Distribuição de Renda: Evolução Recente. Marcelo Neri
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- Luiz Fernando Santana de Carvalho
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1 Distribuição de Renda: Evolução Recente Marcelo Neri Descrição da Base: PME O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) implantou a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) em A PME é uma pesquisa de periodicidade mensal sobre mão-de-obra e rendimento do trabalho, e inclui as seis principais áreas metropolitanas do Brasil: Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. A PME é uma pesquisa em painel, e replica o esquema de amostragem da US Current Population Survey (CPS), visando coletar informações do mesmo domicílio por oito vezes durante um período de 16 meses. É realizada em bases rotativas, através de entrevistas mensais às famílias durante quatro meses consecutivos, retirando-as da amostra durante oito meses e em seguida as entrevistando novamente por mais quatro últimos meses. Entre a famílias são entrevistadas por mês em cada uma das seis áreas metropolitanas, somando, ao todo, aproximadamente famílias. Em agosto de 1988, o tamanho da amostra foi reduzido para aproximadamente famílias por mês. O aspecto longitudinal da PME isto é, acompanha as mesmas pessoas ao longo do tempo - permitiria analisar o risco individual ocupacional e de renda. Desde a implantação da PME, ocorreram modificações na pesquisa, com o objetivo de melhor captar as características da população em idade ativa e sua inserção no sistema produtivo. Os temas tornaram-se mais amplos, englobando os efeitos conjunturais e as transformações do mercado de trabalho. Contudo, as questões gerais de demografia e de trabalho são as mesmas desde fevereiro de A disponibilidade de informações mensais construídas a partir da Pesquisa Mensal do Emprego (PME) nos permitiria trabalhar com médias anuais, o que evita problemas de sazonalidade, além de permitir uma análise detalhada da dinâmica do processo. A principal restrição da PME, que está na abrangência do conceito de renda utilizado, uma vez que trabalha apenas com a renda proveniente do trabalho. A PME, assim como a PNAD, permite analisar a evolução da renda e da composição dos grupos populacionais, com a vantagem de realização mensal, tornandose importante instrumento de monitoramento. 1
2 PME e a Evolução Recente das Condições de Vida A tradição entre as instituições de pesquisa como o IBGE é usar os dados da Pesquisa Mensal do Emprego (PME) em níveis individuais, e não em níveis domiciliares. Tipicamente, processando indicadores como taxa de desemprego, formalidade e a renda média do trabalho dos ocupados. Entretanto, a PME é uma pesquisa domiciliar comparável à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) e pode ser usada como tal. Esse ponto merece destaque, pois a avaliação das condições socioeconômicas deve levar em conta o processo de repartição de recursos no bojo dos domicílios. Por exemplo, o fato de a renda do trabalhador adulto poder beneficiar outros membros de sua família, como as crianças. Ou ser beneficiado pela renda do cônjuge o que oferece um seguro social de natureza familiar. Nesse sentido, o conceito mais adequado para auferir o nível de pobreza seria a renda domiciliar per capita dos indivíduos, que corresponde à soma da renda de todas as pessoas dos domicílios dividida pelo número total de moradores. Similarmente, quando queremos quantificar a extensão da chamada classe média para, por exemplo, avaliar o poder de compra de bens familiares, tais como a casa própria, o conceito adequado é a renda total auferida por todos os membros do domicílio. Ambos os conceitos resumem uma série de fatores operantes sobre os membros da família, tais como os níveis de ocupação e de