AÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E MOBILIZAÇÃO SOCIAL NA REGIÃO DO ARQUIPÉLAGO/RS: UMA PROPOSTA DE VIGILÂNCIA DA DENGUE

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1 AÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E MOBILIZAÇÃO SOCIAL NA REGIÃO DO ARQUIPÉLAGO/RS: UMA PROPOSTA DE VIGILÂNCIA DA DENGUE Fernanda Freitas Caregnato 1 2, Maria Angélica Weber 2, Liane Fetzer 2, Teresinha Guerra 1 1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Departamento de Ecologia 2 Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde - Secretaria Municipal de Saúde Prefeitura Municipal de Porto Alegre Contato: Fernanda Freitas Caregnato Coordenadoria Geral de Vigilância da Saúde Equipe de Controle de Zoonoses Núcleo de Controle de Roedores e Vetores Avenida Padre Cacique, 372 Bairro Menino Deus Telefone: / fe_caregnato@yahoo.com.br Área temática: Saúde Pública / Vigilância Sanitária e Ambiental Trabalho apresentado no XV Salão de Iniciação Científica, (UFRGS) Referência da publicação CAREGNATO, F.F. et al. Ações de educação ambiental e mobilização social na região do Arquipélago/RS: uma proposta de vigilância da dengue In: Salão de Iniciação Científica (15. : Porto Alegre : 2000) Livro de resumos. Porto Alegre, 2003.

2 AÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E MOBILIZAÇÃO SOCIAL NA REGIÃO DO ARQUIPÉLAGO/RS: UMA PROPOSTA DE VIGILÂNCIA DA DENGUE Fernanda Freitas Caregnato 1, Maria Angélica Weber 2, Liane Fetzer 2, Teresinha Guerra 1 1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Departamento de Ecologia 2 Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde - Secretaria Municipal de Saúde Prefeitura Municipal de Porto Alegre Resumo A dengue é uma doença infecciosa que constitui um grave problema de saúde pública no Brasil, onde as condições climáticas, aliadas ao modo de organização urbana, favorecem a proliferação do mosquito transmissor, o Aedes aegypti. Buscando realizar a vigilância do vetor na Ilha da Pintada (Porto Alegre-RS), estagiários do Programa de Prevenção à Dengue vêm, através de um plano de ação no Arquipélago, propor ações de educação ambiental para a região que apresenta condições favoráveis à proliferação e expansão do vetor. As ações tiveram início com a participação em reuniões comunitárias semanais, procurando estabelecer um vínculo com a comunidade. A partir dessa interação oficinas e palestras foram propostas com o objetivo de possibilitar a vivência efetiva nas temáticas desenvolvidas, ampliando o nível de mobilização e de co-responsabilidade individual e coletiva com relação ao controle do mosquito. Durante os meses de julho a agosto de 2003 foram realizadas 38 oficinas que contaram com a participação de 752 pessoas. Considerando que todo trabalho educativo pressupõe ações contínuas e constantes para a manutenção de seus objetivos, a sensibilização oportunizada pelo processo de educação ambiental, mostrou-se capaz de estimular a participação da população nas ações de controle e prevenção do vetor. Introdução A dengue é uma doença infecciosa e caracteriza um grave problema de saúde pública no Brasil, onde as condições climáticas, aliadas ao modo de organização urbana, favorecem a proliferação do mosquito transmissor da doença, o Aedes aegypti. O combate ao vetor no Brasil foi institucionalizado de forma sistematizada, a partir do século XIX, quando diversas epidemias de febre amarela urbana ocorriam no país, levando à morte milhares de pessoas 1. Em 1999, segundo as diretrizes do Plano de Erradicação do Aedes aegypti (PEAa), foram iniciadas as atividades de controle e prevenção do vetor no município de Porto Alegre, onde até então não havia sido constatada a presença do mosquito transmissor 2. No ano de 2001, o estado do Rio Grande do Sul apresentava 66 municípios com a presença do vetor Aedes aegypti, sendo que no início de Abril desse mesmo ano, foi encontrado o primeiro exemplar do mosquito da Dengue em Porto Alegre 3. Tradicionalmente, o combate ao vetor foi desenvolvido conforme as diretrizes de erradicação vertical, na qual a participação comunitária não era considerada como atividade essencial. No entanto, verificou-se a necessidade de uma ação continuada da população como fator fundamental e imprescindível no controle da expansão do vetor, promovendo através da conscientização o desenvolvimento de hábitos e habilidades na

