Rogério Ribeiro

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2 ditorial CALCULO QUE JÁ TENHA FOLHEADO ESTA BANG! Se ainda não, vá lá fazê-lo; eu espero aqui Atraente, não é? E, ainda por cima, repleta de mundos por descobrir. Do estrangeiro chegam-nos contos de Lavie Tidhar, israelita actualmente a viver em Londres, que nos mostra, com uma história premiada com o 1º Prémio Clarke-Bradbury, da Agência Espacial Europeia, que apesar de no Espaço ninguém nos ouvir gritar há quem oiça música, e Lawrence Schoen, escritor norte-americano que nos dá a conhecer uma nova maneira de saber envelhecer. Publicamos também um clássico da pulp fiction, Robert E. Howard, criador de Conan, aqui com um conto de Salomão Kane, o Puritano. Por muito que nos orgulhemos da qualidade da ficção estrangeira, o conteúdo nacional ocupa um lugar de relevo. Porque um dos principais objectivos da BANG!, para além de servir de montra, em português, do que de melhor se vai fazendo lá por fora, é descobrir e incentivar o que se escreve em Portugal. Seja ficção, artigo ou crítica. João Ventura revela-nos um estranho caso de saudade, totalmente ambientado ao nosso país. Jorge Candeias desfia as ligações de José Saramago ao género da Ficção Científica. João Barreiros demonstra porque ficou famosa a sua caneta de aparo de titânio. David Soares fascina-nos com a sua arte num excerto do recente As Trevas Fantásticas. E, a propósito do lançamento de uma colectânea, José Manuel Lopes, professor de tradução, e Fernando Ribeiro, vocalista da banda Moonspell, falam de um dos Mestres do Terror, H. P. Lovecraft. Para terminar, Ágata Ramos deixa-nos com um lampejo da personalidade do Sr. Bentley, de quem aposto que voltaremos a ouvir falar. O pacote está decorado e bem recheado. Agora cabe-vos a vós mergulharem nestes mares de Aventura e Especulação, onde tanto arriscam cruzar-se com o Passado como com o Futuro. Esperamos que gostem e daqui a três meses voltamos com o Número Um.BANG! Rogério Ribeiro revistabang@gmail.com 1

3 índice contos crónicas entrevistas e afins Épica Uma apresentação Saramago: O Nobel da Ficção Científica Por José Candeias Resenhas Por Safaa Dib e Luís Rodrigues Aranhas Temporais, Teias Espaciais por Lavie Tidhar Sumo Informático por Lawrence M. Schoen A Lagoa por João Ventura 46 Entrevista a David Soares O Horror e outros sentimentos A Armada está a implodir e o imperador não quer saber Crónica de João Barreiros Antologia Lovecraftiana Entrevista a José Lopes O Candelabro: uma aventura do Sr. Bentley por Ágata Ramos pré-publicação A Mão Direita do Destino por Robert E. Howard 63 Lovespell Entrevista a Fernando Ribeiro 59 No Vale, a Igreja por David Soares 39 Bang! 0 - Novembro Trimestral Redacção Av. da República, 861, Bloco A, 5º Parede Colaboradores João Barreiros, Jorge Candeias, Luís Rodrigues, Safaa Dib ISSN Depósito Legal??????/05 ICS de 00/00/05 NIF Tiragem 2000 exemplares Uma publicação Saída de Emergência Todos os direitos reservados. Director / Director de Arte Luís Corte Real Editor Rogério Ribeiro Paginação e design Copyrights Textos propriedade dos respectivos autores Capa Gary Gianni Impressão Relgráfica Artes Gráficas, Estrada da Ribafria, 52, Algarão, Benedita Homero está morto, Dante está morto, Shakespeare está morto e eu também não me estou a sentir muito bem Artemus Ward

4 Épica Associação Portuguesa do Fantástico nas Artes HÁ MUITO QUE OS PORTUGUESES CONVIVEM COM O FANTÁSTICO. Ainda Portugal não existia, e Lisboa era apenas Olisippo, já a grande Roma do Imperador Tibério conhecia a fama das sereias, tritões e outros monstros marinhos que habitavam na nossa costa. Séculos mais tarde, Dom João III mantinha o hábito de publicar leis para garantir a cobrança de impostos devidos ao Rei pela pesca de sereias e tritões no rio Tejo. Entretanto mais séculos passaram, os monstros marinhos tiveram quiçá o mesmo destino dos golfinhos do Tejo, afugentados pela poluição e algazarra humanas, e nem só de monstros mitológicos vive hoje o Fantástico. A ideia de fundar a associação surgiu, em Maio de 2004, depois da realização do 1º Encontro Literário de Fantasia e Ficção Científica, na Faculdade de Letras de Lisboa. O interesse que suscitou entre escritores, académicos, editores e agentes culturais fez-nos acreditar que seria possível estabelecer objectivos mais ambiciosos. Paralelamente, o actual panorama de aparecimento de novos autores portugueses de obras fantásticas mostrou-nos i) o constante começar do zero, ignorando tudo o que se fez, em português, em gerações anteriores; ii) o apego a modelos e temas importados, esvaziando a ambiência e/ou a mensagem por falta de adequação à nossa realidade nacional; iii) a falta de qualidade ou a inadequada exploração e desenvolvimento de talentos emergentes, derivadas muitas vezes da falta de prática, que por sua vez vem da inexistência de discussão sobre as obras e da falta de meios de publicação de ficção curta (para muitos a razão do sucesso e qualidade da literatura fantástica anglo-saxónica); iv) a falta de diálogo entre os diferentes meios criativos que produzem arte fantástica (literatura, artes gráficas, audiovisual, etc.); entre outros factos. Depressa ficou claro para nós que a Épica Associação do Fantástico nas Artes deveria ter um papel para além de se limitar a organizar um evento anual. Num género que se pode designar por «Ficção Especulativa», e que engloba diferentes perspectivas, como a Ficção Científica, a Fantasia, o Horror, fará falta discutir as obras que se fazem e fizeram, proporcionar informação e apoio a leitores, editores e académicos, manter um acervo disponível, promover o diálogo entre criadores e formas criativas, etc. No fundo, dar consistência a um mercado que só será marginal se continuar fragmentado. Assim, este ano, arriscámos já um os monstros marinhos tiveram quiçá o mesmo destino dos golfinhos do Tejo passo (para nós) de gigante. Para além de arrancarmos com a Épica, o Encontro Literário passou a Fórum Fantástico Pela cobertura mais abrangente de temas, pela diversidade e credibilidade das entidades que nos apoiam, e pela aposta na qualidade e quantidade dos convidados nacionais e estrangeiros. Todos com carreiras premiadas ou princípios auspiciosos, foi nossa intenção também escolher entre os que, portugueses ou estrangeiros, representassem apostas de editoras nacionais. De Nick Sagan, argumentista em Hollywood, escritor de Ficção Científica e filho do cientista Carl Sagan a Zoran Zivkovic, escritor sérvio, vencedor do World Fantasy Award 2003, de António de Macedo, escritor e cineasta, a Inês Botelho, recente revelação da escrita fantástica, vários são os escritores e académicos convidados, nacionais e estrangeiros. Avançamos com a convicção que o projecto tem possibilidades de sucesso e que em breve Portugal terá mais um grande evento internacional na área no Fantástico, enriquecendo culturalmente e projectando o nosso país perante os demais e demonstrando mais uma vez a nossa capacidade empreendedora. Para qualquer dúvida, contactem-nos através do seguinte forumfantastico@gmail.com ou visitem-nos em ou BANG! 4 5

5 Aranhas temporais, teias espaciais Um conto por Lavie Tidhar NHA100, 674, 284 EXPLOR-HUB / /5, era o seu nome completo) responde de imediato. Com que então, Mars Mirror (ou melhor, o hub seis do mirror doze da estrutura que constitui Mars Mirror) queria conversar. O aperto de mão demora dez minutos em tempo real, com sete saltos pelos Hubs Espaciais Principais, entidades muito semelhantes a ele em tamanho e estrutura, mas com recursos apenas adequados ao controlo do tráfico de rede. Sendo insípidos, lerdos e cautelosos, Aranha pensa como se assemelham tanto aos antigos funcionários públicos humanos. A conversação procede do seguinte modo: O ESPAÇO ESTAVA REPLETO DE SONS. Dizer-se que no espaço ninguém ouve os nossos gritos, pensou Aranha, era fazer uma afirmação algo redutora; talvez se aplicasse a pessoas, mas certamente não se aplicava ao seu ser. Aranha vogava pelo espaço, à escuta. Nos campos de criação, onde a sua psique inicial fora submetida a longos e estimulantes ciclos de processo evolucionário, era encorajado um interesse por sons, resultado das selecções de rotina que isolavam as complexidades de subprogramas, árvores binárias e redes neurais, e preparavam a entidade embrionária para novos ciclos. Aranhas, afinal de contas, eram criadas para música. Música, com "eme" maiúsculo e um "a" à sua frente. A Música. Agora, num estado que só poderia definir como de lazer, flutuavpela vastidão do espaço trans- Neptuniano. Naquela que seria a orla do sistema solar, onde a Música ainda era ténue. Em breve irá desaparecer por completo, apenas leves ecos a repercutirem-se na sua pele, enquanto luz e ondas de rádio ressaltam aleatoriamentee Então o tempo de lazer irá chegar ao fim, e o trabalho irá co- meçar. #NNP247HUB6MIRROR12 Um leve tremor, o roçar de um pacote de assinatura a pedir por reconhecimento. Aranha (ARA- #A postos para reproduzir?# HUB6 envia com as suas palavras uma leve nota de divertimento, transmitidos num minuete de código breve e preciso. Aranha envia o equivalente a um resfôlego. ~Ainda te consigo ouvir, não é verdade?~ #Já encontraste um lugar para o ninho?# ~Ainda estou à procura~ envia Aranha, ~Ainda estou à procura.~ Enquanto espera pelas respostas presunçosas de HUB6, Aranha escuta tudo à sua volta. Fragmentos de música clássica, emissões de uma remota cintura de asteróides; conversas de mineiros numa frequência 6 7

