APELAÇÃO CÍVEL Nº , DE MARINGÁ - 2ª VARA CÍVEL APELANTE : MICHIKO NAKAMURA APELADO : MUNICÍPIO DE MARINGÁ RELATOR : DES

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1 APELAÇÃO CÍVEL Nº , DE MARINGÁ - 2ª VARA CÍVEL APELANTE : MICHIKO NAKAMURA APELADO : MUNICÍPIO DE MARINGÁ RELATOR : DES. PAULO ROBERTO VASCONCELOS PROCESSUAL CIVIL APELAÇÃO CÍVEL LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA PROFERIDA EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA ILEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM DE UM DOS LITISCONSORTES EXTINÇÃO DO FEITO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO COM RELAÇÃO ÀQUELE LITIGANTE PROSSEGUIMENTO DO PROCESSO QUANTO AOS DEMAIS DECISÃO FUNDADA NO ART. 267, VI, DO CPC, PORÉM QUE NÃO COLOCOU TERMO AO PROCESSO NÃO CARACTERIZAÇÃO DE SENTENÇA NOS TERMOS DO ART. 162, 1º, DO CPC DISPOSITIVO QUE DEVE SER INTERPRETADO EM CONSONÂNCIA COM O CAPUT DO ART. 267, DO CPC DECISÃO INTERLOCUTÓRIA CONTRA A QUAL CABE AGRAVO DE INSTRUMENTO INAPLICABILIDADE DO PRINCIPIO DA FUNGIBILIDADE RECURSAL RECURSO MANIFESTAMENTE INADMISSÍVEL E EM CONTRARIEDADE COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE E DO STJ NEGADO SEGUIMENTO AO APELO COM BASE NO ART. 557, CAPUT, DO CPC. Página 1 de 7

2 Apelação Cível nº fls. 2 I Trata-se de decisão que, nos autos de Ação de Liquidação de Sentença proferida em Ação Civil Pública, julgou a exequente Michiko Nakamura carecedora de ação por falta de legitimidade para figurar no polo ativo da demanda, julgando extinto o feito, sem resolução de mérito quanto àquela litisconsorte. Inconformada, Michiko Nakamura opôs o presente recurso de apelação aduzindo, em síntese, que o art. 100, do CDC, estabelece o prazo de um ano para que se proceda a reparação pelo fluid recover, o qual não pode ser confundido com prazo preclusivo para habilitação dos legitimados na liquidação. Defende que, em se tratando de restituição de tributo, o prazo para ingresso com ação de liquidação e execução da sentença é de cinco anos, a ser contado a partir da intimação da sentença (art. 96, do CDC). Conclui que, no presente caso, o prazo prescricional expirará em 08/09/13, portanto há legitimidade para inclusão de autores na presente ação, donde requer a reforma da decisão recorrida para que seja reconhecida a sua legitimidade para integrar a lide como parte autora na ação de liquidação e execução de sentença. Intimado, o Município de Maringá apresentou contrarrazões alegando, preliminarmente, a inadequação do recurso e, quanto ao mérito, pugnou pelo seu desprovimento (fls. 177/182). A douta Procuradoria Geral de Justiça, em parecer de fls. 195/198, requereu o desprovimento do apelo. É a breve exposição. II - O presente recurso de apelação foi interposto contra decisão que excluiu da lide a ora recorrente, diante do reconhecimento de sua Página 2 de 7

3 Apelação Cível nº fls. 3 ilegitimidade ativa ad causam, e determinou o prosseguimento do feito com relação aos demais litisconsortes ativos. O Código de Processo Civil, em seu art. 162, 1º, com a redação dada pela Lei /05, passou a conceituar sentença como sendo o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269, do CPC. Todavia, não obstante a decisão atacada tenha julgado extinto o feito com relação à recorrente, com fundamento o art. 267, VI, do CPC, aquele provimento jurisdicional não possui caráter de sentença terminativa, na medida em que o processo terá regular prosseguimento quanto aos demais demandantes. O atual conceito de sentença terminativa, segundo a mais abalizada doutrina, demanda a conjugação do disposto no art. 162, 1º, do CPC, com o caput do art. 267, do mesmo codex, que prevê expressamente a necessidade de extinção do processo quando o conteúdo do ato judicial versar sobre algumas das hipóteses processuais previstas em seus incisos. Desta forma, não basta que a decisão tenha como fundamento o art. 267, do CPC, para que seja considerada sentença, é necessário que acarrete como efeito obrigatório a extinção do processo como um todo. O professor Cândido Dinamarco, em sua obra Instituições de Direito Processual Civil (Malheiros, 2001, v.iii, p. 189), antes mesmo da citada reforma da lei processual civil, já distinguia: (...) o efeito extintivo só se opera quando a razão de extinguir atinge todo o objeto do processo, todos os fundamentos da demanda e todos os sujeitos litigantes. Quando a causa atinge só parcialmente o objeto, os fundamentos ou as pessoas, o que ocorre é mera exclusão e não a extinção do processo... a decisão com que o juiz determina alguma dessas exclusões é interlocutória e não sentença, porque não põe Página 3 de 7