3 sociedade capazes de reverter tal situação 4. Verifica-se que as campanhas educativas centradas apenas na divulgação de informações não produzem mudanças significativas de comportamento, apesar de proporcionarem conhecimentos à população. Entretanto, no caso da dengue, cujo controle pode ser feito através da participação comunitária, a educação deve ter como objetivo uma eliminação mensurável de criadouros pelo cidadão, e não simplesmente um acréscimo de conhecimento 5. Assim, em 2002, através do Programa Nacional de Controle à Dengue (PNCD), ações alternativas ao programa foram implantadas em Porto Alegre, onde a densidade e distribuição do vetor tem aumentado. Além das intervenções pontuais (restritas as visitações aos imóveis), foram sugeridas e implementadas ações com ênfase na mobilização e participação da população, visando sensibilizar a mesma sobre o papel que lhe cabe no combate e controle do mosquito. O trabalho foi realizado na Ilha da Pintada, localizada na região do Arquipélago, área pertencente ao Parque Estadual de Preservação Delta do Jacuí. Considerada a área de ocupação mais antiga do Delta, apresenta-se melhor estruturada no que se refere a ocupação populacional e apresenta melhores condições quanto ao saneamento básico, pavimentação e fornecimento de energia elétrica. As condições sócio-econômicas da população são melhores em relação às demais Ilhas habitadas, vindo da pesca a maioria da renda gerada nessa região, e segundo dados do Centro Administrativo Regional (CAR - Ilhas), em 1999, a Ilha da Pintada possuía uma população de habitantes (Comunicação pessoal). Metodologia Foram intensificadas as modalidades de intervenção direcionadas a lideranças comunitárias, segmentos específicos da comunidade e escolares. Entre os meses de julho a agosto as oficinas e palestras foram desenvolvidas e ministradas pelos estagiários do programa, procurando possibilitar à população a vivência efetiva nas temáticas relacionadas à dengue. Informações relevantes sobre aspectos da biologia do inseto em cada estágio de seu desenvolvimento e sua morfologia característica, além do ciclo de vida do mosquito de ovo à fase adulta, eram sempre abordados. A gravidade da doença, o mecanismo de transmissão, a prevenção e a relação do vetor com o ambiente doméstico também eram apresentados. Como material ilustrativo foram utilizados exemplares de mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus adultos e larvas preservadas em álcool 70%. Com o auxílio de materiais didáticos criados pelo programa, as oficinas e palestras foram realizadas de forma interativa, buscando a participação ativa dos presentes através da confecção de materiais relacionados à doença, como cartazes, desenhos e pinturas. Resultados Foram ministradas 38 intervenções educativas no total, atingindo 752 pessoas. Cabe salientar que em alguns grupos se evidenciou a presença de moradores de outras regiões da cidade, os quais apenas tem a Ilha da Pintada como local de trabalho. Oficinas específicas foram realizadas para 31 funcionários do estaleiro da Ilha e para 15 funcionários municipais da limpeza urbana. Isso porque se constatou que estes grupos apresentavam uma relação importante com a questão dengue, pois ambos trabalham com materiais e resíduos sólidos, que podem ser potenciais criadouros para o mosquito. Sabendo da importância da interação com as lideranças comunitárias e com os segmentos representativos da comunidade foram realizadas palestras e oficinas direcionadas aos representantes da Associação de Moradores local e ao Grupo de Terceira Idade. No total 42 líderes comunitários e 13 participantes das