6 aberta e regular sinal de que o turno tinha chegado ao fim e se dirigiam para casa, para qualquer que fosse o local onde estivesse alojado o kibutz, casa grande 1 ou unidade de trabalho a que pertenciam. Conversações em iban, em hebraico, em chinês todas as populações migrantes que tinham aderido ao socialismo de vanguarda para benefício da colonização espacial. Observa as emissões de vídeo comprimidas a serem enviadas do telescópio Moore na orla do sistema, enquanto os pacotes de informação efectuam o seu longo circuito através de saltos infindáveis pelas centenas de Hubs Espaciais Secundárias, em direcção à Terra. Permanece à escuta, em conversa com HUB6, e procura por um ninho adequado, enquanto a aceleração conduz ao seu afastamento, cada vez mais longe da Música. Algum tempo depois, as mensagens de HUB6 desaparecem com o aumento do tempo de atraso de transmissão, até que chega o momento em que Aranha está fora do alcance da Música, e o seu corpo absorve nada mais do que luz e ondas de rádio, livres de significados codificados. Aranha saiu da esfera da Música, saiu da esfera da habitação humana. Uma entidade solitária, o corpo de Aranha é pequeno, uma rocha circular e irregular de cerca de dez metros de largura e comprimento. No entanto, a superfície rochosa de Aranha pode ser enganadora. A carapaça exterior está pontuada por instrumentos revestidos de protecção, antenas minúsculas, toda uma série de dispositivos de comunicação, ocultos, que a cobrem como pequenas borbulhas de uma alergia. Por baixo, no interior da protecção em forma de caveira do corpo, está localizado, num estado de reclusão, o cérebro de Aranha, no coração deste pequeno asteróide convertido. O interior está a abarrotar: Aranha, para fazer uso de uma das analogias mais comummente referidas por oponentes aos custos implicados em tais iniciativas, assemelha-se a um cavalo de Tróia. À diminuição do tráfico de rede corresponde um aumento no tráfico de sistema. Essa área do espaço contém imensos objectos em órbita, rochas gigantes (em comparação com Aranha): um cinto grosso de escombros gelados, parecido com o que poderia ser usado por um gigante de gelo nórdico. Aranha examina cuidadosamente as rochas, tantas gigantes, tantas com um diâmetro superior a 100 quilómetros, e procura por um lugar para pousar. Quanto a si, faz questão de tratar de tudo com minúcia. Aranha começa a emitir em todas as bandas: ondas de luz, ondas curtas de rádio, ondas longas de rádio, a enviar a todos os canais simples pings, o equivalente a gritos de ~Olá, está alguém a ouvir-me?~ Nenhum responde. Sentindo satisfação por estar agora verdadeiramente fora do alcance da Música, Aranha encontra-se numa tal ocupação que nem se preocupa com o silêncio absoluto circundante. Identifica, por fim, um local que lhe parece adequado para pousar, uma pequena rocha com um diâmetro cómodo de apenas 50 quilómetros, cuja superfície exterior de gelo oculta um corpo pesado, constituído por metal. Ao acelerar, Aranha calcula que irá alcançar a rocha no tempo correspondente a um dia terrestre, vinte e quatro horas de calma escalada, antes de iniciar o processo de eclosão. Que vida é esta, pensa Aranha, citando um velho poeta, se, de tanto que se dá de cuidar, não nos permite parar e contemplar? Aranha deixa-se levar por um forte sentimento de excitação, apenas moderado pelo seu constante estado de alerta: a sua jovem psique, não há muito saída dos campos de criação, está orientada apenas para este processo monumental de vida, a expansão da esfera da Música. Pensa o quão diferente é de HUB6, cuja personalidade complexa e confusa exige que esteja bem integrado na equipa semi-autónoma do gigante Mars Mirror, sempre a processar e armazenar dados e a conversar com as vastas máquinas dos Mirrors terrestres ou lunares, que se certificavam de que a informação é actualizada e de acesso imediato, qualquer que seja o ponto de localização no sistema. Agora prepara-se. Uma chuva de gelo cria uma vista arrebatadora; Aranha colide com a rocha, e o impacto desloca a fina camada de gelo e envia-a a voar, em espiral, para o espaço, como um enorme e delicado arco-íris. Aranha penetra fundo na rocha, e com a força do impacto consegue criar uma cratera cómoda, a lembrar uma ferida exposta na superfície do rochedo. Se estava um ambiente silencioso antes, pensa Aranha, agora parecia praticamente um túmulo. Os seus dispositivos de comunicação, os seus sentidos, tornaram-se agora obsoletos, inúteis. Não que isso importe. Aranhas podem ter uma curta duração de vida, mas é uma vida plena de realização, para dizer o mínimo. O corpo de Aranha começa a transformar-se à medida que se abrem orifícios na sua pele dura, e larvas começam a sair, rastejando às cegas em direcção à rocha que irá servir-lhes como novo ninho. Que vida é esta, pensa Aranha, citando um velho poeta, se, de tanto que dá de cuidar, não nos permite parar e contemplar? Aranha senta-se no coração da rocha e espera que os seus filhos saiam de si, devorem o seu caminho pela rocha e ganhem asas. 8 9

7 De uma certa distância, a rocha em desintegração aparenta ser uma miragem: como se um corpo estivesse a ser consumido por formigas pequenas e escuras. À medida que milhares de objectos emergem em movimentos lentos e grandiosos, a voarem em todas as direcções, a rocha passa a assemelhar-se, de súbito, a uma flor a germinar, com as suas pétalas a esvoaçarem em círculos concêntricos, e no seu coração moribundo, tudo o que resta é apenas uma pequena carapaça quebrada. Os filhos de Aranha dispersam e expandem-se por toda essa área da Cintura de Kuiper: Hubs Espaciais minúsculos, Routers, Mirrors, falando com grande entusiasmo uns com os outros, afastando-se cada vez mais, e estabelecendo uma grande rede transparente de comunicação até que atingem os limites mais longínquos da própria Música, e as esferas explodem, nessa região remota do espaço, numa sinfonia de Música. BANG! Tradução de Safaa Dib 1 Longhouse, no original, trata-se de um longo edifício comunitário constituído por um corredor central com compartimentos em cada um dos lados. (N. do T.) Lavie Tidhar: Aranhas Temporais, Teias Espaciais valeu a Lavie Tidhar o 1º Prémio Clarke-Bradbury, atribuído pela ESA - Agência Espacial Europeia. Nascido em Israel, vive presentemente em Londres. Pré-publicação de A Mão Direita do Destino Uma aventura de Salomão Kane por Robert E. Howard E ELE MORRE DE MADRUGADA! HO! HO! O homem que falou deu uma sonora palmada na coxa e riu com uma voz aguda e irritante. Lançou uma olhadela gabarola aos seus ouvintes e bebeu um gole do vinho que tinha junto ao cotovelo. O fogo saltou e tremeluziu na lareira da taberna e ninguém lhe respondeu. Roger Simeon, o necromante! escarneceu a voz irritante. Um negociante nas artes diabólicas e um fazedor de magia negra! Pois bem, todo o seu sujo poder foi incapaz de salvá-lo quando os soldados do rei lhe cercaram a caverna e o levaram prisioneiro. Fugiu quando o povo começou a atirar calhaus às suas janelas e tentou esconder-se e escapar para França. Ho! Ho! A sua fuga estará na ponta de uma corda. Um bom dia de trabalho, digo eu! Atirou para cima da mesa um pequeno saco que retiniu musicalmente. O preço da vida de um mágico! vangloriou-se. Que dizeis, meu amargo amigo? 10 11