4 Apelação Cível nº fls. 4 termo a processo algum (...); consequência prática é a admissibilidade do recurso de agravo e não apelação (arts. 513 e 522)" (grifei). Dito isso, resta claro que o ato judicial ora atacado se enquadra no 2º, do art. 162, do CPC, cuja redação cabe relembrar: Art Os atos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos. (...) Comentado, ensina: 2º Decisão interlocutória é o ato pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve questão incidente. Nelson Nery Junior, em sua obra Processo Civil "Decisão interlocutória. Toda e qualquer decisão do juiz proferida no curso do processo, sem extingui-lo, ou sem extinguir a fase processual de conhecimento ou de liquidação, seja ou não sobre o mérito da causa, é interlocutória, sendo impugnável pelo recurso de agravo (CPC 522). Como, para classificar o pronunciamento judicial, o CPC não levou em conta apenas seu conteúdo, mas também sua finalidade, se o ato contiver matéria do CPC 267 ou 269, mas não extinguiu o processo, que continua, não pode haver sentença, mas sim decisão interlocutória. 1 (grifei) A jurisprudência sedimentada no Superior Tribunal de Justiça, de igual sorte, entende que a extinção do processo com relação a um dos litisconsortes, seja ativo ou passivo, prosseguindo o feito quanto aos demais reclama a oposição de Agravo de Instrumento e não Apelação: PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. RECURSO DE APELAÇÃO INTERPOSTO ANTES DA SENTENÇA. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO DESPROVIDO NERY JÚNIOR, Nelson. Código de Processo Civil Comentado. 10 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p Página 4 de 7

5 Apelação Cível nº fls De acordo com a jurisprudência do STJ, o recurso de apelação não é cabível contra a decisão que, antes da prolatação da sentença, reconhece a ilegitimidade de alguma das partes. 2. Correto o não conhecimento do recurso de apelação por sua inadequação na espécie. 3. Inaplicabilidade do princípio da fungibilidade recursal. 4.Agravo regimental desprovido. (AgRg no REsp /SC, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 03/03/2011, DJe 15/03/ grifei) EXECUÇÃO -EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE -EXCLUSÃO DE UM DOS EXECUTADOS DA RELAÇÃO PROCESSUAL, SEM EXTINÇÃO DO PROCESSO -RECURSO CABÍVEL: AGRAVO - PRECEDENTES -SÚMULA 83/STJ. 1. É pacífico nesta Corte Superior que a decisão que exclui do processo um dos litisconsortes, prosseguindo-se a execução com relação aos demais co-executados, é recorrível por meio de agravo de instrumento, caracterizando-se erro grosseiro a interposição de apelação. 2. Precedentes: AgRg nos EDcl no Ag /SP, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 15/04/2010, DJe 05/05/2010; AgRg no REsp /PR, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 19/03/2009, DJe 14/04/2009; Resp /RS, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em , DJe ; REsp /SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em , DJ ; REsp /MG, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, julgado em , DJ Agravo regimental a que se NEGA PROVIMENTO. (AgRg no Ag /PR -Agravo Regimental no Agravo de Instrumento n 2009/ ; Rel. Min. Vasco Della Giustina; Terceira Turma; DJe Página 5 de 7

6 Apelação Cível nº fls. 6 13/09/2010) É de notório conhecimento que o recurso cabível contra as decisões interlocutórias é o agravo de instrumento, o que afasta a possibilidade de aplicar o princípio da fungibilidade. No âmbito recursal, a fungibilidade se aplica nos casos em que o recurso interposto não é o adequado, contudo, será conhecido e julgado como se fosse diante do preenchimento dos seguintes requisitos: a) dúvida "objetiva" sobre qual o recurso a ser interposto; b) inexistência de erro grosseiro; c) que o recurso seja interposto no prazo para a interposição do recurso próprio." (WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; MEDINA, José Miguel Garcia. Recursos e ações autônomas e impugnação. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 64) Todavia, no presente caso não estão presentes nenhum dos requisitos acima dispostos, pois a apelante incidiu em erro grosseiro, não havendo dúvida objetiva sobre qual o recurso cabível diante da aplicação do art. 522, do CPC, e, ainda, como o prazo para interposição do recurso de apelação é de quinze dias, tendo a recorrente protocolado suas razões no último dia do prazo, seria extemporâneo o agravo de instrumento, para cujo manejo a parte dispõe apenas de dez dias. No âmbito desta Corte, a jurisprudência uníssona dá suporte ao presente entendimento, podendo ser citados os recentes julgados: AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL - EXCLUSÃO DE LITISCONSORTE FACULTATIVO - INTERPOSIÇÃO DE APELAÇÃO CÍVEL - NEGADA SEGUIMENTO - PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE - INAPLICABILIDADE - AUSÊNCIA DE CARÁTER TERMINATIVO DO PROCESSO - ERRO GROSSEIRO - RECURSO CONHECIDO E NEGADO PROVIMENTO, COM BASE NO ART. 557, CAPUT, DO CÓDIGO Página 6 de 7

7 Apelação Cível nº fls. 7 DE PROCESSO CIVIL. (AI Rel. Des. Dimas Ortêncio de Melo 3ª C.Cível J DJ ) AGRAVO INSTRUMENTO. AÇÃO DE RESSARCIMENTO DE DANOS. EXCLUSÃO DE DOIS AUTORES POR ILEGITIMIDADE PASSIVA. CARÁTER NÃO TERMINATIVO NO PROCESSO. RECURSO CABÍVEL POR AGRAVO DE INSTRUMENTO E NÃO APELAÇÃO. ERRO GROSSEIRO, INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE. RECURSO A QUE SE NEGA SEGUIMENTO (AC Rel. Des. Benjamim Acacio de Moura e Costa 12ª C.Cível J DJ ) Em face ao exposto, com espeque no artigo 557, caput, do Código de Processo Civil, nego seguimento ao presente recurso por ser manifestamente inadmissível e estar em confronto com consolidada jurisprudência desta Corte e do STJ. III Publique-se e intime-se. Curitiba, 18 de julho de DES. PAULO ROBERTO VASCONCELOS Relator Página 7 de 7