AGRAVO DE INSTRUMENTO N /5 CARAPICUÍBA Agravante: BV Financeira Crédito, Financiamento e Investimento Agravado: Antonio Vieira Costa

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1 AGRAVO DE INSTRUMENTO N /5 CARAPICUÍBA Agravante: BV Financeira Crédito, Financiamento e Investimento Agravado: Antonio Vieira Costa ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. BUSCA E APREENSÃO. BEM APREENDIDO. VENDA DO VEÍCULO SEM AUTORIZAÇÃO JUDICIAL. O Decreto Lei nº 911/69 (em vigor na época do fato gerador), no caso de mora ou inadimplemento das obrigações, autoriza a venda extrajudicial do bem alienado fiduciariamente, independente de qualquer medida judicial ou extrajudicial, salvo disposição contratual em contrário. VENDA EXTRAJUDICIAL. PURGAÇÃO DA MORA EFETIVADA PELO REQUERIDO. DETERMINAÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. No direito contemporâneo, mais ainda no início deste século, numa enxurrada de Leis e Medidas Provisórias, a atividade jurisdicional, permissa venia, não se adstringe ao atendimento puro e simples da literalidade de uma lei. O caráter discricionário permite ao Magistrado a efetivação do ideal de Justiça, que transcende ao conforto propiciado pela inflexibilidade. Diante da previsão legal e, depositado o valor obtido com a venda, não se justifica a apreensão do veículo vendido a terceiro (de boa-fé). DEFINIÇÃO DO VALOR DO BEM. MATÉRIA NÃO DIRIMIDA PELO R. JUÍZO. MEDIDA ALTERNATIVA. VALOR INCONTROVERSO. LIBERAÇÃO. RETENÇÃO EM GARANTIA DOS DEPÓSITOS FEITOS A TÍTULO DE PURGAÇÃO DA MORA ATÉ DECISÃO FINAL. O Agravado pediu o levantamento de R$ 5.928,00 pelo veículo. A Agravante colocou à disposição dele a importância de R$ 4.400,00. O cerne da controvérsia está na definição do valor do veículo, questão não dirimida pelo r. Juízo de Direito "a quo" e, por isso, não pode ser aqui enfrentada sob pena de supressão de instância. A solução mais racional, em atenção ao princípio equânime de justiça, enquanto não resolvida a matéria, é a liberação do valor incontroverso em favor do Agravado (R$ 4.400,00) devidamente corrigido, ficando retidos nos autos, em garantia, até decisão final, os valores por ele depositados para a purgação da mora. Voto nº

2 Visto, BV FINANCEIRA S. A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO interpôs Recurso de Agravo de Instrumento contra decisão do MM. JUÍZO DE DIREITO DA 4 a VARA DISTRITAL DE CARAPICUÍBA, COMARCA DE BARUERI, que... determinou a busca e apreensão do veículo, bem como a instauração de inquérito policial visando apurar a conduta da agravante... (folha 5), proferida na Ação de Busca e Apreensão que move contra ANTONIO VIEIRA COSTA, caracteres e qualificação das partes nos autos. resposta. O Agravado, intimado, não apresentou É o relatório. B. V. FINANCEIRA S. A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO ajuizou Ação de Busca e Apreensão contra ANTONIO VIEIRA COSTA. Cumprida a liminar e formalizada a angularidade, o Requerido fez depósito dos valores em atraso. O r. Juízo despachou: "... Depositado o valor determinado pelo r. despacho de fl. 66, determino seja o bem devolvido ao requerido, diante da purgação da mora, em 24 horas. Oficie-se com urgência..." (folha 71). Em 13/4/2004 B. V. FINANCEIRA S. A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO peticionou: "... interpôs recurso de agravo de instrumento, face o despacho de fls " (folha 85)

3 Instruiu a petição com cópia do Recurso de Agravo de Instrumento interposto. Em pesquisa realizada nos cadastros do extinto Egrégio Segundo Tribunal de Alçada Civil, verificou-se que o Agravo de Instrumento sob o nº /0, interposto pela Agravante contra a decisão que determinou "... SEJA O BEM DEVOLVIDO AO REQUERIDO, DIANTE DA PURGAÇÃO DA MORA..." (folha 87 - destaque do original), foi julgado em 15/4/04, sendo que, pelo v. Acórdão o recurso não foi conhecido por estar deficientemente instruído. Em 30/4/2004 a Agravante peticionou: "... o bem objeto do contrato encontrava-se depositado junto ao pátio da Sodré Santoro Leilões aguardando liberação para ser levado a leilão. Entretanto, por um equívoco, o veículo a ser restituído foi leiloado e arrematado pelo valor de R$ 4.400,00...". "... requer-se a juntada da anexa guia de custas no valor de R$ 4.400,00 (...) quantia esta que corresponde ao valor de mercado do bem a ser restituído e que deve ser repassada ao réu, extinguindo-se o feito..." (folha 96). ANTONIO VIEIRA DA COSTA apresentou manifestação: "... conforme Jornal do Carro (...) o valor do veículo (...) é de R$ 6.106,00 (...) na WebMotors (...) o menor preço é de R$ 5.750,00, que na média encontramos o valor de R$ 5.928,00 (...) valor este que deverá ser pago ao requerido...". "... requer a V.Exa. determinar a liberação do valor de R$ 5.928,00 (...) valor este que deverá ser abatido da importância depositada nos autos, incluindo as importâncias depositadas pelo requerido para purgar a mora (...) sendo que a diferença restante deverá ser liberada para a requerente..." (folha 101)

