Poder Judiciário JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária do Paraná 14ª Vara Federal de Curitiba
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- Edison Antunes Faro
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1 Av. Anita Garibaldi, 888, 2º andar Bairro: Cabral CEP: Fone: (41) PEDIDO DE LIBERDADE PROVISÓRIA COM OU SEM FIANÇA Nº /PR REQUERENTE: GERCIO LUIZ BONESI REQUERIDO: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL Poder Judiciário JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária do Paraná 14ª Vara Federal de Curitiba DESPACHO/DECISÃO 1. Trata se de pedido formulado no evento 16 pela defesa no sentido de permitir a utilização do montante apreendido quando do cumprimento do mandado de busca e apreensão na casa de GERCIO LUIZ BONESI para o recolhimento da fiança arbitrada pelo Juízo na decisão do evento 12. Posteriormente, foi requerida autorização para utilização dos valores bloqueados mantidos em instituição bancária pelo investigado por ordem judicial via convênio BACENJUD (evento 23). O Juízo, diante da informação trazida pela própria defesa de que R$ ,00 em espécie foram arrecadados pela Autoridade Policial na residência do requerente solicitou a prestação de informações detalhadas à Polícia Federal (evento 19). A determinação restou atendida nos eventos 25 e 27. Sobreveio promoção ministerial no sentido da manutenção da prisão preventiva anteriormente decretada (evento 31). Decido. Na decisão do evento 12 foram expostos os fundamentos de fato até então conhecidos que justificaram a decretação da prisão preventiva de GERCIO LUIZ BONESI. Após detalhado exame de todo o conjunto probatório até então existente ao final foi esclarecido o seguinte: Por outro lado, a questão relacionada ao seu incomum interesse em intermediar um negócio de exportação de miúdos de frango por parte de uma empresa do interior de São Paulo, conquanto possa ser considerada estranha e antiética, não foi corroborada, até o presente momento, por outros elementos que indiquem se tratar de ato verdadeiramente criminoso. A defesa, inclusive, demonstra que o tal negócio acabou não ocorrendo. Por essa razão, diante da dúvida que cerca a sua atuação, no ponto, deve ser desconsiderado ao menos por enquanto como elemento de reiteração delitiva que colabore para a manutenção de sua custódia cautelar. Quanto aos demais pontos que foram considerados como prova da materialidade permanecem os indícios que justificaram a decretação da prisão. O tal documento (memorando) encartado em procedimento do frigorífico administrado por NILSON parece mesmo ter sido produzido com data diversa da verdadeira e subscrito por GÉRCIO por solicitação direta de NILSON para facilitar a obtenção do SIF. 1/6
2 Enfim, há indícios de indevida atuação de GERCIO, conforme anteriormente referido em favor de NILSON e suas empresas. Entretanto, para a decretação/manutenção da prisão preventiva exige se a presença de ao menos um dos requisitos contidos no art. 312 do CPP, a saber: garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal. No caso, havendo fundadas dúvidas quanto à ilicitude da conduta de GERCIO LUIZ BONESI em outros diálogos que não aqueles relacionados ao documento anteriormente mencionado, não se pode falar, neste momento, em prática delituosa reiterada de tal gravidade que imponha a manutenção da prisão preventiva, tal como fundamentado na decisão cuja reconsideração se postula. Registro, adicionalmente, que o fiscal em referência se encontra atualmente a afastado do serviço público, por decisão administrativa do MAPA. Assim, considero que, no presente momento, não se mostra indispensável a manutenção de sua prisão preventiva, sendo, portanto, suficiente para a garantia da ordem pública e econômica a adoção de medidas cautelares diversas do encarceramento celular previstas no artigo 319 do CPP Nesse ponto, "tratando se de crime afiançável (...), é imprescindível, ao conceder se a liberdade provisória, o arbitramento de fiança, como forma de vincular o acusado ao juízo" (TRF4, Habeas Corpus nº , Sétima Turma, Relator p/ Acórdão Márcio Antônio Rocha, D.E. 06/10/2011). Quanto ao valor da fiança, este deve ser arbitrado tendo em vista os signos de capacidade econômica do autuado até então