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- Thiago Figueiroa Benke
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Transcrição
1 Capítulo II O Maravilhoso e o Sobrenatural 7. Se a crença nos Espíritos e nas suas manifestações constituísse uma concepção isolada, o produto de um sistema, ela poderia, com aparente razão, ser suspeita de ilusória; mas, digam-nos mais uma vez, por que a encontramos tão viva em todos os povos antigos e modernos, nos livros santos de todas as religiões conhecidas? É, dizem alguns críticos, porque o homem, em todos os tempos, gostou do maravilhoso. Mas, para vós, o que significa maravilhoso? O que é sobrenatural. O que entendeis por sobrenatural? O que é contrário às leis da Natureza. Conheceis, portanto, tão bem essas leis que vos é possível estabelecer um limite ao poder de Deus? Pois bem! Então, provai que a existência dos Espíritos e suas manifestações são contrárias às leis da Natureza; que não é, nem pode ser uma dessas leis. Segui a Doutrina Espírita e vede se este encadeamento não possui todos os caracteres de uma lei admirável, que resulta de tudo o que as leis filosóficas não puderam resolver até agora. O pensamento é um dos atributos do Espírito; a possibilidade de agir sobre a matéria, de impressionar nossos sentidos e, por conseguinte, de transmitir seu pensamento resulta, se podemos assim nos exprimir, de sua constituição fisiológica: logo, nada há de sobrenatural neste fato, nem de maravilhoso. Que um homem morto e bem morto reviva, corporalmente, que seus membros dispersos se 27 o_livro_dos_mediuns_14x21cm_roberto.indd 27 6/12/ :30:43
2 O Livro dos Médiuns reúnam para formar novamente o seu corpo, isto, sim, é maravilhoso, sobrenatural, fantástico; aí estaria uma verdadeira derrogação da lei, que Deus só poderia realizar através de um milagre; nada há de semelhante na Doutrina Espírita. 8. Entretanto, dirão, vós admitis que um Espírito possa levantar uma mesa e mantê-la no espaço sem ponto de apoio; não seria isto uma derrogação da lei de gravidade? Sim, da lei conhecida; mas a Natureza já disse sua última palavra? Antes que se tivesse experimentado a força ascensional de certos gases, quem diria que uma pesada máquina transportando vários homens pudesse vencer a força de atração? Aos olhos do vulgo, isto deveria parecer maravilhoso, diabólico? Teria passado por louco aquele que tivesse proposto, há um século, transmitir um telegrama a 500 léguas e receber a resposta em alguns minutos; se o fizesse, teriam acreditado que ele tinha o diabo às suas ordens, pois, então, só o diabo era capaz de ir tão rápido. Por que, então, um fluido desconhecido, em dadas circunstâncias, não teria a propriedade de contrabalançar o efeito da gravidade, como o hidrogênio contrabalança o peso do balão? Isto, observemos de passagem, é uma comparação, não, porém, uma assimilação e, unicamente para mostrar, por analogia, que o fato não é fisicamente impossível. Ora, foi precisamente quando os sábios, ao observarem essas espécies de fenômenos, quiseram proceder pela via da assimilação que se equivocaram. De resto, o fato aí está; negação alguma poderá fazer com que ele não exista, pois negar não é provar. Para nós, nada há de sobrenatural; é tudo o que podemos dizer no momento. 9. Se o fato for comprovado, dirão, aceitá-lo-emos; aceitaremos mesmo a causa que acabais de citar, a de um fluido desconhecido; mas quem prova a intervenção dos Espíritos? Aí está o maravilhoso, o sobrenatural. Seria preciso, aqui, toda uma demonstração que estaria fora do seu lugar e seria, aliás, repetitiva, pois ressalta de todas as outras partes do ensino. No entanto, para resumi-la em algumas palavras, diremos que ela está fundamentada, teoricamente, neste princípio: todo efeito inteligente deve ter uma causa inteligente; e, na prática, na 28 o_livro_dos_mediuns_14x21cm_roberto.indd 28 6/12/ :30:43
