RESOLUÇÃO DA AMBIGUIDADE NO ÂMBITO DA CORREFERÊNCIA PRONOMINAL: UM ESTUDO PSICOLINGUÍSTICO SOBRE A INFLUÊNCIA DO CONTEXTO

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE LETRAS DEPARTAMENTO DE LINGUÍSTICA RESOLUÇÃO DA AMBIGUIDADE NO ÂMBITO DA CORREFERÊNCIA PRONOMINAL: UM ESTUDO PSICOLINGUÍSTICO SOBRE A INFLUÊNCIA DO CONTEXTO Ana Luiza Henriques Tinoco Machado Rio de Janeiro 2016/ 1 0 semestre DEFESA DE DISSERTAÇÃO iii

2 RESOLUÇÃO DA AMBIGUIDADE NO ÂMBITO DA CORREFERÊNCIA PRONOMINAL: UM ESTUDO PSICOLINGUÍSTICO SOBRE A INFLUÊNCIA DO CONTEXTO ANA LUIZA HENRIQUES TINOCO MACHADO Dissertação de Mestrado em Linguística, apresentada à Coordenação dos Cursos de Pós- Graduação em Linguística da Universidade Federal do Rio de Janeiro Orientadora: Profa. Aniela Improta França Co-orientador: Marcus Maia UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE LETRAS 1 O. SEMESTRE DE 2016 iv

3 Machado, Ana Luiza Henriques Tinoco Resolução da ambiguidade no âmbito da correferência pronominal: um estudo psicolinguístico sobre a influência do contexto / Machado, Ana Luiza Henriques Tinoco - Rio de Janeiro: UFRJ, xiii, 80f: il 15cm. Orientadora: Aniela Improta França Dissertação (mestrado) UFRJ, Faculdade de Letras Programa de Pós- Graduação em Linguística, Referências Bibliográficas: f Correferência pronominal 2. C-comando I. França, Aniela Improta II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Departamento de Linguística. III. Resolução Da Ambiguidade No Âmbito Da Correferência Pronominal: Um Estudo Psicolinguístico Sobre A Influência Do Contexto v

4 RESOLUÇÃO DA AMBIGUIDADE NO ÂMBITO DA CORREFERÊNCIA PRONOMINAL: UM ESTUDO PSICOLINGUÍSTICO SOBRE A INFLUÊNCIA DO CONTEXTO Ana Luiza Henriques Tinoco Machado Aniela Improta França Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em Linguística, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Linguística. BANCA EXAMINADORA Presidente, Professora Doutora Aniela Improta França Universidade Federal do Rio de Janeiro Professor Doutora Juliana Novo Gomes CNPq Professora Doutora Suzi Lima Universidade Federal do Rio de Janeiro Professor Doutor Thiago Oliveira da Motta Sampaio, suplente Professora Doutora Aleria Cavalcante Lage, suplente Universidade Federal do Rio de Janeiro Defendida a dissertação em 8 de março de 2016 vi

5 AGRADECIMENTOS Meu caminho até aqui contou com muitas pessoas especiais. Eu sei que essa é só uma parte pequenina da vida acadêmica, mas ela é tão importante pra mim! Chegar aqui seria muito mais difícil sem algumas pessoas especiais que participaram de tudo comigo, então eu preciso agradecer muito e sempre. As primeiras pessoas que devem estar aqui são minha mãe e meu pai. Minha mãe, Ana Beatriz, é uma das melhores pessoas que eu conheço no mundo, ela é simplesmente incansável! Seu apoio incondicional me fortalece e tudo o que eu desejo é que ela sinta orgulho de mim. Obrigada por todos os sacrifícios que você faz e já fez para que eu chegasse aqui, mãe, você é uma guerreira!! Obrigada por ser minha melhor amiga! Falar do meu pai é tocar em algo muito profundo no meu coração e não preciso dizer que tem tudo a ver com o que eu sou hoje. Sua ausência na minha vida é tão forte que, na verdade, ele se tornou onipresente: está no meu caminho para a faculdade, nas aulas que assisto, nos meus momentos de alegria e nos de tristeza também. Cada linha deste trabalho eu dedico a ele Quando contei que faria Letras, ele me falou para ir fundo e fazer o meu melhor sempre. Guardo esse e muitos outros conselhos com todo o carinho do universo. Todos os dias eu tento ser o melhor que posso para honrar o que ele foi e o que ele deixou aqui Pai, muito obrigada por tudo! Eu daria o mundo para que você estivesse comigo comemorando esse passo. De todos as minhas paixões na vida, vocês dois, mãe e pai, são as minhas maiores e mais intensas! Obrigada pelo apoio, pelo carinho e pelo amor sem medidas!!! Meu primeiro período na Faculdade de Letras me trouxe uma das pessoas que mais admiro. Minha querida orientadora, Aniela, me apresentou à Linguística de forma apaixonada e me mostrou que tipo de professional eu queria ser. Desses tempos até hoje, alguns anos depois, minha admiração e respeito só aumentam. Aniela, muito obrigada por trilhar comigo esse caminho que me orgulha tanto e por ter me dado as mãos nesses últimos anos da minha vida! Sou muito agradecida e honrada por toda a ajuda e por todo o tempo investido em mim. Você merece toda a gratidão e carinho que eu puder oferecer! Logo no começo da faculdade eu conheci o Thiago e desde então ele se tornou um amigo indispensável na minha vida! Ele é uma das pessoas mais amigas que eu conheço. Obrigada por tudo, Thiago!! Eu conheci a Juliana só no final da faculdade e fui sua pupila, como ela mesma disse uma vez! Nossa amizade começou em um momento muito difícil para mim, mas ela foi muito vii

6 presente Hoje somos mais que companheiras de laboratório, somos um time! Eu sei que podemos sempre uma contar com a outra e isso é maravilhoso. Amigos assim não aparecem todos os dias! A Nathácia chegou na minha vida no finalzinho da minha graduação. Ela se tornou uma ótima amiga desde então, além de ser a melhor companheira de viagem dos últimos tempos. Somos diferentes em inúmeras coisas, mas sei que nela encontro sempre um ombro amigo para o que der e vier. Quando comecei o Mestrado, o Professor Marcus Maia se tornou meu co-orientador. Ele é sempre calmo e muito paciente, é ótimo trabalhar com ele! Marcus, obrigada por tudo o que me ensinou até aqui! É uma honra ser sua aluna! Antes de fazer Estatística no primeiro período do Mestrado, a Michele era apenas uma menina com quem eu cruzava nos corredores, mas, depois daquele período, ela se tornou muito importante pra mim. Obrigada por toda a paciência e carinho! Eu não posso deixar de agradecer à Aléria pelo seu cuidado comigo. Obrigada por sempre buscar a justiça e a verdade. Pessoas leais como você são raras! Gostaria de agradecer à Alessandra, amiga que a Letras me trouxe, por estar sempre presente na minha vida. Talvez ela seja uma amiga bem melhor do que eu mereço, mas sabe o tamanho do meu carinho por ela. Meus irmãos queridos Carol, Elisa, Victor e Duda - merecem que eu agradeça a eles também. A gente briga por besteirinhas, mas a verdade é que a gente se ama muuuito! Sou tão abençoada por ter tantos irmãos!! Somos muito leais e isso é lindo de se ver! Obrigada por existirem e por me aceitarem como eu sou. Tenho uma amiga-irmã muito especial. Além de ser uma amiga maravilhosa, a Camilla me deu dois presentes extremamente valiosos: me apresentou a Camila e a Marina. Essas meninas têm a vida completamente diferente da minha e mesmo assim conseguem estar presentes em todos os meus momentos! Vocês são a prova de que família também são aqueles que escolhemos, porque amo vocês como família. Obrigada, meninas! Levo vocês para a vida. Tenho amigas que cresceram junto comigo: Daphne, Carol, Aline, Victoria, Aninha, Bu e Lora. Há vinte anos brincávamos na hora do recreio no CSA e ainda somos amigas hoje. Obrigada por aceitarem minha ausência (mais do que deveriam) e, mesmo assim, me amarem. Tenho certeza de que vamos envelhecer juntas! Meus avós, Dalton e Cleide são muito especiais no meu coração. A presença deles em minha vida, suas lições e conselhos cheios de experiência de vida e o carinho que recebo nas nossas tardes de conversa sempre fazem com que eu me sinta mais amada. viii

7 Deixei uma pessoa muito especial pro final. O Aquiles é uma das pessoas mais leais que eu conheço, mas mais que isso: é o meu amor! Ele me passa serenidade, aguenta meus desesperos, comemora minhas vitórias e me estimula a fazer mais e melhor sempre. Posso arriscar a dizer que ele desperta o que há de melhor em mim e sou muito agradecida por ter encontrado com ele no caminho da vida! Preciso agradecer também aos meus participantes voluntários nos experimentos dessa dissertação! Obrigada pela ajuda, serei eternamente grata!! Finalmente, agradeço à CAPES pelo apoio financeiro. ix

8 Resumo Esta dissertação tem como objetivo principal pensar sobre a resolução da ambiguidade no âmbito da correferência pronominal intrassentencial e a influência da semântica verbal no seu processamento. Além disso, tentamos colaborar para o melhor entendimento da especificidade do domínio sintático, de o quanto ela é autônoma e de quando ela seria influenciada por vieses semânticos e pragmáticos. As hipóteses que assumimos foram as de que (i) a operação de estabelecimento da correferência intrassentencial comumente se envolve em ambiguidade e a resolução da ambiguidade é multifatorial; (ii) durante a resolução, as restrições sintáticas são aplicadas primeiro; (iii) há informações contextuais entrando ao longo da computação que poderão ser observadas off-line na resolução da ambiguidade. Foram aplicados dois testes de leitura automonitorada para investigarmos os vieses semânticos do verbo para entendermos se e em que medida eles podem influenciar no processamento da correferência pronominal. A meta conjunta dos dois testes foi a de delimitar o papel estrutural no processo da correferência estabelecida em sentenças tanto com pronome preenchido como nulo. Dessa forma, os dois testes apresentaram as mesmas seis condições e sua diferença foi o tipo de pronome. Dessa forma, pensando nos fatores que poderiam influenciar no processamento das sentenças em teste, assumimos três hipóteses principais: (i) a operação de estabelecimento da correferência intrassentencial comumente se envolve em ambiguidade e a resolução da ambiguidade é multifatorial; (ii) durante a resolução, as restrições sintáticas são aplicadas primeiro; (iii) há informações contextuais entrando ao longo da computação que poderão ser observadas off-line na resolução da ambiguidade. A partir de nossos resultados, conseguimos perceber a participação de alguns), fatores sintáticos relativos aos pronomes, fatores semânticos inerentes à raiz (cue-based factors e, ainda, além deles, uma outra força vinda de recursos cognitivos da memória poderia atuar relacionado à recência dos antecedentes disponíveis. Porém os fatore sintáticos parecem ter atuado primeiro. Palavras-chave: correferência pronominal, c-comando, semântica verbal, pronome preenchido e pronome nulo. x

9 Abstract This paper aimed at unveiling aspects of intrasentencial ambiguity resolution within the pronominal correference and the influence of verbal semantics in its processing. In addition, we tried to contribute to the better understanding of the specificity of the syntactic domain, its independence and the multiple biases - semantic and pragmatic by which it is influenced. The assumptions we made were that (i) the establishment of operation intrasentencial reference commonly engages in ambiguity and disambiguation is multifactorial; (ii) for the resolution, syntactic constraints are applied first; (iii) there contextual information coming over computer that can be observed offline in resolving the ambiguity. Two selfpaced reading tests were applied to investigate the semantic bias of the verb root to select arguments through anaphoric relations to understand whether and to what extent it can influence the processing of pronominal coreference. The joint goal of both tests was to define the structural role in the coreference process established in sentences both with the filled pronoun and with its null form (pro). The two tests showed the same six conditions and their difference was the type of pronoun. Thus, thinking about the factors that could influence the processing of test sentence three main hypotheses are assumed: (i) the establishment of intrasentencial coreference operation often engages in ambiguity and disambiguation is multifactorial; (ii) for the resolution, syntactic constraints are applied first; (iii) there contextual information coming over computer that can be observed offline in resolving the ambiguity. From our results, we can see the participation of some, syntactic factors related to pronouns, semantic factors inherent to the root (cue-based factors and also beyond them, another strength from cognitive memory resources could act related to recency of available records. But the syntactic to factor seem to have acted first. Keywords: pronominal coreference, c-command, verbal semantics, completed and null pronoun. xi

10 SUMÁRIO Capítulo 1 INTRODUÇÃO 1 2 A CORREFERÊNCIA NAS LÍNGUAS NATURAIS Teoria da Ligação Teorias relacionada ao Discurso Hipótese da Posição do Antecedente 24 3 O PROCESSAMENTO DA CORREFERÊNCIA 27 4 OS EXPERIMENTOS Materiais e Métodos do Experimento Participantes Desenho Experimental Estímulos Desenho Fatorial A cronologia do teste Hipóteses e Previsões Materiais e Métodos do Experimento 2 Participantes Desenho Experimental Estímulos Desenho Fatorial A cronologia do teste Hipóteses e Previsões Página RESULTADOS E DISCUSSÃO 47 6 CONCLUSÃO 60 Referências Bibliográficas 64 Anexos 67 xii

11 ÍNDICE DE TABELAS Página Tabela 1: Os traços constitutivos das anáforas, pronomes e expressões 11 referenciais Tabela 2: Adaptada dos dados do Experimento 2 de Carminati (2002) 25 Tabela 3: Variáveis Dependentes do Experimento 1 38 Tabela 4: Condições experimentais a partir do cruzamento de variáveis 38 independentes Tabela 5: Exemplos de estímulos em cada condição experimental e distratores 38 do Experimento 1 Tabela 6: Quadrado Latino do Experimento 1 40 Tabela 7: Exemplos de estímulos em cada condição experimental e distratores do Experimento 2 44 ÍNDICE DE GRÁFICOS Gráfico 1: Respostas off-line da condição PN1 do Experimento 1 48 Gráfico 2: Respostas off-line da condição PN2 do Experimento 1 48 Gráfico 3: Respostas off-line da condição PN1 do Experimento 2 49 Gráfico 4: Respostas off-line da condição PN2 do Experimento 2 49 Gráfico 5: Tempos de leitura no verbo e no objeto sem cortes Toda a Amostra 50 Gráfico 6: Tempos de leitura no verbo e no objeto: Tirando os verbos que 50 necessitavam da semântica do objeto para completarem seu sentido principal (corte de 12,1%) Gráfico 7: Respostas off-line da condição PS1 do Experimento 1 51 Gráfico 8: Respostas off-line da condição PS2 do Experimento 1 51 Gráfico 9: Respostas off-line da condição PS1 do Experimento 2 52 Gráfico 10: Respostas off-line da condição PS2 do Experimento 2 52 Gráfico 11: Tempos de leitura no verbo e no objeto sem cortes: Toda a Amostra 54 Gráfico 12: Tempos de leitura no verbo e no objeto: Apenas acertos 54 Gráfico 13: Tempos de leitura no verbo: Tirando os verbos que necessitavam da 54 semântica do objeto para completarem seu sentido principal Gráfico 14: Tempos de leitura no verbo e no objeto: Consolidando os dois ajustes 54 Gráfico 15: Respostas off-line da condição PO1 do Experimento 1 55 xiii

12 Gráfico 16: Respostas off-line da condição PO2 do Experimento 1 55 Gráfico 17: Respostas off-line da condição PO1 do Experimento 2 56 Gráfico 18: Respostas off-line da condição PO2 do Experimento 2 56 Gráfico 19: Tempos de leitura no verbo e no objeto sem cortes: Toda a Amostra 58 Gráfico 20: Tempos de leitura no verbo e no objeto: Apenas acertos 58 Gráfico 21: Tempos de leitura no verbo: Tirando os verbos que necessitavam da 58 semântica do objeto para completarem seu sentido principal Gráfico 22: Tempos de leitura no verbo e no objeto: Consolidando os dois ajustes 58 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1: Relação de c-comando simétrico entre B e C 12 Figura 2: Árvore sintática da sentença O frentista chamava o cliente enquanto ele 14 tomava a água. Figura 3: Estrutura arborizada de Ele olhava-se. A oval demarca o domínio de 15 regência, onde a anáfora está presa. Figura 4 : Estrutura arborizada de Maia percebeu que ele olhava ela. 16 Figura 5: Estrutura arborizada de Ela percebeu que Joana bateu o carro. 18 Figura 6: Participante realizando o teste 36 Figura 7: Linha do tempo de realização do teste 41 Figura 8: Participante respondendo a pergunta do teste 42 Figura 9: Linha do tempo de realização do teste. 45 xiv