colhidos, bem como levando se em consideração as circunstâncias em que se deu o seu envolvimento nos fatos investigados, a natureza do crime cogitado e sua vida pregressa, tudo na forma dos artigos 325 e 326 do Código de Processo Penal. Para tanto, o arbitramento é realizado tendo por base a gravidade concreta do ilícito (no caso evidenciado pela violação aos princípios da moralidade administrativa que decorrem das práticas de corrupção e condutas correlatas) e, ainda, as condições pessoais do investigado. De tal sorte, tenho que o valor da garantia deve ser fixado em patamar razoável, a fim de desestimular a reiteração delituosa, bem como tencionando sua vinculação ao Juízo. Neste caso, o valor deve ser fixado em R$ ,00 (trintra mil reais), que considero ajustado à gravidade do seu envolvimento até agora verificado e a sua condição de fortuna pessoal Estando as práticas delitivas relacionadas às atividades desenvolvidas pelo investigado enquanto servidor público é provável que a sua permanência destes nas atividades inerentes ao cargo crie dificuldades ou imponha obstáculos à regularidade da investigação penal. Nesse sentido, a título exemplificativo, citam se a possível coação de testemunhas e a destruição de documentos. Entendi anteriormente que a medida era desnecessária por razões óbvias quanto aos servidores públicos cujas prisões preventivas foram decretadas porque já se encontravam, pela própria natureza da privação da liberdade, impossibilitados de retornar a seus locais de trabalho e de exercer suas atividades. Evidentemente, na hipótese de revogação de prisão preventiva, como ocorre neste momento, necessário se reexaminar a questão. Dada a independência entre as instâncias administrativa e penal, o só fato de estar ele afastado por determinação do MAPA não impede o exame da questão no âmbito do Juízo Criminal. Assim, com fundamento no disposto nos artigos 282 e 319, VI, do Código de Processo Penal, determino a suspensão do exercício da função pública pelo prazo inicial de 6 meses (contados do efetivo afastamento) do investigado GERCIO LUIZ BONESI. 2. Diante do exposto e com fulcro nos artigos 282 e 319, ambos do Código de Processo Penal, CONCEDO o benefício da liberdade provisória a GERCIO LUIZ BONESI, mediante o cumprimento das seguintes medidas cautelares (artigo 319 do CPP): a) o recolhimento prévio de fiança, no valor de R$ ,00 (trinta mil reais); 2/6
3 b) o comparecimento bimestral perante o Juízo Federal, para justificar suas atividades e manter seu endereço atualizado; c) afastamento do cargo de fiscal agropecuário pelo prazo inicial de 6 meses, na forma do item 1.2 acima. Oficie se. d) proibição de se ausentar do país sem prévia autorização judicial, entregando seu passaporte em Juízo; e) o compromisso de comparecimento a todos os atos do inquérito policial e do processo penal; f) comunicação de eventual mudança de residência, se for o caso; g) não se ausentar de sua residência por mais de 15 dias, sem comunicação ao Juízo do lugar onde poderá ser encontrado, sob pena de, quebrado o compromisso assumido, implicar, independentemente de outra decisão, a revogação automática dos benefícios ora concedidos, com a consequente e imediata expedição de mandado de prisão. 3. Intimem se. 4. Recolhido o valor da fiança, expeça se Alvará de Soltura, para que o investigado seja imediatamente colocado em liberdade a menos que haja outro motivo para permanecer no cárcere, e lavre se Termo de Compromisso nos moldes dos artigos 327 e 328 do Código de Processo Penal. 5. Deverá a autoridade policial tomar por termo o compromisso, quando do cumprimento do Alvará de Soltura. 6. Se necessário, para o cumprimento do item 2.b acima, expeça se carta precatória para a Subseção Judiciária mais próxima de seu local de residência. 