LABMÓVEL MARIE CURIE :UMA ALTERNATIVA PEDAGÓGICA PARA O ENSINO DE FÍSICA

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1 LABMÓVEL MARIE CURIE :UMA ALTERNATIVA PEDAGÓGICA PARA O ENSINO DE FÍSICA Antonio Carlos Mometti ¹; ¹Professorcontratado da Secretaria Estadual de Educação/SP e licenciando em Física/UFSCar - SP 1. INTRODUÇÃO Propomos neste trabalho uma discussão acerca daimplantação de um laboratório móvel, em aulas de ciências, para turmas de ensino médio, na Escola Estadual José Ferreira da Silva, localizada no município de Descalvado, interior do estado de São Paulo. Tal laboratório não possui as formatações do tradicional, pois além de sua mobilidade, foi construído com o objetivo de ser um laboratório interdisciplinar. A fim de se esclarecer o surgimento da presente iniciativa, julgamos pertinente observar que a qualidade do ensino no Brasil, especialmente o ensino público, tem sidoquestionada nos últimos anos e, em decorrência disso,tornou-se o objetode algumas pesquisas educacionais que são desenvolvidas na atualidade.ainda nesta direção encaminham-se muitas discussões, com relação à efetivação do processo ensinoaprendizagem, que muitas vezes centram-se na busca das razões para entender os baixos índices educacionais, os quais são publicados pelas principais entidades que avaliam o referido processo, tais como a PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, na sigla em inglês), desenvolvido pela OCDE, e as provas localizadas, como o SARESP (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do estado de São Paulo), no estado de São Paulo. Da mesma forma, quando nos referimos ao ensino de ciências tais índices nos dão, grosso modo, uma noção de como os estudantes estão se desenvolvendo na aprendizagem científica ao longo e no final de sua formação básica.levando-se em conta que o processo ensino-aprendizagem é uma via de mão dupla temos também, através das mencionadas avaliações, um panorama dos resultados obtidos pela metodologia adotada para se trabalhar o ensino da ciência em determinado nível/turma/região, porquanto, pensar na aprendizagem é pensar no ensino e vice-versa. Desse modo, trabalhar com a Física no ensino médio, na escola pública, é um desafio a ser superado por todos os profissionais envolvidos, uma vez que a ausência de recursos didáticos voltados para o ensino-aprendizagem da disciplina, o número 5018

2 2 reduzido de aulas semanais, as turmas compostas de um número cada vez maior, de estudantes, e a sobrecarga burocrática para o profissional docente, são algumas das razões que tornam esse processo realmente desafiador. Contudo, há possibilidades para se desenvolver um bom trabalho nesta área de estudo,a despeito de todas as dificuldades mencionadas. Nesse sentido, como ponto de partida para a busca de práticas transformadorashá que se considerar que o ensino de Física na escola pública paulista está orientado, em grande parte, por uma metodologia tradicional, ou seja, aulas puramente teóricas, com o ensino centrado no professor, deixando o sujeito educando totalmente passivo, no processo de construção do conhecimento. A esta metodologia tradicional atribuimos parte da responsabilidade do baixo desempenho de nossos estudantes nesta área. Por tal motivo é muito comum ouvir de ex-alunos,os que já se formaram no ensino médio, as seguintes expressões: odeio física!, nossa, física é muito difícil, não gosto!. A construção da ciência física, assim como a das demais ciências, é uma construção humana e, portanto, tal conhecimento é acessível a todos; o que ocorre, na maioria das vezes, é o modoquase indecifrável como tal conhecimento é proposto para o estudante, já que, ao dificultá-lo com fórmulas matemáticas e expressões puramente empíricas, sem contextualização e, em alguns casos, sem nunca ter havido o recurso da experimentação, o professor não estará ensejando um processo de empatia para com afísica. Por outro lado, existem algumas correntes,na área do ensino de Física, que acreditam ser necessário, para melhorar a qualidade do processo ensino-aprendizagem da mesma,a utilização de laboratórios de ensino, utilizados de modo aberto, colocando o estudante como o centro do processo, tornando as atividades experimentais mais acessíveis e dinâmicas, e sem um roteiro totalmente fechado, condições estas que abririam inúmeras possibilidades para o uso do laboratório escolar. Embora seja difícil preconizar qualquer orientação à prática experimental, suas problemáticas trazem muitas possibilidades na formulação de caminhos para o desenvolvimento de aulas experimentais quando o professor já tem consciência dos efeitos de sua prática. (GALIAZZI et all, 2001).Porém, um trabalho diferenciado deve nortear o uso do laboratório em sala de aula, caso contrárioos sujeitos educandos não percebem outros propósitos, para as atividades práticas, que não os de verificar e comprovar fatos e leis científicas. Isso é determinante na sua compreensão acerca da natureza da ciência (HODSON, 1988), bem como na sua função social. 5019