4 reuniões do Grupo de Terceira Idade estiveram presentes nas ações. Considerando a escola como ponto de partida eficiente para a educação voltada à saúde pública, foram realizados trabalhados em três Escolas da Ilha, contando com a participação de 651 alunos do ensino Infantil, Fundamental e Médio, da rede Estadual e Municipal. As turmas de alunos foram trabalhadas separadamente, buscando um trabalho único que fosse condizente com cada faixa etária. Com exceção apenas das três turmas do Ensino Médio, que foram trabalhadas em uma única palestra coletiva. Discussão Alternativas viáveis para o controle e vigilância da dengue consideram a participação efetiva da comunidade na eliminação dos criadouros como ponto fundamental. Deve-se pensar na atuação comunitária como uma medida de controle disponível, buscando associá-la a atividades de vigilância epidemiológica já existentes. Experiências em diversas regiões do mundo 6 têm mostrado que a participação ativa da população têm sido considerada um dos principais enfoques dos programas de controle e prevenção da dengue. Sabe-se que campanhas educativas centradas apenas na divulgação de informações não são capazes de estimular mudanças significativas de comportamento, apesar de gerarem conhecimentos à população 7. Foi possível observar um envolvimento satisfatório dos participantes. Dados obtidos através da aplicação de um questionário, sobre características da doença e do vetor, mostraram que uma parcela considerável da população local apresentou um grau de conhecimento considerado de bom a regular, sendo que nas residências dos participantes das ações educativas evidenciando-se a presença de um menor número de criadouros potenciais (manuscrito em preparação). A dengue e seu vetor apresentam grande desafio para seu controle, uma vez que as campanhas educativas e o controle químico mostram-se incapazes de reverter o quadro nacional da doença. No Brasil a permanência da situação endêmica em algumas áreas revela problemas no modelo de comunicação, informação e educação em saúde, pois as abordagens tradicionais não têm produzido o efeito esperado e o objetivo principal também não têm sido alcançado, que é a mudança de hábitos da população com relação aos criadouros. A falta de associação entre a participação e a passagem e compreensão do conhecimento é preocupante, pois evidência e falta de corresponssabilização da população diante do problema. Assim, ações de educação ambiental devem buscar inserir a questão dengue no contexto diário das comunidades trabalhadas, abordando aspectos relevantes do cotidiano da população que se relacionem a aspectos pertinentes da doença e do vetor. Novas abordagens educativas, um maior envolvimento da população na eliminação dos criadouros e a efetiva mudança de comportamento não são tarefas simples. Donalisio et al. (2001) afirma que tal tarefa exige criatividade das equipes e flexibilidade dos programas de controle nas várias instancias técnicas, e que este tem sido o desafio de grande parte dos programas de prevenção e de controle da dengue em todo o mundo. Conclusão Todo trabalho educativo pressupõe ações contínuas e constantes para a manutenção de seus objetivos e visa o desenvolvimento de hábitos e habilidades que sejam capazes de gerar modificações de práticas na população, buscando a eliminação dos criadouros domésticos. Assim, a sensibilização oportunizada pelo processo de educação ambiental, deve procurar estimular a participação ativa da população nas ações de controle e

5 prevenção do vetor transmissor da dengue, e a capacidade do efeito multiplicador do trabalho somente será observada a médio e longo prazo. Referências 1. BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Dengue: instruções para pessoal de combate ao vetor - manual de normas técnicas. 3. ed. rev. Brasília, Lima CBS. et al 2001, Programa de Prevenção à Dengue: resultados e perspectivas. Boletim Epidemiológico. ano IV. n Lima CBS. et al. 2001, Combate ao Dengue, um novo e sério desafio em nosso meio. Boletim Epidemiológico. ano IV. n Pedrini AG (Org.) 2002, Educação ambiental: reflexões e práticas contemporâneas. Ed. Vozes, Petrópolis, 294pp. 5. Brassolatti RC & Andrade CFS Avaliação de uma intervenção educativa na prevenção da dengue. Ciência & Saúde Coletiva 7(2) : Rosenbaum J et al Community participation in dengue prevention and control: a survey of knowledge, attitudes and practice in Trinidad and Tobago. Ameican Journal of Tropical Medicine and Hygiene 53(2) : Neto FC, de Moraes MS & Fernandes, MA Avaliação dos resultados de atividades de incentivo à participação da comunidade no controle da dengue em um bairro periférico do Município de São José do Rio Preto, São Paulo, e da relação entre conhecimentos a práticas desta população. Cadernos de Saúde Pública 14(2) : Donalisio MR, Alves MJCP & Visockas A Inquérito sobre conhecimentos e atitudes da população sobre a transmissão do dengue região de Campinas São Paulo, Brasil Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 34(2) :