INFLUÊNCIA DO DESENHO URBANO NA INSEGURANÇA. Uma proposta para o bairro da Cova da Moura RESUMO ALARGADO
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- Eric Pinho Fortunato
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1 INFLUÊNCIA DO DESENHO URBANO NA INSEGURANÇA Uma proposta para o bairro da Cova da Moura RESUMO ALARGADO Luís Pedro Cardoso de Freitas Maio 2011
2 0.INTRODUÇÃO 0.1 Objectivos e objecto de estudo O presente Relatório de Projecto tem como objectivo geral a análise pós-concepção de estratégias urbanas no Bairro da Cova da Moura, elaboradas no âmbito do Concurso Universidades da Trienal de Arquitectura 2010 e da disciplina de Projecto Final do 5º ano do Mestrado Integrado em Arquitectura, no ano lectivo de 2009/2010. Esta análise tem como enfoque a influência do desenho urbano na insegurança, a qual entende-se estar relacionada com a possibilidade e/ou ocorrência da delinquência e/ou de comportamentos anti-sociais. Como objectivo específico, destaca-se a identificação e relevância da reflexão teórica dos principais conceitos, sob a óptica da influência do desenho urbano na insegurança, na elaboração da proposta para o bairro da Cova da Moura. De modo a compreender a extensão e influência da insegurança e criminalidade na percepção de qualidade de vida urbana, são explorados os conceitos supracitados numa perspectiva de análise e identificação dos factores, causas e consequências, assim como o espaço onde ocorre o acto delinquente/transgressivo. 0.2 Motivações A região de Lisboa registou um elevado crescimento demográfico na segunda metade do séc. XX, derivado de movimentos migratórios provenientes de áreas rurais (a partir da década de 50), do regresso dos retornados das antigas províncias ultramarinas africanas ( ) e de imigrantes provenientes dos países PALOP (a partir de meados da década de 80). Este aumento populacional traduziu-se numa demanda na procura de habitação e na respectiva incapacidade de absorver essa mesma procura. Como consequência, verificou-se a generalização de tecidos urbanos indiferenciados e bairros de génese ilegal na periferia de Lisboa, entre os quais o da Cova da Moura. Na paisagem urbana da região de Lisboa, verifica-se a existência de inúmeros problemas advindos de um ordenamento territorial inadequado que concorrem para a promoção da exclusão social e urbana. Alguns destes problemas são consequentes do modelo de desenvolvimento de infraestruturas urbanas, da sua qualidade construtiva e da ausência de um planeamento estruturado em termos de eficácia de mobilidade. O bairro da Cova da Moura é exemplo desta realidade. Como tal, o Concurso Universidades da Trienal de Arquitectura 2010 procurou promover, uma leitura propositiva sobre este território, através de uma intervenção arquitectónica que visasse atenuar alguns dos problemas decorrentes da existência de uma rede urbana complexa na área intersticial de Lisboa. As questões decorrentes da exclusão social, económica e urbana reflectem-se igualmente na problemática da insegurança urbana, a qual prejudica gravemente a qualidade de vida dos seus 2
3 habitantes. O espaço urbano onde ocorre os delitos surge como um factor influente no sucesso ou insucesso do acto criminoso assim como na insegurança dos seus residentes. Assim, a pertinência deste trabalho passa pela procura da sensibilização de arquitectos e urbanistas na leitura efectuada pelos utilizadores do espaço criado, em relação à percepção do efeito da insegurança urbana. Neste relatório de projecto destaca-se igualmente o interesse pessoal no confronto das intenções projectuais do autor com as reflexões desenvolvidas sob a óptica da insegurança. 1.DESENVOLVIMENTO Este relatório estrutura-se em três capítulos: 1) Delinquência e Insegurança; 2) Influência do Desenho Urbano na Insegurança; e 3) Projecto. 1.1 Delinquência e Insegurança O primeiro capítulo aborda as definições, causas e consequências, da delinquência e/ou comportamentos transgressivos e a constituição do sentimento de insegurança em áreas urbanas. Destaca-se a importância de três variáveis para a sua formulação: o delinquente, a vítima e o espaço de confronto. O presente trabalho focaliza-se neste último factor, dada a importância de arquitectos e urbanistas na concepção do espaço urbano. Este capítulo, após abordar as diferentes temáticas relacionadas com a delinquência e insegurança, incide sobre a pertinência das estratégias e concepções projectuais, dentro das cidades, na possível prevenção de actos delinquentes e antisociais e, consecutivamente, na mudança do sentimento de insegurança para uma melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. 1.2 Influência do Desenho Urbano na Insegurança Urbana Após a compreensão da importância do desenho urbano como estratégia de prevenção de delitos e/ou comportamentos transgressivos, este capitulo analisa as diferentes concepções e modelos teóricos formulados e utilizados. Destaca-se os trabalhos de Jane Jacobs (1961), Oscar Newman (1972), Ray Jeffery (1971) e Bill Hillier (1984) tanto pela sua relevância no estudo do espaço urbano como cenário de delinquência e insegurança, como pelo contributo e inspiração para posteriores autores. A temática da vigilância natural e controlo social por parte da comunidade é abordada por todos os autores referidos como medidas dissuasores de actos ilícitos, apesar da discordância da composição dos vigilantes activos, em relação à inclusão nestes de elementos exteriores à comunidade. Entre os autores referidos destaca-se igualmente a discordância em 3
