ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA SEGUNDA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO APELAÇÃO Nº 48187/ CLASSE CNJ COMARCA CAPITAL

Transcrição

1 APELANTE(S): BV FINANCEIRA S. A CRÉDITO FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO APELADO(S): DOMINGAS ARRUDA MATTOS OLIVEIRA D E C I S Ã O M O N O C R Á T I C A RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA - IRRESIGNAÇÃO QUANTO À RESCISÃO CONTRATUAL DECLARAÇÃO DE OFÍCIO DECISÃO ULTRA PETITA RECEIO DE IMPOSSIBILIDADE DE QUITAÇÃO DO VALOR CONTRATADO TESE QUE NÃO SE SUSTENTA GARANTIA 100% MAIOR QUE O CONTRATADO LIMINAR DE APREENSÃO CUMPRIDA EM MENOS DE UM ANO APÓS A CONTRATAÇÃO BEM DEPOSITADO EM MÃOS AO CREDOR - POSSIBILIDADE DE PREJUIZO INEXISTENTE - FALTA DE INTERESSE RECURSAL- RECURSO NÃO CONHECIDO. Quando o bem dado em garantia supera substancialmente o valor de face contratual, mostrando-se patente a ausência de prejuízo a ser suportado em decorrência da sentença vergastada, o não conhecimento do recurso é medida que impõe-se por faltar interesse ao recorrrente. Vistos, etc. Fl. 1 de 6

2 Trata-se de Recurso de Apelação interposto por BV Financeira S.A., em razão da sentença proferida pelo Juízo da 3ª Vara Especializada em Direito Bancário da Comarca de Cuiabá que, nos autos da Ação de Busca e Apreensão movida em face de Domingas Arruda Mattos Oliveira, julgou procedente o pedido inicial, consolidando nas mãos do Banco o domínio e posse sobre o bem, e declarou rescindido o contrato. Irresignado, o Recorrente se insurge quanto à rescisão contratual, ao fundamento de que, nesse ponto, o juízo singular incidiu em sentença ultra petita, visto tal declaração não ter feito parte de seus pedidos. O recurso é tempestivo. Sem contrarrazões, ante a ausência de angularização processual. Eis a síntese do necessário. DECIDO Ressai dos autos que o Apelante ajuizou Ação de Busca e Apreensão em desfavor da Apelada, em razão do inadimplemento do contrato de financiamento celebrado para aquisição de veículo. Ao receber a inicial, o Juiz a quo deferiu a liminar, em 06/08/2007, para determinar a busca e apreensão do veículo objeto da demanda e subsequente depósito em mãos ao banco Apelante. Determinou, ainda, a citação da parte requerida para apresentar resposta ao pleito. O Mandado de Busca e Apreensão foi expedido em 20/08/2007 e cumprido em 23/08/2007, conforme certidão de fl. 28-TJ. Já a citação, somente foi Fl. 2 de 6

3 possível em 08/09/2015. Devidamente citada, a Apelada, então recorrida, deixou transcorrer in albis o prazo para contestação, sobrevindo o julgamento do mérito da causa. Inconformado com a decisão de primeira instância, no tocante à declaração pela rescisão contratual, ao argumento de que o bem é garantia e não objeto do contrato, o Apelante afirma a necessidade da manutenção de sua vigência, a fim de garantir-lhe o direito à cobrança de eventual valor que remanesça pendente após a venda do objeto apreendido. É cediço que, tratando-se de contrato de alienação fiduciária, o Banco assume a posição de proprietário do bem, enquanto o devedor fiduciante de mero depositário. É nesse raciocínio que o 1º, do artigo 3º, do Decreto Lei 911/1965, encontra razão de ser, ao permitir que, cinco dias após executada a liminar, não havendo a purgação da mora, consolide-se a propriedade e posse plena e exclusiva do bem no patrimônio do credor fiduciário. Portanto, na ação de busca e apreensão em sede de alienação fiduciária em que a expropriação da posse do depositário é satisfeita, os créditos bancários são assegurados por sua plena propriedade do bem que, diante da ausência de quitação integral do remanescente da dívida, no interstício de 5 (cinco) dias, opera de pleno direito, independente de rescisão contratual. Contudo, após análise detida dos autos, verifico que o recurso não ultrapassa a barreira do juízo de admissibilidade, tendo em vista a falta de interesse recursal. Nota-se, em relação ao bem dado em garantia, que foi avaliado Fl. 3 de 6