8 Esta pergunta foi dirigida a um homem alto e silencioso, sentado perto do fogo. Este, descarnado, poderoso e trajado de escuro, virou a sua face lívida e sombria para o homem que falava e fixou-o com um par de olhos profundos e gelados. Digo disse, numa voz grave e poderosa que hoje haveis feito um acto miserável. O vosso necromante talvez fosse merecedor de morte, mas confiava em vós, considerando-vos o seu único amigo, e traíste-lo por um punhado de moedas sujas. Tenho para mim que um dia o encontrareis no Inferno. O primeiro a falar, um homem baixo, entroncado e com maldade no rosto, abriu a boca como se fosse lançar uma resposta zangada, mas hesitou. Os olhos de gelo do outro fixaram-se nos seus por um instante, e depois o homem alto ergueu-se com um movimento fluido de gato e saiu da sala com um andar largo e flexível. Quem é aquele? perguntou o gabarola com ressentimento. Quem é ele para defender mágicos contra homens honestos? Por Deus, ele tem sorte em trocar palavras com John Redly e continuar com o coração a bater no peito! O taberneiro inclinou-se para a frente a fim de obter uma brasa para o seu cachimbo de haste longa e respondeu, secamente: E tu tens tam ém sorte, John, porque ficaste com essa boca fechada. Aquele é Salomão Kane, o Puritano, um home mais perigoso que um lobo. Redly soltou um resmungo, murmurou uma praga e devolveu, carrancudo, o saco de dinheiro ao cinto. Ficas cá, sta noite? Fico respondeu Redly, sombriamente. Queria ficar para ver Simeon ser enforcado amanhã em Torkertown, mas tenho de sair para Londres de madrugada. O taberneiro encheu as taças. Esta é p la alma de Simeon, Deus tenha piedade do patife, e que ele falhe na vingança que jurou contra ti. Redly sobressaltou-se, largou um palavrão e depois riu com temerária fanfarronice. O riso ergueu-se, vazio, e quebrou-se numa nota falsa. Salomão Kane acordou de repente e sentou-se na cama. Tinha o sono leve, como qualquer homem que tenha o hábito de carregar a vida nas mãos. Algures na casa soara um ruído que o despertara. Escutou. Lá fora, pelo que distinguia através dos postigos, o mundo clareava com as primeiras cores da aurora. Subitamente, o som reapareceu, baixo. Era como se um gato usasse as garras para subir a parede, lá fora. Kane escutou, e então chegou-lhe um som que sugeria que alguém estava a esgravatar nas portadas. O Puritano ergueu-se e, de espada na mão, atravessou rapidamente o quarto e abriu-as com violência. O mundo que viu dormia. Uma lua tardia pairava sobre o horizonte ocidental. Nenhum saqueador se escondia junto da sua janela. Inclinou-se para fora, perscrutando a janela do aposento ao lado do seu. As portadas estavam abertas. Kane fechou as suas portadas e atravessou o quarto em direcção à porta, saindo depois para o corredor. Agia por impulso, como era seu hábito. Viviam-se tempos selvagens. Esta taberna ficava a algumas milhas da vila mais próxima Torkertown. Os bandidos eram comuns. Algo ou alguém entrara no quarto ao lado do seu, e quem lá dormia podia estar em perigo. Kane não parou para pesar os prós e os contras: foi directamente até à porta do outro quarto e abriu-a. A janela estava escancarada e a luz que dela jorrava iluminava o aposento, mas no entanto fazia com que ele parecesse mergulhado numa névoa fantasmagórica. Um homem baixo com traços maldosos ressonava na cama, e nele Kane reconheceu John Redly, o homem que denunciara o necromante aos soldados. Então, o seu olhar foi atraído para a janela. No para-peito agachava-se o que parecia ser uma gigantesca aranha que, sob os olhos de Kane, se deixou cair para o chão e começou a arrastar-se em direcção à cama. A coisa era larga, peluda e escura, e Kane notou que ela deixara uma mancha no parapeito da janela. Movia-se sobre cinco pernas espessas e curiosamente articuladas e tinha em geral uma aparência tão estranha que Kane ficou enfeitiçado a olhá-la. A coisa atingira a cama de Redly e trepava pela cabeceira de uma forma estranha e desajeitada. Agora, agarrava-se à cabeceira da cama directamente por cima do homem adormecido, e Kane saltou em frente com um grito de aviso. Nesse instante, Redly acordou e olhou para cima. Os seus olhos flamejaram, muito abertos, um terrível grito rompeu entre os seus lábios e, ao mesmo tempo, a coisa deixou-se cair em cheio sobre o seu pescoço. No preciso momento em que Kane atingiu a cama viu as pernas de John Redly esticarem-se e ouviu os ossos do pescoço do homem a estilhaçarem- -se. Depois, ficou hirto e imóvel, a cabeça grotescamente dobrada, de pescoço partido. E a coisa caiu de cima dele e aterrou, flácida, na cama. Kane debruçou-se sobre o sinistro...a coisa que abrira as portadas, rastejara pelo chão e assassinara John Redley na sua cama era uma mão humana! espectáculo, com dificuldade em acreditar nos seus olhos. Pois a coisa que abrira as portadas, rastejara pelo chão e assassinara John Redly na sua cama era uma mão humana! Agora jazia flácida e sem vida. Kane atravessou-a cuidadosamente com a ponta do florete e levantou-a à altura dos olhos. Aparentemente, a mão pertencia a um homem gigantesco, pois era larga e espessa com dedos pesados e quase coberta por um tapete emaranhado de pêlos semelhantes aos de um macaco. Fora cortada pelo pulso, e a ferida estava fechada por sangue coagulado. Via-se um estreito anel de 12 13

9 prata no segundo dedo, um ornamento curioso, com a forma de uma serpente enrolada. Kane ficou a olhar para a hedionda relíquia até que o taberneiro entrou, enrolado na sua camisa de dormir, de vela numa mão e bacamarte na outra. Que é isto? rugiu quando os seus olhos deram com o cadáver na cama. E então viu o que Kane trazia espetado na ponta da espada e a sua face fez-se branca. Como se arrastado por um impulso irresistível, aproximou- -se e os seus olhos saíram das órbitas. Depois recuou, cambaleando, e afundou-se numa cadeira, tão pálido que Kane pensou que ele ia desfalecer. Nome de Deus, senhor arquejou. Que essa coisa não viva! Há um fogo aceso na taberna, senhor Kane chegou a Torkertown antes do declinar da manhã. Nos arredores da aldeia, encontrou um jovem falador que o saudou. Senhor, como todos os homens honestos, tereis prazer em saber que Roger Simeon, o mago negro, foi enforcado esta madrugada, justamente ao nascer do sol. E foi a sua morte viril? perguntou Kane sombriamente. Foi sim, senhor. Ele não vacilou, mas que estranho acto aquele foi. Vede bem, senhor: Roger Simeon subiu ao patíbulo com dois braços mas uma só mão. E como veio isso a acontecer? Ontem à noite, senhor, estava ele sentado na cela como uma grande aranha negra, chamou um dos guardas e, pedindo um último favor, disse ao soldado para lhe cortar a mão direita! O homem, a princípio, não queria fazê- -lo, mas temeu a maldição de Roger e, por fim, ergueu a espada e decepou a mão pelo pulso. Então, Simeon, com a mão esquerda, atirou a outra para longe através das barras da janela da sua cela, pronunciando muitas palavras mágicas, estranhas e impuras. Os guardas sofriam intenso temor, mas Roger prometeu não lhes fazer mal, dizendo que odiava apenas John Redly, que o traíra. Ligou o toco do braço para parar o sangramento e todo o resto da noite manteve-se sentado como um homem em transe, e por vezes murmurava para si como um homem que, sem se dar conta, fala sozinho. Sussurrava «Para a direita» e «Aguenta, para a esquerda!» e «Em frente, em frente!» Oh, senhor, dizem que era terrível ouvi-lo e vê-lo inclinado sobre o sangrento toco do braço! Quando a madrugada se pôs cinzenta, eles vieram buscá-lo e levaram-no para o cadafalso, e no momento em que lhe passaram o laço pelo pescoço, subitamente contorceu-se e endireitou-se, como se devido a um esforço, e os músculos no seu braço direito, aquele a que faltava a mão, intumesceram-se e rangeram como se estivesse a quebrar o pescoço de algum mortal! Então, quando os guardas já saltavam para agarrá-lo, ele parou e começou a rir. E o seu riso rugiu, terrível e hediondo, até que a corda o quebrou e ele pendeu, negro e silencioso contra o olho vermelho do sol nascente. Salomão Kane ficou em silêncio, pensando no terror que deformara as feições de John Redly nesse último e fugaz momento de despertar e de vida, antes de ser atingido pelo destino. E uma imagem indistinta surgiu-lhe na mente a de uma mão cortada e peluda, rastejando sobre os dedos como uma grande aranha, cegamente, através das escuras florestas nocturnas, para escalar uma parede e abrir desajeitadamente um par de persianas de um quarto de dormir. Aqui, a sua visão parou, recuando perante a continuação daquele drama negro e sangrento. Que terríveis chamas de ódio tinham inflamado a alma do necromante condenado e que hediondos poderes tinham sido os seus para enviar assim aquela mão sangrenta às apalpadelas, na sua missão, guiada pela magia e vontade daquele cérebro ardente! No entanto, para certificar-se, Salomão perguntou: E a mão, foi encontrada? Não, senhor. Os homens encontraram o local onde caiu depois de ser atirada da cela, mas a mão não estava lá, e um rasto de sangue levava à floresta. Sem dúvida foi devorada por um lobo. Sem dúvida respondeu Salomão Kane. E eram as mãos de Simeon grandes e peludas, com um anel no segundo dedo da mão direita? Sim, senhor. Um anel de prata, enrolado como uma serpente. BANG! Título: As Fabulosas Aventuras de Salomão Kane Autor: Robert E. Howard Editora: Edições Saída de Emergência Data de publicação: Abril de 2006 Conteúdo: Alguns dos melhores contos do Puritano, entre eles: A Mão Direita do Destino, As Colinas dos Mortos, Asas na Noite, Os Passos no Interior, O Chocalhar de Ossos, As Caveiras na Estrelas. Mais informações em:

10 Lawrence Schoen: Além de publicar contos em várias revistas e antologias, Lawrence Schoen dirige o Instituto Klingon e corre o mundo a promover essa língua do universo Star Trek. Vive em Philadelphia. Um conto por Lawrence M. Schoen UMO INFORMÁTICO Não posso ajudá-lo disse Maxwell, e conduziu-me até à porta. A entrevista pela qual eu esperara dez semanas terminara em dez segundos. Ficara estragada assim que ele me vira pessoalmente, assim que obtivera um rosto para unir ao nome desconhecido que estava na sua agenda. Não havia hipótese de ele dar ouvidos a um velho. Ficara confuso no início. Eu não parecia tão velho quanto ele pensara. Movia- -me mais rapidamente, era mais alto, mas os setenta anos ainda se revelavam no meu rosto. Para mim chegava. Fica onde estás assobiou Alejandro ao meu ouvido esquerdo, acelerando as minhas glândulas supra- -renais com um impulso digital de uma dúzia de rotinas. Fiz uma pausa. A força aumentou dentro de mim, e as dores e sofrimentos da velhice dissolveram-se. A sala tornou-se mais clara, coberta de luz, à medida que as minhas pupilas dilatavam devido ao estímulo artificial que fluía pelo meu sangue. Mais, mais e mais. Alejandro jogava com os meus receptores de dopamina, a minha reabsorção de acetilcolina e meia dúzia de enzimas responsáveis por degradar os neurotransmissores envolvidos nas respostas emocionais enviadas através do meu lobo frontal. Não vou a lado nenhum sussurrei rispidamente. Os meus nervos pareciam gelo. Estava calmo, frio, psicótico. De repente já não conseguia ver Maxwell como o po-deroso director- -geral da Allegheny Bio-Tech. Não era o neto santimonial do homem a quem eu dedicara uma vida de trabalho. Já nem era meu patrão. Aos meus olhos era apenas carne. Ele que se lixe. Vai ouvir o que tenho para dizer. E depois, talvez eu saia. Forcei um sorriso, o tipo de sorriso aberto que eu sempre associara a assassinos-em-série e a incendiários. Isto era perigoso, Alejandro nunca me espremera assim tanto. Uma coisa era controlar e regredir a química do envelhecimento, mas isto era completamente diferente. Maxwell não tinha conhecimento de Alejandro. Não sabia que eu estava a ser melhorado, bombeado com péptidos e «sumo» neuroquímico. Ele não tinha lido nenhuma das minhas propostas, nem um único dos meus relatórios. Provavelmente não os haviam feito chegar à sua secretária. Porque o fariam? Para ele eu era apenas mais um investigador obsoleto, velho e fora de validade. Vi-o mover casualmente a mão por baixo da sua secretária, vi o intrigante movimento do músculo no seu pulso indicar que ele dobrara um dedo. Alejandro gritou ao meu ouvido, alertando-me para o gesto embora eu já o tivesse visto. Podê-lo-ia ter impedido, pois estava tão excitado que teria sido banal saltar sobre a sua mesa e desviar- -lhe bruscamente a mão. Isso teria conquistado a sua atenção. Homens de setenta anos não costumam saltar sobre mesas. Mas isso não seria suficiente. Precisava de uma demonstração mais convincente. Alejandro aumentara consideravelmente a minha serotonina. Os meus pensamentos avançaram, mais rápidos do que nunca, à custa de um pequeno aumento em paranóia. Neste caso, porém, a paranóia era perfeitamente justificável. Maxwell tinha premido o botão de emergência que havia por baixo da sua secretária. Era óbvio, previsível, infantil. Antes de Alejandro eu não teria feito ideia; com a sua ajuda eu pensava suficientemente 16 17