4 relação às propostas de conceptualização da organização espacial, entre traçados urbanos abertos e permeáveis e os controlados e restritos nos seus acessos por barreiras físicas, visuais e simbólicas. 1.3 Projecto Neste capítulo procede-se a uma contextualização abrangente do objecto de estudo, efectuando a caracterização geográfica, sócio-demográfica, urbana, assim como o seu desenvolvimento, e a análise dos factores relacionados com a mobilidade e a insegurança do bairro da Cova da Moura. Este bairro, localizado no concelho da Amadora, confronta-se com diversos problemas de saneamento, estabilidade construtiva e de exclusão social, económica profissional e urbana, insegurança e carência de espaços públicos e equipamentos. Tanto a Cova da Moura como os outros bairros intersticiais da Damaia e Buraca têm em comum uma condição de isolamento face ao tecido urbano envolvente. Este é devido à presença de barreiras físicas impostas pelas infraestruturas de mobilidade de escala metropolitana (linha de comboio, CRIL e IC 19) bem como a descontinuidades, ao nível da malha urbana quer em termos de traçado quer da tipologia do edificado, reforçadas pela topografia acidentada dos lugares. Tais questões são necessárias ter em conta, para que as estratégias projectuais, a realizar, possam contribuir para uma resolução das mesmas. A proposta pressupõe obter, igualmente, uma relação recíproca e potenciadora com os aspectos positivos do bairro, onde destaca-se a realidade social, cultural, étnica e de identidade, história e associativismo. Esta proposta procura assim, colmatar as principais carências identificadas nos bairros da Cova da Moura e adjacentes, tendo ainda em consideração os problemas de insegurança existentes. Perante uma área urbana caracterizada pela exclusão social e urbana, a concepção teórica partilhada por Jacobs e Hillier, de abertura e permeabilidade, apresenta-se como pertinente para reduzir a vulnerabilidade do espaço urbano. Identificaram-se princípios de intervenção relacionados com a concepção teórica de Hillier, no que se refere ao fomento de um sentimento de comunidade virtual entre os bairros da Cova da Moura, Buraca e Damaia, através da partilha de espaços e vivências. Assim, a proposta procurou integrar na malha urbana existente espaços acessíveis, permeáveis, visíveis, legíveis e previsíveis, e capazes de gerar actividades. Com base nestes princípios procurou estabelecer-se um factor dissuasor tanto para a prática delinquente e/ou transgressiva como na formação do sentimento de insegurança por parte da comunidade. O projecto elaborado, objecto de estudo deste trabalho, comporta a definição e clarificação das ligações entre os bairros da Cova da Moura, Damaia e Buraca, de modo a que possam beneficiar de uma relação simbiótica, aproveitando as sinergias e características urbanas, culturais, sociais e étnicas de cada um. Foram identificados dois eixos estruturais ao longo dos quais são 4
5 propostas intervenções pontuais de espaços de oferta à existência de actividades (de carácter edificável ou não) que podem servir a Cova da Moura e os bairros envolventes. Deste modo pretende constituir-se um factor de atractividade de forma a promover a quotidianidade e as relações sociais dos utilizadores (comunidade virtual), tanto do bairro como exteriores a este, e assim, assegurar a presença de transeuntes que, de acordo com Jacobs, asseguram a vigilância natural do espaço urbano. Continuidades Urbanas Propostas Fonte: Autor A estratégia de intervenção desenvolvida visou colmatar a lacuna urbana consequente da ausência de um espaço público de qualidade. Assim, a intervenção maior foi desenvolvida a partir dessa óptica, com a proposta de um espaço configurado por uma forma racional que contrasta com a densa e espontânea malha da Cova da Moura. O espaço público proposto sugere a sua descoberta ao longo das ruas que conduzem ao local onde se acumulam as sinergias das ruas e da vivência do bairro: A Praça. Esta intervenção surge da necessidade da projecção de um espaço de forte identidade sócio-cultural com dimensão urbana que funcione como elemento-chave para o desenvolvimento das restantes intervenções ao longo dos eixos, previamente mencionados, com vista à promoção das interacções com a Cova da Moura e com os bairros adjacentes Neste espaço destaca-se a integração de diversas actividades de natureza educativa e sócio-cultural, como a escola primária, biblioteca, centro comunitário, espaço destinado a actividades físicas e outras, de forma a gerar actividades e estimular as relações sociais entre a comunidade e com os restantes bairros, as quais reduzem o sentimento de insegurança. 5
6 Perspectiva da Praça Fonte: Autor 3.CONCLUSÃO A proposta apresentada procura fomentar as condições da qualidade de vida da comunidade, através da continuidade urbana, reabilitação e (re)qualificação do bairro, e assim, reduzir a imagem negativa e insegurança urbana existente na Cova da Moura. Na proposta Identificaram-se princípios de intervenção de modo a estabelecer-se um factor dissuasor tanto para a prática delinquente e/ou transgressiva como na formação do sentimento de insegurança por parte da comunidade. De forma a tornar mais explicita a intensa articulação e integração entre a proposta e o seu suporte teórico, optou-se por uma permanente associação das soluções projectuais adoptadas com os contributos conceptuais dos autores mencionados. No entanto, devido ao âmbito académico do Concurso Universidades da Trienal de Arquitectura 2010, esta proposta deixa em aberto a continuação do desenvolvimento da mesma, no qual se sugere o aprofundamento das reflexões teóricas explanadas anteriormente. Designadamente a consideração das teorias de Newman, de territorialidade espacial, numa fase posterior de elaboração da concepção da Praça. Ressalva-se a pertinência deste trabalho na reflexão do tipo de abordagem interventiva a efectuar neste bairro, assim como na relevância do papel dos arquitectos, urbanistas e técnicos em geral na concepção do espaço urbano e consequentemente na influência sobre a vulnerabilidade deste. Destaca-se, no entanto, a necessidade de uma permanente ponderação e avaliação das questões de insegurança, bem-estar e vivência da comunidade, pois existe uma grande diferença entre uma concepção espacial segura e securitária. 6
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