4 em R$ 9.700,00 (nove mil e setecentos reais) no contrato firmado entre as partes (fl. 07-TJ) e em R$ 9.500,00 (nove mil e quinhentos) no documento de Autorização para Transferência de Veículo(fl. 16-TJ). Ocorre que: o valor contratado foi de R$ 4.700,00 (quatro mil e setecentos reais), o contrato foi celebrado em 22/11/2006 e a apreensão e entrega do bem ao depositário fiel indicado pelo banco credor em 23/08/2007. Ou seja, o Apelante concedeu crédito à Apelada em valor equivalente a menos de 50% (cinquenta por cento) do valor de avaliação do bem e, diante da inadimplência, passados apenas nove meses da contratação, a garantia foi-lhe entregue. Não é razoável que, em tão curto espaço de tempo, tenha havido depreciação do automóvel suficiente a não assegurar a quitação da dívida, cuja garantia supera em mais de 100 % (cem por cento) o valor de face contratual. Com efeito, estando claramente evidenciado o potencial de quitação da dívida com a venda do bem e, inclusive, de possível saldo a devolver-se à Apelada, na medida do disposto no 4º, do artigo 1º, do DL 911/65, tenho por patente a carência de interesse recursal. Neste norte, é firme a jurisprudência deste Tribunal, verbis: AÇÃO DE REVISÃO CONTRATUAL C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS CONTRATO DE FINANCIAMENTO FURTO DE RETROESCAVADEIRA ALIENADA FIDUCIARIAMENTE - PRETENDIDO RESSARCIMENTO DE SUPOSTO PREJUÍZO MORAL DECORRENTE DA NEGATIVA DE COBERTURA Fl. 4 de 6

5 SECURITÁRIA DO BEM FINANCIADO - LEGITIMIDADE PASSIVA DA SEGURADORA CONFIGURAÇÃO - JUROS REMUNERATÓRIOS E CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL EVIDENCIADO COMISSÃO DE PERMANÊNCIA AUSÊNCIA DE JUNTADA DO CONTRATO FALTADE COMPROVAÇÃO DA PACTUAÇÃO REPETIÇÃO DO INDÉBITO EM DOBRO IMPOSSIBILIDADE AUSÊNCIA DE PROVA DA MÁ-FÉ RECURSO DO BANCO PARCIALMENTE PROVIDO RECURSO DA SEGURDORA DESPROVIDO. Carece de interesse recursal o apelante, quando da decisão impugnada não erige qualquer prejuízo a ser suportado. É perfeitamente possível a revisão de cláusulas livremente pactuadas, a luz do que dispõe o artigo 51 do Código de Defesa do Consumidor. A incidência da comissão de permanência imprescinde de expressa previsão contratual. A repetição do indébito em dobro demanda prova da má-fé do credor. (Ap 48080/2017, DESA. SERLY MARCONDES ALVES, QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO, Julgado em 21/06/2017, Publicado no DJE 26/06/2017) (original sem destaques) impõe. Assim, tenho que o não conhecimento do apelo é medida que se Feitas essas considerações, à luz do artigo 932, inciso III, do Fl. 5 de 6

6 CPC, NÃO CONHEÇO O APELO. Publique-se. Intime-se. Cuiabá, 05 de julho de Desª. Clarice Claudino da Silva Relatora Fl. 6 de 6