Importância ornitológica das salinas do Samouco. ...em risco
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- Sandra Avelar Galvão
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1 Importância ornitológica das salinas do Samouco...em risco
2 O complexo salinas do Samouco, situa-se na margem esquerda do estuário do Tejo, entre de Alcochete e Montijo. Compreende 360 ha compostos essencialmente por salinas, mas também por esteiros e manchas de sapal que constituem, no seu conjunto, uma parte muito importante dos habitats disponíveis para as populações de aves aquáticas. Como resultado da degradação da qualidade do habitat dos outros refúgios do estuário Tejo (ex.: salinas de Vasa Sacos e Vale de Frades) e por uma gestão mais cuidada, as salinas do Samouco corresponde actualmente ao salgado mais importante para as aves aquáticas em todo o estuário do Tejo (figura1) concentrando mais de aves nos períodos de invernada e migração (figura2). Figura1. Importancia do complexo de salinas do Samouco como refúgio de preiamar, relativamente aos restantes refúgios existentes no estuário do Tejo.
3 O número de aves que ocorrem neste salgado tem vindo a aumentar desde 2005 (figura2), mas sofrendo grandes variações mensais como resultado da passagem de elevados contingentes migratórios (rota migratória do Atlântico Este). Figura2. Censos mensais de preia-mar nas salinas do Samouco entre o período de Abril de 2005 a Junho de A elevada concentração de aves, os fáceis acessos e o apoio de infraestruturas e técnico cedido pela Fundação das salinas do Samouco, tornam este salgado um local privilegiado para o estudo migratório das aves aquáticas. Em Setembro de 2007 sob a coordenação de Afonso Rocha, e após algumas tentativas bem sucedidas que dissolveram o cepticismo inicial de alguns anilhadores, deu-se inicio à anilhagem regular de limícolas nas salinas do Samouco. A estação de anilhadem do Samouco, EASS, tem como objectivos, o estudo migratório de diversas espécies de aves aquáticas e o apoio a estudos de investigação científica. Até à presente data foram capturadas mais de aves de 21 espécies e foram ainda controladas 3 aves com anilhas estrangeiras (Bélgica, Holanda e Noruega). Acção da estação não se cinge às espécies aquáticas, realizando sessões regulares de captura de passeriformes desde Maio de A importância da captura científica deste grupo de aves deve-se à reduzida informação existente para o estuário do Tejo (resultante do reduzido esforço de captura) e sobretudo para este tipo de habitat, as salinas. Até à presente data foram anilhadas algumas centenas de aves destacando-se a captura de uma Felosa-agrícola (Acrocephalus agricola) e um controlo Belga de uma Felosa-musical (Phylloscopus trochilus). Durante o período reprodutor, este salgado, é procurado por três espécies de aves, o borrelhode-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus), o pernilongo (Himantopus himantopus) e a andorinhado-mar-anã (Sterna albifrons). Os borrelhos-de-coleira-interrompida nidificantes têm vindo a aumentar desde 2005, 31 casais em 2005, 40 casais em 2006 e 68 casais em A população nidificante da andorinha-do-mar-anã tem sofrido algumas flutuações, mas com tendência à sua diminuição (43 casais em 2005, 67 casais em 2006 e 20 casais em 2007). A população nidificante de pernilongos também tem sofrido algumas oscilações, contudo com tendência para aumentar (96 casais em 2005, 155 casais em 2006 e 106 casais em 2007).
4 Em 2008 como resultado da falta de financiamento, não foi possível realizar os trabalhos preparatórios da época reprodutora, previstos para o segundo semestre de Fevereiro. Nestes trabalhos, constam o corte da vegetação invasiva em locais regularmente utilizados como habitat de nidificação, e a gestão dos níveis de água nos diversos tanques. Os resultados disponíveis até ao mês de Junho, revelam um decréscimo acentuado no número de aves durante o período reprodutor, como é o caso do borrelho-de-coleira-interrompida (figura3) e da andorinha-do-mar-anã (figura4). Figura3. Censos de baixa-mar de borrelho-de-coleira-interrompida nas salinas do Samouco. Figura4. Censos de baixa-mar de andorinha-do-mar-anã nas salinas do Samouco. O elevado número de pernilongos recenseados no mês de Abril perspectivava um bom período reprodutor. Contudo a partir desse mês os números baixaram drasticamente (figura5). Este facto, deveuse à existência de água nos tanques resultante de um período de chuvas prolongado. Com o fim desse período e o inicio do tempo quente e seco, os níveis de água em muitas salinas diminuíram e deixaram de ser propícios à nidificação da espécie.
5 Figura5. Censos de baixa-mar de pernilongos nas salinas do Samouco. Com os dados obtidos nos censos e em observações pontuais, estima-se que a população nidificante em 2008 do borrelho-de-coleira-interrompida seja de 10 casais, a de andorinha-do-mar-anã de 3 casais e de pernilongo 110 casais. O número de juvenis observado até então, está muito aquém dos anos anteriores o que reforça a ideia do decréscimo do número de casais e do sucesso reprodutor. A continuação do tempo quente e seco irá contribuir para uma rápida secagem de mais de 50% das salinas e isso vai levar a um abandono deste salgado pela avifauna já observável nos últimos censos de 2008 (figura2). Torna-se assim imperioso a manutenção deste complexo de salinas, sendo necessário assegurar: - controlo adequado dos níveis de água; - recuperação de comportas, cômoros e muros; - limpeza de esteiros e passagens de água; - corte da vegetação invasiva; - monitorização da avifauna. A Fundação das Salinas do Samouco foi instituída a 28 de Novembro de 2000 (Dec. Lei 306/2000), no âmbito dos compromissos assumidos perante a Comunidade Europeia aquando da construção da Ponte Vasco da Gama. Tem como missão, promover a gestão do salgado na perspectiva da conservação da natureza. Esta missão, só poderá ser assegurada com a vontade política do Estado Português ou por nova imposição da Comunidade Europeia.
Localiza-se na margem Norte do Estuário do Tejo, constituindo o único refúgio para a avifauna em toda esta margem do rio.
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