Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região. Processo n ª Vara do Trabalho de São Paulo

Transcrição

1 Em 29 de abril de 2015,na sede da, com a presença da juíza Juliana Petenate Salles, realizou-se a audiência para julgamento da ação trabalhista ajuizada por JULIANA PUBLIO DONATO DE OLIVEIRA em face de BANCO DO BRASIL S.A., Reclamada. Aberta a audiência, foram apregoadas as partes. Ausentes. A seguir, proferiu-se a seguinte SENTENÇA: Vistos, etc. RELATÓRIO Dispensado, nos termos do art. 852-I da CLT. FUNDAMENTAÇÃO I. PRELIMINARES: INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO: Sustenta a Ré ser esta Justiça Especializada incompetente para solucionar o presente feito por tratar-se de questão afeta ao direito societário a discussão acerca de requisitos de elegibilidade para o cargo estatutário de S.A. Sem razão. É da competência da Justiça do Trabalho conhecer e julgar pedidos decorrentes da relação de trabalho, como no caso sob judice, em que a empregada pretende a candidatura ao cargo de representante dos empregados no Conselho de Administração da empresa-ré, nos termos do art. 114 da Constituição Federal. Indefiro. IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA: Em defesa, a Reclamada impugnou o valor atribuído à causa, ao argumento de que não corresponde ao efetivo valor econômico da demanda. Examinando-se a petição inicial, constata-se que o valor atribuído à causa é compatível com a natureza dos pedidos formulados, não havendo qualquer prejuízo à Ré. Ressalte-se que o valor da causa não se confunde com o valor de eventual condenação.

2 Por essas razões, rejeito a impugnação. II. MÉRITO: PARTICIPAÇÃO PROCESSO ELEITORAL PARA COMPOSIÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO: A presente demanda versa sobre a pretensão da Autora em ter garantido o seu direito de participação na eleição do Conselho de Administração da Requerida, como representante dos empregados da empresa-ré, sociedade de economia mista, que segue o regime celetista em suas relações trabalhistas, nos termos do artigo 173 da CF/1988. Sustenta a Reclamante que, após realizar sua inscrição como candidata à vaga no referido Conselho e figurar na listagem preliminar de candidatos, foi notificada de que sua candidatura havia sido impugnada em razão de ação disciplinar instaurada após sua inscrição para o pleito. Aduz, ainda, que o procedimento disciplinar foi instaurado pela divulgação de conteúdo sindical em sua página pessoal nas redes sociais, bem como, por meio do endereço eletrônico corporativo para demais trabalhadores da empresa, e que essa condição de elegibilidade invocada para sua exclusão na eleição estava prevista apenas em regulamento, não advindo de lei. A tutela antecipada foi deferida à fl. 30 para suspender os efeitos da impugnação da candidatura da Autora para o Conselho Administrativo da Reclamada até decisão final do processo disciplinar. No enfrentamento do mérito da presente demanda, confirmo a tese que fundamentou a concessão da tutela antecipada, pois a condição de elegibilidade que sustenta a impugnação da candidatura ao cargo almejado pela obreira, além de estar previsto apenas em regulamento, afronta diretamente à Constituição Federal, uma vez que fere o princípio da presunção da inocência (art. 5º, LVII, da CF). Consoante referido princípio, o acusado passa de mero objeto do processo a sujeito de direitos dentro da relação processual. Trata-se de uma das mais importantes garantias constitucionais, evitando, com isso, que qualquer consequência prevista em lei como sanção punitiva seja aplicada antes da decisão final, inclusive em se tratando de processos administrativos disciplinares.