rendimento, auferidos de maneira formal ou informal, mas cujos efeitos sejam rateados ou agregados pelo número total de moradores. A questão central aqui ensejada é como melhorar o monitoramento das condições de vida da nossa população. Como avaliar o desempenho social e econômico dispondo apenas dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/IBGE), cujo conhecimento fica, em média, 18 meses defasados em relação dos instantes mensurados? Por exemplo, hoje estamos há 22 meses desde a última fotografia nacional tirada a partir da Pnad. A Pnad foi a campo na primeira semana de outubro de 2008 e irá se tornar conhecida apenas em setembro de 2009 quando os efeitos da crise estarão no seu auge e a colheita de dados será de tempos de bonanza O aumento de velocidade é um requisito necessário para poder traçar um sistema de acompanhamento e avaliação de metas sociais operativo. Isto inclui tanto sistemas gerenciais feitos no âmbito das administrações públicas, como o acompanhamento das flutuações da renda apropriada por diferentes segmentos da sociedade. Do ponto de vista das empresas privadas que querem se adequar às flutuações do ciclo de negócios para ajustar a sua produção e para nichar a sua demanda, a urgência requerida não é menor. Função destas necessidades propomos lançar mão do processamento dos microdados da PME, que, graças a sua agilidade, nos permite diminuir a defasagem de um ano e meio da PNAD para pouco mais de um mês e meio aqui (NERI; CONSIDERA,1996). Desigualdade Apresentamos a seguir séries mensais dos índices de Gini e do Theil-T adotando os conceitos individual e per capita. 2
3 Desigualdade de Renda do Trabalho - 6 Principais Metrópoles Brasil Níveis Renda per Capita Renda Individual THEIL GINI THEIL GINI dez/02 0,8178 0,6317 1,1930 0,7457 dez/03 0,7680 0,6180 1,1309 0,7322 dez/04 0,7437 0,6049 1,0765 0,7161 dez/05 0,6928 0,5920 1,0366 0,7059 dez/06 0,7079 0,5904 1,0359 0,6998 dez/07 0,6844 0,5836 0,9955 0,6897 ago/08 0,6860 0,5843 0,9852 0,6867 set/08 0,6891 0,5848 0,9854 0,6853 out/08 0,6719 0,5808 0,9614 0,6804 nov/08 0,6871 0,5824 1,0010 0,6837 dez/08 0,6724 0,5778 0,9854 0,6823 jan/09 0,7251 0,5922 1,0594 0,6979 fev/09 0,7115 0,5878 1,0323 0,6927 m ar/09 0,6963 0,5870 1,0030 0,6916 abr/09 0,7201 0,5907 1,0100 0,6922 m ai/09 0,6906 0,5843 0,9876 0,6879 jun/09 0,6848 0,5830 0,9744 0,6845 jul/09 0,6807 0,5815 0,9722 0,6838 ago/09 0,6801 0,5834 0,9739 0,6847 set/09 0,6870 0,5863 0,9860 0,6880 out/09 0,6914 0,5859 0,9909 0,6878 nov/09 0,6820 0,5838 0,9782 0,6852 dez/09 0,6603 0,5779 0,9546 0,6796 A desigualdade de renda que passou por forte deterioração com o aumento observado em janeiro quando comeu parte das melhoras dos últimos anos, voltou em dezembro último aos níveis próximos ao de dezembro de 2008: o Índice de Gini da renda domiciliar per capita do trabalho passa a 0,5779 no último mês, apenas 0,1% acima do índice visto um ano antes (0,5778), e, portanto antes da crise aqui aportar. O índice de desigualdade de Theil que é mais sensível às mudanças na cauda da distribuição mostra movimento um pouco diferente sendo o de dezembro último o menor nível da série histórica. A seguir, os dados de variação para os diversos conceitos da tabela anterior. Os conceitos mais amplos que incluem rendas nulas tendem apresentar um resultado próximo da variação nula na comparação de dezembro dos dois anos. Variações rdpc - 15 a 60 (todo mundo) renda individual - 15 a 60 (total) THEIL GINI THEIL GINI dez03 a dez % -6.5% -12.9% -6.8% dez04 a dez08-9.6% -4.5% -8.5% -4.7% dez08 a dez09-1.8% 0.0% -3.1% -0.4% ago08 a set08 0.5% 0.1% 0.0% -0.2% set08 a dez08-2.4% -1.2% 0.0% -0.4% dez08 a jan09 7.8% 2.5% 7.5% 2.3% jan09 a set09-5.3% -1.0% -6.9% -1.4% out09 a dez09-4.5% -1.4% -3.7% -1.2% 3