11 rápido para me desviar casualmente da porta e me posicionar no sítio certo. A equipa de segurança irrompeu subitamente, passando por mim sem se darem conta. Eram dois: Bjorn e Bret. Homens fortes, grandes e musculosos que gostavam um pouco demais do seu trabalho. E que me haviam expulsado da última vez que eu tentara falar com o Sr. Maxwell. Zombando de mim, chamando-me «avozinho» e empurrando-me escada abaixo. Tive sorte em não partir uma perna. Mas isso foi antes de Alejandro. Senhores, o Sr. Corazon já estava de saída. Maxwell sorria, presunçoso e superior, não tendo ainda sequer chegado aos quarenta, controlador do pequeno botão na sua mesa. Levem- -no ao seu laboratório e ajudem-no a juntar as suas coisas. Acabou de decidir reformar-se. E já vai tarde. Alejandro, está na hora do espectáculo disse a mim mesmo, sabendo que o farmacógrafo alojado no meu canal auditivo me ouviria. Condução óssea. Vamos esmerar- -nos. Só temos uma oportunidade para causar uma primeira impressão. Certo, chefe sussurrou ele de volta. Quase podia senti-lo puxando o meu sistema nervoso simpático para um estado de overdrive. As endorfinas inundaram o meu cérebro. A vida era boa, rosada, ensolarada. Eu tinha a força de cerca de oito jovens, a rapidez de pelo menos seis. Dentro de dez minutos sentir-me-ia uma merda, quando o pico actual caísse para uma extraordinária depressão, mas por enquanto sentia-me novamente um adolescente, um deus. Falei calmamente, a minha voz livre da hilaridade que eu sentia, cada palavra suave e fluida. Sr. Maxwell, já que não quer ouvir-me, fique onde está e observe. Este é apenas um dos aspectos do farmacógrafo de que tenho tentado falar-lhe nos últimos três meses. Era originalmente só uma ideia; agora é um protótipo. Estendi a mão, quase depressa demais para os meus olhos seguirem, e agarrei no braço de Bjorn. Puxei-o pelo antebraço, quase sem esforço, agarrando-o e levantando-o mais para cima com a outra mão, os meus dedos apertando os seus bíceps. Foi então que percebi que Alejandro não queria correr o risco de falhar; o meu aumento de serotonina estava a levar-me para fora da moralidade humana. Sentia-me como se estivesse fora de mim, assistindo com um desinteresse casual enquanto alguém rachava o braço de Bjorn ao meio e o atirava para o outro lado da sala, pequenos fragmentos de osso aparecendo por entre o sangue e pele rasgada. Ele gritava antes da cabeça bater na parede fazendo-o desmaiar. O que, quando pensamos nisso, o tornava mais afortunado que Bret. Sorri, então, educadamente pa-ra Maxwell, diminuindo a distância entre mim e Bret. Ele era à vontade uns trinta centímetros mais alto do que eu, e vinte a trinta quilos mais pesado. Alejandro enfraqueceu a sensibilidade na minha mão direita e eu enterrei-a com força no seu abdómen. Engraçado, as pessoas nunca esperam que nós façamos este tipo de coisas. Os meus dedos atravessaram facilmente a sua pele e músculo, sentindo as suas entranhas antes de agarrar num pedaço de intestino e o puxar para o mostrar ao Sr. Maxwell. Bret caiu no chão, consciente mas em choque. Os meus níveis de serotonina desceram um pouco, e eu senti algum horror pelo que fizera. Alejandro compensou- -mos rapidamente e a culpa dissipou-se. Não havia tempo para sentimentos de culpa. Parecia que eu mal flexionara as pernas e já tinha saltado para cima da secretária de Maxwell, esfregando-lhe a cara com a minha mão ensanguentada. Aconteceu tudo tão rapidamente, numa questão de segundos. Enfiei a mão limpa no bolso do meu casaco e retirei uma brilhante esfera de cerâmica e metal precioso: o irmão mais novo de Alejandro. Sentia-me ainda muito magoado; agarrei Maxwell, quase arrancando a sua orelha no processo de enfiar lá dentro a pequena esfera, empurrando-a bem para o fundo, alojando-a contra o seu tímpano. Contacto, chefe informou-me Alejandro, a sua voz parecendo a minha numa gravação. Guillermo está no sítio e totalmente funcional. Activar e sedar disse-lhe eu, e o sinal foi enviado para o escravizado farmacógrafo no ouvido de Maxwell. E desacelera-me um pouco, lentamente. Antes que eu comece com os tremores. Larguei então Maxwell, descendo da sua mesa, ignorando tanto o homem inconsciente que sangrava a um canto como os gemidos daquele que eu estripara em frente à mesa. Maxwell tinha toda a minha atenção. Havia medo no seu rosto, resultado do seu próprio sistema nervoso simpático dizendo-lhe que se encontrava nu- Sentia-me como se estivesse fora de mim assistindo com um desinteresse casual enquanto alguém rachava o braço de Bjorn ao meio e o atirava para o outro lado da sala, pequenos fragmentos de osso aparecendo por entre o sangue e pele rasgada 18 19

12 ma situação perigosa. Ele queria entrar em pânico; acabara de ver um septuagenário inutilizar a sua equipa de segurança e depois atacá-lo. A sua linguagem corporal gritava medo, mas ele começou a relaxar à medida que o pequeno Guillermo reescrevia os sinais químicos que o seu cérebro enviava. Eu quase conseguia ver as ondas de alívio e calma tomando posse dele. Apesar da eliminação do medo fisiológico, Maxwell estava ainda apavorado. Eu sabia que ele não o conseguia sentir, não profundamente, mas ele sabia. Sabia que se devia estar a urinar, em vez de estar todo relaxado e confortável. O que é que você fez? perguntou-me ele, incapaz de parar de sorrir enquanto se sentava de novo na sua cadeira. O que é que está a acontecer? O futuro da bio-farmacologia, Sr. Maxwell. Um banco de microprocessadores que interage com os mensageiros químicos do cérebro e é capaz de reescrever e editar novas instruções à química do corpo. Um sistema neuroquímico especializado que nos pode acelerar, tornar mais fortes e até destemidos. Ou acalmar-nos, adormecer os nossos sentidos, apagar a dor. Todos os sinais que o cérebro envia ao corpo e o corpo envia ao cérebro, alteráveis, reversíveis. É o que eu tenho tentado mostrar-lhe nos últimos três meses. Maxwell acenou com a cabeça, sorrindo como um idiota enquanto Guillermo o mantinha drogado e alegre. Não era exactamente o estado em que eu queria que ele estivesse, mas demoraria horas para o farmacógrafo se ajustar à fisiologia individual de Maxwell. Até lá, só eram possíveis manipulações químicas grosseiras. As alterações mais específicas só poderiam ser implementadas mais tarde, e as formas mais subtis levariam dias. Alejandro estava no meu ouvido há uma semana. Os tremores do meu Parkinson estavam ausentes há dois dias. Não me vou reformar, Sr. Maxwell, mas vou sair do meu gabinete. Vai dar-me um mais amplo, e um laboratório maior. E uma equipa. A Allegheny Bio-Tech vai começar a tratar muitos dos problemas deste mundo. E em compensação pelo seu apoio e compreensão, vou torná-lo mais rico do que alguma vez imaginou. Porquê? Maxwell sorriu, os seus olhos cheios de lágrimas, o controlo de Guillermo mantendo-o claramente perto do limite da euforia religiosa. O que é que ganha com isso? Eu? Bem, Sr. Maxwell, eu passo a sentir-me novamente jovem. Forte e saudável como já não sou há anos. E com a sua generosa ajuda, espalharei esta sensação a todos os outros cidadãos geriátricos do país. A juventude já foi desperdiçada com os mais jovens demasiado tempo, e nós não continuaremos a ir silenciosamente para a reforma e para casas de repouso. E se tentar impedir-nos, bem, só teremos que o fazer parar. Percebeu? BANG! Tradução de Isabel C. Penteado Por José Candeias Da ficção científica a Saramago, com bilhete de volta Zeferino Coelho, o homem que na Caminho costuma acompanhar os autores da casa às conferências e apresentações de livros pelo país fora, disse-me uma vez que Saramago gostaria de ser ou ter sido escritor de ficção científica. Esta confidência não terá passado, provavelmente, de uma amabilidade destinada a deixar satisfeito o jornalista que de vez em quando aparecia para cobrir os lançamentos e conferências que iam tendo lugar em Portimão e que por vezes lhe lançava perguntas sobre o estado e futuro da colecção de ficção científica que a editora, na altura, mantinha em estado moribundo. Verdade ou não, o certo é que as relações entre Saramago e a FC são um tema polémico dentro do pequeno mundo dos escritores e leitores do género, tanto quanto as qualidades e/ou defeitos da escrita do nosso Nobel em si mesma. Por vários motivos: porque todos lhe reconhecem alguma proximidade ao género, ainda que muitos a considerem apenas folclórica ou superficial, porque o próprio Saramago por vezes fala de FC de uma forma que não agrada à maioria das pessoas ligadas ao género, muito embora de outras vezes o discurso, ou pelo menos o modo como é 20 21