3 Capítulo II observação de que os fenômenos ditos espíritas, tendo dado provas de inteligência, sua causa devia estar fora da matéria; de que esta inteligência, não sendo a dos assistentes isto é um resultado da experiência devia estar fora deles; já que não se via o ser que agia, tratava-se, portanto, de um ser invisível. Foi então que, de observação em observação, chegou-se a reconhecer que este ser invisível, ao qual deu-se o nome de Espírito, nada mais era do que a alma daqueles que viveram corporalmente e que a morte despojou do seu grosseiro envoltório visível, deixando-lhe apenas um envoltório etéreo, invisível no seu estado normal. Aqui estão, portanto, o maravilhoso e o sobrenatural reduzidos à sua mais simples expressão. A existência de seres invisíveis, uma vez constatada, sua ação sobre a matéria resulta da natureza de seu envoltório fluídico: esta ação é inteligente, porque, ao morrerem, perderam apenas seus corpos, mas conservaram a inteligência que lhes constitui a própria essência; aí está a chave de todos esses fenômenos considerados, erradamente, sobrenaturais. A existência dos Espíritos não é, portanto, um sistema preconcebido, uma hipótese imaginada para explicar os fatos; é um resultado de observações e a consequência natural da existência da alma; negar esta causa é negar a alma e seus atributos. Que os que pensam poder dar uma solução mais racional para esses efeitos inteligentes, podendo, sobretudo, explicar a causa de todos os fatos, o façam e, então, poder-se-á discutir o mérito de cada uma. 10. Aos olhos daqueles que veem a matéria como a única potência da Natureza, tudo o que não pode ser explicado pelas leis da matéria é maravilhoso ou sobrenatural; e, para eles, maravilhoso é sinônimo de superstição. Assim sendo, a religião, que se baseia na existência de um princípio imaterial, seria um tecido de superstições; eles não ousam dizê-lo em voz alta, mas o dizem baixinho e acreditam salvar as aparências, admitindo que é preciso uma religião para o povo e para que as crianças se tornem mais comportadas; ora, de duas coisas uma: ou o princípio religioso é verdadeiro, ou é falso; se é verdadeiro, ele o é para todo o mundo; se é falso, não é melhor para os ignorantes do que para as pessoas esclarecidas. 29 o_livro_dos_mediuns_14x21cm_roberto.indd 29 6/12/ :30:43
4 O Livro dos Médiuns 11. Aqueles que atacam o Espiritismo, em nome do maravilhoso, apoiam-se geralmente, portanto, no princípio materialista, já que negando todo efeito extramaterial, negam, por isso mesmo, a existência da alma; sondai o fundo de seus pensamentos, escrutai bem o sentido de suas palavras e vereis, quase sempre, este princípio, se categoricamente formulado, brotar de baixo das exterioridades de uma pretensa filosofia racional com a qual o cobrem. Atribuindo tudo ao maravilhoso, tudo o que decorre da existência da alma, eles são, portanto, consequentes consigo mesmos; não admitindo a causa, não podem admitir os efeitos; daí, entre eles, uma opinião preconcebida que os torna impróprios para julgar sensatamente o Espiritismo, porque partem do princípio da negação de tudo o que não seja material. Quanto a nós, pelo fato de admitirmos os efeitos que são a consequência da existência da alma, quer dizer que aceitemos todos os fatos qualificados de maravilhosos? Que sejamos os campeões de todos os sonhadores, os adeptos de todas as utopias, de todas as excentricidades sistemáticas? Demonstraria conhecer bem pouco o Espiritismo quem pensasse assim; nossos adversários, porém, não veem isto de muito perto; a necessidade de conhecer aquilo de que falam é o de que menos cuidam. Segundo eles, o maravilhoso é absurdo; ora, o Espiritismo se apoia em fatos maravilhosos, portanto, o Espiritismo é absurdo: trata-se, para eles, de um julgamento sem apelação. Acreditam opor um argumento sem réplica, quando, após terem feito eruditas pesquisas sobre os convulsionários de Saint- Médard, os calvinistas de Cévennes, ou as religiosas de Loudun, descobriram, nestes, fatos patentes de trapaça que ninguém contesta; mas essas histórias representam o evangelho do Espiritismo? Seus partidários negaram que o charlatanismo haja explorado certos fatos em proveito próprio? Que a imaginação os tenha criado? Que o fanatismo muito os tenha exagerado? Ele é tão solidário com as extravagâncias que se cometem em seu nome, quanto a verdadeira Ciência o é com os abusos da ignorância e a verdadeira religião o é com os excessos do fanatismo. Muitos críticos julgam o Espiritismo unicamente pelos contos de fadas e lendas populares que dele são as ficções; seria o mesmo que julgar a História pelos romances históricos ou pelas tragédias. 30 o_livro_dos_mediuns_14x21cm_roberto.indd 30 6/12/ :30:43