7. Por fim, nada mais restando a ser feito, procedam se às devidas baixas e arquivem se. 8. Traslade se cópia desta decisão e da comprovação da respectiva soltura do investigado para os autos nº Tudo cumprido, dê se baixa. Agora, porém, há fatos novos que não podem ser desconsiderados pelo Juízo. Não bastasse a evidente inviabilidade de se acolher um pedido de utilização para pagamento de fiança de dinheiro apreendido em cumprimento a ordem judicial expressa em um inquérito policial destinado a apurar a prática de crimes de corrupção e afins, a Autoridade Policial apresentou detalhes intrigantes sobre a possível origem dos R$ ,00 encontrados na casa do requerente. Segundo as informações policiais dos eventos 25 e 27 os valores estavam acondicionados em 8 envelopes no interior dos quais existiam, provavelmente não por acaso, valores fixos de R$ 4.000,00 e R$ 5.000,00. Essa circunstância, por si, já é absoutamente incomum, especialmente em um país com sólida, confiável e extensa rede bancária, ao mesmo tempo em que é solapado pela violência cotidiana que faz com que a quase totalidade das pessoas não tenha o hábito de guardar somas expressivas de dinheiro em sua casa. Mas, além disso, as bem elaboradas informações policiais conseguem efetuar uma conexão clara, direta e coerente entre parte significativa dos valores apreendidos e as ações ilícitas em vista das quais há indícios de materialidade delitiva. O envelope do item 3 do auto de apreensão contém R$ 5.000,00 e nele consta identificado como de PIRAPO PARTICIPAÇÕES. Já o do item 2 contém mais R$ 5.000,00 e estava no interior de um envelope com a identificação FRIGORIFICO DE CAVALO a/c 3/6
4 Marcos Darronque. Este é o gerente administrativo do Frigorífico Santa Fé (razão social PIRAPO PARTICIPAÇÕES LTDA). No do item 1 há R$ 4.000,00 com a inscrição A/C Dr GERSIO THALES. Há diversos diálogos agora transcritos travados entre GERCIO e Marcos captados em outubro de 2016 em que se percebe a negociação entre ambos para que GERCIO passasse a atuar na condição e fiscal no frigorífico Santa Fé (nome fantasia da PIRAPO PARTICIPAÇÕES). empreitada. Os documentos apreendidos confirmaram, aparentemente, o sucesso da Afinal, GERCIO é a pessoa que, juntamente com Thales Everaldo Tomasella, em 03/02/2017 os Relatórios de Supervisão nº 01/4701/2017 e nº 02/4701/2017 na PIRAPO PARTICIPAÇÕES LTDA. Esses documentos instruíram requerimento de habilitação da empresa para exportar carne de equídeos para o Japão. Tudo foi apreendido inclusive cópia do documento da empresa na casa do fiscal agropecuário (evento 27, inf1). Ou seja, os indícios apontam fortemente no sentido de que GERCIO recebia, regularmente, pagamentos indevidos diretos da empresa acima, além daquelas em que se viu envolvido anteriormente no curso das investigações cujos fatos fundamentaram a sua prisão preventiva. Na linha do que apontado pela Autoridade Policial no evento 25, cujos termos adoto inteiramente: Cabe aqui atentar para o fato de que as ligações entre MARCOS e GERCIO ocorreram em outubro de 2016, o Relatório de Fiscalização é datado de 03/02/2017 e o envelope descrito no item 3 tem rastreador de SEDEX com data de postagem em 06/03/2017, poucos dias antes da deflagração da fase ostensiva da Operação, evidenciando que o pagamento de propina se perpetuou durante o tempo. Em um cenário desses, é evidente que a reiteração delituosa está presente e o seu envolvimento com práticas ilícitas criminais é frequente, regular e, também, atual, caindo por terra o argumento defensivo de que os fatos descritos pelo Juízo como suficientes à decretação de prisção preventiva foram isolados, tal como poderia ser entendido em um primeiro momento, como acolhido na decisão que agora se mostra equivocada anexada no evento 12. Anexo, abaixo, imagens das apreensões mencionadas: 4/6
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6 Portanto, com o acréscimo dos fundamentos acima, revogo o despacho do evento 12 na parte em que foi concedida a liberdade do postulante e restabeleço, para todos os fins a decisão que decretou a prisão preventiva do requerente, com os acréscimos da parte dos elementos de prova constantes no item 1 da decisão do evento 12 e da presente decisão, para garantida da ordem pública e da ordem econômica. 2. Intimem se. Documento eletrônico assinado por MARCOS JOSEGREI DA SILVA, Juiz Federal, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei , de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico mediante o preenchimento do código verificador v14 e do código CRC 3a0a92ad. Informações adicionais da assinatura: Signatário (a): MARCOS JOSEGREI DA SILVA Data e Hora: 07/04/ :57: V14 GZV MJS 6/6
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