Saúde Vocal para professores do Ensino Médio: Estratégia de educação em Saúde na Campanha da Voz 2016

Transcrição

1 CONEXÃO FAMETRO: ÉTICA, CIDADANIA E SUSTENTABILIDADE XII SEMANA ACADÊMICA ISSN: Saúde Vocal para professores do Ensino Médio: Estratégia de educação em Saúde na Campanha da Voz 2016 Francisco Jefferson Rodrigues Silva, Thaiane Kelma Vasconcelos Garcia, Renan da Rocha Lira, Priscilla Mayara Estrela Barbosa.. Faculdade de Tecnologia Intensiva - FATECI. jefferson.rodrigues94@hotmail.com APRESENTAÇÃO A voz tem um papel fundamental na comunicação e no relacionamento humano. Para Ferreira (1995), a voz é o resultado da combinação de fatores biológicos, psicológicos e sociais, portanto está presente na representação dos vários papéis sociais que as pessoas desempenham no seu dia-a-dia. Professores, atores, repórteres, cantores e outros profissionais têm na voz uma imprescindível ferramenta de trabalho, e necessitam de cuidados para mantê-la saudável. Considerando os aspectos que norteiam a Promoção da Saúde na Atenção Básica, percebe-se o papel de destaque das práticas educativas, pois através da interação com a população, compartilhamento de saberes, bem como orientações de saúde à população, como o incentivo ao autocuidado, contribui-se para o empoderamento da população, e autonomia para gerir suas necessidades de cuidado à saúde (VASCONCELOS, 2004). Ponderando a relação da comunicação humana para o desenvolvimento integral do indivíduo, contata-se que o fonoaudiólogo é um profissional indispensável na Atenção Primária à Saúde. (Gonçalves et al, 2005), assim o Ministério da Saúde regulamentou a inclusão do fonoaudiólogo e de outros profissionais de saúde na atenção primária através da criação dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) (Brasil, 2008). Dentre as áreas da Fonoaudiologia, a área de Voz demonstra importante vínculo entre a saúde e educação, para alunos e docentes. A primeira grande campanha da Voz realizada no Brasil foi realizada nos dias 12 a 16 de abril de

2 1999 cuja o tema era: Não arrisque sua voz cuide da sua saúde. E a cada ano comemora-se a Semana da Voz e o dia da Voz sempre girando em torno de um tema central. Em 2005 foi criado um slogan SEJA AMIGO DA SUA VOZ! com objetivo de chamar atenção da população, profissionais da voz ou não, com intuito de demonstrar a importância dos cuidados com a voz. Anualmente, em 16 de abril é comemorado O DIA MUNDIAL DA VOZ o evento se encontra na 17º edição. O município de Caucaia situado na região Metropolitana de Fortaleza e população estimada de de acordo o IBGE comemorou a semana mundial da voz com um evento no IFCE (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará) campus Caucaia, situado à rua Francisco da Rocha Martins - Pabussu, Caucaia CE. O IFCE é uma instituição criada nos termos da Lei. N º , de 29 de dezembro de 2008, mediante a integração do Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará com as Escolas Agrotécnicas Federais de Crato e de Iguatu, vinculado ao Ministério da Educação e é uma autarquia de natureza jurídica, detentora de autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didático-pedagógica e disciplinar. Assim, o objetivo desse trabalho foi relatar a vivência da participação na Campanha da Voz 2016 realizada no IFCE Caucaia. PERCURSO METODOLÓGICO As ações fonoaudiológicas foram desenvolvidas primeiramente no IFCE Campus Caucaia em 20 de Abril de 2016, no período da manhã, no auditório da Instituição. O convite para realização de atividades referentes à Campanha da Voz 2016 veio através da parceria entre o NASF e o IFCE em outras campanhas de Educação em Saúde no município, motivados principalmente pelo crescente número de profissionais com queixas vocais recorrentes, como rouquidão, cansaço vocal, gosto ácido na boca e desconforto ou esforço para falar. Há ainda profissionais que necessitam de licença-saúde em decorrência de alterações na voz, como Disfonias Funcionais e organofuncionais. Em 04 de abril de 2016, houve uma reunião com a fonoaudióloga do NASF e o coordenador pedagógico para planejamento das atividades e debate

3 sobre os temas a serem abordados. Elegeu-se uma palestra informativa sobre Cuidados Vocais para profissionais da Voz iniciando com dados sobre fisiologia das estruturas do aparelho fonador, prevenção de distúrbios vocais, cuidados preventivos e ao final espaço para perguntas e dúvidas, bem como uma oficina de respiração e exercícios de aquecimento e desaquecimento vocal no auditório para todos os professores do estabelecimento de ensino e agendamento de consultas individuais para aqueles que necessitem de uma avaliação vocal específica, identificados através de triagem prévia com a fonoaudióloga após a palestra sobre Cuidados Vocais, conduzidas pela fonoaudióloga e os acadêmicos de Fonoaudiologia da Faculdade de Tecnologia Intensiva FATECI. Esta atividade estendeu-se por 4 horas. Posteriormente, em 04 e 05 de maio de 2016, realizou-se triagens e consultas individuais com protocolo disponibilizado pelo Conselho regional de Fonoaudiologia 8 região, os professores nos quais foram identificados queixas vocais persistentes, ou seja, por mais de 15 dias seguidos na Unidade de Atenção Primária à Saúde (UAPS) Maria Dos Passos Matias Gomes, localizada no bairro Novo Pabussu, mesma localidade em que se situa o IFCE. Este conta com 1 equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF) e 1 equipe de Núcleo de Apoio à Saúde da Família, composta por 02 Terapeutas Ocupacionais, 01 Fonoaudióloga, 01 Fisioterapeuta, 01 Farmacêutica, 01 Nutricionista, 01 Educador Físico e 01 Assistente Social. Ao todo, participaram 31 professores no primeiro dia de atividades e 9 foram conduzidos para as consultas individuais. Destes, 3 foram identificados com suspeita de disfonia funcional e foram encaminhados para o Otorrinolaringologista e Terapia Fonoaudiológica. Os outros 6 profissionais foram encaminhados para grupos semanais de cuidados vocais realizados na citada UAPS. Os encontros desenvolveram-se com metodologias participativas, na quais procurou-se preservar a identidade social e cultural dos componentes do grupo, valorizando seus saberes prévios e unindo o conhecimento popular aos conteúdos de saúde vocal. Ao final das sessões grupais foi distribuído um panfleto com informações educativas concernentes aos temas abordados no curso para consulta prévia e possibilidade de estender a discussão do grupo e ilustrar os