5 Capítulo II 12. Em lógica elementar, para se discutir uma coisa, é preciso conhecê-la, pois a opinião de um crítico só tem valor, quando ele fala com perfeito conhecimento de causa; só então, sua opinião, embora errônea, pode ser levada em consideração; mas que peso terá ela sobre uma matéria que ele não conhece? A verdadeira crítica deve demonstrar, não apenas a erudição, mas um saber profundo a respeito do objeto de que trata, um julgamento sensato e uma imparcialidade a toda prova, de outra forma, o primeiro violinista que chegasse poderia atribuir-se o direito de julgar Rossini e um aprendiz o de censurar Rafael. 13. Portanto, o Espiritismo não aceita, absolutamente, todos os fatos maravilhosos ou sobrenaturais; longe disso, ele demonstra a impossibilidade de um grande número e o ridículo de certas crenças que constituem, propriamente falando, a dita superstição. É certo que, naquilo que ele admite, há coisas que, para os incrédulos, são puro maravilhoso, em outras palavras, superstição. Que seja; mas, pelo menos, discuti apenas esses pontos, pois sobre os outros, ele nada tem a dizer e pregais no deserto. Ao atacardes o que ele próprio refuta, provais vossa ignorância sobre o assunto e vossos argumentos caem por terra. Perguntar-se-á: mas, até onde vai a crença do Espiritismo? Lede, observai e sabê-lo-eis. Qualquer ciência só se adquire com o tempo e o estudo; ora, o Espiritismo, que aborda as questões mais graves da filosofia, todos os ramos da ordem social, que abrange tanto o homem físico quanto o homem moral, é, ele próprio, toda uma ciência, toda uma filosofia que não pode ser aprendida em algumas horas, tal como qualquer outra ciência; haveria tanta puerilidade em ver todo o Espiritismo numa mesa girante, quanto em ver toda a Física em alguns brinquedos de criança. Para todo aquele que não queira deter-se na superfície, são necessários, não apenas umas horas, mas meses e anos, para sondar-lhe todos os segredos. Por aí pode-se considerar o grau de saber e o valor da opinião daqueles que se atribuem o direito de julgar, porque viram uma ou duas experiências, geralmente, como forma de distração e de passatempo. Eles dirão, certamente, que não dispõem do tempo necessário para consagrar a este estudo. Que seja: nada os constrange 31 o_livro_dos_mediuns_14x21cm_roberto.indd 31 6/12/ :30:43
6 O Livro dos Médiuns a isso; mas, então, quando não se tem tempo para aprender uma coisa, não se deve falar sobre ela e, menos ainda, julgá-la, se não se quiser ser acusado de leviandade; ora, quanto mais elevada seja a posição que ocupemos na ciência, menos desculpáveis somos por tratar levianamente de um assunto que desconhecemos. 14. Resumimos nas seguintes proposições: 1 o ) Todos os fenômenos espíritas têm por princípio a existência da alma, sua sobrevivência ao corpo e suas manifestações; 2 o ) Estando baseados numa lei da Natureza, esses fenômenos nada têm de maravilhoso, nem de sobrenatural, no sentido comum dessas palavras; 3 o ) Muitos fatos são considerados sobrenaturais, apenas porque não se lhes conhece a causa; o Espiritismo, ao lhes atribuir uma causa, os faz retornar ao domínio dos fenômenos naturais; 4 o ) Dentre os fatos qualificados de sobrenaturais, existem muitos cuja impossibilidade o Espiritismo demonstra, incluindo-os entre as crenças supersticiosas; 5 o ) Embora o Espiritismo reconheça um fundo de verdade em muitas crenças populares, não admite, absolutamente, a mesma fundamentação em todas as histórias fantásticas criadas pela imaginação; 6 o ) Julgar o Espiritismo pelos fatos que ele não admite é dar prova de ignorância e tirar todo o valor de seu parecer; 7 o ) A explicação dos fatos admitidos pelo Espiritismo, suas causas e suas consequências morais constituem toda uma ciência e toda uma filosofia, que requer um estudo sério, perseverante e aprofundado; 8 o ) O Espiritismo só poderia considerar como crítico sério aquele que tivesse visto tudo, estudado tudo e aprofundado tudo, com a paciência e a perseverança de um observador consciencioso; que soubesse tanto sobre esse assunto, quanto o adepto mais esclarecido; que tivesse, por conseguinte, haurido seus conhecimentos em outra 32 o_livro_dos_mediuns_14x21cm_roberto.indd 32 6/12/ :30:43