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14 RESOLUÇÃO DA AMBIGUIDADE NO ÂMBITO DA CORREFERÊNCIA PRONOMINAL: UM ESTUDO PSICOLINGUÍSTICO SOBRE A INFLUÊNCIA DO CONTEXTO 1. INTRODUÇÃO Diz o pediatra para a mãe: Se o leite não agradar ao bebê, experimente ferver ele. Isso deve acabar com o problema. Todas as línguas naturais apresentam uma característica notável, que é a capacidade de um pronome, palavra pobre em conteúdo lexical, dotada apenas de traços formais, se referir a um nome que constou previamente no discurso ou no trecho lido. A operação que estabelece essa relação anafórica, ou seja, a relação de correferência entre um pronome e um antecedente, tema mais geral dessa dissertação, traz bastante agilidade para a tarefa de recuperar conteúdos nominais de uma oração para outra. Nessa introdução serão apresentados exemplos de retomadas de antecedentes por um pronome com o propósito de mostrar diferentes aspectos do fenômeno da correferência. A ideia foi a de mapear esses aspectos, passando ao largo das características técnicas que eles ensejam e que serão abordadas nos capítulos subsequentes. Em seguida, o tema central da dissertação - ambiguidade no âmbito da correferência pronominal intrassentencial - será apresentado e problematizado, seguido das hipóteses e objetivos do trabalho. A introdução termina com um breve panorama das partes da dissertação para ajudar na leitura. Alguns exemplos ilustrativos que serão apresentados nessa introdução são mais complexos e outros mais simples, como (1) que traz um pronome na sentença subordinada que retoma o conteúdo de um argumento nominal na sentença principal: (1) Teresa mostrou a Júlio que ele tinha ganhado a partida de xadrez. Note-se que apesar de haver dois bons candidatos para argumento de tinha perdido a partida Teresa e Júlio na hora da operação de correferência, ou seja na hora de o pronome ele herdar traços semânticos de um antecedente que com ele compartilha traços formais, somente um dos argumentos pode ser usado. Dentre os traços formais inerentes ao pronome ele (masc, 3ª pes., sing.), o traço de gênero define que Júlio é o antecedente a que 1

15 ele se refere, e assim, Júlio, objeto da oração principal, passa a ser sujeito da oração subordinada. Essa computação é definida por Wasow (1972) como: [Correferência é] a possibilidade cognitiva de se estabelecer relação entre dois elementos A e B, quando B, tecnicamente chamado de elemento anafórico, recebe o conteúdo semântico total ou parcial de A, que é antecedente de B. (WASOW, 1972:8). Assim, como trata-se propriamente de possibilidades cognitivas, veremos que há outros fatores, além do sintático, que podem contribuir para que pronome retome um nome anterior a ele ou seja para que se estabeleça uma retomada anafórica 1. Em (1), Júlio está linearmente mais perto do pronome. A recência, por exemplo, seria um outro fator que poderia contribuir para a economia de recursos mnemônicos durante o processamento e o pronome retoma o argumento que está mais perto dele. De fato, a recência parece mesmo estar influindo para que tenhamos acesso à interpretação jocosa da sentença na epígrafe, de que o pediatra poderia estar sugerindo à mãe que ferva o bebê. Por outro lado, é certo que nem sempre a recência, fruto da posição linear das palavras na frase, defina a correferência. Como se pode ver em (2), que inverte a ordem de sujeito e objeto em (1), a interpretação mais natural é aquela que o pronome retoma Júlio, que agora está na posição de sujeito. (2) Júlio mostrou à Teresa que ele tinha ganhado a partida de xadrez. Em (2) Júlio é o argumento mais longe do pronome, mas certamente seria o escolhido como antecedente por ser o argumento que pode se envolver com felicidade na operação de concordância. Assim percebe-se que concordância de gênero é muito importante no estabelecimento da correferência. Mas também não é definitiva. Em sentenças com sujeito complexo do tipo exemplificado em (3), existe a questão da relação de c-comando 2 entre o pronome e o antecedente, uma relação puramente sintática, 1 Retomada anafórica é o termo que designa a operação sintático-semântica em que uma palavra consegue retomar um nome usado anteriormente, sem ter que repeti-lo. As palavras especiais que conseguem iniciar essa operação são as anáforas ou termos anafóricos, que podem ser três tipos de palavras: pronomes retos, pronomes reflexivos e expressões referenciais (nomes próprios). Apesar destes três tipos de palavras serem anáforas, é comum nos textos linguísticos de gramática gerativa usar-se a palavra anáfora como sinônimo de pronome reflexivo. 2 C-Comando (constituinte command) é uma relação estrutural entendida como fundamental para a sintaxe. Ela define um domínio mínimo dentro do qual diversos fenômenos sintáticos como correferência, movimento, 2

16 ligada ao Princípio B da Teoria de Ligação 3, que será propriamente tratado no Capítulo 2. Para exemplificar esse ponto, em um teste de leitura auto-monitorada seguida por priming, Neto & Maia (2010) encontraram que os tempos de resposta on-line foram significativamente menores para a retomada de irmã comparada à médica e explicam que irmã é sintaticamente mais visível para a retomada do pronome, mesmo estando linearmente mais longe, devido à relação de c-comando que existe entre irmã e ela, mas não existe entre médica e ela. Esse achado seria um argumento a favor de que a computação sintática é aplicada primeiro. (3) A irmã da médica comentou que ela estava cansada. Contudo, também a relação de c-comando parece competir na retomada pronominal com outras influências, como a concordância de número, exemplificada em (4): (4) A irmã das médicas comentou que elas estavam cansadas. Provavelmente, em (4), o pronome elas retomaria preferencialmente médicas que não o c-comanda, e também até poderia incluir a irmã. Mas ainda, essa mesma restrição que implementa a necessidade de compatibilizar os traços do pronome com os do correferente pode levar a operação de busca por um antecedente forçosamente para além do escopo da sentença. Note-se que em (5) subentendese imediatamente que a correferência está acontecendo com um elemento do discurso, não presente no domínio sintático da sentença. (5) Paulo i 4 mostrou a João j que ela k,j*,i* tinha ganhado a partida de xadrez. escopo, ligação variável e muitos outros podem acontecer (cf. Capítulo 2 dessa dissertação para uma explicação mais aprofundada). 3 O Princípio B da Teoria da Ligação estabelece um domínio (da onde ele foi inserido até o nó de Tempo) em que o pronome deve ser livre para estabelecer uma relação de identidade de referência, não obrigatória, com o seu antecedente(cf. Capítulo 2 dessa dissertação para uma explicação mais aprofundada). 4 Nessa linha de exemplo foi utilizada uma indexação para capturar a referencialidade do pronome. Quando o pronome tem o mesmo índice de um argumento isso indica que é a esse argumento que o pronome se refere e, portanto, que tal argumento é o antecedente do pronome. O índice igual no argumento e no pronome demarca a correferência entre o pronome e uma entidade discursiva. No caso exemplificado, os índices iguais aos dos argumentos estão seguidos por um asterisco, significando que a correferência entre os dois é agramatical. O único índice que não está marcado pelo asterisco, o ( k ), não aparece nos argumentos do verbo. Isto é porque ele não se refere a uma entidade do discurso que tenha sido mapeada como um argumento sentencial. Por 3

17 Como Paulo e João não concordam em gênero com ela, a retomada automaticamente se dá com um elemento fora da sentença. Ela poderia ser uma mulher sobre quem já se havia feito referência ou alguém para quem se aponta. Por exemplo, ela poderia se referir à grande enxadrista Judit Polgár, que aparecia na TV naquele momento. Então o pronome em (5) estaria retomando um antecedente contextual. Enfim, essa seria uma operação de natureza pragmática que primeiro rejeita Paulo e João como antecedentes para, em segunda instância, adotar um antecedente que não está na sentença, mas em um espaço extrassintático. Esse ato da designação desse antecedente discursivo pode incluir gestos, expressões faciais e também conhecimento do mundo para indicar que ela é alguém diferente de Paulo e João. Isto é possível porque a anáfora pronominal se porta semanticamente como uma variável livre, cuja denotação não é fixa e se dá por meio de um operador de ligação ou por uma função extrassentencial contextual (Heim, Kratzer, 1998). Assim como Judit Polgár acionou um cenário forte, que facilmente permitiu a retomada do antecedente pelo pronome fora do âmbito sentencial, seria também possível se construir um cenário com saliência semântica dentro da sentença, criando-se um viés semântico para que a retomada se desse favorecendo um dos dois argumentos? O exemplo em (6) captura essa possibilidade. (6) O médico mostrou ao paciente que ele já tinha suturado a incisão. Nas raízes das palavras utilizadas em (6) há muitas pistas semânticas sobre os eventos que estão sendo processados. O processamento é bastante influenciado por essas pistas semânticas que aparecem especialmente quando descrevem cenas com antônimos binários como médico e paciente dos quais nosso conhecimento de mundo nos faz esperar coisas. Em (6) apesar de o objeto paciente estar mais perto do pronome é possível se prever que o pronome ele retome médico, que está linearmente mais longe, na posição de sujeito. De fato, recentemente a literatura de processamento conhecida como a Abordagem baseada em pistas semânticas (cue-based approach) vem apostando cenários do nosso exclusão, essa notação indica que a correferência se dá com um elemento extrassentencial. Note que essa conclusão é inescapável e é imposta pela natureza referencial do pronome. 4

18 conhecimento de mundo interferem lado a lado ao processamento sintático. Portanto, os defensores dessa abordagem acreditam no processamento paralelo. Chow et al (2015), por exemplo, defendem que o verbo possui intrinsecamente um saco de argumentos ligado a ele e que antes mesmo de haver operações sintáticas de atribuição de papel temático, os significados lexicais já estão afetando o processamento. Em línguas que aceitam argumento nulo, há ainda outros desdobramentos em relação à correferência. Veja o efeito em (7) que é a transcrição de (6) só que sem o pronome pleno. (7) O médico mostrou ao paciente que já tinha suturado a incisão. Em (7) a retomada de o médico parece ser inevitável. Porém a força dessa retomada não parece ser fruto das pistas semânticas, como se pode observar em (8) que preserva a estrutura de (7) mas não oferece vieses semânticos. (8) Matheus disse à Cesar que já tinha ido lá. Mesmo sem os vieses semânticos, parece que Matheus, na posição de sujeito é retomado como sujeito da subordinada. E de fato, Carminati (2002), em testes off-line identificou uma preferência que ficou conhecida como Estratégia da Posição do Antecedente (Position of Antecedent Strategy) que defende uma complementariedade entre pronomes nulos e plenos. Carminati propõe que, por suas propriedades lexicais, os pronomes plenos preferem ter como antecedentes argumentos na posição de complemento do verbo, ou seja objetos, enquanto os nulos preferem ter como antecedentes argumentos em de Spec IP, ou seja, retomam sujeito, como se poderia esperar da interpretação de (7) e (8). Portanto, embora a busca do pronome pleno ou nulo por um antecedente enseje uma computação cuja engrenagem é bem delimitada por traços sintáticos, ela pode vir a se imbricar com conteúdos de diversas naturezas que mantêm um compromisso com outros domínios cognitivos além do linguístico. Dentro desse rico panorama de questões linguísticas, o foco desse trabalho será restrito às situações de ambiguidade intrassentenciais como em (9). (9) O frentista chamava o cliente enquanto ele tomava água no posto. 5

19 Depois de uma investigação linguística do fenômeno, foi adotada uma abordagem experimental para verificação do processamento on-line. Para poder controlar os vieses semânticos, e entender melhor como e quando eles atuam, foram usados como argumentos das sentenças antônimos binários (frentista X cliente) que se mantiveram constantes nas três condições experimentais: (i) neutra, sem bias semântico que pudesse favorecer a retomada de qualquer um dos dois argumentos (cf. 9), (ii) com semântica favorecendo a retomada do sujeito (cf. 10), e (iii) com semântica favorecendo a retomada do objeto (cf. 11). (10) O frentista chamava o cliente enquanto ele checava o motor no posto. (11) O frentista chamava o cliente enquanto ele pagava a conta no posto. Para controlar a influência da linearidade/recência em contraste com a subjacência das computações sintáticas inserimos três condições em que havia uma inversão dos argumentos, como exemplificado em (12), (13) e (14). (12) O cliente chamava o frentista enquanto ele tomava água no posto. (13) O cliente chamava o frentista enquanto ele checava o motor no posto. (14) O cliente chamava o frentista enquanto ele pagava a conta no posto. Foi também feito um segundo experimento, exatamente igual ao primeiro, com as mesmas condições, mas que usou estímulos com pronome nulo, como em (15): (15) O frentista chamava o cliente enquanto tomava água no posto. O objetivo geral dessa dissertação foi pensar sobre um tema fundamental para a linguística: como o português restringe os mecanismos que são usados para escolher a mesma entidade que ocorre mais de uma vez na fala ou no texto. O objetivo específico foi colaborar para o melhor entendimento da especificidade do domínio sintático, de o quanto ela é autônoma e de quando ela seria influenciada por vieses semânticos e pragmáticos. Ou seja, o que é especificamente linguístico na correferência? O que é delimitado pela sintaxe, 6

20 o que depende de outras cognições e quais são as precedências no processamento dessas computações? As hipóteses que vamos assumir são que (i) a operação de estabelecimento da correferência intrassentencial comumente se envolve em ambiguidade e a resolução da ambiguidade é multifatorial; (ii) durante a resolução, as restrições sintáticas são aplicadas primeiro; (iii) há informações contextuais entrando ao longo da computação que poderão ser observadas off-line na resolução da ambiguidade. Para encaminhar a discussão desse tema, a dissertação foi organizada em seis capítulos. No presente capítulo, Introdução, o problema estudado foi exemplificado amplamente, além de terem sido apresentados os objetivos gerais e específicos e as hipóteses da pesquisa. No Capítulo 2, A correferência nas línguas naturais, o fenômeno da correferência será apresentado em sua faceta formal para diferentes teorias linguísticas. Esse capítulo foi dividido em três seções principais: 2.1 Teoria da Ligação, Teorias relacionadas ao discurso: a Teoria da Acessibilidade, a Teoria da Centralidade e a Hipótese da Carga Informacional; e Teorias relacionadas à frase: Hipótese da Posição do Antecedente. No Capítulo 3, Processamento da correferência, apresentamos os estudos psicolinguísticos que se utilizaram de experimentos para testar as teorias, realizados em Português Brasileiro e em outras línguas. No Capítulo 4, Os experimentos, apresentam-se os materiais e métodos dos dois experimentos realizados para essa dissertação, detalhando informações sobre participantes, desenho experimental, estímulos, desenho fatorial, hipóteses e previsões. O Capítulo 5, Resultados e discussão, traz os resultados brutos e o tratamento estatístico apresentados em matrizes de gráficos que facilitam a visualização e analise dos resultados e, assim, permitem uma discussão mais clara dos achados. No Capítulo 6 e último, Conclusão, trazemos algumas reflexões e uma visão crítica em torno do trabalho realizado, além de perspectivas para um seguimento desse trabalho. Por fim, as Referências Bibliográficas, seguida de Anexos. 7

21 2. A CORREFERÊNCIA NAS LÍNGUAS NATURAIS A principal função de um nome é se referir a alguma entidade de discurso. Nomear é a forma de introjetar entidades do nosso conhecimento de mundo em entidades linguísticas que podem ser manipuladas e inseridas em estruturas sintáticas que formam pensamentos complexos. Existem vários tipos de nome e, entre eles, as expressões referenciais ou nomes próprios são uma classe bem especial, porque eles particularizam a informação e ganham uma saliência de assunto como em (16). (16) Lula foi chamado para falar no Congresso hoje. Lula é bem mais que um nome que se refere a qualquer um indivíduo do sexo masculino. Congrega potencialmente tudo que sabemos de um certo indivíduo. Devidamente contextualizado, Lula está no lugar de uma entidade do discurso que é seu referente e que tem múltiplos significados: (i) ex-torneiro mecânico; (ii) perdeu um dedo no exercício da profissão (iii) ex-líder sindical; (iv) casado com a D. Mariza; (v) ex-presidente da república (...). Se tivéssemos uma continuação para (16) com instanciações pronominais que necessitassem de uma relação anafórica com um antecedente, seria possível recuperar todo o conteúdo da expressão referencial, como em (17). (17) Lula foi chamado para falar no Congresso hoje. Ele vai explicar porque ele disse que ele não comprou o apartamento. O pronome ele é um elemento que depende de referencial e esse referencial pode ser encontrado olhando-se para trás, ou seja para o contra-fluxo da sentença ou início da sentença. Ele é um elemento anafórico (anáfora em Grego significa contra-corrente) justamente porque encontra seu referencial em um nome antecedente (do latim aquele que anda antes: ante-cedens). Havendo uma sentença em que que Lula seja um argumento do verbo, a relação que se forma entre antecedente (Lula) e o pronome (ele) é a forma sintática de se converter conceitos lexicais em expressões referenciais que entram no SN referencial e são transmitidas para o pronome. Todas as ocorrências de ele em (17) facilmente se referem à Lula. E notem que nesse caso o uso da relação anafórica estabelecendo correferência entre 8

