Elementos Críticos para Modelagem de Parques Tecnológicos Privados no Brasil
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1 Elementos Críticos para Modelagem de Parques Tecnológicos Privados no Brasil Autoria: Luiz Antônio Gargione, Paulo Tadeu de Mello Lourenção, Guilherme Ary Plonski Resumo Os Parques Científicos e Tecnológicos (PCTs) são considerados instrumentos de política de apoio à inovação, transferência de tecnologia, criação de postos de trabalho e de desenvolvimento econômico e social. Os parques tecnológicos procuram oferecer uma infraestrutura física favorável ao estabelecimento de empresas de base tecnológica que se beneficiam dos resultados das aglomerações dessas empresas. A IASP Associação Internacional de Parques Científicos e Tecnológicos define um PCT como uma organização gerida por especialistas, cujo principal objetivo é aumentar a riqueza da comunidade, através da promoção da cultura da inovação e da competitividade das empresas e instituições baseadas no conhecimento. A maioria das iniciativas em desenvolvimento no Brasil busca amparo em recursos provenientes do Estado, trazendo com isto as dificuldades associadas. O objetivo deste trabalho é apresentar os elementos críticos e características, tangíveis e intangíveis, que devem ser considerados para a estruturação de modelos de PCTs privados no Brasil. Foram analisados modelos de estruturação de parques tecnológicos apresentados na literatura. Em seguida, levantou-se os requisitos e características que devem ser considerados prioritários para o projeto de um PCT sustentável. Foi realizada uma pesquisa de campo qualitativa envolvendo especialistas em viabilização, funcionamento e avaliação de parques. Os resultados desta pesquisa são apresentados neste trabalho como elementos críticos e características chave para a estruturação de um modelo de PCTs privados no Brasil. Introdução Os Parques Científicos e Tecnológicos (PCTs) são considerados instrumentos de política de apoio à inovação, transferência de tecnologia, criação de postos de trabalho e de desenvolvimento econômico e social. Os parques tecnológicos procuram oferecer uma infraestrutura física favorável ao estabelecimento de empresas de base tecnológica que se beneficiam dos resultados das aglomerações dessas empresas. Estes empreendimentos são ancorados no desenvolvimento imobiliário de médio e grande portes. Os parques tecnológicos são usualmente financiados pelo governo, por universidades, instituições de pesquisa e desenvolvimento, ou pela iniciativa privada, onde oferecem uma variedade de atividades e infra-estrutura que suporte o desenvolvimento e transferência de tecnologia entre os diversos atores que participam do empreendimento. A maioria destes empreendimentos busca apoiar o crescimento de pequenas e médias empresas de base tecnológica além de atrair outras empresas oferecendo infra-estrutura adequada aos seus usuários, em especial àquelas relacionadas a sistemas modernos de telecomunicações e equipamentos destinados a pesquisa e ao desenvolvimento. No âmbito internacional, as iniciativas de criação de parques tecnológicos são crescentes. Destacam-se além de países da Europa, os países asiáticos que têm criado empreendimentos importantes capazes de atrair e desenvolver empresas de base tecnológica. O movimento de parques científicos e tecnológicos no Brasil começou tarde, porém com uma tendência de rápida expansão para os próximos anos. 1
2 O objetivo deste trabalho é apresentar os elementos críticos e características chave, tangíveis e intangíveis, que devem ser considerados relevantes para a estruturação de modelos de Parques Científicos e Tecnológicos (PCTs) privados no Brasil. Inicialmente foram analisados modelos de estruturação de parques tecnológicos apresentados na literatura relacionada ao tema. Em seguida, foi feito um levantamento dos elementos e características que devem ser considerados prioritários para o projeto de um PCT sustentável no país. Foi realizada uma pesquisa de campo qualitativa envolvendo especialistas em ações e atividades ligadas à viabilização e ao funcionamento de PCTs. Como conseqüência deste trabalho de pesquisa são apresentados neste artigo os elementos críticos e características chave para a estruturação de um modelo de PCTs privados. As Definições de Parques Científicos e Tecnológicos Um Parque Científico e Tecnológico