso do que existe na natureza. Com uma quinta que ocupa 650 hectares de área de carvalhos e várzeas, Alfredo converteu a sua herdade para a produção orgânica em A Fundação Eugénio de Almeida é outro exemplo dos benefícios do Alqueva. Segundo Gonçalo Vinheiro, presidente da fundação Agropecuária, com o novo sistema de rega que a Barragem de Alqueva nos permitiu ter, conseguimos produzir legumes e gavinhas. Esta fundação também contribui com a produção de ovelhas, porcos pretos, azinheiras e carvalhos. O produto principal é o vinho e azeite. Gonçalo Macedo da Herdade do Gavião também sentiu os efeitos que a Barragem de Alqueva trouxe à região. De um volume de negócios de pouco mais de 100 mil euros antes de Alqueva, passou rapidamente para um milhão de euros com a introdução do regadio que a barragem permitiu. Figura 4 António Ferreira, Herdade Vale da Rosa O projecto Terra Prima visa, segundo Gonçalo Macedo, a modernização do montado, para permitir a plantação de leguminosas, para assim dar descanso à terra. António Vieira Lima, que tem uma quinta em Cuba do Alentejo, viu o seu leque de escolhas a aumentar com o Alqueva. Passou de uma só cultura o milho para mais quatro. A produção de melancia, girassóis, arroz e vinha, são agora possíveis para este jovem agricultor de 36 anos. Com 230 hectares de vinha até perder de vista coberta de plástico, a Herdade Vale da Rosa, muito conhecida pelas suas uvas de mesa sem grainha, viu a sua tarefa facilitada na hora de regar com o Alqueva. António Ferreira, o dono desta herdade, afirma que o Alqueva trouxe segurança para as nossas terras, pois antes de esta barragem existir não podíamos arriscar muito em novas culturas. A região está a mudar a produção por causa do Alqueva, acrescentou. Durante a viagem foi possível verificar mudanças significativas na paisagem Alentejana, entre aquelas zonas que já são abrangidas pelo Alqueva e aquelas que ainda esperam a conclusão do projecto para obterem este líquido sagrado a água. O Alentejo está a ficar cada vez mais verde e produtivo. As conhecidas paisagens douradas estão a dar lugar ao verde do milho novo, à produção de meloas, melancias e melões, entre outros produtos que não eram típicos da região. Apesar do tempo escaldante que se fez sentir durante toda a viagem temperaturas superiores a 40ºC a frescura e a beleza da nova paisagem Alentejana fez-nos acreditar estar em outra região do país. AGROTEC / SETEMBRO
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