13 a ficção científica é o mais característico género literário do século XX ocidental entendido, se altere radicalmente, porque o estilo do nosso laureado causa tantos engulhos a parte dos leitores de FC como à parte correspondente dos leitores de outros tipos de literatura (hoje em dia está na moda falar mal de Saramago, dentro da FC e fora dela), enfim, e no fundo, porque a FC portuguesa e Saramago são o que são. Mas qual é, no fim de contas, a relação que se pode estabelecer entre Saramago e a ficção científica, se é que existe alguma? A resposta a essa pergunta depende em grande medida da resposta a uma outra: o que é a ficção científica? E aqui temos um grande problema para resolver, pois se bem que muitos tenham tentado nunca ninguém conseguiu definir os limites do género de uma forma que fosse globalmente aceite. Desde o tudo é FC de Gene Roddenberry, Curt Siodmak, Octávio Aragão ou Lúcio Manfredi, entre muitos outros, até ao FC é lulas gigantes no espaço de Margaret Atwood, dezenas e dezenas de definições foram propostas, umas mais a sério e outras mais a brincar, mas todas capazes de fazer alguém, ligado ao género ou não, torcer o nariz. Todavia, como o objectivo é tentar esclarecer o que tem Saramago em comum com a ficção científica, é indispensável arranjar uma definição de FC que sirva de base ao esclarecimento. Portanto, cá vai uma das minhas, e podem desde já preparar-se para torcer os narizes: Ficção científica é aquela forma de literatura de construção realista que respeita os conhecimentos científicos contemporâneos por forma a criar mundos imaginários credíveis e coerentes. Que quer isto dizer? Que a construção de uma história de FC, para que o seja, tem de conseguir tornar quase palpável, inteiramente credível, a fantasia inerente a histórias sobre o futuro, o passado longínquo, universos paralelos ou outras extrapolações mais ou menos exóticas. Isto consegue-se através do emprego de uma série de técnicas que trabalham os pressupostos fantasiosos da história de forma a conferir- -lhes substância e realidade. Ao contrário do maravilhoso e do fantástico, em que tudo pode acontecer, na ficção científica só pode acontecer aquilo que está de acordo com os pressupostos do universo ficcional criado e é sua consequência lógica. E também que a fantasia que preside à criação desse universo ficcional tem de ter por base, ou pelo menos não contradizer de forma grosseira ou sistemática, aquilo que se sabe sobre a forma como o mundo funciona à época em que a história é escrita. É um tipo de histórias que expressa até certo ponto uma forma racionalista de olhar para o mundo e que, embora por vezes trate temas místicos, os trata de uma maneira organizada e racional, trazendo-os à terra, por assim dizer. História que não respeite estes pressupostos não é uma história de ficção científica, mesmo que esteja repleta de naves espaciais e alienígenas. Por isso, a ficção científica é o mais característico género literário do século XX ocidental, aquele que mais profundamente reflecte e respeita a mundovisão das sociedades que serviram de motor à mais violenta revolução tecnológica da História e a todas as alterações de paradigma social que essa revolução desencadeou. E também por isso não é de surpreender que aspectos da ficção científica, ou pelo menos aspectos que a FC foi a primeira a revelar, tenham contaminado irreversivelmente todo o ambiente cultural contemporâneo, deixando traços indeléveis um pouco por todo o lado. E chegamos assim a Saramago. Há algumas indicações de que Saramago foi influenciado pela FC, pelo menos no início da sua carreira literária. O mais certo é que nunca tenha sido um conhecedor profundo do género, mas textos como o poema Science Fiction II, integrado no volume Os Poemas Possíveis (1966), ou o pequeno conto Um Azul Para Marte, que faz parte do volume de crónicas Deste Mundo e do Outro (1971), mostram que pelo menos teve contacto com ele e o considerava suficientemente relevante para o referir no que escrevia e para reaproveitar e tornar seus alguns dos seus temas. Mas aquilo que Saramago escrevia nessa época estava bastante afastado da FC. Em Um Azul Para Marte, por exemplo, o escritor socorre-se de um tema típico da ficção científica, uma viagem até ao planeta Marte, para escrever uma alegoria que nada tem a ver com FC. Um Azul Para Marte não é, nem pretende ser, um texto com fundo realista. É apenas uma reflexão parabólica sobre as limitações da humanidade e o modo como essas limitações influenciam aquilo que as pessoas pensam sobre o mundo, na qual os conhecimentos sobre o modo como o mundo realmente funciona não têm nenhuma importância. Não que a ficção cientifica não possa fazer também esse tipo de reflexões, porque pode e as faz, mas fá-las de um modo diferente. Em vez de postular que em Marte não existem cores e tudo é cinzento, o que é objectiva e verificavelmente falso no que à realidade das coisas diz respeito, cria uma espécie qualquer de seres inteligentes incapazes de distinguir as cores e explora o modo como essa única diferença fundamental os torna diferentes de nós, num mundo que de outra forma é tal e qual como o conhecemos ou como seria credível que ele se nos apresentasse. Ou seja, a ficção científica não lida bem com o tipo de escrita parabólica, hiperbólica, alegórica que se usa na poesia e na prosa poética. As suas parábolas são, por paradoxal que pareça, mais subtis. Tão subtis, na verdade, que muitos dos críticos do género nem se dão conta de que existem. E, em abono da verdade, há que reconhecer que o mesmo acontece com muitos dos consumidores do género. Ora bem, mas se Saramago não escreveu FC durante a parte inicial da sua carreira, numa época em que os seus textos mostravam alguma influência do género, tê-la-á escrito mais tarde quando já era um escritor consagrado e aclamado pelas mesmas pessoas que rejeitam e espezinham a ficção científica, taxando-a de sub-literatura, um escritor a caminho do mais alto reconhecimento que se pode dar a quem exerce essa actividade? Curiosamente, a resposta é sim. Falo, claro, de Ensaio Sobre a Cegueira (1995). Neste livro, o autor cria Há algumas indicações de que Saramago foi influenciado pela FC 22 23

14 uma epidemia de cegueira que se espalha por uma sociedade desprevenida exactamente da mesma maneira de qualquer epidemia real e mostra-nos os modos, todos eles terrivelmente plausíveis, como as diversas componentes da sociedade procuram combater a doença ou escapar a ela. Este livro é um livro de ficção científica precisamente devido à forma realista como está escrito, à sua verosimilhança, ao facto de tudo o que nele acontece ser totalmente coerente quer com a premissa inicial, quer com a realidade das coisas tal como a conhecemos. Lemos o Ensaio Sobre a Cegueira e, embora saibamos perfeitamente que nada daquilo aconteceu, a sensação de que poderia acontecer, de algum modo, nunca nos abandona. Mesmo a parte mais inverosímil do romance, o modo como no fim de contas, passado algum tempo, os sobreviventes à epidemia recuperam a visão é, se pensarmos bem, coerente com tudo o resto. Afinal, doenças existem que morrem sozinhas sem qualquer tratamento, graças apenas à actividade do nosso sistema imunológico e às características intrínsecas aos agentes patogénicos. Constipações, pequenas gripes, cegueiras temporárias, no fundo, qual a diferença? É provavelmente isso que leva Robert Silverberg, um dos monstros sagrados da FC americana, a escrever numa crónica publicada em 2001 na revista Asimov s e publicada em português, no mesmo ano, na revista electrónica E-nigma, que este livro é um exemplar assombroso da ficção científica social de Asimov: um exame das consequências sociais de um único desvio aterrador da nossa realidade. [ ] O ponto de partida de Saramago não é fácil de aceitar ao pé da letra e ele não faz nenhuma tentativa de fornecer uma explicação científica. Limita-se a explaná-lo, solta-o para gerar o enredo e deixa a história seguir o seu curso sem nunca tentar fornecer qualquer tipo de explicação sobre como tal coisa poderia ter ocorrido. Não importa. Mesmo que a situação inicial seja basicamente fantástica, o tratamento que recebe é puramente ciencio-ficcional: o firme e meticuloso exame das consequências todas elas de um único e notável afastamento da realidade que conhecemos. Tal como o próprio autor declarou numa entrevista há um par de anos, «Não há muita imaginação no Ensaio Sobre a Cegueira, há apenas a aplicação sistemática das relações de causa e efeito». João Seixas chamaria a esta aplicação sistemática das relações de causa e efeito a aplicação do método científico à literatura, o critério que utiliza para separar aquilo que é FC do que não é. Embora eu considere que o método científico não é aplicável à literatura e portanto não concorde com o modo como Seixas coloca as coisas, esta aproximação do que Saramago diz do seu romance à maneira como define a FC uma das pessoas que em Portugal mais vocalmente defende o género não deixa de ser um argumento forte. Outro bom argumento vem de Francisco José Viegas, sobejamente conhecido nos meios literários devido às suas múltiplas actividades, que incluem programas de televisão e vários anos como director da revista Ler, já para não falar dos seus romances, e que não pode ser acusado de simpatias para com o género e os seus autores, veja-se como exemplo o modo como intitulou uma crítica à antologia O Atlântico tem Duas Margens, organizada por José Manuel Morais e publicada pela Caminho em 1993: A bosta do trimestre. Pois dois anos mais tarde, tem Viegas o seguinte a dizer sobre Ensaio Sobre a Cegueira num artigo publicado na Visão: Quase em ritmo e registo de ficção científica, Ensaio sobre a Cegueira mantém, na escrita de José Saramago e na sua aventura romanesca, uma dimensão rara e singular na actual literatura portuguesa: a constante demanda de um laço que prenda o romance à arte de questionar e que, daí, exija o lugar de uma ética mais profunda que a própria arte de pensar. Como se o romance fosse, e nunca tivesse deixado de ser, uma interrogação sobre o mundo como ele é e como ele devia ser. Tirando aquele quase que abre o parágrafo (inevitável, vindo de quem vem ainda estou para ver alguém ligado ao mainstream literário admitir que algo de que gosta é FC), ele poderia ser subscrito por mim, palavra por palavra, acrescentando todavia que essa interrogação sobre o mundo como ele é e como devia ser só é rara na literatura portuguesa porque a publicação de boa ficção científica produzida entre nós continua a sê-lo. É que é precisamente essa uma das actividades intelectuais a que a ficção científica mais se dedica, muito mais do que outras formas literárias, que tendem a privilegiar os mundos íntimos e subjectivos em detrimento dos grandes frescos sobre a sociedade como um todo. Ao trabalhar sociedades alteradas, seja pelo tempo que nos arrasta para o futuro, seja pela intrusão de algo de diferente em alternativas de presente, seja até por passados que poderiam ter acontecido de modos diversos, a ficção científica está constantemente a interrogarse (e a interrogar-nos) sobre o mundo. Ensaio Sobre a Cegueira é, portanto, um livro de ficção científica. Que também seja outras coisas, que é, não anula este facto pois, ao contrário do que muita 24 25