segundo a IASP Associação Internacional de Parques Científicos e Tecnológicos (International Association of Science Parks, 2002) é uma organização gerida por especialistas, cujo principal objetivo é aumentar a riqueza da comunidade, através da promoção da cultura da inovação e da competitividade das empresas e instituições baseadas no conhecimento. Para alcançar estes objetivos, um Parque Tecnológico: estimula e gerencia o fluxo de conhecimentos e de tecnologias entre Universidades, instituições de P&D, empresas e mercados; facilita a criação e o crescimento de empresas baseadas na inovação através da incubação e de processos de spin-off; fornece outros serviços de valor acrescentado, bem como espaços e serviços de apoio de elevada qualidade. Segundo a ANPROTEC Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias Avançadas (2002) um Parque Tecnológico é: Um complexo industrial de base científico-tecnológica planejado, de caráter formal, concentrado e cooperativo, que agrega empresas cuja produção se baseia em pesquisa desenvolvida em centros de P&D vinculados ao Parque; Um empreendimento promotor da cultura da inovação, da competitividade, e do aumento da capacitação empresarial, fundamentado na transferência de conhecimento e tecnologia, com o objetivo de incrementar a produção de riqueza. A Associação de Parques de Pesquisa de Universidades (Association of Universities Research Parks) estabelece que um parque de P&D é uma propriedade que contém: Uma área de terra planejada contendo edifícios prioritariamente voltados para a instalação de infra-estrutura de pesquisa e desenvolvimento envolvendo ainda empresas de base tecnológica, unidades de pesquisa pública e privada, além de infra-estrutura complementar de serviços; Uma estrutura que promova a participação de uma ou mais universidades ou institutos de pesquisa ou outras organizações de ensino superior ou pesquisa; Um ambiente capaz de promover uma interação entre as universidades e as empresas, prioritariamente nas ações de pesquisa e desenvolvimento com o objetivo de se criar novos negócios e promover o desenvolvimento econômico; Um ambiente capaz de promover a transferência de tecnologia entre os agentes que participam do parque, principalmente entre as universidades, os institutos de pesquisa e as empresas; 2
3 Um ambiente capaz de promover o desenvolvimento da comunidade local e regional baseado em conhecimento e tecnologia. A Associação de Parques Científicos e Tecnológicos do Reino Unido (United Kingdom Science Parks Association) define um parque científico e tecnológico como um negócio capaz de fomentar e suportar iniciativas relacionadas a incubação de empresas de base tecnológica, assim como promover o crescimento dessas iniciativas através do fornecimento de infraestrutura adequada e serviços de suporte. Essa infra-estrutura e esses serviços devem incluir: Colaboração com agências de desenvolvimento econômico; Ligações formais e operacionais com centros de excelência tais como universidades, institutos de pesquisa e outras organizações de ensino superior; Um sistema de gestão que apóie as pequenas e médias empresas de base tecnológica e os processos de transferência de tecnologia entre os agentes; Um ambiente favorável a integração de grandes empresas e negócios internacionais com centros de excelência em ciência e tecnologia. Dentre as diversas definições e conceitos apresentados pelas diversas organizações, cabe destacar a importância do vínculo com as universidades e institutos de pesquisa, o apoio à criação e ao desenvolvimento de empresas de base tecnológica e o estímulo que se dá aos processos de transferência de tecnologia entre os agentes que participam do empreendimento. Os Modelos de Parques Científicos e Tecnológicos O Brasil não possui ainda modelos claros, bem definidos e práticas consagradas para a viabilização, implantação e gerenciamento destes empreendimentos. Em uma pesquisa efetuada pela Anprotec (2005) nota-se que a diversidade de soluções é grande e até o presente momento não se pode selecionar ou hierarquizar as melhores alternativas de implantação ou modelos de gestão. Isto se dá em função da ausência de parâmetros padronizados que possam avaliar o desempenho destes empreendimentos tanto em fase de implantação como em operação no país. Zouain (2003) menciona que muitos trabalhos sobre incubadoras de empresas e