4 O r. Juízo definiu: "... determino seja feita a busca e apreensão do veículo, entregando-se ao requerido que ficará como fiel depositário. Sem prejuízo, providencie a Serventia a extração de cópias para remessa à autoridade policial, para instauração de inquérito, visando apurar a conduta da autora..." (folha 115). Daí a interposição deste Recurso de Agravo de Instrumento onde sustenta a Agravante: "... por ser o adquirente terceiro de boa fé eis que, por não ter integrado a lide desconhecida qualquer eventual impedimento ao fechamento do negócio, é que não pode ser o mesmo prejudicado com a retomada do bem. Mesmo porque, a agravante depositou nos autos o valor obtido com a venda do bem de forma que, a retomada do bem nas mãos de quem o mesmo se encontra configura-se nítida arbitrariedade do Juízo Monocrático que, além do depósito existente nos autos pretende a retomada do objeto..." (folha 11). O Decreto Lei nº 911/69 (em vigor na época do fato gerador) no caso de mora ou inadimplemento das obrigações, autoriza a venda extrajudicial do bem alienado fiduciariamente, independente de qualquer medida judicial ou extrajudicial, salvo disposição contratual em contrário 1. No caso, estando o bem apreendido por ordem judicial e, pendente o processo de julgamento, considerando-se a faculdade do Requerido (Agravado) de purgar a mora, exigia-se cautela por conta da Agravante diante dos riscos que poderia advir com a venda antecipada do bem. 1 - Artigo 2º

5 "A venda extrajudicial do bem alienado fiduciariamente é realizada por conta e risco do credor, independentemente de prévia avaliação, da anuência do devedor quanto ao preço e da intervenção do Poder Judiciário." 2 "Antes da citação do devedor e da própria sentença de consolidação da posse do bem alienado fiduciariamente em mãos do credor fiduciário, não pode ser, judicialmente, autorizada sua venda. Isto evidentemente não impede que o Banco credor, por sua conta e risco, promova a venda desejada assumindo a responsabilidade, que no caso é objetiva, pela reposição das coisas em seu estado anterior se outro for o resultado da demanda." 3 No direito contemporâneo, mais ainda no início deste século, numa enxurrada de Leis e Medidas Provisórias, a atividade jurisdicional, permissa venia, não se adstringe ao atendimento puro e simples da literalidade de uma lei. O caráter discricionário permite ao Magistrado a efetivação do ideal de Justiça, que transcende ao conforto propiciado pela inflexibilidade. O processo moderno orienta-se pela instrumentalidade das formas, e as providências aqui determinadas não vulneram o princípio do devido processo legal, principalmente o da ampla defesa, insertos na Constituição Federal. Diante da previsão legal e, depositado o valor obtido com a venda, demonstrada a boa-fé da Agravante, não se justifica a apreensão do veículo vendido a terceiro (de boa-fé). Uma vez purgada a mora, torna-se inviável a devolução do bem diante da venda antecipada, feita por conta e risco do credor. Por isso, o Agravado tem direito a receber o equivalente do bem em dinheiro. 2-2ºTACivSP - AI ª Câm. - Rel. Juiz RENATO SARTORELLI - J ºTACivSP - AI /7-5ª Câm. - Rel. Juiz S. OSCAR FELTRIN - J

6 Em 23/6/2004 o Agravado pediu o levantamento de R$ 5.928,00 pelo veículo (folha 101). A Agravante colocou à disposição dele a importância de R$ 4.400,00 (folha 96). Consta dos autos os depósitos judiciais feitos pelo Requerido (Agravado) em 30/9/2003 e 20/2/2004, a título de purgação da mora, nos valores respectivos de R$ 793,00 (folha 33) e R$ 950,05 (folha 66) que, somados ao valor obtido pela venda extrajudicial do bem, superam a importância pretendida. O cerne da controvérsia está na definição do valor do veículo, questão não dirimida pelo r. Juízo de Direito "a quo" e, que, por isso, não pode ser aqui enfrentada sob pena de supressão de instância. A solução mais racional, no momento, em atenção ao princípio equânime de justiça, enquanto não resolvida a matéria pelo r. Juízo, é a liberação do valor incontroverso em favor do Agravado (R$ 4.400,00) devidamente corrigido, ficando retidos nos autos, em garantia, na forma de caução ou outro critério do r. Juízo, até decisão final, os valores por ele depositados para a purgação da mora. Em face ao exposto, dá-se provimento ao recurso com observação. IRINEU PEDROTTI Desembargador Relator - 6 -