4 Os gráficos abaixo ilustram as variações do período de Dezembro de 2003 a Dezembro de 2008 e deste mês até Dezembro de 2009 para o conceito de renda domiciliar per capita incluindo valores nulos. Variação da Desigualdade Pré versus Pós-Crise O gráfico a seguir abre o último ano em sub-períodos. Identificando a forte deterioração em janeiro seguida por movimento em direção contrária nos meses seguintes: Variação da Desigualdade Pós-Crise Quando analisamos os gráficos das médias móveis observamos claramente a influencia do resultado do início do ano, que mostra a inversão da queda observada 4
5 desde o início da série. Resultado que foi revertido nos últimos meses conforme as séries abaixo ilustram. 5
6 6
7 Renda Média O conceito habitual ou normal suaviza flutuações transitórias da renda tal como aquela advinda do décimo terceiro salário, do bônus de férias e de horas extras feitas de maneira excepcional. O conceito de renda efetiva, também pesquisado pela PME, apresenta marcadas flutuações sazonais na passagem de cada ano como os gráficos ilustram, mas fora estes picos as séries de dados são relativamente próximos 1. Optamos ao longo deste trabalho por trabalhar aqui com o conceito habitual de renda, pois além de eliminar flutuações erráticas o que pode viesar para cima as medidas de mobilidade a serem discutidas mais a frente. Uma vantagem deste conceito é a de ser também usado pela PNAD permitindo comparabilidade direta dos resultados com a principal base de dados do sistema de pesquisas domiciliares brasileiras. Fonte: CPS/ FGV, com base nos microdados da PME/IBGE. Os gráficos em média móveis permitem isolar melhor as tendências. A média de renda dá continuidade à trajetória de expansão já observada do fim da recessão de 2003, como já os dados mensais acima já sugeriam. 1 Neri (1996) detalha as diferenças entre os dois conceitos a partir da comparação entre a PME coletada entrea 1980 e idos de 1982 antes da primeira reformulação. Um outro ponto é que o conceito habitual tende a estar vinculado ao mês em curso da pesquisa enquanto o efetivo ao mês anterior. Neste sentido o coneito efetivo seria mais adequado como indicador líder da PNAD. Por outro lado, o conceito efetivo de renda é o que se adequa as séries da PME entre 1982 e 2002, antes da segunda reforma. 7
8 Fonte: CPS/ FGV, com base nos microdados da PME/IBGE. Na tabela a seguir é possível observar os níveis de renda média nos meses de dezembro desde o ano Apresentamos todos os meses desde agosto de 2008 para melhor entender os efeitos da crise no nível de renda do brasileiro. Renda Per Capita - 6 Principais Metrópoles Brasil Renda Efetiva Renda Habitual dez/02 545,61 529,52 dez/03 506,24 484,14 dez/04 560,20 528,78 dez/05 621,15 564,70 dez/06 646,97 603,93 dez/07 668,69 627,22 ago/08 651,61 652,00 set/08 665,04 666,61 out/08 666,31 666,41 nov/08 665,39 665,82 dez/08 708,55 662,47 jan/09 828,58 659,59 fev/09 640,22 644,30 mar/09 639,65 645,75 abr/09 639,66 643,12 mai/09 638,55 640,67 jun/09 646,19 648,29 jul/09 647,20 648,32 ago/09 659,01 662,15 set/09 665,10 665,72 out/09 666,50 667,50 nov/09 669,63 671,27 dez/09 706,48 659,75 8
9 Fonte: CPS/ FGV, com base nos microdados da PME/IBGE. Em termos de variação, a taxa de crescimento acumulada no período de Dezembro de 2003 a Dezembro de 2009 da renda per capita, portanto já descontando o crescimento populacional, é de 36,3%, ou seja, 5,3% ao ano. Se isolarmos em dois momentos distintos, sendo o primeiro até dezembro de 2008, observamos que a taxa acumulada de crescimento da renda é pouco superior (36,8%). Ou seja, entre dezembro de 2008 e dezembro de 2009, os resultados não mudam muito (o que notamos é uma ligeira redução de -0,4%). Variação da Renda Domiciliar Per Capita Pré versus Pós-Crise Fonte: CPS/ FGV, com base nos microdados da PME/IBGE. 9
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