parques científicos e tecnológicos foram desenvolvidos nos últimos anos no Brasil. Os trabalhos apresentados sobre parques tecnológicos mostram experiências individuais em diversas regiões do país, porém sem uma sistematização de modelos replicáveis ou ações sistematizadas que possam ser utilizadas por novos empreendimentos. Muitas das experiências e estudos apresentados são baseadas nos conceitos de clusters já existentes e em municípios do interior fora dos grandes centros urbanos. Além disso, diversas propostas de novos empreendimentos denominados Parques Científicos e Tecnológicos ainda se encontram em fase inicial, ou seja, o país ainda não possui experiência em quantidade com qualidade para o entendimento de modelos suficientemente testados que possam nortear as decisões para novos empreendimentos no setor. O Modelo de Parque Tecnológico Dinâmico O modelo de parques científicos e tecnológicos proposto por Bolton (1997) estabelece que os PCTs podem ser classificados como Estáticos ou Dinâmicos, apresentando as seguintes características para cada uma das classificações: 3
4 Estático: é um espaço industrial composto por edifícios e infra-estrutura associados a uma série de utilidades bem projetadas e funcionais que buscam como ocupantes empresas de base tecnológica. Dinâmico: é um espaço projetado baseado no conceito de crescimento do negócio e tem por objetivo abrigar empresas baseadas no conhecimento que se instalam na região sob a forma de clusters. Também tem como objetivo estabelecer um elo de ligação de organizações de ensino superior e pesquisa, universidades, com o intuito de dinamizar as ações de transferência de conhecimento e de tecnologia. O modelo de parque tecnológico dinâmico de Bolton apresenta as relações dinâmicas entre os envolvidos no parque como um sistema concêntrico, com três círculos, onde são representados três grupos de atividades: incubadora de negócios ou centros de inovação; empresas maduras, micro e pequenas empresas baseadas no conhecimento; atividades de pesquisa e desenvolvimento de empresas e instituições. No modelo de Bolton (Figura 1), no círculo interno localiza-se a incubadora a partir da qual os negócios são irradiados para o círculo intermediário. O círculo externo contém os laboratórios das instituições de pesquisa ou da universidade. Esses laboratórios irradiam ações para os círculos internos, num movimento constante, sob a forma de contratos de pesquisa, alianças estratégicas e spin-offs. Existem também atores externos aos círculos concêntricos que mantém vínculos com os componentes do sistema, entre eles a comunidade empresarial local. A conexão com a universidade é realizada por meio de programas ou projetos tecnológicos em cooperação e de ações de estímulo ao empreendedorismo. Spin-offs Laboratórios de Pesquisa de Empresas Empresas graduadas de incubadoras ou maduras Comunidade Empresarial Local Alianças estratégicas Incubadora de empresas tecnológicas & Centros de Inovação Contratos de Pesquisa e Desenvolvimento PMEs baseadas no Conhecimento Laboratórios de Pesquisa de Universidades ou laboratórios de Pesquisa Institucionais Departamentos de Universidades, Escritórios de Transferência de Tecnologia e Ações Empreendedoras Figura 1 Modelo de Parque Tecnológico Dinâmico proposto por Bolton (1997). 4
5 O Modelo de Parque Tecnológico Urbano O modelo de parque tecnológico em meio urbano proposto por Zouain (2003) é um modelo que propõe a inserção de novos elementos que contribuam para o modelo conceitual proposto por Bolton. Os elementos adicionados por Zouain envolvem: Centros de pesquisa cooperativa no círculo médio; Ampliação dos atores externos aos círculos concêntricos; Irradiação de ações de formação e treinamento, incluindo aquelas voltadas ao empreendedorismo. No modelo de Zouain, os Centros de Pesquisa Cooperativa podem se configurar como instalações voltadas a pesquisa e desenvolvimento de grandes corporações em parceria com instituições de pesquisa instaladas na região. O modelo de parque tecnológico urbano aproveita a disponibilidade de instituições baseadas no conhecimento, caracterizando-se por valorizar a proximidade entre os diversos participantes envolvidos no processo. O modelo apresenta características de apoio ao desenvolvimento de políticas públicas regionais baseadas no conhecimento, estimulando a formação e o crescimento de empresas baseadas