22 a expressão referencial e o pronome é mais feliz do que seria o uso repetido da própria expressão referencial, como se vê em (18): (18) Lula foi chamado para falar no Congresso hoje. Lula vai explicar porque Lula disse que Lula não comprou o apartamento. É fato que as repetições das expressões referenciais não são bem-vindas no processamento. Seria tão pouco intuitivo optar-se pela repetição do nome como em (18), que até poderíamos supor que houvesse indivíduos diferentes chamados Lula na situação. Como existe uma coesão contextual que nos indica que todas as ocorrências de ele realmente recuperam o antecedente Lula, a repetição se torna ainda menos feliz. Estudando esse tipo de não aplicação do pronome, Almor (1999) lança a Hipótese da Carga Informacional (Informational Load Hypothesis - ILH) que propõe que toda a carga informacional relacionada a um nome referencial não deve ser reativada a todo momento, pois pragmaticamente deseja-se contrabalançar o fluxo informacional da sentença entre expressão referencial e seus representantes, os pronomes que se espalham em torno da ocorrência nominal. Para o autor, a correferência com um pronome seria uma forma de se conseguir esse intento. Com efeito, os testes em Almor (1999) com repetição de nome demostram um custo maior de processamento a que o autor chama de penalidade do nome repetido. A conclusão é a de que se evitando a repetição, e usando a correferência, o falante estabelece um balanceamento informacional da sentença que facilita a comunicação. Ou seja, Almor defende que a repetição é um problema de ordem do contexto semânticopragmático. Por outro lado, em um teste comparativo, Gordon et al. (1993) obtiveram resultados compatíveis com a conclusão de que nomes repetidos são processados mais lentamente do que retomadas realizadas com os pronomes, porque os pronomes teriam como constituição formal traços sintáticos que fazem com que eles se tornem o veículo sintático natural da retomada na correferência. Ou seja, no mercado de ideias, existem teorias disponíveis que explicam o fenômeno através de conceitos pragmáticos, que vão ressaltar a saliência semântica de uma expressão referencial e a boa prática de essa semântica ser transmitida a outros argumentos sem a necessidade de invocar uma saliência semântica desnecessária pela repetição do nome, enquanto que outras teorias vão ressaltar critérios de economia computacional ligados à 9

23 estrutura sintática. Esse capítulo pretende apresentar teorias de ambas tendências sintática vs pragmática para que adiante se possa dialogar fundamentadamente com os resultados dos testes empíricos que serão apresentados. Começando pelos fundamentos teóricos da Gramática Gerativa, 2.1 vai apresentar os Princípios da Teoria da Ligação que tenta dar conta da representação sintática de como os elementos sentenciais se ligam uns aos outros Teoria da Ligação Em 1981, Chomsky propôs a Teoria da Ligação, um módulo da Gramática usado para descrever e explicar os mecanismos linguísticos de referência. Através dos Princípios A, B e C são descritas e explicadas a relação entre itens lexicais com e sem potencial de referência e a ligação que eles estabelecem com itens do universo discursivo. Esses três princípios da Teoria da Ligação apresentam os limites sintáticos para o estabelecimento de relações anafóricas a partir de três tipos de itens lexicais: anáforas, pronomes e expressões referenciais. Em síntese, a distinção dos diferentes tipos de expressões nominais, para a Teoria da Ligação, pode ser apresentada do seguinte modo: as expressões referenciais têm conteúdo próprio que lhes permite encontrar um referente no universo discursivo; os pronomes podem ter ou não conteúdo próprio (dêitico), o que lhes permite que sejam ou não correferentes com outra entidade já referida, dependendo a sua interpretação do contexto discursivo em que se inserem; os reflexivos são totalmente dependentes tendo de ter um antecedente expresso sintaticamente para que tenham referência, dependendo a sua interpretação das características sintáticas da estrutura em que ocorrem (LUEGI, 2012:17) Esses três tipos de expressões linguísticas, as anáforas, os pronomes e as expressões referenciais, possuem cada qual seus traços constitutivos binários. O traço [± anafórico ] se refere à necessidade ou à opcionalidade de buscar um antecedente, enquanto que o traço [± pronominal] se refere à distância do antecedente, longe ou perto (cf. Tabela 1): 10

24 Tabela 1: Os traços constitutivos das anáforas, pronomes e expressões referenciais Tipo de expressão/ traço [anafórico] [pronominal] Anáfora + - Pronome - + Expressão Referencial - - Entendendo-se por anáfora os pronomes reflexivos e recíprocos, como os que estão italicizados em (19) e (20), é fácil perceber que se e uns aos outros não possuem conteúdo referencial próprio. São expressões totalmente dependentes de um antecedente que se encontra em um domínio sintático restrito. Por isso tais expressões tem os traços [+ anafórico] e [-pronominal]. (19) Maria i se i olhou no espelho. (20) Os meninos ajudaram uns aos outros. Contrastantemente, os pronomes como em (21) e (22), são itens lexicais que possuem conteúdo referencial próprio, tem traços φ de número e gênero podendo ou não estabelecer uma relação de dependência referencial com um antecedente à distância. Portanto estabelecem uma referência opcional e não local e por isso possuem os traços [-anafórico e + pronominal]. (21) Pedro i disse que ele i, j perdeu a chave. (22) Pedro i disse que ela j perdeu a chave. O pronome é semanticamente uma variável. Uma variável, em um sentido semântico, é um termo cuja denotação não é lexicalmente fixa, mas varia segundo uma atribuição de valores que lhe é feita, seja por uma função contextual, seja por sua ligação a um operador. Neste sentido, como se pode ver, todos os pronomes são variáveis, pois sua interpretação é determinada ou pelo contexto linguístico e extra-linguístico, ou por sua dependência em relação a antecedentes. (Muller, 2000:2) Finalmente, em (23) temos uma sentença com uma expressão referencial que possui conteúdo referencial próprio, que não pega antecedente linguístico. 11

25 (23) Ela j me falou que a Paula i resolveu falar a verdade. Em (23) o item lexical Paula necessariamente estabelece uma referência extralinguística com um índivíduo. Esses tipos de itens lexicais conseguem contrastar por um lado com a necessidade de correferência local da anáfora e, por outro lado com a opcionalidade referencial do pronome e por isso, carregam os traços [ anáforico; pronominal]. Em uma tentativa de descrever e explicar a noção de distância sintática, Chomsky lança mão da noção da relação estrutural de C-comando (constituint command), primeiro definida em termos de precedência de constituintes por Langacker (1966), mas melhor entendida por Reinhart (1976), em uma tese de doutoramento fundamental para a Teoria Linguística: Um nó A c-comanda um nó B se e somente se o primeiro nó ramificado que domina A também domina B. O c-comando é a base para diversos fenômenos sintáticos como correferência, movimento, escopo, ligação variável e muitos outros. Levando-se em conta que a operação sintática mais básica é o merge (concatenação) que junta dois itens lexicais, e que o merge é aplicado sucessivamente, o c-comando é uma configuração que deriva do merge e que é tradicionalmente definida a partir do conceito de dominância dentro da árvore sintática, resultando no escopo de um nó em relação aos outros como é especificado na junção de um tal elemento B com C, dando origem a A: B c-comanda C sse (se e somente se) o primeiro nó que domina B também domina C. Assim, podemos observar a seguinte árvore na Figura 1: Figura 1: Relação de c-comando simétrico entre B e C 12

26 Para se identificar a relação de c-comando na estrutura arbórea da Figura 1, começase pelo merge entre B e C que forma o nó A. A domina tanto B como C, de quem está equidistante. B e C tem um nó dominante em comum que é o nó A. Quando dois nós, B e C, tem um nó em comum que os domina (A), podemos dizer que B c-comanda C e C c-comanda B simetricamente. Mas a árvore na Figura 1 tem duas camadas. Na camada de baixo, vemos C que é formado pelo merge de D e E. Fazendo o teste do nó dominante, vemos que há um nó bifurcante que domina D e E: o nó C. Assim, C domina tanto D como E, de quem está equidistante. Por isso, podemos dizer que D c-comanda E e E c-comanda D simetricamente. Porém há outras relações estruturais na árvore, por exemplo B em relação a D e a E. A domina B e também domina D e E. Portanto podemos dizer que B c-comanda D e E, porém essa relação é de c-comando assimétrico porque a distância entre B e A é diferente da distância entre D e A ou E e A. Além disso, D ou E não c-comandam B, porque C, que é o primeiro nó bifurcante acima de D e E, não domina B. Essa relação estrutural de c-comando ampara muitas relações linguísticas fundamentais. No caso dos pronomes, por exemplo, podemos analisar a sentença abaixo, estruturada na Figura 2. Ele é um pronome e, como vimos anteriormente, deve ser livre dentro do seu domínio. Isso significa que não deve ser c-comandado dentro da menor oração que o contém ele tomava a água. Porém, a correferência pode se estabelecer com frentista e o cliente, na oração principal, pois ambos c-comandam o pronome ele: o primeiro nó bifurcante que os domina, respectivamente DP e VP também dominam o pronome. 13

27 Figura 2: Árvore sintática da sentença O frentista chamava o cliente enquanto ele tomava a água. Tendo passado pelos itens lexicais que se envolvem nas relações de binding e tendo já definido as relações em termos de c-comando, podemos chegar ao âmago da Teoria da Ligação e seus princípios. Princípio A A anáfora - pronomes reflexivos e recíprocos - são expressões que dependem inexoravelmente de referência próxima. Anáfora e antecedente devem estar devidamente ligadas dentro de um domínio de regência, que por definição inclui o VP: o local de inserção do argumento interno, o verbo que o rege (Cf. Figura 3) e o argumento externo. Dentro deste 14

28 domínio, a anáfora estabelece uma relação de identidade de referência obrigatória com o sintagma nominal antecedente (Figura 3). Figura 3: Estrutura arborizada de Ele olhava-se. A oval demarca o domínio de regência, onde a anáfora está presa. O Princípio A define que a anáfora é ligada dentro da menor oração que a contém, ou seja, do seu domínio local. Dentro deste domínio de anáfora e sujeito, anáfora deve estabelecer uma relação de identidade de referência obrigatória com o seu sintagma nominal antecedente, que deve c-comandar a anáfora. Os exemplos (24) e (25) mostram respectivamente ligações anafóricas bem e mal formadas: (24). Ele i furou-se i com a agulha. (25) *Elas i furaram uma a outra i. Princípio B O pronome preenchido ou o pronome nulo (pro) é livre para se referir a alguma entidade já referida no discurso ou fora dele. Ao se ligar a um antecedente, o pronome pode estabelecer relação de identidade de referência, que não é obrigatória (Figura 4). 15

29 Figura 4 : Estrutura arborizada de Maia percebeu que ele olhava ela, em que o pronome ela está livre para se referir à Maia ou a outra entidade no contexto não mencionada no discurso. Contudo, ela não pode se referir à Joana, porque Joana está dentro do domínio de regência da anáfora (reflexivo). A seta demarca a partir de onde o pronome pode buscar um antecedente na sentença. Em resumo, o Princípio B trata da ligação entre dois sintagmas nominais em que um deles é um pronome ou a categoria vazia pro, e o outro é um antecedente. Ele estabelece que um pronome tem que ser livre dentro da sua categoria de regência. Dentro deste domínio, o 16

30 pronome pode estabelecer uma relação de identidade de referência opcional com o seu sintagma nominal antecedente, como nos exemplos a seguir: (26) Júlia acha que ela sabe a receita do bolo. (27) João pensa que ela sabe a receita do bolo. (28) Luiz convidou só João, porque sabe a receita do bolo. Em (26) o pronome ela é o sujeito da oração subordinada. De acordo com o Princípio B, este pronome tem que estar livre no domínio dessa oração e fora dela, qualquer sintagma nominal poderá servir como seu antecedente. Dessa forma, ela pode ou não fazer referência à entidade Júlia. Dessa forma, a frase é gramatical mesmo apresentando ambiguidade fora de contexto, como se pode ver pela indexação em (29): (29) Júlia (i) acha que ela (i/j) sabe a receita do bolo. Em (27) o pronome ela é o sujeito da oração subordinada. Ela pode retomar ou não como antecedente qualquer sintagma nominal de fora da oração. No entanto, há um impedimento local, o pronome feminino ela, que não deve estar fazendo referência a João, masculino. Neste caso, ela está provavelmente referindo-se a outra entidade. Se por alguma razão de ordem não sintática, o sintagma nominal Marcus carregasse o traço [+feminino], ele então também serviria de candidato a antecedente. O que é importante é que contanto que o pronome ela esteja livre em sua categoria de regência, a sentença é bem formada e por vezes ambígua: (30) Marcus (i) pensa que ela (i/j) sabe a receita do bolo. Em (28) o pronome nulo (pro) é o sujeito da oração subordinada. Ele está livre para retomar ou não um antecedente. Há dois candidatos para esta correferência, o sujeito e o objeto da primeira oração. Assim, essa frase é em tese ambígua embora haja outros fatores de ordem do processamento que co-afetam a resolução da ambiguidade, como veremos mais a seguir, já que tais fatores são de grande importância para os fenômenos estudados nessa dissertação. 17

31 Princípio C A expressão referencial deverá ter uma distinção obrigatória de referência em relação a qualquer antecedente disponível dentro ou fora de seu domínio de regência. Podemos dizer que sintagma nominal que carrega uma expressão referencial não pode ter um antecedente argumental (Figura 5). Figura 5: Estrutura arborizada de Ela percebeu que Joana bateu o carro, em que a expressão referencial Joana necessariamente tem que ser distinta de ela e possui antecedente extralinguístico. Resumindo, o Princípio C trata da ligação entre dois sintagmas nominais, em que um deles é uma expressão referencial e o outro é um antecedente. Esse princípio postula que 18

32 para a ligação ser gramatical, a Expressão Referencial deverá ter uma distinção obrigatória de referência em relação a qualquer antecedente. Essa condição proíbe que exista a coindexação de uma expressão referencial com uma pronominal que a c-comande, assim como ilustra o exemplo (31). (31) Ela falou que Anita não gosta dela. Segundo Hinzen e Sheeham (2013) a referenciação é a categoria gramatical mais básica e estável que a gramática contém. Não obstante, há relatos de que algumas estruturas escapam aos Princípios da Teoria da Ligação. Clackson (2012) mostra algumas estruturas em que os pronomes e os reflexivos como her e herself aparecem no mesmo contexto, ou seja, não seguem a distribuição complementar prevista pela Teoria da Ligação: (32) Susan i put the box behind her i /herself i. Outra construção que o autor mostra é o que deveria ser uma violação do princípio A, em que o reflexivo é usado para fazer referência ao sujeito da primeira oração, comportando-se como uma estrutura regida pelo Princípio B: (33) There was no-one there but myself. (34) Susan i thought that there was no-one at the party more beautiful than herself i Como se pode observar em (34), uma sentença gramatical do inglês o reflexivo se refere a um item lexical, Susan, que está fora do seu domínio de regência. Então o reflexivo está se comportando como um pronome regido pelo princípio B. Em uma tentativa de resolver casos dúbios como esse, a Teoria da Ligação foi reescrita na última versão da Gramática Gerativa (Programa Minimalista) tendo como restrições as condições de interpretação nas interfaces: A. Se α for uma anáfora, interprete a como coreferencial com um sintagma que a c-comande no domínio local D. B. Se α for um pronome, interprete o como desconectado de todos os sintagmas que o c-comandem no domínio local D. 19