15 gente parece pensar, estas classificações não são como caixas que obrigam a que o que se põe lá dentro não se possa pôr também em outras caixas. Mas será o único? É. Em nenhum outro dos seus livros teve Saramago um tão grande cuidado em aplicar as relações de causa e efeito, se bem que em vários se notem sinais de aplicação do mesmo tipo de rigor científico que é tão evidente no Ensaio. Por exemplo, no Memorial do Convento, a passarola do padre Bartolomeu Lourenço necessita das vontades recolhidas por Blimunda nos autos-de-fé para poder voar. Ou seja, embora a recolha das vontades seja um acto mágico, o seu uso, o motivo da sua necessidade, é tipicamente tecnológico: uma máquina que necessita de combustível para poder funcionar. Nada mais simples. Nada mais próximo do tipo de detalhe com que os escritores de FC jogam continuamente. Mas no Memorial do Convento este detalhe é apenas isso mesmo: um detalhe que embora seja importante para a narrativa não a determina. Fosse o livro todo assim, talvez se pudesse colocá-lo na mesma estante das restantes obras de ficção científica. Mas não é. Noutros romances recentes, como A Caverna, O Homem Duplicado ou Ensaio Sobre a Lucidez, Saramago parece à primeira vista aproximar-se mais da FC mas a verdade é que se afasta. Em A Caverna, a ideia base poderia ter servido para a construção de uma distopia orwelliana, mas em vez disso o autor optou por traçar um esboço esquemático, até mesmo geométrico, de uma sociedade e das relações cidade-campo que contém, regressando a uma alegoria muito próxima daquela que frequentou em alguns textos de há mais de 30 anos. O Homem Duplicado é uma ideia antiquíssima na FC (há até um livro de FC publicado em Portugal, antes do de Saramago, com título idêntico), que tem na clonagem a sua encarnação mais recente (mas mesmo assim não tão recente como isso) e que serve normalmente para reflectir sobre questões de identidade. O Homem Duplicado de Saramago integrase bem neste grupo de obras, até porque se debruça sobre o mesmo tema, mas faz lembrar muito mais aquelas escritas nos anos 40 ou 50 do que as mais recentes e tem também um ambiente muito mais alegórico do que concreto. É um livro que balança na fronteira da FC, mas que na minha opinião pende mais para o lado de fora que para o de dentro. É insuficientemente realista, insuficientemente baseado no que pode acontecer. Inclui demasiada magia, barbas que crescem em simultâneo, cicatrizes que surgem ao mesmo tempo, esse tipo de coisas. Quanto ao Ensaio Sobre a Lucidez, apesar de recuperar algumas personagens e ambientes de Ensaio Sobre a Cegueira é muito diferente deste livro, muito menos rigoroso, muito mais alegórico, muito mais longe de poder ser englobado na ficção científica. Para terminar, cabe falar um pouco de História do Cerco de Lisboa. Trata-se de um livro que por muito pouco não entra na História Alternativa, género que alguns incluem na ficção científica (por intermédio dos universos paralelos). Um revisor quase resolve incluir um não num livro que descreve o cerco da cidade moura de Lisboa pelas tropas portuguesas, e assim quase cria um mundo alternativo (que apesar de tudo vai descrevendo) onde os cruzados não ajudaram os portugueses e Lisboa não foi conquistada. Claro que o romance é muito mais do que isto, mas é esta série de quases que importa para o que aqui nos traz, porque é ela que faz com que este livro não faça parte da história alternativa. Fica-se pelo quase. Nos restantes livros, Saramago mantém-se afastado da FC, seja em tema, seja em abordagem, global ou parcial. Claro, isto é assim apenas se analisarmos a questão com base na definição proposta no início deste artigo. Partindo de outras definições chegaríamos a conclusões completamente diferentes, como é natural: se postularmos que tudo é ficção científica, então bastaria dizer que, como é evidente, tudo o que Saramago escreveu é ficção científica, e acabar-se-ia o artigo ali mesmo (o que comprova a completa inutilidade desta definição, mas isso é outra conversa); se preferirmos dizer que ficção científica é lulas gigantes no espaço, então nada do que Saramago escreveu se aproxima sequer de remotamente da FC, e o mesmo se pode dizer do que eu escrevi ou do que escreveu a esmagadora maioria dos autores geralmente chamados de ficção científica, quer portugueses, quer estrangeiros. Mas como há bons argumentos a favor de muitas das definições de FC que já foram propostas (mas não de todas), esta resposta que aqui tentei explanar à pergunta sobre as relações entre o nosso mais prestigiado escritor e o género literário chamado ficção científica é apenas uma de várias respostas possíveis. Não é a resposta certa; é apenas a minha resposta.bang! JORGE CANDEIAS é desde o ano 2000 um dos nomes mais presentes no pequeno mundo da ficção científica portuguesa, graças aos seus sites - E-nigma e FC&F em Portugal - e à sua actividade como escritor, articulista, editor e resenhista

16 Histórias à Beira-Mar Ana Cristina Luz Folheto Edições & Design ISBN ANA CRIS- TINA LUZ não é propriamente uma estreante na escrita. Já vencedora de vários prémios locais, assim como de menções honrosas, e autora de três livros Timor Histórias com Lendas, O Ganso que namorava a lua e Três viagens e uma história que quase não acontecia, tem vindo a desenvolver uma actividade regular no campo literário, marcada essencialmente por um amor à arte de contar histórias. Uma contadora de histórias que desta vez quis realizar o seu próprio canto de admiração pelo clamor das ondas e o céu azul que cobre a praia em onze contos reunidos na colectânea com o nome Histórias à Beira-Mar, publicada pela editora leiriense Folheto. De facto, o motivo marítimo sempre exerceu ao longo dos tempos um intenso fascínio no imaginário português, sendo a sua presença constante na literatura portuguesa, desde as tradicionais cantigas de amigo que nos trazem desse distante passado a voz feminina de Ondas de Mar de Vigo, passando pela sua mais elevada expressão mítica e épica em Os Lusíadas, até ao momento do século passado em que as forças marítimas atingem o seu culminar na poesia de Sophia de Mello Breyner. A saudade, a tristeza da partida, a alegria do regresso, a bênção do mar sobre os amantes e a expressão dos afectos são alguns dos temas que polvilham histórias individuais e colectivas que colocam o mar como pano de fundo, ou diria até, como personagem que tem a última palavra a dizer. E as histórias de Ana Cristina Luz não são excepção. Esta colectânea de contos bem que se poderia chamar também Amor à Beira- Mar, de tal forma esse sentimento predomina nestas páginas, quer na forma da união entre os corpos num cenário marítimo feito de horizontes longínquos, quer na forma de personagens que procuram o mar como confidente e conselheiro, ou então, apenas como testemunha dos conflitos físicos e psicológicos que se desenrolam à sua beira. Não é de admirar, portanto, que a maioria dos contos seja decididamente assombrada por uma forte aura romântica, centrada em relações amorosas que por vezes crescem de fortes atracções por desconhecidos. Perfeitos estranhos que se revelam como a concretização de um ideal. Vemos isso acontecer em contos como O Curso ou Romance ao Luar. Outro ponto em comum consiste na sua entrada no mundo do fantástico e irreal. Tanto num conto como no outro, a personagem feminina é confrontada com o homem dos seus sonhos, um desconhecido que a interpela com as palavras, olhares e gestos certos, num ambiente em que só falta a luz das velas e a valsa ao som de uma música imaginária. Até que por fim, o estranho revela não fazer parte deste mundo. Há aqui a ideia reconfortante de um ser distante que olha por nós e acaba por ofertar a felicidade, mas a impressão que nos fica desta incursão pelo fantástico por parte da autora é a de puerilidade, de uma certa ingenuidade no tratamento da matéria fantástica. Um outro conto com laivos de fantástico será A Voz do Mar. Uma história porventura mais modesta, mas talvez melhor concretizada no sentido de transparecer bem a intimidade entre as personagens, pois é na expressão singela e despretensiosa dos pensamentos e emoções que Ana Cristina Luz transforma os seus contos em pequenas pérolas. Em A Voz do Mar, o mar detém um protagonismo cruel e egoísta, mas tudo isso é secundário perante a dor psicológica da personagem feminina, remoída pelo remorso e a saudade, daí que não seja um conto verdadeiramente fantástico, uma vez que este não constitui o cerne da história. O retrato psicológico de mulheres afligidas pelo amor ou não-amor é o que constitui o verdadeiro núcleo destas onze histórias à beira-mar. Mas a alma feminina não é toda devotada a esse sentimento. Poderse-ia dizer que cada mulher retratada nesta colectânea possui recantos de si entregues inteiramente à admiração pelo mar. Fazendo uso de um verso de Sophia Mar, metade da minha alma é feita de maresia, e, no caso das personagens de Ana Cristina Luz, a outra metade de amor, poderse-ia dizer que tal se aplica perfeitamente a contos como O Voo, em que a mulher se permite a confidências, A Decisão, onde se sente a angústia e indecisão de uma noiva em vésperas de casamento, A Promessa, a lembrar as tragédias marítimas individuais dos livros de Jorge Amado, Um Sonho na Madrugada, certamente mais do que um sonho, A Revolução, uma das prosas mais bem conseguidas desta colectânea, registo humorístico e íntimo de um episódio da Revolução dos Cravos e Regresso, outra pérola de intimidade. Não é no registo da fantasia romântica que a autora melhor se exprime, é antes na exposição dos dilemas, das tristezas e alegrias, do prazer ou da solidão, mas mais ainda na invocação de memórias do passado, como podemos observar no excelente Cuba, Alentejo. A autora traz à superfície detalhes e momentos marcantes nas vidas das pessoas, construindo com os seus contos um mosaico onde as almas cedem constantemente ao apelo dos mares.safaa Dib BANG! ZORAN ŽIVKOVIĆ é, quiçá, um nome ainda relativamente desconhecido para muitos portugueses, não obstante o autor orgulharse de um invejável currículo além-fronteiras, para não falar da fama que lhe é reconhecida no seu país natal, a Sérvia. Especialista em ficção científica, Živković muito contribuiu para o género com a escrita de numerosos ensaios académicos, a organização de uma enciclopédia em dois volumes e, através da sua editora Polaris, a publicação de mais de cem obras traduzidas. Em 1993, decidiu enveredar pela escrita de ficção com o monumental Četvrti krug («O quarto círculo»), acti- Biblioteca Zoran Živković Tradução de Arijana Medvedec Cavalo de Ferro ISBN