no conhecimento e propõe a revitalização de áreas urbanas degradas ou economicamente deprimidas (Figura 2). Este modelo privilegia a criação de mecanismos que possam estimular a sinergia entre os centros locais de ensino superior e de pesquisas com as empresas. Ele tem por objetivo proporcionar a criação de uma massa crítica de empresas baseadas no conhecimento que se instalam na região ou, pelo menos, que formem clusters. Os negócios instalados no parque tecnológico amadurecem segundo uma lógica de desenvolvimento baseados em estágios de crescimento que envolvem negócios a partir de pesquisas e aplicações desenvolvidas no âmbito de instituições de ensino e pesquisa. Comunidade empresarial local Alianças estratégicas universidade Empresas graduadas de incubadoras ou maduras Centros de pesquisa no campus Instituições governamentais e de fomento - políticas públicas MPMEs Incubadora de empresas tecnológicas Centros de Pesquisa Cooperativa Formação e treinamento Spin-offs Atores e redes de cooperação internacional Centros de Ensino e Pesquisa Externos ao campus, que aderirem ao parque Organizações de capital semente e de capital de risco Figura 2 Modelo de Parque Tecnológico Urbano proposto por Zouain (2003). 5
6 O Modelo de Parque Tecnológico e Incubadora de Empresas de Base Tecnológica proposto pela OCDE Segundo a OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (1997), os objetivos principais das incubadoras e dos parques tecnológicos são: Promover o desenvolvimento econômico; Promover a comercialização de tecnologia; Desenvolver ativos e propriedades; Promover o empreendedorismo. Os parques tecnológicos e as incubadoras de empresas de base tecnológica têm ainda como objetivos promover o uso dos recursos tais como terrenos e espaços construídos, o compartilhamento dos recursos físicos, assim como equipamentos e sistemas de gestão, dentre eles os sistemas administrativos, serviços comerciais, serviços técnicos, dentre outros. Os parques e incubadoras podem ainda fomentar o acesso a recursos de financiamento, incluindose aí recursos provenientes das redes de business angels e venture capital. Os parques tecnológicos podem também congregar ações relacionadas as agências de desenvolvimento, universidades, governo local e central, e outras organizações sem finalidade econômica. A Figura 3 representa um modelo do contexto de funcionamento dos parques tecnológicos e incubadoras de empresas de base tecnológica proposta pela OCDE. O modelo procura mostrar a relação entre os diversos agentes e a rede de relacionamentos e interações entre esses agentes envolvidos nos empreendimentos. Figura 3 Modelo de contextualização de Parque Científico e Tecnológico e Incubadora de Empresas de Base Tecnológica proposto pela OCDE (1997). 6
7 Os agentes voltados aos ganhos econômicos e financeiros, utilizando capital de investimento privado podem financiar ações e negócios nas incubadoras e nos parques tecnológicos com o intuito de receberem potenciais lucros no futuro, tanto o lucro proveniente do desenvolvimento e comercialização de novas tecnologias, como o lucro proveniente de novos modelos de negócios provenientes de idéias inovadoras. Elementos Financeiros para Modelagem de Parques Tecnológicos Privados no Brasil A viabilidade econômica e financeira de Parques Tecnológicos Privados requer a estruturação de modelos de negócios adequados para estes empreendimentos. Para que se possa viabilizar um PCT privado, com expectativas de retorno capazes de contrapor os riscos do negócio, existe a necessidade de que se desenvolvam, na etapa de planejamento, estratégias financeiras capazes de tornar o empreendimento atraente para os empreendedores. Para isto, será necessário desenvolver uma série de indicadores de viabilidade do parque que possam ser estruturados em um modelo de avaliação do negócio, onde esses indicadores possam mostrar quais serão as prováveis condições de comportamento do empreendimento durante o seu ciclo de vida. Desta forma, o planejamento do empreendimento denominado parque tecnológico privado não pode ser entendido como uma atividade que não leve em consideração os desejos de rentabilidade do empreendedor e o processo de maturação do empreendimento. Sendo assim, o modelo de viabilidade econômica e financeira do parque deve ser capaz de traduzir as grandes transações financeiras do sistema de gestão