33 C. Se α for uma expressão referencial, interprete a como desconectada de qualquer sintagma que o c-comande. (Chomsky 1995:211) Esse encaminhamento do assunto para as interfaces motivou a decisão desse trabalho de tratar o assunto experimentalmente, no âmbito do processamento. Por isso elaboramos dois testes on-line que poderão revelar o custo do processamento da correferência intrassentencial em diferentes contextos linguísticos e extralinguísticos Teorias relacionadas ao discurso: a Teoria da Acessibilidade, a Teoria da Centralidade e a Hipótese da Carga Informacional Algumas teorias relacionadas ao processamento anafórico levam em conta fatores relacionados ao discurso. Enquanto a Teoria da Ligação explica e descreve essas relações de forma estrutural, algumas teorias tentam fazer essa descrição enfocando o âmbito do discurso. Por exemplo, a Teoria da Acessibilidade (Ariel, 1996), a Teoria da Centralidade (Grozs, Joshi e Weinstein, 1995) e a Hipótese da Carga Informacional (Almor). Teoria da Acessibilidade A Teoria da Acessibilidade se propõe a explicar o processamento da correferência a partir da relação entre o nível de acessibilidade de certa entidade mental armazenada na memória de trabalho do falante, chamado de antecedente, e a forma usada para a sua retomada, a expressão anafórica, já que, segundo Ariel (1991), eles não são acessíveis de forma igual pelo ouvinte (addressee). Nessa teoria, a acessibilidade é um conceito construído pela associação de dois fatores: a saliência inerente às entidades do discurso e a distância entre a expressão anafórica e o antecedente, pois quanto maior a distância entre eles, menos acessível será o antecedente. Para Ariel, as expressões anafóricas são os marcadores de acessibilidade. A principal contribuição da teoria em questão é mostrar que o uso das expressões anafóricas como, por exemplo, pronomes, é ligado ao grau de acessibilidade dos possíveis antecedentes em uma escala que foi proposta por Ariel (1991). Essa escala de graus de acessibilidade dos antecedentes apresenta onze níveis e começava de itens com baixa acessibilidade como nome e modificador e chegava aos itens de alta acessibilidade, como os pronomes não preenchidos. 20

34 A localização dos itens na escala de acessibilidade é controlada por três princípios: a informatividade, informação lexical do marcador; a rigidez, dependência do contexto; e a atenuação, conceito relacionado à pronúncia e à tonicidade. A relação entre esses conceitos diz em que ponto da escala está cada marcador de acessibilidade. Essa teoria explica que, em línguas pro-drop, a forma do pronome nulo [- informativa] parece ser usada para que antecedentes muito salientes sejam retomados, ao contrário do pronome preenchido, utilizado para antecedentes pouco salientes. Teoria da Centralização A Teoria da Centralização foi proposta por Groz, Joshi e Weinstein com o objetivo de ser uma teoria que une tanto o estudo da estrutura do discurso quanto do significado, relacionando o foco de atenção, a escolha da expressão referencial e a coerência construída entre os enunciados e o segmento discursivo. Segundo Teixeira (2013:46), o objetivo principal [da teoria] é construir um modelo de componente local de um estado atencional. Um conceito importante construído por eles é o de discurso, que deve ser mais que uma simples sequência de enunciados, mas deve apresentar coerência. O modelo proposto busca analisar como a coerência global do discurso é influenciada por dois critérios caros à teoria: o Centro e a saliência. Seguindo Grozs e Sidner (1986), os autores defendem que há três componentes que estruturam o discurso: a estrutura linguística do discurso, formado por segmentos integrados de coerência local e global; a estrutura intencional, que são as conexões entre as intenções geradoras do discurso; e o estado de atenção, que depende dos outros componentes discursivos. Para entendermos a Teoria, devemos entender o que é o centro do enunciado. Centro, de acordo com Groz, Joshi e Weinstein (1995) refere-se à entidade do enunciado que serve de linkagem entre os enunciados, formando-se, assim, a coerência discursiva: [...] os centros são objetos semânticos, e não palavras, sintagmas ou formas sintáticas (GROSZ et al 1995:208. Tradução minha). Com o objetivo de estudarem a relação importante construída entre a coerência do discurso, a carga de inferência (inference load) e a escolha das expressões referenciais, os autores explicam duas regras para a realização e para a mudança de Centro nos enunciados que formam o discurso, chamadas de Regra 1 e Regra 2. Segundo Grosz et al. (1986), Regra 1 é relacionada com os critérios de realização do 21

35 centro, e dita que um determinado elemento de um enunciado só podem ser representados por pronome caso o centro do enunciado seguinte também seja representado por um pronome, o que parece ser muito importante para o estudo seu estudo por sugerir uma esquematização da realização de pronomes, pois sugere que isso seja uma pista discursiva para o ouvinte/leitor saber que ainda está se falando do mesmo assunto, ou seja, os pronomes funcionam como forma de estabelecer continuidade e de construir coerência discursiva. A Regra 2 é referente à restrição na mudança de centro entre os enunciados do discurso, já que hipotetiza-se que o falante prefira sequências de continuidade de centro: estipula-se que a transição de continuidade é mais coerente que reter e reter é mais coerente que trocar [de centro] (GORDON et al 1993:314) Gordon et al (1993) aplicaram cinco experimentos com o objetivo de testarem predições de acordo com a Teoria da Centralidade, observando a diferença entre pronomes e nomes repetidos e a influência dessa escolha na coerência entre os segmentos do discurso. Seus resultados indicaram que quando o nome é repetido, interpreta-se como introdução de um novo centro, dessa forma, ele é um indicador de penalidade na leitura porque fere a primeira regra da Teoria da Centralização. Hipótese da Carga Informacional A Hipótese da Carga Informacional (Informational Load Hypothesis) foi proposta por Almor (1996, 1999, 2000) para o processamento da correferência intrassentencial e propõe que pronomes sejam processados de forma mais rápida que nomes repetidos. De acordo com Almor, pronomes são mais eficientes na correferência que os nomes repetidos, que custam mais a serem processados porque tem mais traços que os pronomes. A eficiência dessas duas formas é explicada pela carga informacional, que varia com a distância semântica entre o elemento que estabelece a relação anafórica e seu antecedente. Assim, quanto maior a carga informacional dessa forma linguística, maior também é o processamento tratando- se de memória operacional. Penalidade do Nome-Repetido é o nome dado para o efeito causado pelo uso de nomes repetidos que torna a leitura mais lenta do que se um pronome fosse usado. De acordo com Almor (1999), o processamento da variedade de formas pronominais é uma estratégia para contornarmos a limitação da memória de trabalho, não sendo, assim, explicado através do processador sintático. 22

36 Em várias línguas foram encontradas evidências da Penalidade do Nome Repetido, inclusive no Português por Leitão (2005 e 2012), que investigou o processamento do objeto anafórico no PB através da técnica de leitura automonitorada. O autor mostrou que sentenças com pronomes levam menos tempo para fazerem a retomada do antecedente que sentenças em que a retomada é estabelecida por um nome, como em: (35) As irmãs perderam Ari no passeio mas depois encontraram ele no parque. (36) As irmãs perderam Ari no passeio mas depois encontraram Ari no parque. Leitão mostra que de acordo com os seus resultados, a retomada em (35) é feita mais rapidamente do que em (36). Sua análise mostrou que, apesar da penalidade do nome repetido ter sido verificada, seus resultados não estão de acordo inteiramente com Almor, já que Leitão encontrou a penalidade com antecedentes e pronomes na posição de objeto, ou seja, fora da posição sintaticamente mais proeminente. Através da técnica de eyetracking, que capta o tempo de fixação em cada componente da frase, Leitão et al (2012) voltou a testar frases com retomadas anafóricas na posição de sujeito e de objeto através do pronome pleno e do nome repetido com o objetivo de afinar os achados da área. Foram desenvolvidos dois experimentos. O primeiro teste foi aplicado para buscar evidências relacionadas a estruturas com o sujeito anafórico com o pronome realizado e com o nome repetido, como aparecem nas sentenças abaixo: (37) Eva comprou a tela da galeria e depois Eva vantajosamente vendeu no leilão. (38) Eva comprou a tela da galeria e depois ela vantajosamente vendeu no leilão. Nesse teste, os participantes conseguiram entender a correferência nos dois tipos de condição de sentenças e os resultados online confirmaram a penalidade do nome repetido a partir da comparação entre os tempos de fixação nas duas condições mostradas acima, (37) com o nome repetido e (38) com o pronome. A condição na frase (38) apresentou menor tempo de fixação que a condição com o nome repetido. Um segundo experimento foi realizado com o objetivo de testar estruturas com o objeto anafórico retomando um antecedente em posição de objeto também, mantendo o padrão de paralelismo sintático também presente no primeiro experimento: 23

37 (39) Os colegas pintaram Léa no camarim mas depois esqueceram ela no palco. (40) Os colegas pintaram Léa no camarim mas depois esqueceram Léa no palco. Dessa forma, os autores conseguiram confirmar a Penalidade do Nome Repetido em um tipo de retomada não proeminente de um antecedente em posição não proeminente também - diferente de Almor, que previa a penalidade apenas de antecedentes em posição proeminente Hipótese da Posição do Antecedente Carminati (2002) investigou o comportamento dos pronomes preenchidos e nulos do italiano e o processamento do antecedente na correferência pronominal e propôs a existência de uma preferência de retomada entre pronomes nulos e pronomes preenchidos do italiano, que foi chamada de Hipótese da Posição do Antecedente (PAH). A autora defendeu que há uma divisão de trabalho entre o pronome nulo e o preenchido do italiano, pois os pronomes nulos tendem a apresentar sintagmas nominais em posições pré-verbais como antecedentes, enquanto os pronomes plenos preferem antecedentes em posições mais baixas na estrutura frasal, geralmente complementos verbais. De acordo com Carminati (2002), se a língua apresenta duas formas para o mesmo pronome, é porque devem existir duas funções diferentes para esta forma. Após aplicar uma série de experimentos, a autora concluiu que o bias do antecedente do pronome preenchido é menos estável e mais dependente do contexto que o do pronome nulo, e que os diferentes tipos de pronome buscam tipos de antecedente diferentes O segundo experimento off-line que ela apresentou em sua tese, tratava-se um questionário com estruturas de contexto ambíguo, como as sentenças em (41) e (42), no qual a primeira oração tinha os dois possíveis referentes do pronome da segunda oração, e após lerem as sentenças, os participantes deveriam escolher uma das opções mostradas em (43) e (44): (41) Marta scriveva frequentemente a Piera quando (pro) era negli Stati Unit. Marta escreveu frequentemente a Piera quando (pro) estava nos Estados Unidos. (42) Marta scriveva frequentemente a Piera quando lei era negli Stati Unit. 24

38 Marta escreveu frequentemente a Piera quando ela estava nos Estados Unidos. (43) Marta scriveva frequentemente a Piera quando Marta negli Stati Unit. Marta escreveu frequentemente a Piera quando Marta estava nos Estados Unidos. (44) Marta scriveva frequentemente a Piera quando Piera era negli Stati Unit. Marta escreveu frequentemente a Piera quando Piera estava nos Estados Unidos. Segundo a Hipótese da Posição do Antecedente, as opções com escolhas pelo sujeito seriam aquelas com o sujeito como referente do pronome, e as escolhas pelo objeto quando o pronome fosse preenchido. Os resultados mostraram que realmente há uma preferência na retomada dos pronomes nulos e dos pronomes preenchidos, como podemos observar na tabela abaixo: Tabela 2: Adaptada dos dados do Experimento 2 de Carminati (2002) Antecedente na posição de sujeito Antecedente na posição de objeto Pro 80,72% 19,28% pronome 16,67% 83,33% A autora discutiu as razões pelas quais a PAH foi comprovada no italiano e questionou se haveria a mesma divisão de trabalho em outras línguas pro-drop, já que algumas são muito diferentes, como o chinês ou o japonês, ou têm origens diferentes, como os pronomes do espanhol e os do italiano. As possíveis variações no comportamento dos pronomes entre as línguas pro-drop poderiam ser explicado pela Teoria da Acessibilidade, já que escala dos marcadores de acessibilidade das línguas mostrariam o pronome nulo e o pronome realizado com distâncias diferentes de uma língua pra outra. Uma outra explicação para essas variáveis pode ser a seleção de parâmetros nessa parte das línguas, porque, como sugere a autora, as línguas não selecionam ter pronomes totalmente complementares nem ter pronomes que não se complementam, mas selecionam o ponto de um continuum entre essas duas possibilidades e, desse jeito, cada uma apresente um nível de variação no uso dos pronomes. Muitos trabalhos têm sido realizados com o objetivo de testar a Hipótese da Posição do Antecedente, como Sorace e Filiaci (2006), que investigaram as anáforas e também as 25

39 anáforas invertidas (ou catáforas, sentenças com a oração subordinada antes da oração subordinante) com pronomes nulos e plenos do italiano em falantes de L1 E L2, através de um teste com figuras e off-line, como, por exemplo: (45) Mentre lei/pro i si mette il cappotto, la mamma i dà un bacio ala figlia. Enquanto ela/pro veste o casaco, a mãe dá um beijo na filha. (46) La mamma i dà un bacio ala figlia entre lei k/l/pro i si mette il cappotto. A mãe dá um beijo na filha enquanto ela/pro veste o casaco. Analisando os resultados relacionados aos participantes nativos, as autoras mostraram que as catáforas apresentam um processamento mais custoso que as anáforas pois há um conflito gerado pela Hipótese da Posição do Antecedente de Carminati, já que o processador tende a estabelecer a correferência entre pronome pleno e o sujeito da segunda oração, o que, no caso da anáfora, é evitado, ao menos no italiano. A partir dessas teorias e propostas de análise da correferência pronominal surgiram muitos trabalhos relevantes para a área. Assim, o próximo capítulo traz alguns destes importantes trabalhos presentes na literatura. 26

40 3. PROCESSAMENTO DA CORREFERÊNCIA Just as we are more likely to catch a flying ball if we can anticipate its trajectory, our brain can process information more efficiently if it can anticipate upcoming input ahead of time. (CHOW ET AL 2015:1) Após Carminati (2002), muitos trabalhos experimentais relacionados ao processamento da correferência e à interpretação dos pronomes em línguas pro-drop têm sido realizados, sem necessariamente se ligarem à predições teóricas. Neste capítulo faremos uma revisão da literatura relacionada à correferência pronominal no Português, como (i) Hora (2013) (iv) Teixeira et al (2014), (ii) Maia et al ( 2012); e em outras línguas, como Caramazza et al (1977), Collins(2010) e Chow et al (2015). Hora (2013) investigou alguns fatores envolvidos no processamento correferencial, como a posição estrutural, o paralelismo sintático, a ordem de orações e o tipo de expressão anafórica. A autora desenvolveu uma série de experimentos. O primeiro experimento observou retomada pronominal do sujeito e do objeto através da leitura automonitorada a partir de estruturas subordinadas e buscou testar a Hipótese do Paralelismo Sintático 55. Ela usou sentenças como: (47) Mário beijou Paula quando ela encontrou ele no teatro. De acordo com seus resultados, a retomada do sujeito, que pode ser realizada tanto pelo pronome nulo quando pelo pronome preenchido, é feita mais rapidamente que a retomada do objeto. Seu segundo experimento foi um questionário que tinha o objetivo de observar os traços de número através de estruturas frásicas com ordem subordinante/subordinada e subordinada/subordinante com orações subordinadas adverbiais concessivas. A expressão anafórica em posição de sujeito aparecia nula e preenchida e tinha antecedentes possíveis tanto no sujeito como no objeto e variava quanto ao número. O terceiro experimento foi relativo ao traço de número e o quarto ao de gênero. 5 A Hipótese do Paralelismo Sintático diz respeito a um dos fatores relacionados ao estabelecimento da relação entre o antecedente e sua retomada, prevendo que a correferência pronominal seria facilitada caso a posição estrutural e seu pronome estejam na mesma posição. (Leitão, 2005) 27

41 A autora concluiu, reforçando trabalhos relativos aos pronomes do PB, que os pronomes nulos e plenos não têm complementaridade em seu uso no PB, diferente das outras línguas pro-drop, como o italiano, e os dados obtidos não conseguiram confirmar a Hipótese do Paralelismo Sintático. Embora seus resultados sigam alguns achados, muitas pesquisas ainda estão sendo realizadas e é muito cedo para afirmarmos categoricamente que não existe essa complementaridade, logo, seria melhor afirmarmos que temos uma tendência na não complementaridade entre os tipos de pronome no PB. Teixeira et al (2014) desenvolveram um trabalho sobre o processamento dos pronomes do Português Brasileiro com o objetivo de contribuir para a investigação de funções específicas que pronomes apresentam, assim como foi mostrado em Carminati (2002) para o italiano e, mais especificamente, se o pronome nulo realmente retoma uma entidade mais saliente no discurso, que apresenta posição mais alta na hierarquia sintática, proeminência sintática de sujeito e se satisfaz a noção de tópico discursivo. Através experimentos feitos com rastreamento ocular numa tarefa de compreensão, os autores buscaram dados para definir melhor as restrições obrigatórias presentes no processamento e que pudessem dar pistas relativas a preferências na resolução de ambiguidades geradas por traços semânticos e pragmáticos. O primeiro experimento foi feito através do rastreamento ocular e utilizaram estruturas ambíguas e distribuídas em quatro listas que envolviam o tipo de pronome e a ordem das orações, estabelecendo a relação de anáfora e a de catáfora. As sentenças formadas por duas orações subordinadas. A oração subordinante era formada por sujeito e objeto e a segunda, por pronome nulo ou preenchido, um verbo e complemento, como podemos observar: (45) O André reconheceu o David, quando ele olhava pela janela. (46) Quando ele olhava pela janela, o André reconheceu o David. (47) O André reconheceu o David, quando pro olhava pela janela. (48) Quando pro olhava pela janela, o André reconheceu o David. O participante lia as frases e, em seguida, tinha que responder a seguinte pergunta: (49) Quem olhava pela janela? O André O David 28

