PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Transcrição

1 fls. 1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº , da Comarca de Santo André, em que é apelante AMEPLAN ASSISTÊNCIA MÉDICA PLANEJADA LTDA, é apelado JUMA CAMILA DE ANDRADE (JUSTIÇA GRATUITA). ACORDAM, em 4ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento em parte ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmo. Desembargadores ENIO ZULIANI (Presidente sem voto), FÁBIO QUADROS E NATAN ZELINSCHI DE ARRUDA. São Paulo, 27 de novembro de Teixeira Leite RELATOR Assinatura Eletrônica

2 fls. 2 Voto nº ERRO DE DIAGNÓSTICO. Indenização por danos morais. Gestante que pela falta de oportuno diagnóstico de restrição de crescimento do feto, este foi colocado em situação de risco. Comprovação de nexo causal que gera o dever de indenizar, em valor que, porém, deve ser reduzido. Recurso provido em parte. Trata-se de r. sentença (fls. 231/239) que julgou procedente ação de indenização por danos morais proposta por Juma Camila de Andrade contra Ameplan Assistência Médica Planejada Ltda, para condená-la em danos morais no valor de R$ ,00, isto porque comprovado o erro de diagnóstico durante o pré-natal da autora, por médico credenciado da ré. Inconformada, em suas razões de apelação (fls. 929/944), a Ameplan reitera que o laudo é claro em salientar que a restrição de crescimento do feto não poderia ser evitada durante o prénatal, por isso entende que não há nexo de causalidade entre a conduta de seu médico credenciado e o quadro clínico do feto. Afirma, ainda, que não se comprovou qualquer problema de saúde da criança após o seu M Apelação nº Santo André - voto nº /7

3 fls. 3 nascimento. Sustenta, no mais, que o médico assistente pediu todos os exames necessários, tanto para constatação da gravidez como para o acompanhamento pré-natal, e que nas consultas subsequentes tudo estava dentro da normalidade, entretanto a apelada deixou, posteriormente de comparecer às consultas. Alega que a redução de líquido amniótico somente foi diagnosticada muito depois da última consulta com o médico de sua rede e apenas um dia antes do parto, entendendo que não há qualquer prova de que durante o atendimento de sua responsabilidade tenha agido com culpa. Pede, assim, a reforma da r. sentença ou, subsidiariamente, a redução da indenização para no máximo 05 salários mínimos. Contrarrazões às fls. 257/260. Este é o relatório. Pelo o que se apura, Juma propôs ação de indenização por danos morais contra seu plano de saúde Ameplan sustentando ter realizado o acompanhamento pré-natal com médico credenciado da apelante que, por imperícia, deixou de diagnosticar em tempo oportuno a restrição de crescimento do feto, colocando-o em situação de risco. Afirmou, ainda, que, embora questionasse seu médico quanto à necessidade de realização de exames, ele sempre dizia ser desnecessário e que a gravidez estava dentro da normalidade esperada. Assim, ante o não crescimento adequado de sua barriga, buscou orientação de outro médico que então constatou a restrição de crescimento do feto, o que ocasionou a este, problemas de saúde após seu nascimento. Assim, entende que, diante de todo esse M Apelação nº Santo André - voto nº /7

4 fls. 4 sofrimento, deve ser reparada deste prejuízo moral, do qual discorda a seguradora afirmando não haver qualquer nexo de causalidade entre a conduta de seu médico credenciado e o quadro clínico do feto, já que a restrição de crescimento não poderia ser evitada durante o pré-natal. Pois bem. É fato incontroverso que durante a gravidez de Juma o feto estava com restrição de crescimento, o que, realmente, não poderia ser solucionado pelo médico, mas esta circunstância, como pretende a apelante, por si só, não afasta sua responsabilidade, já que a falta de diagnóstico em tempo oportuno gerou grave risco ao feto. De acordo com o laudo às fls. 176/177, nota-se que: (...) Os sinais do não desenvolvimento eram evidentes, pois a altura do útero notadamente não apresentava o crescimento esperado, e em três oportunidades o médico não detectou esta anormalidade clínica. Portanto, considerando-se que a autora necessitava da solicitação do médico credenciado pela ré par que fosse, solicitados mais exames subsidiários para o diagnóstico da evidente anormalidade na sua gestação, fica claro que houve dano sofrido pela autora frente ao anteidmento prestado. 2) o dito erro médico, durante o pré-natal, e as consequências desse erro para a saúde da criança: durante o atendimento pré-natal prestado pelo profissional credenciado pela empresa ré, não foi detectada ou suspeitada a restrição de crescimento do feto, fato esse que era evidente pelos sinais indicativos da anormalidade nas medidas da altura uterina anotadas no cartão de prénatal, colocando em risco a saúde do concepto que nasceu com peso muito abaixo do desejável. 3) a culpa da ré: o atendimento médico M Apelação nº Santo André - voto nº /7