do empreendimento ao longo de seu ciclo de vida. Um modelo adequado à avaliação da viabilidade econômica e financeira do parque deverá ser também capaz de expressar os fluxos esperados para investimento e retorno, a partir dos quais, se poderá medir os indicadores necessários para se avaliar a qualidade do empreendimento sob o ponto de vista econômico e financeiro do empreendedor. Cabe aqui ressaltar que no caso de parques tecnológicos, é praticamente impossível se estabelecer a qualidade do desempenho financeiro do empreendimento de forma absoluta. A qualidade do parque, como empreendimento irá se formar a partir do mercado, ou seja, a partir do comportamento de outros empreendedores associados ao próprio parque. O investimento neste caso não estará caracterizado pela avaliação sintética do montante de recursos que se investirá no empreendimento dentro de um dado cronograma de desembolso. O que caracteriza o investimento no parque será a contrapartida da aplicação dos recursos investidos e seu desempenho, no sentido de oferecer retorno para os investidores que participam do negócio. É importante também chamar a atenção para o fato de que diversos elementos críticos e características importantes do parque tecnológico devem ser contemplados pelo modelo econômico e financeiro do empreendimento. Dentre eles merece destaque o fator localização geográfica do parque tecnológico. A localização privilegiada do PCT, suas áreas de influência no contexto local e regional e suas conseqüências devem necessariamente nortear a estruturação do modelo econômico e financeiro do empreendimento. Em outras palavras, o empreendimento parque tecnológico, deverá apresentar aos empreendedores investidores do parque, uma condição econômica aceitável, uma estrutura financeira sustentável e uma configuração de estabilidade compatível sob o ponto de vista do risco do negócio. 7
8 A Coleta dos Dados para o Levantamento dos Elementos Críticos e Características do Modelo Para se avaliar quais os elementos críticos e características que devem ser considerados prioritárias para o desenvolvimento de um projeto de um parque tecnológico privado foi feita uma pesquisa envolvendo especialistas participantes em ações e atividades ligadas a viabilização e ao funcionamento de PCTs. Para esta pesquisa foram consultados quatro profissionais considerados especialistas no assunto e com notório conhecimento neste tipo de empreendimento. O primeiro especialista consultado é um dos membros do corpo de dirigentes de um parque tecnológico no país tendo sido um dos responsáveis pela implantação deste parque. Participa ainda de diversos movimentos e projetos de discussão de modelos de parques tecnológicos, além de articulações de programas de interação universidade-empresa. O segundo especialista consultado é um dirigente de incubadora de base tecnológica e possui assento no conselho de administração do parque tecnológico associado a incubadora. É considerado um especialista pois foi um dos principais idealizadores e articuladores na viabilização e criação de um parque tecnológico no Brasil. O terceiro especialista consultado é um pesquisador do tema parques tecnológicos e habitats de inovação, atuando também como consultor na implantação desses empreendimentos no território nacional. O terceiro especialista possui ainda expressiva participação no movimento de criação de novos parques tecnológicos no país. O quarto especialista consultado é também pesquisador do tema, tendo atuado por alguns anos em instituto de pesquisa. Este especialista possui ainda experiência muito relevante na avaliação e análise de projetos de parques tecnológicos através de relevantes serviços prestados em agência de fomento governamental. Cabe ressaltar que todos os especialistas consultados possuem experiência internacional no tema. A pesquisa de campo teve como objetivo conhecer a opinião destes profissionais a respeito dos elementos considerados por eles relevantes para este tipo de empreendimento. As percepções e opiniões declaradas por estes profissionais foram coletadas e examinadas através de um estudo envolvendo entrevistas em seus locais de trabalho ou por telefone. Os dados coletados se basearam em critérios qualitativos e foram coletados através de entrevistas semiestruturadas. As perguntas básicas desenvolvidas para as entrevistas abordaram os seguintes tópicos: O que