42 Os resultados encontrados despertaram interesse principalmente porque o pronome ele na condição da anáfora apresentou valores que os autores classificaram como aleatórios, o que sugeriu que os participantes realmente não souberam definir o antecedente do pronome, não comprovando as predições feitas relativas à especialização pronominal. Em relação ao pronome nulo, ele foi identificado como a retomada do sujeito com quase 96% de respostas, sustentando o que era esperado pelos autores e o que temos visto na literatura relativa ao PB. Os tempos de leitura também apresentaram valores maiores nas condições com pronome pleno e com a relação catafórica e valores com efeito significativo para a comparação dos fatores de posição do antecedente e tipo de pronome. Esse estudo conseguiu confirmar os achados relativos ao pronome nulo, que apresenta uma tendência em retomar o sujeito, como vimos, e também relativos ao pronome preenchido, pois ainda não foi possível reconhecer uma preferência para ele, como também foi mostrado nos resultados comportamentais desse trabalho. Maia et al (2012) aplicaram uma bateria de experimentos objetivando mostrar que tanto as anáforas conceituais quanto os pronomes especificados são sensíveis à estrutura. Segundo os autores, anáforas conceituais são basicamente pronomes quando colocados no contexto sintático de um pronome. O primeiro experimento foi de leitura auto-monitorada com o objetivo de testar se a anáfora conceitual seria sensível ao Princípio B como o pronome em um contexto intrassentencial, como nas condições abaixo, que manipulam o pronome ou a anáfora e a regulação do Princípio B, seguidas pela pergunta (54) feita depois de sua leitura: (50) Condição 1 : A /delegação /do /time/ indicou/ ele /para/ o/ jogo/ de/ estreia. (51) Condição 2: A /delegação /do/ time/ indicou /eles /para /o /jogo /de /estreia. (52) Condição 3: O /time /da/ delegação/ indicou/ ele/ para/ o/ jogo/ de/ estreia. (53) Condição 4: O/ time/ da/ delegação/ indicou/ eles/ para/ o/ jogo/ de/ estreia. (54) O time foi indicado para o jogo de estreia? (Sim ou Não) As anáforas conceituais licenciadas pelo Princípio B, no exemplo (50) e (51), foram lidas mais rapidamente que as não licenciadas (52) e (53). Em relação aos índices de 29

43 correferência encontrados nas respostas off-line, quando o Princípio B não permitia, os índices foram menores que nas sentenças permitidas pelo princípio. Dessa forma, a correferência é melhor estabelecida quando os antecedentes c- comandam a anáfora, mostrando que da mesma forma que o pronome, a anáfora conceitual mostrada no estudo também é sensível e não escapa ao Princípio B. Os trabalhos realizados até hoje sobre o processamento das formas pronominais e sua interpretação têm mostrado, como vimos, que a divisão de trabalho proposta por Carminati (2002) não pôde ser comprovada por completo no PB, mas em relação à função exercida pelo pronome nulo já conseguimos perceber a preferência por antecedentes mais salientes sintaticamente. Embora esses autores já tenham trabalhado com estruturas ambíguas sintaticamente, eles não abordaram a influência da semântica nesse processo de retomada, que pode ser feita pela manipulação da semântica dos verbos utilizados nas sentenças que contém o pronome, o que poderia dar uma nova direção nesse estudo. Caramazza, Grober e Garvey (1977) estudaram o papel da causalidade implícita dos verbos como um importante fator na desambiguação da correferência. Segundo Garvey e Caramazza (1974, apud Caramazza et al 1977), a causalidade implícita é a responsável pelo bias na atribuição de antecedente ao pronome e opera como um traço de transferência linguística no verbo que afeta a interpretação relacionada à frase (Weinreich, 1966). Estudos anteriores, como Garvey et al(1976) foram importantes para o estudo de 1977 pois conseguiram definir que a causalidade implícita no verbo pode ser representada melhor em um continuum. De acordo com eles, quando o primeiro NP é o antecedente, o bias se encontra em 1,0, enquanto o bias do Segundo NP-antecedente encontra-se em Zero. Além disso, conseguiram concluir que os sujeitos usam a causalidade implícita marcada no verbo para explicar as ações, pois parte do processo de compreensão de uma sentença envolve o estabelecimento da relação causal entre os seus termos e os atores. A partir disso, Caramazza et al (1977) desenvolveram uma tarefa de completar sentenças (sentence completion task) com a expectativa de que, se a causalidade determinasse a direção do estabelecimento do antecedente pronominal, então deveria, também, facilitar sua escolha. Quando a oração subordinada estabelece uma relação causal consistente com a relação estabelecida pelo verbo, como em (55) os sujeitos deveriam selecionar apropriadamente e mais rapidamente do que em situações inconsistentes, como em (56). Havia também sentenças controle (57) e (58): 30

44 (55) John telephoned Bill because he wanted some information. (56) John telephoned Bill because he withheld some information. (57) Sue scolded Bill because he was annoying. (58) Bill scolded Sue because he was annoyed. Os autores explicam que suas predições vêm de duas classes de teorias sobre o efeito da ambiguidade na compreensão de sentenças. A primeira teoria diz que todas as leituras possíveis das sentenças seriam processadas e a leitura com informações incompatíveis seria rejeitada. Logo, a interpretação apropriada seria uma escolha dentre várias possibilidades. A segunda teoria propõe que apenas uma leitura seja processada por vez em função do bias contido na sentença. Além disso, a predição construída no tipo de verbo depende da satisfação de duas condições importantes, que são: (i) a causalidade ajuda a determinar ou influencia o antecedente pronominal e (ii) esse estabelecimento do antecedente já está parcialmente determinado no fim da oração principal. Os participantes deveriam ler sentenças apresentadas em slides e dizer o nome do antecedente do pronome para cada sentença lida. Os tempos de resposta também foram medidos e os resultados mostraram que o tempo de estabelecimento do antecedente foi influenciado não só pelo gênero dos pronomes, mas também pela marca do traço de causalidade implícita do verbo e, dessa forma, os autores conseguiram mostrar que a causalidade é representada como um traço implícito não discreto em verbos que estabelecem as relações entre os participantes das ações e que quando os verbos marcam seu objeto como experienciador da ação, isso restringe o estabelecimento do antecedente para o pronome na posição de objeto, como em Bill told Harry that John bored him, pois o antecedente de him é restrito a Bill. Já em relação a pronomes-sujeito-experienciadores, esse estabelecimento não é restrito e apresenta uma possível ambiguidade, pois he pode retomar tanto Bill quando Harry em Bill told Harry that he bored John. No entanto, segundo os autores, uma situação oposta acontece quando os verbos marcam seus sujeitos como experienciadores e, nesse caso, o pronome é restrito ao estar na posição de sujeito e irrestrito na posição de objeto, como em (58) e (59) abaixo: (59) Bill told Harry that he like John. 31

45 (60) Bill told Harry that John like him. Essa restrição foi chamada de The Experiencer Constraint e é efeito de um princípio pragmático em que a pessoa que experienciou um estado emocional está epistemologicamente em posição de privilégio para fazer afirmações sobre isso, ou seja, será o falante na discussão dessa experiência. Chow et al (2015) investigaram se, no curso temporal, o significado lexical e o papel estrutural dos argumentos pré-verbais impactam as predições léxico-semânticas dos falantes em relação a um verbo posterior e como o falante utiliza essas informações através de dois experimentos com a metodologia de ERPs (event related potencial) que usam o N400 como uma medida on-line que pode ser esperada. Dessa forma, os autores estudaram que tipo de informação é usada no estágio inicial de predições verbais e a explicação para isso, Duas possibilidades são propostas, a primeira hipótese de cunho conexionista seria a chamada de Hipótese do saco de palavras (Bag-of-words Hypothesis). O pensamento aqui é que a força do uso conjunto seria o único responsável por facilitar a correferência entre palavras que fazem parte dessa conexão semantico-pragmática A segunda é chamada de Hipótese do saco de argumentos Bag of-arguments Hypothesis. Esta propõe que o falante pode identificar os argumentos que fazem de um evento através do conhecimento do verbo. Segundo essa hipótese, os nome que serão argumentos do verbo têm um status privilegiado em relação a outros nomes que estão em posição não argumental. Porém essa hipótese também não chega a admitir que operações sintáticas de atribuição de papel temático aos argumentos do verbo seriam inevitáveis e essenciais para a correferência. Os resultados do Experimento 1 mostraram que apenas os argumentos produziram um efeito do N400 no verbo, o que mostrou que o falante diferencia os argumentos verbais de outras estruturas. No Experimento 2 mostrou que a troca de argumentos também produziu efeito do N400 no verbo. Um outro fenômeno muito interessante chamado de Efeito do Impostor (Imposter s effect) foi analisado por Collins (2010). É o que acontece quando por alguma razão a pessoa se refere a si próprio como alguém diferente de self usando a 3ª pessoa do singular. Esse DP apresenta um traço diferente, pois tem a concordância gramatical de terceira pessoa embora apresente como referente primeira e segunda pessoa. Podemos observar essa estrutura nos exemplos em Collin e Postal (2010): 32

46 (61) Daddy is/*am sick of your tantrums. (3a pessoa referindo- se ao falante) (62) Is/*Are Madam having a good time? (3a pessoa referindo-se a com quem se fala ( adresse )) Podemos observar exemplos com a concordância pronominal em: (63) The authors consider themselves/ourselves to have been slandered. (64) Mommy and Daddy are enjoying themselves/ourselves on the beach. Os exemplos do inglês mostram que os pronomes envolvidos na correferência com os Impostores podem ser tanto relacionados à pessoa gramatical quanto à pessoa do referente. Os autores levantam a hipótese de que mesmo apresentando a mesma estrutura de não-impostores, a sua estrutura sintática é diferente pois ele apresenta um antecedente. A chave para entender os Impostores parece ser que eles não estão no escopo do Princípio C, já que, pelo Princípio C, uma expressão-r não pode estar ligada dentro nem fora de seu domínio de regência. Wang (2009) analisou alguns casos de Imposters no Chinês e mostrou alguns exemplos na primeira e na segunda pessoa: (65) Laoshi zuotian ma wo. Professor ontem ralhou me O professor ontem me ralhou. (66) Laoshi zhende bu xihuan ma ren Teacher (I=) realmente não gosta de brigar com ninguém. Como podemos observar, o pronome concorda diretamente com a pessoa gramatical do Impostor, diferente do inglês, que pode concordar com as duas pessoas, a gramatical e a do referente. O fenômeno do Impostor traz um suporte para o fato de que é possível estabelecer correferência gramatical usando a máquina sintática de forma coerente mesmo quando não há coerência com a situação contextual. 33

47 Depois dessa revisão fica patente o grande número de vieses que podem levar a decidir uma operação de correferência. Nessa dissertação, meu objetivo é estudar como o português restringe os mecanismos que são usados para escolher a mesma entidade que ocorre mais de uma vez na fala ou no texto e colaborar para o melhor entendimento da especificidade do domínio sintático, quanto ela é autônoma e quando ela é influenciada por vieses semânticos e pragmáticos. Para isso foram elaborados dois testes que serão apresentados a seguir no Capítulo 4. 34

48 4. OS EXPERIMENTOS Os testes empregados manipularam os vieses semânticos a fim de entender se e em que medida eles podem influenciar no processamento da correferência pronominal. A meta conjunta dos dois testes foi a de delimitar o papel estrutural no processo da correferência. Isso foi verificado experimentalmente através de dois experimentos de leitura automonitorada que foram aplicados no laboratório ACESIN, em plataforma Psyscope X B57. Para darmos conta das duas posições de sujeito e objeto, criamos um contraste estre as condições em que os possíveis antecedentes aparecem tanto em posição de sujeito quanto na posição de objeto da primeira oração. Dessa forma, os dois experimentos não só manipulariam a semântica do verbo e o tipo de pronome (preenchido ou pronome nulo), mas também a posição dos antecedentes do pronome, ou seja, os itens utilizados como sujeito nas primeiras três condições também aparecem como objeto nas últimas três. Por exemplo, O árbitro apoiou o jogador enquanto ele chutava a bola em campo e O jogador apoiou o árbitro enquanto ele chutava a bola em campo Os dois experimentos apresentam os mesmos seis tipos de condições, semântica verbal neutra a semântica verbal favorecendo a correferência com o sujeito e semântica verbal favorecendo o objeto, para examinarmos tanto a influência do sujeito quanto a do objeto no estabelecimento de um antecedente para o pronome nas sentenças utilizadas nesses experimentos. Um ponto importante que colocamos em teste nessa bateria de experimentos foi a questão do preenchimento ou não do pronome, tema já bem explorado em Carminati (2002). Assim, o Experimento 1 apresenta sentenças com pronome preenchido, enquanto o Experimento 2 apresenta sentenças com pronome nulo. As hipóteses que vamos assumir são que (i) a operação de estabelecimento da correferência intrassentencial comumente se envolve em ambiguidade e a resolução da ambiguidade é multifatorial; (ii) durante a resolução, as restrições sintáticas são aplicadas primeiro; (iii) há informações contextuais entrando ao longo da computação que poderão ser observadas off-line na resolução da ambiguidade. A predição desses testes era a de que nas condições com bias semântico as respostas off-line mostrariam uma correlação estabelecida com a influência da semântica verbal. Em oposição, na condição sem bias, a distância menor entre o objeto e o pronome tenderiam a levar a interpretação para a correferência com o objeto. 35

49 Em relação à realização dos pronomes, esperávamos que as sentenças que apresentassem o pronome nulo teriam mais respostas retomando o sujeito da primeira oração, enquanto as sentenças com o pronome preenchido obteriam respostas divididas entre as duas opções de antecedente e o que as diferenciaria seria o bias semântico do verbo, ora favorecendo a retomada para o sujeito, ora para o objeto. Somam-se a isso os achados de Carminati(2002), Hora (2013) e Teixeira (2013), que mostram que no caso de sentenças pronomes preenchidos existe uma maior independência sintática entre as sentenças em que há processo de correferência, portanto a distância seria um fator que confere maior liberdade para a correferência se efetivar tanto na posição alta como na baixa. 4.1 Materiais e Métodos do Experimento Participantes O teste de leitura auto-monitorada foi aplicado a 54 participantes na faixa de 18 a 25 anos (22,4 anos). Dos 56, 12 eram homens. Todos os participantes fizeram o teste voluntariamente (Figura 6) a partir da leitura e assinatura do termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Cf. Anexo). Os participantes realizaram o teste no laboratório ACESIN, localizado na Faculdade de Letras da UFRJ, como é possível vermos nas Figura 6: Figura 6: Participante realizando o teste Desenho experimental 36

50 As variáveis independentes do Experimento 1 (Quadro 1) são a semântica verbal, que pode favorecer o sujeito da primeira oração (semântica verbal com bias favorecendo a correferência com o sujeito), ou o objeto da primeira oração (semântica verbal com bias favorecendo a correferência com o objeto), ou então não favorecer a correferência nem com o sujeito nem com objeto da oração principal (semântica verbal da raiz neutra para a retomada do sujeito ou objeto) e também a ordem em que aparecem os itens usados como sujeito e objeto da primeira oração. Ou seja, as Condições PN1, PS1 e PO1 apresentam a ordem que é mais provável para a correferência, e versão 2 dessas Condições (PN2, PS2 e PO2) que apresentam a ordem inversa dos argumentos. Dessa forma, os elementos que se encontravam como sujeito em PN1, PS1 e PO1 passam a estar na posição de objeto em PN2, PS2 e PO2. Já os objetos em PN1, PS1 e PO1 passam a estar na posição de sujeito em PN2, PS2 e PO2. Quadro 1: Variáveis Independentes do Experimento 1 Variáveis Independentes 1.Semântica verbal: (i) Semântica verbal da raiz neutra para a retomada do sujeito ou objeto (ii) Semântica verbal com bias favorecendo a correferência com o sujeito (iii) Semântica verbal com bias favorecendo a correferência com o objeto 2. Ordem dos argumentos: (i) Versão 1 (ii) Versão 2 As variáveis dependentes (cf. Tabela 3) são os tempos médios de leitura no verbo e no objeto; e os índices e tempos médios de decisão na tarefa, esses medidos off-line. Tabela 3: Variáveis Dependentes do Experimento 1 37