7 Capítulo II parte que não nos romances da ciência; a quem não se pudesse opor fato algum de que ele não tivesse conhecimento, nenhum argumento sobre o qual não tivesse meditado; que refutasse, não, através de simples negações, mas através de outros argumentos mais decisivos; que pudesse, finalmente, atribuir uma causa mais lógica aos fatos averiguados. Este crítico ainda não foi encontrado. 15. Pronunciamos ainda há pouco a palavra milagre; uma curta observação sobre este assunto não ficará deslocada, neste capítulo sobre o maravilhoso. Na sua acepção primitiva e pela sua etimologia, a palavra milagre significa coisa extraordinária, coisa admirável de se ver; mas esta palavra, como tantas outras, afastou-se do sentido original e, hoje, refere-se (segundo a Academia) a um ato do poder divino, contrário às leis comuns da Natureza. Esta é, com efeito, sua acepção usual e apenas por comparação e por metáfora é que se aplica às coisas comuns que nos surpreendem e cuja causa é desconhecida. De forma alguma entra em nossas cogitações examinar se Deus tenha julgado útil, em algumas circunstâncias, derrogar as leis estabelecidas por ele mesmo; nosso objetivo é, unicamente, o de demonstrar que os fenômenos espíritas, por mais extraordinários que sejam, de maneira alguma derrogam essas leis, que nenhum caráter miraculoso possuem, do mesmo modo que não são maravilhosos ou sobrenaturais. O milagre não se explica; os fenômenos espíritas, ao contrário, se explicam da maneira mais racional; portanto, não são milagres, porém simples efeitos que possuem sua razão de ser nas leis gerais. O milagre tem ainda um outro caráter: o de ser insólito e isolado. Ora, quando um fato se reproduz, por assim dizer, à vontade e por diversas pessoas, não pode ser um milagre. Todos os dias, a Ciência faz milagres aos olhos dos ignorantes, eis por que, outrora, aqueles que sabiam mais do que o vulgo passavam por feiticeiros; e, como se acreditava que toda ciência sobre-humana vinha do diabo, queimavam-nos. Hoje, que somos mais civilizados, contentam-se em mandá-los para hospitais psiquiátricos. 33 o_livro_dos_mediuns_14x21cm_roberto.indd 33 6/12/ :30:43
8 O Livro dos Médiuns Que um homem realmente morto, como o dissemos no início, possa retornar à vida através de uma intervenção divina, aí está um verdadeiro milagre, porque isto é contrário às leis da Natureza. Porém, se este homem só aparentemente está morto, se ainda há nele um resto de vitalidade latente e a Ciência ou uma ação magnética consegue reanimá-lo, para as pessoas esclarecidas trata-se de um fenômeno natural; mas, para o vulgo ignorante, o fato passará por milagroso e o autor será perseguido a pedradas, ou venerado, de acordo com o caráter dos indivíduos. Que no meio de certos campos, um físico solte uma pipa elétrica e faça cair um raio sobre uma árvore, este novo Prometeu será, certamente, visto como portador de um poder diabólico; e, diga-se de passagem, Prometeu nos parece, singularmente, ter sido precursor de Franklin; mas Josué, ao deter o movimento do Sol, ou melhor, o da Terra, eis o verdadeiro milagre, pois não conhecemos magnetizador algum dotado de tão grande poder para realizar tal prodígio. De todos os fenômenos espíritas, um dos mais extraordinários é, incontestavelmente, o da escrita direta e um dos que demonstram da maneira mais patente a ação das inteligências ocultas; mas, pelo fato de o fenômeno ser produzido por seres ocultos, ele não é mais miraculoso do que todos os outros fenômenos devidos a agentes invisíveis, porque estes seres ocultos, que povoam os espaços são uma das potências da Natureza, potência cuja ação é incessante, tanto sobre o mundo material, quanto sobre o mundo moral. O Espiritismo, esclarecendo-nos sobre essa potência, nos dá a chave de uma imensidade de coisas inexplicadas e inexplicáveis por qualquer outro meio e que passaram por prodígios, em épocas remotas; ele revela, assim como o magnetismo, uma lei, se não desconhecida, pelo menos mal compreendida; ou melhor dizendo, conheciam-se os efeitos, pois eles se produziram em todos os tempos, mas, não, a lei e foi a ignorância desta lei que engendrou a superstição. Sendo conhecida esta lei, o maravilhoso desaparece e os fenômenos entram na ordem das coisas naturais. Eis por que os espíritos não fazem mais milagres ao fazer uma mesa girar ou os defuntos escreverem, do que o médico que faz um moribundo reviver, ou 34 o_livro_dos_mediuns_14x21cm_roberto.indd 34 6/12/ :30:43