você considera essencial para um Parque Tecnológico auto-sustentável? Quais seriam os elementos críticos para a criação e operação de um Parque Tecnológico auto-sustentável no Brasil? Quais as características que um Parque Tecnológico Privado deve ter para ser viável em termos de sustentabilidade (técnica, econômica e financeira) no Brasil? O que é essencial para a existência do parque? Todos os dados coletados foram analisados e relatados considerando os elementos e características operacionais, os elementos pertencentes a infra-estrutura e os elementos pertencentes ao sistema de gestão do parque, considerando ainda as dificuldades de implantação e o alinhamento com as estratégias institucionais e empresariais do empreendimento. 8
9 Consolidação dos Resultados da Pesquisa A partir dos dados levantados nas entrevistas com os especialistas consultados na pesquisa, foi possível identificar quais elementos podem ser considerados fundamentais para a estruturação de um parque tecnológico privado no Brasil. Os resultados das pesquisas com os participantes foram organizados conforme a categoria e conforme a sua existência física ou não, ou seja, foram também classificados em elementos tangíveis e intangíveis. Foram considerados elementos tangíveis foram considerados aqueles relacionados a sua existência física. Foram também considerados como elementos tangíveis, os chamados ativos não corpóreos, mas que devem ser classificados como tangíveis. Por outro lado, classificar os elementos intangíveis não é tarefa fácil. Os elementos intangíveis foram classificados por sua inexistência física, mesmo sabendo-se que esta classificação possa apresentar imperfeições numa análise mais complexa. Para os elementos intangíveis foram considerados aqueles elementos que possam ser entendidos como geradores de resultados econômicos futuros ou os elementos importantes para o alinhamento das estratégias institucionais do PCT. Os intangíveis são normalmente conhecidos como capital intelectual, ativos do conhecimento, marcas, patentes e outros ativos que não possuem corpo físico ou financeiro, mas que possam representar um direito a benefícios futuros. Os elementos críticos agrupados e entendidos como características chave para a estruturação de um parque estão apresentadas no Quadro 1 a seguir. Categoria dos Elementos Infra-estrutura & Ambiente de Inovação Elementos Críticos & Características Chave Tangíveis Infra-estrutura adequada para empresas de base tecnológica: área industrial e área de escritórios e laboratórios. Infra de Tecnologia da Informação e Comunicação moderna e de alto padrão. Infra-estrutura compartilhada com a universidade e institutos de pesquisa. Infra-estrutura de áreas afins e serviços básicos complementares as atividades empresariais do parque: restaurante, posto médico, bancos, farmácia, etc. Infra-estrutura laboratorial para certificação e aferição. Segurança patrimonial de qualidade. Intangíveis Oferta de recursos humanos qualificados. Presença marcante do parque no Sistema Nacional de Inovação. Arcabouço legal para a operação do parque como empreendimento de desenvolvimento econômico e social e de inovação. Oferta permanente de empregos qualificados. Presença de programas de treinamento e desenvolvimento profissional. Infra-estrutura favorável à difusão do conhecimento. Banco de dados para programas de inteligência competitiva. Infra-estrutura articulada com as Redes de Tecnologia. 9
10 Conforto ambiental e estético na infra-estrutura e construções. Serviços de transporte público de acesso ao parque e de logística para o parque. Área de preservação ambiental. Sistema de monitoramento de riscos ambientais. Projeto urbanístico imobiliário compatível com o propósito do empreendimento. Articulações com as Redes de Propriedade Intelectual. Articulação com Aprovação do tipo FAST TRACKING para a implantação de empresas e negócios no empreendimento. Gestão do Parque Condições fundiárias favoráveis a instalação do parque e de empresas de base tecnológica. Uso de indicadores de qualidade para avaliar a qualidade dos serviços prestados no parque. Personalidade Jurídica própria e compatível com os propósitos do parque. Modelo de gestão profissional do parque: agilidade, independência, autonomia e rapidez nos processos de tomada de decisão. Modelo de governança do parque com destaque para a responsabilidade social do empreendimento. Parcerias estratégicas consolidadas. Capacidade de operar em rede. Alianças estratégicas com mercados internacionais. Presença de empresas multinacionais no parque. Estímulo a internacionalização para as empresas do parque. Processos administrativos padronizados. Interlocutor para externalizar os interesses do parque. Existência de programas de marketing e divulgação do parque, divulgação das empresas e dos projetos relevantes. 10