51 On-line Off-line Variáveis Dependentes Tempos de leitura do verbo e de seu complemento Índices e tempos médios de decisão na pergunta Estímulos Para cada uma das 6 condições experimentais utilizamos 24 sentenças com duas orações com estrutura sintática semelhantes: uma oração principal com sujeito e objeto, um conectivo e uma oração subordinada. As condições são o produto do cruzamento das variáveis dependentes apresentadas acima foram estruturadas conforme a tabela 4: Tabela 4: Condições experimentais a partir do cruzamento de variáveis independentes Carga semântica do verbo Ordem dos argumentos Versão 1: Mais plausível Versão 2 Neutra Com bias favorecendo a correferência com o sujeito Com bias favorecendo a correferência com o objeto PN1: O frentista chamava o cliente enquanto ele tomava a água no posto. PS1: O frentista chamava o cliente enquanto ele conferia o motor no posto. PO1: O frentista chamava o cliente enquanto ele pagava a conta no posto. PN2: O cliente chamava o frentista enquanto ele tomava a água no posto. PS2: O cliente chamava o frentista enquanto ele conferia o motor no posto. PO2: O cliente chamava o frentista enquanto ele pagava a conta no posto. A tabela 4 mostra 5 exemplos de estímulos em cada condição experimental, além de exemplos de sentenças distratoras: Tabela 5: Exemplos de estímulos em cada condição experimental e distratores do Experimento 1 Condição1: PN1 O frentista chamava o cliente enquanto ele tomava a água no posto. O ginasta insultou o repórter/enquanto ele apontava o dedo no rosto. O jogador apoiou o árbitro enquanto ele olhava o placar em campo. A florista abraçou a freguesa enquanto ela bebia o café na loja. O zelador ofendeu o morador enquanto ele puxava o lenço do bolso 38

52 Condição2:PN2 Condição3: PS1 Condição4:PS2 Condição5: PO1 Condição 6:PO2 Distratoras O cliente chamava o frentista enquanto ele tomava a água no posto. O repórter insultou o ginasta enquanto ele apontava o dedo no rosto. O árbitro apoiou o jogador enquanto ele olhava o placar em campo. A freguesa abraçou a florista enquanto ela bebia o café na loja. O morador ofendeu o zelador enquanto ele puxava o lenço do bolso O frentista chamava o cliente enquanto ele conferia o motor no posto. O ginasta insultou o repórter enquanto ele ganhava a prova no parque. O jogador apoiou o árbitro enquanto ele chutava a bola em campo. A florista abraçou a freguesa enquanto ela regava as flores na loja. O zelador ofendeu o morador enquanto ele pregava um aviso no térreo. O cliente chamava o frentista enquanto ele conferia o motor no posto. O repórter insultou o ginasta enquanto ele ganhava a prova no parque. O árbitro apoiou o jogador enquanto ele chutava a bola em campo. A freguesa abraçou a florista enquanto ela regava as flores na loja. O morador ofendeu o zelador enquanto ele pregava um aviso no térreo. O frentista chamava o cliente enquanto ele pagava a conta no posto. O ginasta insultou o repórter enquanto ele filmava a prova no parque. O jogador apoiou o árbitro enquanto ele marcava a falta em campo. A florista abraçou a freguesa enquanto ela comprava as flores na loja. O zelador ofendeu o morador enquanto ele dirigia o carro no térreo. O cliente chamava o frentista enquanto ele pagava a conta no posto. O repórter insultou o ginasta enquanto ele filmava a prova no parque. O árbitro apoiou o jogador enquanto ele marcava a falta em campo. A freguesa abraçou a florista enquanto ela comprava as flores na loja. O morador ofendeu o zelador enquanto ele dirigia o carro no térreo. A babá pegou o bebê porque ele caiu no chão. A secretária perdeu os contatos quanto ela foi assaltada. Luiza abraçou o filho quando ele votou pra casa Abandonada não adiantou nada Virgínia gritar pelos pais. A cadeia é vigiada pelos agentes penitenciários justos. 39

53 4.1.4 Desenho Fatorial O desenho fatorial de um experimento é estabelecido a partir do número de níveis que cada variável independente tem. No experimento em questão, a variável independente Semântica verbal apresenta três níveis e a variável Ordem dos argumentos apresenta dois níveis, assim, o cruzamento entre elas produz um desenho fatorial 3x2 e, consequentemente seis listas diferentes de aplicação do teste. Essas listas são organizadas no quadrado latino de forma que cada participante seja exposto a todas as condições, mas não a todos os itens de cada condição. O quadrado latino pode ser observado na tabela abaixo: Tabela 6: Quadrado Latino do Experimento 1 PO1-1 PS1-1 PN1-1 PO2-1 PS2-1 PN2-1 PS1-2 PN1-2 PO2-2 PS2-2 PN2-2 PO1-2 PN1-3 PO2-3 PS2-3 PN2-3 PO1-3 PS1-3 PO2-4 PS2-4 PN2-4 PO1-4 PS1-4 PN1-4 PS2-5 PN2-5 PO1-5 PS1-5 PN1-5 PO2-5 PN2-6 PO1-6 PS1-6 PN1-6 PO2-6 PS2-6 PO1-7 PS1-7 PN1-7 PO2-7 PS2-7 PN2-7 PS1-8 PN1-8 PO2-8 PS2-8 PN2-8 PO1-8 PN1-9 PO2-9 PS2-9 PN2-9 PO1-9 PS1-9 PO2-10 PS2-10 PN2-10 PO1-10 PS1-10 PN1-10 PS2-11 PN2-11 PO1-11 PS1-11 PN1-11 PO2-11 PN2-12 PO1-12 PS1-12 PN1-12 PO2-12 PS2-12 PO1-13 PS1-13 PN1-13 PO2-13 PS2-13 PN2-13 PS1-14 PN1-14 PO2-14 PS2-14 PN2-14 PO1-14 PN1-15 PO2-15 PS2-15 PN2-15 PO1-15 PS1-15 PO2-16 PS2-16 PN2-16 PO1-16 PS1-16 PN1-16 PS2-17 PN2-17 PO1-17 PS1-17 PN1-17 PO2-17 PN2-18 PO1-18 PS1-18 PN1-18 PO2-18 PS2-18 PO1-19 PS1-19 PN1-19 PO2-19 PS2-19 PN2-19 PS1-20 PN1-20 PO2-20 PS2-20 PN2-20 PO

54 PN1-21 PO2-21 PS21-21 PN2-21 PO1-21 PS1-21 PO2-22 PS2-22 PN2-22 PO1-22 PS1-22 PN1-22 PS2-23 PN2-23 PO1-23 PS1-23 PN1-23 PO2-23 PN2-24 PO1-24 PS1-24 PN1-24 PO2-24 PS A cronologia do teste [DP [NP]] V [DP [NP]] conec + pron V [DP [NP]] [PP [DP]] PERGUNTA O frentista ajudou o cliente enquanto ele checava o motor no posto Quem checou o motor? (A)o frentista (B)o cliente Figura 7: Linha do tempo de realização do teste Após ler as instruções, que indicavam que o participante deveria utilizar a tecla espaço para passar tela a tela até a pergunta, o teste começava. Primeiro o participante via uma tela branca até apertar o botão de espaço. A tela seguinte era formada por um determinante e um sintagma nominal O frentista que durava até o participante apertar o espaço. A terceira tela era formada por um verbo transitivo que estava na terceira pessoa do singular- ajudou. Ao apertar o botão espaço, a quarta tela era um determinante e um sintagma nominal, objeto do verbo anterior o cliente. A quinta tela mostrava o conectivo seguido do pronome - enquanto ele. A sexta tela apresentava um verbo na terceira pessoa do pretérito imperfeito checava e era seguida de uma tela formada por determinante e sintagma nominal- o motor, objeto direto do verbo da tela anterior. Ao apertar espaço, a última tela era uma pergunta: Quem checava o motor? E apresentava duas opções: (a) o frentista e (b) o cliente. O participante deveria apertar a tecla s para escolher a opção (a) ou o l para escolher a opção (b) (Figura 7). Ao escolher a opção, o participante via novamente uma tela branca e o mesmo procedimento com a próxima frase. 41

55 Figura 8: Participante respondendo a pergunta do teste Hipóteses e Previsões: As hipóteses que vamos assumir são que (i) restrições sintáticas são aplicadas primeiro; (ii) há informações contextuais entrando ao longo da computação que poderão ser observadas off-line na resolução da ambiguidade. As previsões para a condição PN1 - O frentista chamava o cliente enquanto ele tomava a água no posto. são que o tempo de leitura do verbo e do objeto sejam rápidos pois a ambiguidade pode ser facilmente resolvida pela ausência de semântica verbal que favoreça a retomada do sujeito ou do objeto. Dessa forma, a retomada off-line do objeto deve ser maior, pois o pronome ele tende a retomar o objeto. Em relação a PN2, O cliente chamava o frentista enquanto ele tomava a água no posto. esperávamos que o tempo de leitura do verbo e do objeto também fossem rápidos pois a ambiguidade pode ser facilmente resolvida pela ausência de semântica verbal Assim, a resposta off-line do objeto deveria ser maior, pois o pronome ele tenderia a retomar o objeto. Esperamos que em PS1 - O frentista chamava o cliente enquanto ele conferia o motor no posto, a leitura no verbo e no objeto sejam facilitadas pela semântica verbal que favorece o sujeito e, consequentemente, a resposta off-line de retomada do sujeito seja predominante. Já em PS2 - O cliente chamava o frentista enquanto ele conferia o motor no posto.- a semântica verbal de favorecimento do objeto acelere o tempo de leitura no verbo e no 42

56 objeto pela distância menor entre o objeto e o pronome. A resposta off-line esperada é de retomada do objeto. As expectativas para PO1 - O frentista chamava o cliente enquanto ele pagava a conta no posto - são de que a semântica verbal favorecendo o objeto associada ao pronome ele, que apresenta tendência em retomar o objeto, deixem o tempo de leitura no verbo e no objeto muito rápido. A retomada indicará a correferência com o objeto. Em PO2 - O cliente chamava o frentista enquanto ele pagava a conta no posto. a semântica verbal favorece o sujeito da oração anterior, o que facilita a leitura no verbo e no objeto. A resposta off-line de retomada do sujeito é predominante. 4.2 Materiais e Métodos do Segundo Experimento Participantes O teste de leitura auto-monitorada foi aplicado 54 participantes diferentes dos participantes do Experimento 1, na faixa de 18 a 25 anos (média 21,3 anos). Dos 54, 15 eram homens. Todos os participantes fizeram o teste voluntariamente a partir da leitura e assinatura do termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Cf. Anexo). Os participantes realizaram o teste no laboratório ACESIN, localizado na Faculdade de Letras da UFRJ Desenho experimental O desenho experimental do Experimento 2 é o mesmo do Experimento Estímulos Como no Experimento, 1 as sentenças utilizadas como estímulos no Experimento 2 foram organizadas nas seis condições descritas. Para garantir comparabilidade com o Experimento 1, os estímulos no Experimentos 2 são rigorosamente os mesmos aos do Experimento 1, exceto que o pronome da segunda oração era nulo: O frentista chamava o cliente enquanto tomava a água no posto. A Tabela 6 mostra 5 exemplos de estímulos em cada condição experimental além de exemplos de sentenças distratoras: 43

57 Tabela 7: Exemplos de estímulos em cada condição experimental e distratores do Experimento 2 Condição 1:PN1 O frentista chamava o cliente enquanto tomava a água no posto. O ginasta insultou o repórter/enquanto apontava o dedo no rosto. O jogador apoiou o árbitro enquanto olhava o placar em campo. A florista abraçou a freguesa enquanto bebia o café na loja. O zelador ofendeu o morador enquanto puxava o lenço do bolso Condição 2:PN2 O cliente chamava o frentista enquanto tomava a água no posto. O repórter insultou o ginasta enquanto apontava o dedo no rosto. O árbitro apoiou o jogador enquanto olhava o placar em campo. A freguesa abraçou a florista enquanto bebia o café na loja. O morador ofendeu o zelador enquanto puxava o lenço do bolso Condição 3: PS1 O frentista chamava o cliente enquanto conferia o motor no posto. O ginasta insultou o repórter enquanto ganhava a prova no parque. O jogador apoiou o árbitro enquanto chutava a bola em campo. A florista abraçou a freguesa enquanto regava as flores na loja. O zelador ofendeu o morador enquanto pregava um aviso no térreo. Condição 3:PS2 O cliente chamava o frentista enquanto conferia o motor no posto. O repórter insultou o ginasta enquanto ganhava a prova no parque. O árbitro apoiou o jogador enquanto chutava a bola em campo. A freguesa abraçou a florista enquanto regava as flores na loja. O morador ofendeu o zelador enquanto pregava um aviso no térreo. Condição 4: PO1 O frentista chamava o cliente enquanto pagava a conta no posto. O ginasta insultou o repórter enquanto filmava a prova no parque. O jogador apoiou o árbitro enquanto marcava a falta em campo. A florista abraçou a freguesa enquanto comprava as flores na loja. O zelador ofendeu o morador enquanto dirigia o carro no térreo. Condição 5:PO2 O cliente chamava o frentista enquanto pagava a conta no posto. O repórter insultou o ginasta enquanto filmava a prova no parque. O árbitro apoiou o jogador enquanto marcava a falta em campo. A freguesa abraçou a florista enquanto comprava as flores na loja. O morador ofendeu o zelador enquanto dirigia o carro no térreo. Distratoras A babá pegou o bebê porque ele caiu no chão. A secretária perdeu os contatos quanto ela foi assaltada. 44

58 Luiza abraçou o filho quando ele votou pra casa Abandonada não adiantou nada Virgínia gritar pelos pais. A cadeia é vigiada pelos agentes penitenciários justos Desenho Fatorial Cruzando as variáveis independentes em seus dois níveis de profundidade chegamos a um desenho fatorial de 2X3 conforme mostra a tabela abaixo que distribui os estímulos em um quadrado latino igual ao do Experimento A cronologia do teste [DP [NP]] V [DP [NP]] conec + pro V [DP [NP]] [PP [DP]] PERGUNTA O frentista ajudou o cliente enquanto checava o motor no posto Quem checou o motor? Figura 9: Linha do tempo de realização do teste Hipóteses e Previsões: As hipóteses que vamos assumir são que (i) restrições sintáticas são aplicadas primeiro; (ii) há informações contextuais entrando ao longo da computação que poderão ser observadas off-line na resolução da ambiguidade. As previsões para a condição PN1 - O frentista chamava o cliente enquanto tomava a água no posto. são que o tempo de leitura do verbo e do objeto sejam rápidos pois a ambiguidade pode ser resolvida pela presença do pro. Dessa forma, a retomada off-line do sujeito deve ser maior, pois o pro tende a retomar o sujeito da primeira oração. Na condição PN2, O cliente chamava o frentista enquanto tomava a água no posto. esperamos que o tempo de leitura do verbo e do objeto também sejam rápidos pois a ambiguidade é resolvida pelo pro. Assim, a resposta off-line deve mostrar a retomada do sujeito. Esperamos que em PS1 - O frentista chamava o cliente enquanto conferia o motor no posto, as leituras no verbo e no objeto sejam muito rápidas por serem facilitadas pela semântica verbal que favorece o sujeito e, consequentemente, a resposta off-line de retomada do sujeito predomine. 45

59 Já em PS2 - O cliente chamava o frentista enquanto conferia o motor no posto.- a semântica verbal de favorecimento do objeto aumente os tempos de leitura no verbo e no objeto pela diferença entre a semântica verbal e a expectativa de retomada do pro. A resposta off-line esperada é de retomada do objeto. As expectativas para PO1 - O frentista chamava o cliente enquanto pagava a conta no posto - são de que a semântica verbal favorecendo o objeto associada ao pronome pro, que apresenta preferência em retomar o sujeito, deixem os tempos de leitura no verbo e no objeto altos. As respostas off-line apresentarão uma retomada do objeto. Em PO2 - O cliente chamava o frentista enquanto pagava a conta no posto. a semântica verbal favorece o sujeito da oração anterior e o pro devem facilitar a leitura no verbo e no objeto. A resposta off-line deve mostrar a retomada do sujeito. 46