4 temas para os demais. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Em nossa sociedade há uma consonância de que a categoria profissional mais vulnerável a desenvolver os distúrbios no que diz respeito à saúde vocal são os professores (GONÇALVES, et al, 2005). Essa percepção de que as alterações vocais são comuns e portanto, algo natural na profissão demonstra a falta de informação dos professores de que esses problemas poderiam ser minimizados ou até evitados, caso esses profissionais tivessem acesso a políticas preventivas de cuidado vocal e promoção da comunicação saudável, seja na esfera pública ou privada (BEHLAU, DRAGONE, NAGANO;2004). O mau uso e/ou abuso vocal traz sérios danos à saúde do professor e consequentemente interfere no processo de ensino- aprendizagem do aluno (CORDEIRO;WEISS, 2004). Uma pesquisa em âmbito nacional realizada em 2010 pelo Sindicato dos Professores de São Paulo, em parceria com o Centro de Estudos da Voz (ZAMBOM, BEHLAU, 2010), questionou docentes, revelando que 63% dos professores já sofreram de alguma alteração vocal. Este mesmo estudo evidenciou que um terço de professores consideram que sua voz limita sua habilidade de realizar as tarefas de trabalho corretamente, evidenciando que as alterações vocais podem exigir adaptações no planejamento das aulas. As limitações citadas são variadas e incluem: falar menos do que gostaria, dar atividades para os alunos desenvolverem a fim de poupar a voz, ser menos expressivo na comunicação para descansar e restringir sua participação em eventos extraclasse. Para a atividade da Campanha da Voz 2016 no IFCE, utilizou-se o modelo dialógico, buscando valorizar e reconhecer os saberes e práticas já existentes e expandir os conhecimentos dos professores quanto ao autocuidado e autopercepção sobre sua condição vocal, além de responder as suas principais dúvidas e questionamentos, bem como identificar aqueles que necessitavam de acompanhamento médio e/ou fonoaudiológico. É importante evidenciar que no caso de professores, as alterações emocionais decorrentes dos problemas de voz, somadas ao stress ligado à

5 ocupação rotina desgastante, falta de reconhecimento da profissão, fatores organizacionais do trabalho, carga horária excessiva, ambiente ruidoso, entre outros podem ainda piorar ou perpetuar o quadro da disfonia (PENTEADO, ROSSI; 2006). Portanto, a necessidade de investimento na prevenção de doenças vocais fica evidente a partir da constatação do expressivo número de profissionais disfônicos. Chun (2004) corrobora a necessidade da Fonoaudiologia dedicar-se mais à Promoção da Saúde, extraindo o foco apenas na reabilitação dos agravos à comunicação humana. CONSIDERAÇÕES FINAIS A educação em saúde é o processo no qual a população deve participar no contexto de sua vida cotidiana e caracteriza-se como uma prática social crítica e transformadora. A Campanha da Voz no IFCE de Caucaia mostrou-se importante por abordar temas tão relevantes para os docentes, relacionados à Saúde Vocal e houve satisfatória receptividade e participação dos mesmos. Entretanto, faz-se necessárias mais ações que deem continuidade à Campanha da Voz, já que é uma estratégia anual, para fortalecer a Promoção de Saúde e a Educação em Saúde. REFERÊNCIAS BEHLAU, M. DRAGONE, M.L; NAGANO, L. A voz que ensina: o professor e a comunicação oral em sala de aula. Rio de Janeiro: Revinter, BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria N. 154, de 24 de Janeiro de Criação dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família. Brasília, DF, Disponível em: < >. Acesso em: 15 ago CHUN, R. Y. S. Promoção da saúde e as práticas em fonoaudiologia. In: FERREIRA, L. P.; BEFI, D. M.; LIMONGI, S. C. O. (orgs). Tratado de fonoaudiologia. São Paulo: Roca, p CORDEIRO, Rosyeri de Souza e WEISS, Silvio Luiz Indrusiak. Voz: instrumento ou arma? A saúde vocal do professor e seus principais problemas. Revista de Divulgação técnico-cientifico do ICPG. Santa Catarina: 65-70, v. 1, nº. 4. Jan Mar/2004. GONÇALVES, Claúdia Giglio de Oliveira, et al. Fonoaudiologia e Saúde do Trabalhador: a questão da saúde vocal do professor. Saúde em Revista. Piracicaba, 7(15): 45-51, Disponível em:

6 Acesso em: 20 de Agosto de PENTEADO, R. Z. ROSSI, D. Vivência de voz e percepções de professores sobre Saúde vocal e trabalho. Saúde em Revista. Piracicaba, 8(18): 39-48, ZAMBON, F; BEHLAU, M. A voz do professor aspectos do sofrimento vocal profissional. 1.ed Disponível em: < Acesso em:<20 de agosto de 2016>.