11 Serviços Técnicos Especializados e Complementares Fatores de Relevância Econômica e Financeira Interação Universidade - Empresa - Governo Presença de empresas e pessoas especializadas em assessoria, consultoria e serviços técnicos e legais. Serviços técnicos especializados em consultorias e auditorias tributárias e fiscais. Serviços especializados em contratos de prestação de serviços, direitos de exploração, licenciamento, franquias, joint-ventures, etc. Incentivos fiscais com impostos diferenciados. Preços competitivos para o uso dos espaços e da infraestrutura do parque. Captação de recursos financeiros via agências de fomento em Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação e fundos setoriais governamentais. Acesso a financiamentos e recursos financeiros: BNDES, Capital Semente e Venture Capital. Presença de Programas próprios de fomento no parque. Presença de universidades e institutos de pesquisa que desenvolvam pesquisas de relevância empresarial. Presença de universidades e outras IES que preparem mão de obra qualificada com visão de mercado. Consultores com conhecimentos e habilidades em áreas estratégicas e mercados. Núcleos especializados em serviços de tecnologia e inovação: patentes, marcas, inteligência de mercado, direito autoral, canais de mercado e distribuição, gestão da qualidade, planejamento estratégico, inteligência competitiva, etc. Conectividade do parque aos programas de desenvolvimento econômico e social local, regional e nacional. Modelo de viabilidade econômico e financeiro com capacidade para gerar recursos para reinvestimento no parque. Modelo de viabilidade econômica e financeira compatível com os riscos assumidos pelo empreendedor do parque. Grupos de pesquisa atuando na fronteira do conhecimento. Programas de interação universidade-empresa para pesquisa e desenvolvimento de inovação tecnológica. Existência de programas de valorização do empreendedorismo tecnológico nas universidades e institutos de P&D do parque. Quadro 1 Elementos Críticos e Características Chaves para um PCT Privado no Brasil 11
12 A Proposição de um Modelo Conceitual para Parque Tecnológico Privado no Brasil Nesta seção do trabalho é apresentado um ensaio de um modelo alternativo para Parques Tecnológicos Privados no Brasil com uma perspectiva de empreendedores provenientes da iniciativa privada. A literatura pesquisada não oferece respostas claras à pergunta de se os PCTs podem ser viabilizados e geridos com recursos e estratégias provenientes da iniciativa privada no Brasil. Cabe aqui salientar que a pesquisa de um modelo conceitual alternativo para um PCT privado no país se encontra em andamento e visa complementar as opções de modelos de parques até então desenvolvidos. Figura 4 Proposta de um Modelo de Parque Tecnológico Privado (Fonte: autores). No modelo desenvolvido para um PCT privado (Figura 4), são contemplados os sistemas de interação com os diversos agentes internos e externos ao parque. Fazem parte desta interação: Parque Tecnológico x Governo o governo apóia a criação e implantação do parque e de suas empresas com políticas institucionais e políticas de incentivos fiscais e regimes tributários especiais. O parque tecnológico, através das empresas e negócios gerados no ambiente do parque, retorna ao governo e para a sociedade os impostos, taxas, tributos e contribuições, além da geração de novos postos de trabalho. 12