5 fls. 5 prestado não detectou oportunamente a evidente restrição do crescimento uterino, não providenciou a solicitação dos exames necessários para o esclarecimento diagnóstico prejudicando a adequada tomada de condutas em momento oportuno. 4) o nexo de causalidade entre a conduta do médico credenciado pela ré e os alegados danos suportados pela autora: os danos morais suportados pela autora, que, embora leiga no assunto, percebia o desenvolvimento precário de sua gestação, são decorrentes da conduta adotada pelo credenciado de não solicitar a investigação propedêutica necessária para esclarecimentos do caso, pondo em risco a saúde do concepto. Nesse rumo, em que pese a apelante alegar que o médico usou de toda a diligência, nota-se do cartão de pré-natal (fls. 22/22vº) que a altura do feto estava inferior àquela recomendada, mas, ainda assim, nenhum exame ou mesmo um melhor acompanhamento foi realizado para preparar a gestante para um parto mais adequado a esta circunstância, ou nas palavras da perita em resposta a quesito: Pode esclarecer o Sr. Perito, se os procedimentos médicos adotados pelo médico Dr. Júlio César Rubens Vera Palácios CRM/SP , mencionado pela autora em sua inicial foram adequados ao caso da autora? Não, os procedimentos médicos adotados no referido atendimento médico não foram adequados pois o exame de ultrassonografia solicitado oportunamente poderia proporcionar diagnóstico precoce e melhor esclarecimento das condições de saúde do feto da autora. Portanto, e como bem fundamentou o d. Magistrado, de fato, houve imperícia do médico, por erro de diagnóstico, gerando danos morais. Aliás, esse aspecto, assim como os demais, foi M Apelação nº Santo André - voto nº /7

6 fls. 6 abordado por sua Exa. com argumentos e fundamentos por tudo suficientes. No campo da responsabilidade civil, sabe-se que toda e qualquer obrigação de indenizar emerge de uma ocorrência apurada a partir de um ato ou de uma omissão, com íntima relação desta causa para o resultado que, necessariamente, deve ser o dano experimentado, ou, um prejuízo tirado desta equação negativa, entre o anterior e o posterior ao fato, propriamente dito. Com efeito, a ideia de responsabilidade civil para autorizar a reparar um dano causado a outrem, como amplamente ensina a doutrina e exige a lei (art. 186 e 927, CC), depende do exame da presença de quatro elementos essenciais: ação ou omissão, culpa ou dolo do agente, relação de causalidade, e o dano experimentado pela vítima. Nesse vértice, constatado o erro médico, correta a condenação da operadora de plano de saúde que deve primar pela qualidade do atendimento de seus médicos e hospitais credenciados, de sorte que ao contratar com os segurados garantem ampla rede de prestadores qualificados a cuidar de suas saúdes. Assim, eventual imperícia perpetrada por médico de sua rede, acarreta em sua responsabilização, entretanto, merecendo a r. sentença, pequena reforma no que concerne ao quantum de indenização. Sabe que a intensidade do dano moral se observa pela magnitude da lesão, devendo ser levados em conta os sofrimentos psíquicos e afetivos padecidos pela vítima (Antonio Jeová Santos, Dano moral indenizável, 4ª ed., SP: RT, 2003, p. 188). M Apelação nº Santo André - voto nº /7

7 fls. 7 Assim, e com todo respeito ao d. magistrado, com vistas a atender a dupla função da indenização, a saber: reparar o prejuízo, buscando minimizar os danos sofridos e, punir o ofensor, para que não volte a reincidir, é necessário assegurar uma justa compensação, sem, entretanto, incorrer em enriquecimento ilícito por parte de quem a recebe, e, paralelamente, determinar a ruína daquele responsável pelo seu pagamento. Nesse rumo, razoável que a indenização seja reduzida, porquanto, embora tenha havido erro de diagnóstico, a restrição de crescimento existiu por outros fatores e causas não superadas por esse exame se realizado a contento. Logo, tem-se que as complicações daí decorrentes são suas consequências. Assim, pelo restrito episódio, o melhor é fixar esse quantum em R$ ,00, corrigido a partir deste julgamento (Súm. 362 STJ) e juros de mora a contar da citação. Ante o exposto, voto pelo provimento em parte do recurso. TEIXEIRA LEITE Relator M Apelação nº Santo André - voto nº /7