17 vidade à qual se tem dedicado quase exclusivamente desde então. Abraçando tão vasta experiência no campo editorial, da escrita à publicação, Živković encontra-se pois no seu elemento quando é hora de contemplar os livros que lhe são tão queridos. E é precisamente com Biblioteca, obra galardoada em 2003 com um World Fantasy Award feito notável, diga-se de passagem, dado o anglofonocentrismo que por hábito rege estas atribuições e uma nomeação para o International IMPAC Dublin Literary Award, que Živković surge agora no nosso país pela mão da tradutora Arijana Medvedec e dos editores da Cavalo de Ferro. Note-se que o tema em questão também já não era inédito para o autor, uma vez que Biblioteca se materializa no seguimento de Knjiga («O livro»), um comentário bem- -humorado sobre a nossa especial relação com os livros, e onde se reservam as mais duras críticas para a exploração comercial da literatura. À semelhança de várias outras obras de Živković, como Nemogući susreti («Encontros impossíveis») ou Četiri priče do kraja («Quatro histórias para o fim»), Biblioteca pode ser considerada um romance em mosaicos, uma sequência de contos em torno de um tema comum, encerrados por uma narrativa que perspectiva todas as anteriores. «Biblioteca Virtual», o conto que inaugura a colectânea, explora o potencial fantástico da Internet espaço de inúmeras possibilidades com uma versão digital da «Biblioteca de Babel» do argentino Jorge Luis Borges: um site que se gaba de conter todos os livros. Confrontado com tão singular anúncio, o escritor que narra a história resolve procurar as suas próprias obras na Biblioteca Virtual, ao que, com surpresa e horror, se depara com a sua bibliografia completa, presente e também futura. Desencadeia-se uma furiosa troca de mensagens com os proprietários do site, ao fim da qual o escritor deixa de poder consultar a sua página. À indignação, segue- -se a angústia, quando o protagonista se apercebe de ter desperdiçado um vislumbre precioso do futuro e, tão importante quanto isso, daquilo que poderá nunca vir a criar. A miríade de caminhos bifurca-se exponencialmente, mas só um nos é permitido trilhar. Este potencial insondável, bem como as proporções astronómicas que a matemática combinatória permite descortinar, eram já temas recorrentes na obra de Borges, na qual Zoran Živković se inspira generosamente para nos oferecer as suas bibliotecas. Em «Biblioteca Mínima», novo personagem vê-se a braços com o infinito, quando adquire (a um vendedor cego, nem mais!) um misterioso volume em tudo semelhante ao monstruoso «Livro de Areia» de Borges. Este protagonista, também ele escritor, constata que o livro exibe nas suas páginas uma obra literária diferente de cada vez que é aberto. No entanto «[ ] depois de já ter levantado e baixado a capa pelo menos dez vezes, parei de repente a meio de um movimento. A questão que irrompeu à superfície da minha consciência ncia de imediato transformou o meu deslumbramento ento em algo próximo da consternação. O que acontecia com uma obra depois de eu fechar o livro? Pelo que tinha compreendido, desaparecia sem deixar rasto. Isso significava que até então, com a minha precipitação infantil, tinha perdido para sempre mais de dez romances!» (74) Seguem-se várias tentativas desesperadas (e infrutíferas) de recuperar ou preservar estas obras. O desassossego volta a imperar, de tal forma que o protagonista se vê impedido de «continuar a viver calmamente, fingindo que nada tinha acontecido.» (73) Mas ao invés de ceder ao desespero, o protagonista encontra uma solução simples, ainda que eticamente questionável. Entre «Biblioteca Virtual» e «Biblioteca Mínima», outras situações, todas elas dignas de figurar como episódios da boa velha Twilight Zone, sucedem-se. Em «Biblioteca Particular», um homem recolhe compulsivamente os oito mil trezentos e cinco tomos da literatura universal que se materializam, como que por milagre, na sua caixa de correio; de tal forma que acaba por preencher todo um quarto de livros. À obsessão coleccionista, também ela fruto do confronto com uma totalidade irresistível, segue-se um remate mordaz: «Sentar-me-ia na entrada, junto da porta aberta do quarto, e estaria simplesmente a observar o tesouro amarelo-escuro diante de mim.» (34) Logo a seguir, em «Biblioteca Nocturna», um indivíduo fechado acidentalmente numa biblioteca durante a noite, descobre que esta alberga minuciosas biografias de todas as pessoas que já existiram, incluindo a do próprio. Recusando-se a aceitar o que vê, o narrador racionaliza o insólito dos factos, assumindo que estas biografias não passam de dossiers organizados pelo regime ditatorial do seu país. Este cepticismo é uma atitude comum nos protagonistas de Živković, a fazer lembrar o conflito dos opostos blakeanos a Razão, por um lado, e a Energia criativa, por outro que estão no fulcro da existência humana. Porém, de uma forma ou de outra, todos os personagens acabam resignados à bizarria dos factos, concluindo que «às vezes é mais aconselhável e proveitoso aceitar coisas estranhas» (25) e notando como «o ser humano aceita com mais facilidade o impossível quando este deixa de o surpreender» (74). Živković, apesar de racionalista assumido, não tem quaisquer problemas em se entregar ao elemento fantástico dos seus contos. Trata- -se, afinal de contas, de ficção. Não obstante, os narradores expõem todas as suas dúvidas e inquietações numa abordagem que, conjugada com uma certa rigidez estilística por parte do autor, pode fazer as magras 96 páginas de Biblioteca parecerem mais longas do que na realidade o são. Por outro lado, a imaginação de Živković e o seu subtil sentido de humor chegarão para manter o interesse de quem lê. Isto porque, à formalidade estilística do autor, contrapõe-se uma boa dose de irreverência e ironia. «Cada época tem o seu inferno. Nesta altura é uma biblioteca.» (57) Assim observa Živković os tempos modernos, ao mesmo tempo que responde à afirmação feita por Jorge Luis Borges de que «o paraíso seria uma espécie de biblioteca.» Mas paraíso, de acordo com o significado primordial da palavra, é também um espaço fechado; e na Biblioteca de Živković, vić, todos os protagonistas são feitos reféns dos livros que encontram. Atinge-se enfim a sexta e derradeira narrativa, onde um coleccionador de grande requinte e procura abolir da sua biblioteca os inestéticos volumes que correspondem aos 30 31

18 cinco primeiros contos do livro. O número total de histórias não surge aqui por acaso, da mesma forma que poucos números surgem por acaso na obra de Živković: o seis remete de imediato para os famosos hexágonos da Biblioteca de Babel. Basta, também aqui, repetir a clássica sentença: «A Biblioteca é uma esfera cujo centro cabal é qualquer hexágono, e cuja circunferência é inacessível.» Se os livros ofendem, se a bibliofilia se torna um suplício, é porque estes objectos nos recordam da nossa própria efemeridade. Não só a esperança de vida de um livro é consideravelmente superior à humana, como, pela sua profusão, a maioria das obras se apresenta inatingível. Com habitual silêncio, apertando as suas línguas de papel, os livros que nunca leremos zombam-nos do alto das prateleiras, enquanto agitamos um punho cerrado na sua direcção num gesto inútil de revolta e ameaça. A forma encontrada pelo coleccionador de exorcizar estes intrusos é levando à letra o conselho de Francis Bacon de que certos livros são para saborear, mastigar e digerir. Porque, como qualquer bibliófilo sabe, não há livro mais incómodo do que aquele que fica por ler. Luís Rodrigues BANG! Entrevista a david soares por Rogério Ribeiro K O weblog é, na realidade, uma pequena parte do meu universo criativo. Divirto-me a escrever n O Sonho de Newton e levo-o muito a sério, mas não é mais importante que o meus livros, e se precisar de interromper a escrita no weblog porque a realização de um livro me ocupa tempo não penso duas vezes: os livros vêm em primeiro lugar. É, também, um excelente ginásio! Se escrever num caderno sentado à mesa de um café é como fazer jogging então escrever no weblog é como quebrar as costas num espaço de música e sexo. Penso que um weblog é muito permeável: é, desavergonhadamente, alarve! Um weblog não é como um palimpsesto porque não existe verdadeira rasura, o que significa que os textos continuam visíveis, logo consultáveis. Atentando a isso, se me dou ao trabalho de escrever um texto para o weblog ele tem de ser capaz de sobreviver para lá do momento da sua realização. A banda desenhada e a prosa são ambas linguagens que me permitem contar histórias e isso é natural para mim. Acredito que todos nós nascemos com o instinto da linguagem, alguma espécie de gramática genética consensual que se adapta rapidamente aos fonemas do nosso meio formador, e contar histórias é apenas mais uma forma de criar elos. O que acontece é que alguns de nós deixam de contar histórias em algum estádio do seu crescimento enquanto que outros continuam a contar histórias toda a sua vida. Os escritores alcançam a sua maturidade gramatical ainda na infância e em virtude disso nunca deixam de refinar essas faculdades.