13 Parque Tecnológico x Sistema Financeiro o parque se beneficia da oferta de financiamentos provenientes do sistema financeiro, que está fora do ambiente do parque, com o intuito de associar os recursos provenientes dos financiamentos aos investimentos na infra-estrutura do parque. A operação do parque e de sua infraestrutura, devolve estes recursos ao sistema financeiro ao longo do ciclo de vida do empreendimento. Os fundos de investimento do tipo Capital Semente e Venture Capital investem nas start-ups, empresas e projetos de base tecnológica do parque, que geram o retorno aos fundos após seu período de maturação. Parque Tecnológico x Empreendedor do Parque o empreendedor do parque tecnológico, através de seu Sistema Gerenciador de Investimentos e Negócios, investe no parque (terreno, infra-estrutura de base imobiliária e negócios de base tecnológica) com o intuito de maximizar resultados de seus investimentos, respeitados os ciclos de maturação dos investimentos e negócios. Parque Tecnológico x Sociedade a sociedade gera demandas e necessidades para as organizações e empresas do parque, estimulando estes agentes a gerar novos produtos, processos e serviços baseados em inovação tecnológica. O empreendimento parque tecnológico possui em sua estrutura diversos elementos e agentes que combinados são capazes de gerar interações internas no ambiente do parque. Essas interações são capazes de gerar novos produtos, novos processos e serviços inovadores, capazes ainda de gerar retornos crescentes aos investidores que são estimulados por estes retornos crescentes a fazerem novos investimentos dentro do parque. Cabe destaque aos agentes: Universidades e Institutos de Pesquisa Incubadoras de Base Tecnológica PMEs - Pequenas e Médias Empresas de Base Tecnológica Unidades de MNCs Unidades de Empresas Multinacionais Empresas Prestadoras de serviços Técnicos Especializados e de Consultoria Comentários e Conclusões Este trabalho foi lançado com o objetivo de se estudar quais os elementos e características, tangíveis e intangíveis devem ser considerados essenciais e podem se tornar fatores cruciais para a modelagem e estruturação de Parques Tecnológicos Privados no Brasil. Para isto foram desenvolvidas entrevistas semi-estruturadas com pessoas consideradas especialistas no tema para o levantamento dos elementos críticos e das características chave para um parque tecnológico. Analisando-se as respostas dos entrevistados pode-se gerar uma lista de elementos considerados essenciais para os parques tecnológicos privados no Brasil. Esses elementos foram agrupados em cinco categorias: infra-estrutura e ambiente de inovação, gestão do parque, serviços técnicos especializados e complementares, fatores de relevância econômica e financeira e ações relacionadas aos processos de interação universidadeempresa-governo. 13
14 Um outro objetivo importante deste trabalho foi desenvolver a base de um modelo alternativo para Parques Tecnológicos com a perspectiva de investidores provenientes da iniciativa privada. Como ação de continuidade para a pesquisa, os autores estão desenvolvendo atividades no sentido de aumentar a quantidade e qualidade dos dados para a modelagem de um PCT privado no Brasil. Referências Bibliográficas Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias Avançadas. Panorama Obtido em ; acessado em 25/03/2006. Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias Avançadas. Glossário Dinâmico de Termos na área de Tecnópolis, Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas, Obtido em ; acessado em 15/06/2004. Bolton, W.. The University Handbook on Enterprise Development. Paris: Columbus Handbooks, Gargione, L.; Plonski, G. A.; Lourenção, P. T. M.. Fatores Críticos de Sucesso para Modelagem de Parques Tecnológicos Privados no Brasil. In: XI Seminario de Gestión Tecnológica - ALTEC 2005, 25 a 28 de Outubro de 2005, Salvador, BA, Brasil. International Association of Science Parks. SP Definitions, Obtido em acessado em 20/07/2004. OCDE. Technology Incubators: nurturing small firms. Relatório do Workshop da OCDE em Incubadoras de Base Tecnológica, OCDE, Paris, Plonski, G. A.. Cooperação universidade-empresa: um desafio gerencial complexo. Revista de Administração. São Paulo, USP, p. 5-12, outubro/dezembro Plonski, G. A.; Rogero, J. R.; Zouain, D. M.. Parque Tecnológico de São Paulo modelo de políticas públicas para aproximação de atores do sistema local de inovação. In: World Conference on Business Incubation Rio 2001, 23 a 26 de Outubro de 2001, Rio de Janeiro. Anais Rio de Janeiro: COPPE/UFRJ/ANPROTEC/SEBRAE, 2001, CD-ROM. Zouain, D. M.. Parques Tecnológicos Propondo um modelo conceitual para regiões urbanas O Parque Tecnológico de São Paulo. Tese (Doutorado), Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares IPEN/USP, São Paulo, acessado em acessado em
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