3 Corolários deste princípio constitucional são o direito ao contraditório e ampla defesa, o duplo grau de jurisdição, dentre outros que garantem ao cidadão não ser condenado antes de decisão da qual não caiba mais recurso. Não prospera a tese da Ré de que há expressa autorização legal no Estatuto do Banco para regulamentar o processo eleitoral, pois o poder regulamentar encontra limite na própria lei. Isto porque os regulamentos têm por incumbência dar fiel execução às leis, todavia, sem alterá-las ao sabor das conveniências de quem exerce o poder regulamentador. Portanto, instruções regulamentares não têm o condão de restringir direitos, como o da Autora de candidatar-se a cargo eletivo, alterando ou acrescendo conteúdo não desejado pela lei - já que nenhuma das leis que regem o processo eleitoral ao cargo de membro do Conselho de Administração, bem como o próprio Estatuto da Ré, prevêem como condição de elegibilidade que o candidato ao cargo de conselheiro representante dos empregados não esteja respondendo à ação disciplinar ou cumprindo sanção dela decorrente -, sob pena de usurpação de competência e afronta aos direitos políticos dos cidadãos. No mais, tal exigência torna manipulável e compromete a lisura da própria eleição, uma vez que abre oportunidade para que a instituição instaure procedimentos administrativos disciplinares contra possíveis candidatos ao cargo, às vésperas da uma eleição ou em seu curso, impedindo-os de participar do pleito. Tal manobra desvirtua o próprio espírito contido na lei, retirando a possibilidade de os empregados elegerem seus legítimos representantes ao cargo ora analisado. Forçoso salientar que, qualquer ato ilegal que venha o empregado a causar ao empregador, nessa condição especifica, ensejará reprimenda, e o fato de ser membro integrante do Conselho não inibirá a aplicação das sanções previstas na CLT, desde que regularmente aplicadas. Portanto, confirmo a tutela antecipada anteriormente concedida e acolho a pretensão da Reclamante para declarar nula a decisão da Comissão Eleitoral que a proibiu de participar da referida eleição. Por conseguinte, diante da notícia de que a Autora foi eleita para o cargo em discussão (ata de fl. 80), defiro o pleito para declarar o direito da Reclamante em assumir o cargo para o qual foi eleita, uma vez que houve a proclamação do resultado da eleição em seu favor.

4 Dessarte, deverá a Ré empossar à Autora no cargo de membro do Conselho de Administração, como representante dos empregados da empresa-ré, no prazo de 15 dias a contar da publicação desta sentença. O descumprimento da presente decisão acarretará no pagamento de multa diária no importe de R$ 500,00 (quinhentos reais), fixada a título de astreintes, nos termos do art. 461, parágrafo 4º, do CPC, a ser revertida à Autora, sem prejuízo das consequências previstas no artigo 330 do Código Penal. JUSTIÇA GRATUITA: Em face do requerimento constante da inicial e da declaração juntada aos autos (fl. 24), sem prova em contrário, concede-se à Reclamante a gratuidade judiciária, nos termos do artigo 790, 3º, da CLT, art. 14, 2º, da Lei n /70 e da Lei n. 060/50. DISPOSITIVO: Isto posto, nos autos da Reclamação Trabalhista que move JULIANA PUBLIO DONATO DE OLIVEIRA em face de BANCO DO BRASIL S.A., Reclamada, rejeito as preliminares arguidas; e no mérito julgo PROCEDENTES os pedidos formulados pela Autora, nos termos da fundamentação supra, para: - confirmar a tutela antecipada anteriormente concedida, garantindo a participação da Reclamante no processo eleitoral para escolha do membro do Conselho da Administração representante dos empregados da Ré; - declarar nula a decisão da Comissão Eleitoral que a proibiu de participar da referida eleição, com base no art. 26, IV, do Regulamento Eleitoral; - declarar o direito da Reclamante em assumir o cargo para o qual foi eleita; Deverá a Ré empossar à Autora no cargo de membro do Conselho de Administração, como representante dos empregados da empresa-ré, no prazo de 15 dias a contar da publicação desta sentença. O descumprimento da presente decisão acarretará no pagamento de multa diária no importe de R$ 500,00 (quinhentos reais), fixada a título de astreintes, nos termos do art. 461, parágrafo 4º, do CPC, a ser revertida à Autora, sem prejuízo das consequências previstas no artigo 330 do Código Penal.

5 Atentem as partes que a interposição de embargos de declaração com mero intuito de revisão do julgado será considerado protelatório, pois tal peça recursal não se destina a tal efeito, cabível apenas nas hipóteses expressamente previstas em lei. Custas pela Reclamada, sobre o valor da condenação, no importe de R$300,00. Intimem-se as partes. Encerrou-se a audiência. Nada mais. (assinatura digital) JULIANA PETENATE SALLES Juíza do Trabalho