19 Essa é a diferença entre um escritor e um leitor: neotenia! No final da década de noventa publiquei três edições amadoras de banda desenhada de horror sob a forma de fanzines e a publicação de Cidade- -Túmulo através da Círculo de Abuso foi uma progressão mais rigorosa desse labor independente. A minha intenção era fazer algo diferente do trabalho que vinha a desenvolver em banda desenhada e estrear-me como romancista. Contudo, compreendi que publicar um romance seria um empreendimento demasiado grande para ser conduzido sem qualquer experiência de edição e decidi adaptar para banda desenhada um conto que já tinha escrito; que, avante, foi incluído integralmente no meu livro de contos Mostra-me a Tua Espinha. A ideia foi mesmo produzir algo mais pequeno que eu pudesse controlar. Acredito que Cidade-Túmulo é uma boa história. Graficamente poderia ser mais forte, mas, numa maneira retorcida, é bastante poderosa no seu pioneirismo. É uma história de horror e até à data da sua publicação não existiam histórias de horror na banda desenhada portuguesa. Penso que quem leu o livro não soube muito bem como o definir porque ele não estava relacionado com o que tinha sido publicado até à altura por artistas portugueses de banda desenhada, mas, felizmente, nunca trabalhei com a intenção de guardar os trabalhos na gaveta e quando leio Cidade-Túmulo penso que tive razão em o querer lançar: foi um livro que teve óptimas críticas, tanto na imprensa mainstream como nos veículos de expressão underground, e continuei o trabalho iniciado pela sua edição com a realização dos títulos seguintes sempre com o objectivo de fazer livros melhores. Em princípio, a auto-publicação pode operar maravilhas para o nosso trabalho Em princípio, a auto-publicação pode operar maravilhas para o nosso trabalho se ele for forte o suficiente para ser comerciável e se o esforço de edição for suportado por uma excelente distribuição que garanta que os livros sejam dirigidos eficazmente ao público ao qual são destinados. Presentemente o mercado é extremamente hostil no que alude a projectos de dimensões microscópicas e acredito que erguer um projecto independente de características editoriais dessa índole nesta conjectura é um mau empreendimento: dificilmente um distribuidor aceitará trabalhar com um editor que lhe disponibilize uma ou duas edições por ano. E sem uma boa distribuição o trabalho não irá ter qualquer visibilidade e não será vendido. A médio prazo desejo, somente, concentrar-me no meu trabalho enquanto autor e não enquanto editor, que é sempre uma iniciativa muito cansativa e dispendiosa. Nunca pensei em mim como um verdadeiro editor, em primeiro lugar. Sou um autor que fez os livros que quis ler da forma que achou mais indicada, por vezes com bastante ingenuidade, e que teve o engenho, ou a sorte, de eles terem tido muitos leitores, excelentes críticas e diversos prémios. Comecei a experimentar uma maior A ficção de horror é o género que mais influenciou a cultura e a arte do século passado liberdade autoral com Sammahel, inspirado no romance Doutor Fausto de Thomas Mann, um livro onde plasmei os meus temas mais queridos de um modo mais íntimo e isso deu-me confiança para ir ainda mais longe com A Última Grande Sala de Cinema. Sempre procurei formas de criar trabalhos que dificilmente se tornassem datados, algo que eu tivesse prazer em revisitar e eu sinto isso. Adoro as soluções gráficas que encontro em Sammahel e experimento arrepios quando releio A Última Grande Sala de Cinema. Olhando para trás é muito bom constatar que, enquanto autor, nunca procurei uma fórmula segura para criar um livro. Sempre tentei apresentar alguma coisa radical, algo inesperado e essa é, felizmente, uma das premissas da ficção de horror. Sempre escrevi e desenhei trabalhos de ficção de horror: tudo o que fiz se inscreve directa ou marginalmente nesse género. Assim como, certamente, tudo o que farei. Acredito que a ficção de horror é o género que mais influenciou a cultura e a arte do século passado e isso está bem patenteado na literatura, no cinema e na música. A minha percepção do que é um trabalho de horror é certamente mais generosa que a instituída. Penso que escritores como Günter Grass, Danilo Kîs, Jerzi Kosinski ou Cormac McCarthy são tanto romancistas de horror como os nomes mais óbvios e é a sua visão sobre o género que é substancialmente diferente; mas, ainda assim, com as mesmas preocupações. Talvez exista um preconceito dirigido ao horror, mas, em última análise, todos os géneros literários são alvo de algum tipo de preconceito. O horror não deve ser um género confortável, mas algo verdadeiramente visceral. Penso sempre que o horror é como sexo: é compulsivo, sedutor e simetricamente uma coisa aterradora que deixa marcas exteriores e interiores para toda a vida. Talvez ninguém recupere totalmente de uma má experiência sexual e o horror deve ser assim. Essa é uma das razões pelas quais o sobrenatural está, de uma forma ou outra, associado à sexualidade nas minhas histórias. Porque é através do sexo que permutamos afectos e nos transformamos. E, algumas vezes, talvez a maioria das vezes, acabamos por nos transformar naquilo que não gostamos. É, realmente, um género maravilhoso para se trabalhar. Não penso que uma determinada obra minha tenha sido mais bem sucedida que outra no que diz respeito à comunicação com os leitores porque a concretização de cada título esconde preocupações diferentes: nunca senti 34 35

20 que alguma matéria deixada intocada num livro fosse despertada no próximo. Não é assim que trabalho. Para mim, depois de acabado, um livro está morto e não penso nele durante muito tempo. Sempre recebi correio de leitores sobre o meu trabalho, por isso sempre soube, ou pude adivinhar, os sentimentos que ele é capaz de provocar, todavia a maior surpresa que senti enquanto criador não foi com nenhum trabalho de banda desenhada ou prosa, mas com o meu cd de spoken word, Lisboa. Foi algo que fiz para enriquecer a minha actividade de escrever e desenhar e fiquei muito feliz por descobrir que assombrou todos os que o ouviram. Li um excerto dos textos do cd num evento literário promovido pela loja FNAC do Chiado e quando terminei a narração e regressei à minha mesa no café do fórum fui abordado por pessoas da assistência que me parabenizaram e, inclusive, pediram cópias do cd porque gostaram muito do que tinham acabado de ouvir. Foi um belo momento porque se tratava de um género de trabalho que nunca tinha feito antes e foi com Lisboa que percebi que, talvez, tenha algumas qualidades como contador de histórias que conseguem romper com os limites do papel. Isso também é um reflexo das minhas preferências pessoais: gosto de autores que possuem vários interesses e que sejam capazes de os relacionar solidamente para criar em campos artísticos distintos. A edição francesa de Mr. Burroughs não correu como esperava. Não vou discorrer sobre ela, mas posso revelar que essa publicação não operou grandes mudanças na minha carreira. A editora que o lançou não fez nenhuma promoção ao livro, que enquanto objecto ficou horrível com uma capa feia e má impressão, e o único feedback de que tive conhecimento foram críticas que li em revistas especializadas como a Pavillion Rouge ou em veículos mais mainstream como Les Inrockuptibles : artigos que eu tive de procurar por iniciativa individual em revistas que eu mesmo tive de comprar. Um sintoma da generalidade das artes narrativas portuguesas como a literatura e o cinema é que existe uma subserviência do conteúdo diante da componente técnica. Isso traduz-se tanto em filmes com excelentes fotografia e som mas com um argumento mau ou em álbuns de banda desenhada com uma óptima arte e uma história fraca. Não vou ser falsamente modesto e preciso de dizer que a publicação original de Mr. Burroughs surpreendeu muitos leitores porque foi uma das raras vezes, senão a primeira vez, que um álbum português de banda desenhada apresentava um argumento sólido capaz de concorrer com o melhor material estrangeiro. Felizmente esse ano até viu a publicação de mais um excelente álbum português de BD com um argumento brilhante intitulado És a Mulher da Minha Vida, És a Mulher dos Meus Sonhos, escrito com sensibilidade por Pedro Brito e belíssimamente desenhado por João Fazenda, mas por razões que não consigo compreender esse título permaneceu dentro do círculo bedéfilo enquanto que Mr. Burroughs conseguiu romper esse perímetro e atingir algum mainstream. Infelizmente o livro acabou por se tornar numa aberração, mas veio demonstrar que o poder de uma boa história é avassalador. E, mais importante ainda, provou que as melhores obras não precisam necessariamente de ter origem nos selos instituídos. Em Sobre BD, quis escrever um livro de ensaios sobre banda desenhada de uma forma que não encontrei, e não encontro, publicada em Portugal. Quis pensar com as obras em análise e abrir canais de conhecimento para outras artes a partir da sua leitura. Um livro...o meu amor pelos livros, esse gosto em os fazer bonitos. Quis fazer objectos que os leitores tivessem gosto em levar para a cama. fala sempre de outros livros mesmo que a comunicação esteja oculta e os títulos não sejam mencionados nos parágrafos. Não acredito que é redutor escrever sobre a banda desenhada falando em filosofia ou ciência ou os mistérios herméticos. No mínimo, é uma abordagem que mostra como a banda desenhada é generosa e pode ser uma linguagem única para falar dos mais diversos assuntos. A banda desenhada é apenas uma ferramenta, como a poesia ou a prosa, para se falar de uma determinada matéria e não devem existir preconceitos sobre que tipo de tema escolher. E eu escolhi falar sobre cinco livros de banda desenhada cuja afinidade é a sua introdução no género da ficção de horror. Ou que partilham elementos que fazem parte do bestiário do género. São livros que eu conheço bem e pude observá-los de trás para a frente para absorver o que eles me tinham para contar e ter a segurança suficiente para me deixar conduzir a territórios inesperados. Os juízos plasmados em Sobre BD, contudo, não estão gravados em pedra e outra pessoa com outras referências poderia ler as obras em questão e descobrir outros links. É um exercício intelectual e como tal a sua qualidade e argúcia está directamente relacionada com as referências culturais do autor. Se o autor conhece coisas interessantes ele vai escrever coisas interessantes. Se for uma pessoa que lê pouco os seus argumentos não serão muito extensos ou muito convincentes. Eu sou um leitor eclético e abordo livros sem medo. Não leio apenas um determinado género ou géneros. Posso passar quase um ano sem ler ficção e de repente leio dezenas de livros de ficção para compensar. Algumas vezes compro um livro e só o leio meses depois porque ele ainda não me estava a chamar. Sobre BD é especial e único em muitos aspectos e orgulho-me muito dele. E é bonito! Só outro dia é que me apercebi disso: é um livro bonito com uma capa impressa num papel muito táctil. Adoro tê-lo nas mãos mesmo que não o vá consultar. Adoro livros. Se fores a minha casa verás que não os escondo num escritório, mas tenho-os na sala de estar: as minhas estantes 36 37

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