9 Capítulo II o físico que faz cair o raio. Aquele que pretendesse, com o auxílio desta ciência, fazer milagres, seria ou um ignorante do assunto, ou um mistificador. 16. Os fenômenos espíritas, assim como os fenômenos magnéticos, antes que se lhes conhecesse a causa, tiveram que passar por prodígios; ora, como os cépticos, os espíritos fortes, isto é, os que têm o privilégio exclusivo da razão e do bom senso, não acreditam que uma coisa seja possível, se não a compreendem; eis por que todos os fatos tidos como prodigiosos são motivo de suas zombarias; e, como a religião contém um grande número de fatos desse gênero, eles não creem na religião e, daí à incredulidade absoluta, é só um passo. O Espiritismo, explicando a maioria desses fatos, dá a eles uma razão de ser. Ele vem, portanto, auxiliar a religião, demonstrando a possibilidade de certos fatos que, por não terem mais o caráter miraculoso, não são menos extraordinários, e Deus não fica menor nem menos poderoso, por não ter derrogado suas leis. De quantas piadas não foram objeto os arrebatamentos de São Cupertino! Ora, a suspensão etérea dos corpos pesados é um fato explicado pela lei espírita; fomos, pessoalmente, testemunha ocular deles e o Sr. Home, assim como outras pessoas nossas conhecidas, repetiram várias vezes o fenômeno produzido por São Cupertino. Portanto, este fenômeno pertence à ordem das coisas naturais. 17. Entre os fatos deste gênero, é preciso colocar em primeiro lugar as aparições, porque são as mais frequentes. A de Salette, que divide até o clero, nada tem, para nós, de insólita. Certamente, não podemos afirmar que o fato tenha ocorrido, porque dele não possuímos a prova material; mas, para nós, é possível, visto que conhecemos milhares de fatos análogos recentes; acreditamos nele, não apenas porque a realidade deles foi averiguada por nós, mas, principalmente, porque conhecemos a maneira como se produzem. Queiram se reportar à teoria das aparições, que expomos mais adiante, e verão que este fenômeno torna-se tão simples e tão plausível quanto uma imensidade de fenômenos físicos, que só são considerados prodigiosos por falta de uma chave que permita explicá-los. Quanto ao personagem que se apresentou em Salette, é uma outra questão: sua 35 o_livro_dos_mediuns_14x21cm_roberto.indd 35 6/12/ :30:43
10 O Livro dos Médiuns identidade não nos foi absolutamente demonstrada; constatamos, simplesmente, que uma aparição pode ter acontecido, o restante não é de nossa competência; cada um pode, a esse respeito, manter suas convicções, o Espiritismo não se ocupa com isso; dizemos apenas que os fatos produzidos pelo Espiritismo nos revelam leis novas, e nos dão a chave de uma imensidade de coisas que pareciam sobrenaturais; se alguns deles, que passavam por miraculosos, nele encontraram uma explicação lógica, é um motivo para não se apressar a negar o que não se compreende. Os fenômenos espíritas são contestados por algumas pessoas, precisamente porque parecem escapar à lei comum e à compreensão. Dai-lhes uma base racional e a dúvida desaparece. A explicação, neste século em que as pessoas não se contentam com palavras, é, portanto, um poderoso motivo de convicção; também não vemos, todos os dias, aquelas que não foram testemunhas de fato algum, que não viram nem uma mesa girar, nem um médium escrever e que estão tão convencidas quanto nós, unicamente porque leram e compreenderam. Se devêssemos acreditar apenas no que vimos com os nossos olhos, nossas convicções se reduziriam a bem pouca coisa. 36 o_livro_dos_mediuns_14x21cm_roberto.indd 36 6/12/ :30:43
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