60 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO O campo da correferência anafórica intrassentencial é eminentemente um campo de ambiguidade. As respostas off-line dos testes que serão apresentados aqui mostraram, como já poderíamos supor, que os participantes chegam a um entendimento geral que se diferencia entre as condições também individualmente. Portanto, a discussão será encaminhada no sentido de capturar-se quais os fatores, de que natureza e em que medida eles entram na escolha dos participantes em prol de um dado conteúdo ou de uma gama de conteúdos possíveis para as construções estudadas. Optou-se para esse fim pela discussão primeiro das respostas off-line, seguidas das respostas on-line de cada um dos três grupos de condição, respectivamente (i) verbos cuja semântica da raiz é neutra para a retomada do sujeito ou objeto PN1; (ii) verbos cuja semântica da raiz tem bias favorecendo a retomada do sujeito PS1; (iii) verbos cuja semântica da raiz tem bias favorecendo a retomada do objeto PO1. A escolha desse formato se deveu ao fato de que a preferência por uma dada consolidação de sentido indicaria diferentes caminhos de retomada anafórica que poderiam ser avaliados aqui com maior exatidão através do tempo de leitura medidos em pontos intermediários, no verbo ou no objeto. Assim, os resultados estão sistematizados em três matrizes que compreendem, além dos resultados brutos, em sua primeira célula, outros gráficos oriundos de depurações que visam dar maior visibilidade aos achados. Em uma das depurações, depois de estabelecer as comparações com tratamento estatístico de todos os dados da amostra, apresenta-se outro gráfico em que só foram consideradas as respostas daqueles que se comprometeram com a retomada anafórica da maioria dos participantes. Por exemplo, no Experimento 1, na sentença PS1 O frentista chamava o cliente enquanto ele conferia o motor no posto obtivemos 70% de respostas off-line indicado a retomada do sujeito da oração principal, ou seja, o pronome pleno em sua maioria retomou o frentista. A partir dessa informação foi relevante investigar os tempos de leitura no verbo e no objeto especificamente daqueles participantes que perfaziam os 70% que retomaram o sujeito. Foram recalculadas as médias e as relevâncias estatísticas (ANOVA e testes-t realizados no EZ ANoVA) em uma nova tabela que ocupa a célula 2. 47

61 Também fizemos uma outra depuração relevante para corrigir uma inadequação nos estímulos que não havia sido prevista à época do desenho do experimento. Se foi feita e controlada a verificação dos tempos de leitura no verbo como condição experimental, então o bias semântico favorecendo a correferência deveria se completar já na altura do verbo e não somente no vp, ou seja, no ponto em que o verbo se junta ao objeto. A semântica da raiz do verbo por si só já deveria conter bias favorecendo o sujeito. Esse problema aconteceu em alguns poucos estímulos, mas por exemplo, ele aparece na própria sentença prototípica apresentada acima: Em O frentista chamava o cliente enquanto ele conferia o motor no posto temos o verbo conferir. Quem pode conferir, o frentista ou o cliente? Parece que os dois poderiam. Nesse caso, o bias favorecendo o sujeito da principal só se efetiva realmente depois da entrada do objeto o motor. Foram eliminados, assim, os poucos estímulos que apresentavam essa indefinição semântica no ponto do verbo e as médias e estatísticas foram recalculadas. Por fim, a matriz de gráficos apresentará em sua quarta célula um gráfico que consolida os dois cortes. Em resumo, primeiro serão apresentados os resultados off-line. A partir deles, a discussão de cada condição de cada experimento percorrerá uma matriz com quatro células. Na primeira, o gráfico que leva em conta todos os tempos de resposta. Em seguida o gráfico com os tempos de resposta só daqueles participantes que responderam como a maioria. Na terceira, o gráfico que depura os itens de estímulo que não efetivavam bias no ponto do verbo. Finalmente o gráfico que consolida todos os ajustes apresentados. A primeira matriz que será discutida aqui é aquela que se relaciona com a condição em que o verbo assume, pela semântica, de sua raiz uma posição neutra para a retomada tanto do sujeito como do objeto. Entre as possíveis influências afetando a correferência, as pistas semânticas teriam sido eliminadas nessa condição: no cenário frentista-cliente tomar água poderia retomar tanto frentista como cliente. Levando em conta o estímulo-exemplo, notase que tomar água é semanticamente adequado tanto para o sujeito frentista (PN1) como para o sujeito cliente (PN2). A expectativa, então, é de que houvesse mais ambiguidade nessas sentenças. Por outro lado, em termos sintáticos, a distribuição complementar entre pronome pleno e pro apontada por Carminati - pronome pleno retoma SNs fora do Spec IP e pro retoma dentro do Spec IP - teríamos que nesse caso de neutralidade semântica, o objeto tenderia a ser retomado no Experimento 1 e o sujeito no Experimento 2. 48

62 Temos assim fatores semânticos inerentes à raiz (cue-based factors), fatores sintáticos relativos aos pronomes e, ainda, além deles, uma outra força vinda de recursos cognitivos da memória poderia atuar fazendo do objeto um candidato mais forte para retomada por conta da recência do antecedente. Seguinte o plano de discussão planejado, temos os gráficos 1, 2, 3 e 4 com os percentuais de acerto em cada condição. Gráfico 1: Respostas off-line da condição PN1 do Experimento 1 Gráfico 2: Respostas off-line da condição PN2 do Experimento 1 49

63 Gráfico 3: Respostas off-line da condição PN1 do Experimento 2 Gráfico 4: Respostas off-line da condição PN2 do Experimento 2 Examinando a tendência linear das respostas off-line, as predições sintáticas se concretizaram. No Experimento 1, 62% dos participantes escolheram a retomada do objeto para PN1 e 56% para PN2. Essas taxas se equivalem e se distanciam um pouco mais das taxas também equivalentes para o sujeito, com 38% para PN1 e 44% para PN2. No Experimento 2, 64% dos participantes escolheram a retomada do sujeito para PN1 e 65% 50

64 para PN2. Em relação ao sujeito, com 36% escolheram PN1 e 35%, PN2. Apesar de as tendências terem seguido as previsões da Carminati, no tratamento estatístico (Chi-square) dessa distribuição não houve diferença relevante entre experimento 1 e experimento 2. Quanto aos resultados on-line, por sua condição especial de neutralidade, a matriz dos tempos de processamento durante a leitura das sentenças dessa condição será mais simples. Assim na matriz dessa condição neutra, apresentada abaixo, o primeiro gráfico Toda Amostra pode ser considerado mesmo sem depuração por tipo de resposta, pois não houve preferência definida: levando-se em conta as respostas off-line, os estímulos geram ambiguidade por volta de 50%. Verificando os tempos de leitura on-line tanto no Experimento 1, em que a retomada se dá a partir de pronome pleno, como no Experimento 2, que usa pronome nulo (pro), a comparação entre os tempos medidos no verbo e no objeto não se mostraram estatisticamente relevantes. Tentando depurar ainda mais os gráficos, observaram-se aspectos semânticos dos estímulos. Por exemplo, casos como esse do exemplo prototípico em que, no ponto tomava, não se tem ainda uma semântica definida que pudesse ser neutra em relação ao par de antônimos binários frentista cliente. Efetuou-se um corte de 12,1%. O recálculo estatístico está apresentado na célula 2 da matriz abaixo. Ainda assim, não houve nenhum valor estatisticamente relevante distinguindo facilitação de leitura no verbo ou no objeto por engajamento com a retomada do sujeito ou do objeto. A eliminação dos verbos inespecíficos acelerou o processamento da leitura do verbo no experimento 2, ou seja, a retomada com pro, mas a comparação entre as versões PN1 e PN2 não trouxe uma diferença estatisticamente relevante (t(197)=1.04 p< ). 51

65 VERBOS COM SEMÂNTICA DA RAIZ NEUTRA PARA A RETOMADA DO SUJEITO OU OBJETO Gráfico 5: Tempos de leitura no verbo e no objeto sem cortes Toda a Amostra Gráfico 6: Tempos de leitura no verbo e no objeto: Tirando os verbos que necessitavam da semântica do objeto para completarem seu sentido principal Transferido do gráfico Toda a Amostra A segunda matriz que será discutida aqui é aquela que se relaciona com a condição em que o verbo assume pela semântica de sua raiz uma posição que favorece a retomada do sujeito. Entre as possíveis influências afetando a correferência, as pistas semânticas foram produzidas especialmente para influenciarem a retomada do sujeito. No cenário frentistacliente conferir o motor tende a retomar semanticamente o frentista. Levando em conta o estímulo-exemplo, nota-se que conferir o motor é semanticamente mais adequado para o sujeito frentista (PS1) que o sujeito cliente (PS2). Em termos de predição sintática e seguindo a distribuição complementar apontada por Carminati, teríamos que nesse caso a semântica retomaria o sujeito no Experimento 1 e no Experimento 2. 52

66 Gráfico 7: Respostas off-line da condição PS1 do Experimento 1 Gráfico 8: Respostas off-line da condição PS2 do Experimento 1 53

67 Gráfico 9: Respostas off-line da condição PS1 do Experimento 2 Gráfico 10: Respostas off-line da condição PS2 do Experimento 2 Examinando a tendência linear das respostas off-line, apresentadas nos gráficos 7,8,9 e 10, as predições sintáticas se concretizaram em parte. No Experimento 1, 30% dos participantes escolheram a retomada do sujeito para PS1 e 72% escolheram o objeto para PS2. No Experimento 2, 81% dos participantes escolheram a retomada do sujeito para PS1 e 42% para PS2. 54

68 Os resultados relativos a PS2 do Experimento 2 não confirmaram nossas expectativas relacionadas ao pro, que retomaria o sujeito, pois as respostas off-line dessa condição apresentaram influência da semântica verbal, enquanto PS1 confirmou a retomada do sujeito pelo pro em paralelo à semântica verbal confirmando as propriedades da cetegoria vazia e o paralelismo estrutural. Quanto aos resultados on-line, a matriz dessa condição que favorece o sujeito, apresentada abaixo, há quatro gráficos: o primeiro com toda a amostra, o segundo com a população reduzida para os que responderam como a maioria, o terceiro com os valores de leitura do verbo pós depuração de verbos que não apresentavam sua semântica favorecendo o sujeito logo no verbo, e o quarto com a associação entre o tempo de leitura dos verbos depurados e os acertos Verificando os tempos de leitura on-line tanto no Experimento 1, em que a retomada se dá a partir de pronome pleno, como no Experimento 2, que usa pronome nulo (pro), a comparação entre os tempos medidos no verbo e no objeto não se mostraram estatisticamente relevantes. Tentando depurar ainda mais os gráficos como foi explicado, por exemplo, alguns casos também não apresentaram uma semântica definida que pudesse favorecer o sujeito em relação ao par de antônimos binários frentista cliente no ponto de leitura no verbo. Efetuouse um corte de 16,2%. O recálculo estatístico está apresentado na célula 2 da matriz abaixo. Após esse tratamento dos dados, houve diferença estatisticamente relevante distinguindo facilitação de leitura no verbo e no objeto por engajamento com a retomada do sujeito ou do objeto. Vimos que a eliminação dos verbos inespecíficos acelerou o processamento da leitura do verbo no experimento 2, ou seja, de retomada com o pro, e a comparação entre as versões PS1 e PS2 do Experimento 2 trouxe diferença estatisticamente relevante entre essas duas condições (t(175)=1.97 p< ). No Experimento 1 o tempo de leitura do verbo mudou de direção, assim, PS1 passou a ser processado mais rapidamente que PS2, porém sem apresentar diferença estatística t(154)=0.34 p< ). O gráfico relacionado às respostas corretas na condição de favorecimento do sujeito também mostraram novas diferenças que ainda não tinham sido observadas. As condições PS1 e PS2 do Experimento 2 apresentaram a mesma tendência que já era mostrada no gráfico de toda a amostra, no entanto, após essa depuração, passaram a apresentar valores estatisticamente relevantes tanto na leitura do verbo (t(175)=1.97 p< ) quanto na leitura do objeto (t(174)=2.62 p< ). A condição PS1 teve processamento mais rápido 55

69 que a condição PS2, o que pode ser explicado pela presença da categoria vazia para a retomada do sujeito. O último gráfico, relacionado à consolidação da depuração dos verbos e das respostas corretas na leitura do verbo mostrou diferenças já observados nas condições do Experimento 2, mas também novas comparações com valores estatisticamente significativos nas condições do Experimento 1. A condição PS1 do Experimento 2 foi processada mais lentamente que PS2 e sua comparação apresentou valores estatisticamente relevantes (t(157)=9.91 p< ). Essa diferença pode ser explicada pela preferência de retomada de elementos fora do Spec IP pelo pronome preenchido, o que acelera o processamento da leitura no verbo na condição PS2, além da proximidade entre o objeto e o pronome. VERBOS COM SEMÂNTICA DA RAIZ COM BIAS FAVORECENDO A RETOMADA DO SUJEITO Gráfico 11: Tempos de leitura no verbo e no objeto sem cortes: Toda a Amostra Gráfico 12: Tempos de leitura no verbo e no objeto: Apenas acertos Gráfico 13: Tempos de leitura no verbo: Tirando os verbos que necessitavam da semântica do objeto para completarem seu sentido principal Gráfico 14: Tempos de leitura no verbo e no objeto: Consolidando os dois ajustes Transferido do gráfico Só respostas corretas 56

70 A última matriz que discutiremos é a que se relaciona com a condição em que o verbo assume pela semântica de sua raiz uma posição que favorece a retomada do objeto. Entre as possíveis influências afetando a correferência, as pistas semânticas nessa condição do cenário frentista-cliente pagar a conta poderiam retomar semanticamente o cliente. Levando em conta o estímulo-exemplo, nota-se que pagar a conta é semanticamente mais adequado para o o objeto cliente (PS1) que o objeto frentista (PS2). Gráfico 15: Respostas off-line da condição PO1 do Experimento 1 Gráfico 16: Respostas off-line da condição PO2 do Experimento 1 57

71 Gráfico 17: Respostas off-line da condição PO! do Experimento 2 Gráfico 18: Respostas off-line da condição PO2 do Experimento 2 Examinando a as respostas off-line, as predições sintáticas se concretizaram em parte. No Experimento 1, 64% dos participantes escolheram a retomada do objeto para PO1 e 32%% escolheram o objeto para PO2. No Experimento 2, 68% dos participantes escolheram a retomada do objeto para PO1 e 26% para PO2. Apesar de as tendências terem seguido as 58

72 previsões sintáticas, no tratamento estatístico dessa distribuição não houve diferença relevante. Os resultados relativos a PO2 do Experimento 2 não confirmaram nossas expectativas sintáticas relacionadas ao pro em PO1 de que retomaria o sujeito pois as respostas off-line dessa condição apresentaram influência da semântica verbal, enquanto PO2 confirmou a retomada do sujeito pelo pro em paralelo à semântica verbal confirmando as propriedades da categoria vazia e o paralelismo estrutural. Quanto aos resultados on-line, a matriz dessa condição que favorece o objeto, apresentada abaixo, há quatro gráficos assim como na condição de favorecimento do sujeito: o primeiro com toda a amostra, o segundo com a população reduzida para os que responderam como a maioria, o terceiro com os valores de leitura do verbo pós depuração de verbos que não apresentavam sua semântica favorecendo o objeto já no verbo, e o quarto com a associação entre o tempo de leitura dos verbos depurados e os acertos. Verificando os tempos de leitura on-line tanto no Experimento 1, em que a retomada se dá a partir de pronome pleno, como no Experimento 2, que usa pronome nulo (pro), a comparação entre os tempos medidos no verbo e no objeto mostraram estatisticamente relevantes. Como pode ser visto no gráfico Amostra total, os tempos de leitura do verbo e do objeto mostram que o fator recência foi relevante no processamento tanto do verbo como no do objeto (t(215)=1.97 p< ). Ao depurarmos os verbos que não tinham a semântica defenida favorecendo o objeto no par de antônimos binários frentista cliente no ponto de leitura no verbo. Por isso, efetuouse um corte de 25%. O recálculo estatístico está apresentado na célula 2 da matriz abaixo. Após esse tratamento dos dados, houve diferença estatisticamente relevante nos dados do Experimento 2, distinguindo facilitação de leitura no verbo (t(157)=3.42 p< )por engajamento com a retomada do sujeito ou do objeto. Vimos que a eliminação dos verbos inespecíficos acelerou o processamento da leitura do verbo no experimento 2, ou seja, de retomada com o pro, e a comparação entre as versões PO1 e PO2 do Experimento 2 apresentou mudanças. No Experimento 1 o tempo de leitura do verbo manteve a direção, mas deixou de apresentar diferença estatística. O gráfico relacionado às respostas corretas na condição de favorecimento do objeto também mostrou mudanças. Apenas foi observada diferença estatística na leitura do objeto nas condições PO1 e PO2 (t(1574)=2.09 p< ), no entanto, os resultados não confirmaram nossas expectativas, pois esperávamos que PO2 seria processado mais 59