3 3 Dentre os inúmeros objetivos que o laboratório de ensino possui, podemos destacar os de trabalhar conceitos que são abordados durante as aulas teóricas, de forma mais sistemática e interpretativa; coletar e analisaros dados com a finalidade de construção de gráficos e interpretação física dos mesmos; quantificar e selecionaras variáveis de acordo com o contexto em que o experimento se apresenta; e, finalmente, dinamizar o processo de ensino-aprendizagem das ciências. Portanto, utilizar o laboratório, no ensino de Física, não se resume, basicamente, emcomprovar as leis físicas vistas em sala de aula, maspossibilitar ao aluno um momento em que o mesmo terá contato com o modo comosurgiram as ideias da Física, de como os cientistas chegaram a determinadas conclusões e aos métodos que são criados, demonstrados e, quando não, substituídos, numa teoria. 2. CONSTRUÇÃO DO LABORATÓRIO MÓVEL MARIE CURIE Motivados pela carência de atividades experimentais e da crescente necessidade de se aprimorar o ensino de ciências, elaboramos um projeto de construção de um laboratório móvel interdisciplinar. Tal projeto foi desenvolvido na Escola Estadual José Ferreira da Silva, localizada no município de Descavaldo, interior de São Paulo, e tomou como pressuposto o conceito da interdisciplinaridade que, nas perspectivas de (MORIN, 2007) e (POMBO, 2008),caracteriza-se pelacombinação entre diferentes conceitos de uma mesma disciplina, ou de disciplinas diferentes, a fim de estudar um dado problema e/ou fenômeno. Desse modo, o mesmo tem por objetivo específico promover a integração entre as diferentes áreas do saber, através de metodologias de ensino que visem à prática, ao contato do estudante com o fazer científico e à sua integração ao mundo do conhecimento.a estrutura do laboratório móvel, como podemos ver na imagem 1, é pequena, compacta e simples. Sua mobilidade facilita o acesso deste às salas de aula do prédio escolar, e dá ao docente um arcabouço de experimentos que não enfatizam, apenas, a demonstração de uma lei física, química ou biológica, mas também a integração entre estas áreas por meio de atividades práticas investigativas, com questionamentos que norteiam o aluno a pensar nas explicações, utilizando os conhecimentos que até o momento obteve. 5020

4 4 3. DISCUSSÃO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA COM O USO DO LABMOVEL Neste laboratório, nomeado pelos próprios estudantes de LabMóvel Marie Curie, foi disponibilizado um acervo de experimentos interdisciplinares que atendem a uma turma de trinta e cinco alunos. Junto com tais experimentos há um plano de ensino sugerido para o professor, bem como bibliografia adicional e sítios eletrônicos onde possa se aprofundar sobre o tema abordado. Neste acervo há aparatos experimentais de todas as áreas da ciência, dos quais podemos destacar, por exemplo, as lupas de aumento, duas lunetas, provetas, seis microscópios, mais de mil lâminas com material biológico para análise, fonte de tensão, fios de cobre e alumínio, pesos de diferentes materiais, ácidos, bases, entre outros (imagem 2). O docente, partindo da perspectiva interdisciplinar acima citada, elaborará um plano de ensino sobre determinado assunto que esteja trabalhando. A partir deste plano de aula, juntamente com o plano do experimento que selecionará para trabalhar com seus estudantes, fará uso do laboratório em sua própria sala de aula, não necessitando, portanto, deslocar todos os alunos para outro ambiente, o que resulta em economia de tempo e melhor organização por parte dos estudantes. Para cada atividade experimental há uma sugestão de formação de grupos com certo número de alunos. Tais atividades práticas dão ao professor uma ferramenta a mais para incrementar sua prática pedagógica, ao mesmo tempo em que motiva os estudantes na área das ciências. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Devemos ter em mente que a prática de ensino é um fenômeno complexo, não possuindo, portanto, variáveis fáceis de ponderar. Desta forma, quando estamosdesenvolvendo a prática docente, ficamos sujeitos a indagações e muitas dúvidas sobre como ensinar determinado tema ou conteúdo para nossas alunas e alunos. Diversificar nossos métodos, buscar novas maneiras do fazer pedagógico e trabalhar, junto aos alunos, suas dificuldades e habilidades,é o que caracteriza a tarefa do educador. Desse modo, tendo em vista tais necessidades foi proposto e executado o projeto de construção de um laboratório móvel interdisciplinar. A este laboratório atribuímos a função de complementar a prática docente, e não a de substituir as aulas teóricas de ciências. Todavia, fatores como organização dos 5021

5 5 alunos, gestão do tempo da aula, e possibilidade de melhorar o processo ensinoaprendizagem da Física e das demais ciências, devem ser destacados, com o uso desta ferramenta. REFERENCIAIS BIBLIOGRÁFICOS GALIAZZI, M. C; ROCHA, J. M. B; SCHMITZ, L. C; SOUZA, M. L.; GIESTA, S.; GONÇALVES, F. P.; Objetivos das atividades experimentais no Ensino Médio: a pesquisa coletiva como modo de formação de professores de Ciências. Ciência & Educação. V. 7, n HODSON, D. Towards a philosophically more valid science curriculum. Science Eduction. V.72, n. 1, p MORIN, E. Sobre la Interdisciplinaridad. Pensamiento complejo Disponível em: idad.pdf> Acesso em 15 ago :00:00 POMBO, O. Epistemologia da Interdisciplinaridade. Revista de Educação e Letras Ideação. V.10, nº 1, p Unioeste. Foz do Iguaçu LISTA DE IMAGENS Imagem 1: Estrutura do LabMovel Imagem 2: Acervo do LabMovel 5022

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