73 rapidamente que PO1, o que não aconteceu e pode ser analisado como efeito da recência, assim como foi observado no gráfico com toda a amostra. O último gráfico, relacionado à consolidação da depuração dos verbos e das respostas corretas na leitura do verbo mostrou as diferenças já observados no gráfico de amostra total, no entanto, as direções das diferenças foram invertidas. A condição PO1 do Experimento 2 passou a apresentar tempos de leitura do verbo menores que PO2 e sua comparação apresentou valores estatisticamente relevantes (t(127)=6.08 p<0.0001), o que pode ser explicada pela distância entre o sujeito e o objeto e o pronome, que remete ao fator de recência já discutido anteriormente. Esses resultados não confirmam nossas expectativas em relação a sentenças que possuem o pronome nulo. VERBOS COM SEMÂNTICA DA RAIZ COM BIAS FAVORECENDO A RETOMADA DO OBJETO Gráfico 19: Tempos de leitura no verbo e no objeto sem cortes: Toda a Amostra Gráfico 20: Tempos de leitura no verbo e no objeto: Apenas acertos Gráfico 21: Tempos de leitura no verbo: Tirando os verbos que necessitavam da semântica do objeto para completarem seu sentido principal Gráfico 22: Tempos de leitura no verbo e no objeto: Consolidando os dois ajustes Transferido do gráfico Só respostas corretas 60

74 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Essa dissertação se propôs a pensar sobre os mecanismos que são usados para escolher a mesma entidade que ocorre mais de uma vez na fala ou no texto. Vimos que na literatura sobre correferência aparecem diversos vieses que poderiam impactar a resolução de anáforas intrassentenciais, como a concordância de gênero, concordância de número, a relação de c-comando, a recência e fatores relacionados à pistas semânticas (cue-based factors) e também fatores pragmáticos. O nosso principal objetivo foi colaborar para o melhor entendimento da especificidade do domínio sintático, de o quanto ele é autônomo e de quando ele seria influenciado por vieses semânticos e pragmáticos. Pensando nos fatores que poderiam influenciar no processamento das sentenças em teste, assumimos três hipóteses principais: (i) a operação de estabelecimento da correferência intrassentencial comumente se envolve em ambiguidade e a resolução da ambiguidade é multifatorial; (ii) durante a resolução, as restrições sintáticas são aplicadas primeiro; (iii) há informações contextuais entrando ao longo da computação que poderão ser observadas offline na resolução da ambiguidade. Desenhamos e aplicamos dois testes psicolinguísticos on-line. Os dois testes apresentavam seis condições com verbos de semântica neutra para a retomada dos argumentos, verbos bias semântico para a retomada do sujeito e verbos com a semântica pendendo para a retomada do objeto. Para darmos conta do bias da ordem linear dos possíveis antecedentes, criamos um contraste estre as condições em que os mesmos sintagmas nominais tidos como possíveis antecedentes aparecem tanto em posição de sujeito quanto na posição de objeto da primeira oração. Assim, nossos experimentos não só manipulariam a semântica do verbo e o tipo de pronome (preenchido ou pronome nulo), mas também a posição dos antecedentes do pronome de cada sentença. A diferença entre o Experimento 1 e o Experimento 2 foi um ponto muito importante que colocamos em teste: a questão do preenchimento ou não do pronome, tema já bem explorado em Carminati (2002). O Experimento 1 apresentou sentenças com pronome preenchido, enquanto o Experimento 2 apresenta sentenças com pronome nulo. A partir de nossos resultados, conseguimos perceber a participação de alguns fatores sintáticos relativos aos pronomes, fatores semânticos inerentes à raiz (cue-based factors e, ainda, além deles, uma outra força vinda de recursos cognitivos da memória que poderia atuar relacionada à recência dos antecedentes disponíveis. 61

75 No Experimento 1, caracterizado pelo pronome preenchido, nas condições de semântica verbal neutra na retomada do sujeito ou do objeto encontramos uma tendência de o pronome retomar mais os objetos que os sujeitos de cada sentença, enquanto no Experimento 2, encontramos o pronome nulo retomando majoritariamente os sujeitos das orações anteriores. Carminati (2002), um trabalho de influência nesse assunto, levanta a Hipótese da Posição do Antecedente, que defende que haja uma complementaridade de trabalho entre a retomada pelo pronome preenchido e pelo pronome nulo. O Pronome nulo preferiria o argumento mais proeminente e a proeminência sintática seria sinônimo de um argumento que fica em SPEC de Tempo em relação a posição do outro argumento, interno, que é necessariamente mais baixa e fica dentro de VP. Já o pronome preenchido não seria sensível a esta proeminência e, portanto, teria a tendência de retomar o conteúdo do argumento interno. A autora engloba os dois efeitos o que afeta o pronome pleno e o que afeta o pro como tendo base sintática. Analisemos essa questão da complementariedade com cuidado. Ela foi abordada por Chomsky (1981) na Teoria da Ligação no nível dos Princípios. Na Teoria da Ligação o espírito da complementariedade entre anáfora, pronome, e expressões referenciais recai sobre todos os tipos de nomes das línguas naturais. Em uma mesma situação se se escolhe a anáfora o antecedente está dentro da categoria de regência, se se escolhe o pronome o antecedente está além do perímetro da anáfora; e se se escolhe a expressão referencial a referência estará fora do âmbito linguístico. No entanto, defende-se aqui que estender essa noção de complementariedade para um parâmetro pronome Vs pro não deveria ser uma aplicação tão trivial assim. No Minimalismo existe a noção de derivação comparada: entre a possibilidade A e B a mais econômica é a B e, portanto, essa será a escolhida. Contudo escolher entre pronome pleno e o preenchido, pela ótica da Hipótese da Posição do Antecedente, seria ter que comparar entre dois itens lexicais (pronome ou pro) que vão retomar argumentos distintos, ou seja a frase de baixo poderá potencialmente significar outra coisa dependendo dessa escolha do tipo de pronome. Então esses não seriam critérios de economia que estão sendo comparados, mas sim um processamento de duas sentenças diferentes como um todo. Assim, ao invés de complementariedade, aqui se propõe que haja dois tipos de fatores ocorrendo com cada tipo de sentença. Dada a proeminência computacional do argumento externo devido ao fato de ele ser alçado para a posição de SPEC TP e de não carecer de outras informações para estabelecer ordem sintática default de SVO em português, a escolha 62

76 sintática do item lexical pro, sem preenchimento, facilita que seja mantido na sentença subordinada o status-quo sintático-semântico da sentença principal. Essa seria a escolha com menor custo computacional porque faz da segunda sentença uma cópia estrutural da primeira. Além disso, promove praticamente a eliminação da ambiguidade. Porém, para que o argumento com menor proeminência, que não passou por alçamento (in situ), seja escolhido como antecedente, é necessário usar um pronome pleno, com propriedade anafórica e mais liberdade de escolha entre os argumentos e que possa despender mais recursos para retomar o argumento não default. Então essa escolha teria maior custo sintático e no final resultaria em maior ambiguidade. Por outro lado, retomar o objeto traz uma vantagem de ordem mnemônica porque o argumento interno é o que entrou no processamento mais recentemente. Então as razões do pronome nulo seriam computacionais sintáticas e as do pronome pleno se sustentariam por propriedades lexicais dos traços do pronome e também de recursos mais gerais como a capacidade de memória. A retomada do sujeito por pronome nulo seria então influenciada por dois fatores enquanto que a retomada do objeto pelo pleno seria influenciada por apenas um. De fato, quando se utilizou verbo cuja semântica era neutra para a retomada de qualquer um dos argumentos, houve uma facilitação estatisticamente significativa para a retomada do sujeito pelo pronome nulo (pro). Ou seja, sem bias semântico, a engrenagem sintaticamente menos custosa medida no tempo de leitura do verbo foi a que recuperou o sujeito pelo pro. Essa mesma tendência também pode ser encontrada quando medido o objeto, porém sem trazer uma diferença estatisticamente significativa. Esse achado em si fala a favor da nossa proposta de que as razões que justificam as retomadas de pronome e pro não são sempre complementares e da mesma natureza sintática. Parece que os fenômenos são diferentes e são motivados por grupos de fatores diferentes. Na condição em que a semântica verbal não era neutra, os resultados off-line da retomada pelo pronome pleno do sujeito foi na ordem de 70% Vs 30% de retomada do objeto Em contraste, quando a retomada era feita pelo pro, no Experimento 2, os resultados off-line da retomada do sujeito foi na ordem de 81% Vs 19%. Ou seja, a condição de retomada pelo pro oferece menor ambiguidade. Já a retomada de pro do objeto ficou na ordem da chance (50% a 42%) indicando a dificuldade de pro retomar o objeto. Esse resultado de pro pode ser corroborado pelas medidas on-line considerando apenas o universo daqueles que tiveram uma compreensão correta da semântica. A retomada pelo pro foi feita em menor tempo para o sujeito do que para o objeto, nas medidas de tempo de leitura do verbo e 63

77 também do objeto. Em contraste, a retomada pelo pronome pleno foi mais rápida para o objeto que é o argumento mais recente. Ao unirmos a questão do tipo de pronome à semântica verbal que não existia nas condições que chamamos de semântica verbal neutra (PN), podemos discutir melhor a questão da complementaridade. Seguindo os estudos que já existem no PB em relação ao pronome preenchido não retomar apenas o objeto como proposto em Carminati (2002), podemos adicionar a discussão em torno no pronome nulo, já que, como podemos observar nos dados que apresentamos, o pro foi capaz de retomar o objeto. Embora isso caminhe contra o que se defende em relação ao pronome nulo, não podemos nos surpreender com resultados desse tipo, afinal, como já falamos, a complementaridade não é algo que veríamos em divisões entre opções paramétricas por se tratarem de estruturas computacionais diferentes. A aceitação da retomada de elementos na posição de objeto que observamos no Experimento 2 é causada pelo conjunto de fatores que ajudam na resolução de ambiguidades, que são a estrutura sintática e a recência. Dessa forma, nos perguntamos se o pronome nulo retomar o objeto seria uma questão de violação sintática como é proposto. Acreditamos que não, pois o Princípio da Ligação que rege esse tipo de estrutura se mostra garantido através da retomada de antecedentes de fora do domínio do pronome. Assim, nossos resultados nos permitem propor que a correferência não é influenciada nem determinada por apenas um ou outro fator de natureza isolada, mas por uma gama de fatores articulados que levam à retomada do antecedente pretendido para o pronome, seja ele preenchido ou nulo e que devem ser estudados a fundo. O próximo passo no Doutorado é obter resultados mais diretos e precisos ao utilizar técnicas que serão capazes de nos oferecer evidências mais refinadas através do EEG acoplado ao rastreador ocular, que podem ter escapado à técnica de leitura auto-monitorada que utilizamos aqui nesse trabalho. 64

78 REFERÊNCIAS Almor, A. NP anaphora and focus the informational load hypothesis. Brown University Almor, A. Noun-Phrase anaphora and focus: The informational load hypothesis. Psychological Review. Vol. 106, No 4, Almor, A. Constraints and mechanisms in theories of anaphor processing. Cambridge, Uk: Cambridge University Press. Pp Ariel, M. Referring expressions and the +/- coreference distinction. Referent and reference accessibility. J. Gungel & T. Fretheim. Pp Caramazza, A.; Grober, E.; Garvey, C. Comprehension of anaphoric pronouns. Journal of Verbal Learning & Verbal Behavior. No 16. Pp Carminati, M.N. The processing of italian subject pronouns. Tese de Doutoramento. University of Massachusetts Amherst Chomsky, N. Lectures on government and binding. Dordrecht. Foris Chomsky, N. Some Concepts and Consequences of the Theory of Government and Binding. Cambridge. Mit Press Chomsky, N. The Minimalist Program, Mit Press, Cambridge Chow, W. Smith, C; Lau, E.; Phillips. C.: A bag-of- arguments mechanism for initial verb predictions. Revista Language, Cognition and Neuroscience Cohen, Jonathan; Macwhinney, Brian; Flatt, Matthew; Provost, Jefferson. PsyScope: An interactive graphic system for designing and controlling experiments in the psychology laboratory using Macintosh computers. Behavior Research Methods, Instruments & Computers. Vol 25, n2, , Collins, C.; Postal, P. Imposters. Mit Press. Cambridge Das, S.; Bengali Imposters. Nyu Working Papers in Linguistics Duarte. M.E.L. A perda do princípio evite pronome no português brasileiro. Tese de doutoramento. Unicamp/ Iel França, A. I.; Soto, M.; Gesualdi, A. R. Modulando o N400 através da incongruência semântica estabelecida pela relação antecedente-pronome. Revista Linguística. Ufrj. Vol 8, No Gordon, P. C.; Grosz, B. J.; Gillion, L. A.. Pronouns, names, and the centering of attention in discourse. Cognitive Science. 17. Pp

79 Gordon, P.; Hendrick, R..The representation and processing of coreference in discourse. Cognitive Science, Vol. 22, No. 4, Pp Grosz, B. J. And Sidner, C. L.Attention, Intentions, And The Structure Of Discourse. Computational Linguistics 12. Pp Heim, I,; Kratzer, A. Semantics in generative grammar. Oxford, Blackwell Publishers Hinzen, W. & Sheehan, M. The philosophy of universal grammar. Oxford. Oxford University Press Hora, K. F. P. N. A. O processamento da correferência pronominal anafórica em estruturas complexas do português brasileiro. Rio De Janeiro. Ufrj/ Faculdade De Letras Langacker R. W. A Transformational syntax of french. Tese de Doutoramento. University Of Illinois. Urbana Leitão, Márcio Martins. O Processamento do objeto direto anafórico no Português Brasileiro. Rio de Janeiro, UFRJ, Faculdade de Letras fls. Tese de Doutorado em Lingüística Leitão, M. M.; Ribeiro, A. J. C.; Maia, M. Penalidade do nome repetido e rastreamento ocular em português brasileiro. Revista Linguística. Ufrj. Rio de Janeiro. Vol. 8, No Luegi, P. Processamento de sujeitos pronominais em português: efeito da posição estrutural dos antecedentes. Tese de Doutorado. Universidade De Lisboa/ Faculdade De Letras Luegi, Paula; Costa, Armanda; Maia, Marcus. Processamento e e interpretação de sujeitos nulos e plenos em português europeu e em português do Brasil. Cadernos De Letras. Uff. No 49, Pp Maia, M.; Garcia, D. C.; Oliveira, C. The processing of conceptual anaphors and fully specified pronouns in intra-sentential contexts in brazilian portuguese. Revel. No Reinhart, T. The syntactic domain of anaphora. Tese de Doutorado. MIT Rorden, Chris. EzANOVA, [computer software], Acessível em: [ /mricro/ezanova/] Sorace, A.; Filiaci, F. Anaphora resolution in near-native speakers of italian. Second Language Research, 22(3). Pp Teixeira, E. N. Preferências sintáticas e semânticas no processamento da correferência anafórica: evidências de movimentação ocular. Tese de Doutoramento UFC/Centro De Humanidades Teixeira, E; Fonseca, M. C. M.; Soares, M. E. Resolução do pronome nulo em português brasileiro: evidência de movimentação ocular. Revista Veredas. Vol. 18. No 1. Pp

80 Wasow, T. Anaphoric relations in english. Tese de Doutoramento. MIT Wang, C. A.. Some notes on chinese imposters. Nyu Working Papers. Linguistics

81 ANEXOS 68

82 ANEXOS Anexo 1 : Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Universidade Federal do Rio de Janeiro Departamento de Linguística ACESIN - Laboratório de Acesso Sintático LAPEX - Laboratório de Psicolinguística Experimental Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Você está sendo convidado(a) para participar de um experimento psicolinguístico desenvolvido para os projetos de pesquisa correntes nos Laboratórios ACESIN e LAPEX, coordenados respectivamente pelos professores Aniela França e Marcus Maia. Para se voluntariar você deve ter: entre anos e não ter consumido drogas, bebidas ou remédios tarja preta nas últimas 24 horas. Assine este documento em caso de concordância com todas as condições a seguir. Vale ressaltar que sua participação não é obrigatória. A qualquer momento você pode desistir de participar e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com a instituição. Você receberá uma cópia deste termo onde constam os contatos dos responsáveis, podendo tirar dúvidas sobre o projeto e sobre sua participação sempre que julgar necessário. Informações sobre o experimento O presente trabalho se trata de um experimento de leitura automonitorada. A tarefa do voluntário consiste na leitura das frases apresentadas gradualmente no monitor de um computador. O ritmo desta leitura será dado pelo próprio voluntário, que deverá pressionar a [barra de espaço] para passar palavra por palavra. Ao final de cada frase o voluntário será exposto a uma pergunta. Antes do início do experimento, será realizada uma breve apresentação do projeto de pesquisa e também uma seção de treinamento para que o voluntário se habitue a tarefa solicitada. Os tempos de sua leitura, assim como os índices de respostas [A]/[B], serão registrados pelo software de forma confidencial e asseguramos o sigilo sobre seus resultados. Os dados serão utilizados de forma anônima, para compor os dados estatísticos deste projeto. Declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios de minha participação na pesquisa e concordo em participar e em ceder os dados resultantes de minha participação aos pesquisadores. Voluntário telefone: idade: ocupação: Responsável pelo experimento: Ana Luíza Henriques Tinoco Machado analuiza_tinoco@hotmail.com (21)

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