POEIRA X UNICON: CONFRONTOS E CONTRAPONTOS ENTRE ATINGIDOS E ITAIPU
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- Geovane Azeredo Amarante
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1 DOI: /4cih.pphuem.376 POEIRA X UNICON: CONFRONTOS E CONTRAPONTOS ENTRE ATINGIDOS E ITAIPU Milena Costa Mascarenhas Mestranda da UNIOESTE Este texto pretende discutir algumas questões relativa à pesquisa, em andamento, referentes à Usina Hidrelétrica de Itaipu, enfocando dois periódicos, o informativo Unicon, o primeiro jornal da Itaipu criado em 1978 e o boletim Poeira, produzido pela Comissão Pastoral da Terra. A proposta é analisar os discursos proferidos por estes dois aparelhos privados de hegemonia, tentando estabelecer uma relação entre o projeto político e ideológico de cada periódico. O Unicon como porta-voz oficial da Itaipu serve de instrumento utilizado pela Empresa com o objetivo de tornar-se hegemônico na região, construindo através de um discurso um consenso na sociedade e o Poeira posiciona-se através de discurso contrahegemônico, ou seja, era um instrumento que os atingidos pela barragem tinham para contestar e denunciar políticas e ações da Itaipu. A usina hidrelétrica de Itaipu foi construída entre os anos de 1975 e 1983, ou seja, durante o período da ditadura militar, e traduzia a ideologia do regime de transformar o Brasil em um país potência, legitimando a política nacional. O principal fator que contribuiu para a instalação e construção da Usina nessa região do Estado do Paraná, foi o grande potencial hidrográfico do Rio Paraná. É importante frisar, que para a ditadura se instalar, além da forte repressão também se construiu uma hegemonia ideológica empreendida pelos militares com o apoio de civis, que se apoderaram do aparelho estatal após 1964, conquistando um significativo apoio entre amplos setores das camadas médias e mesmo das classes subalternas brasileiras. Isto foi alcançado, através dos discursos em defesa do progresso, desenvolvimento e modernização do país. O Brasil vivia período de prosperidade econômica, o que significa dizer que, no futuro, haveria aumento na exigência da capacidade geradora de energia. O discurso da modernidade e do progresso propagado afirma ser a energia um elemento fundamental para sustentar a vida industrial e urbana de um país, atraindo novos mercados e investimentos, mesmo que a custa do empobrecimento da maioria da população. Pois a infra-estrutura
2 672 necessária é viabilizada por empréstimos externos realizados pelo governo, pagos pelos cidadãos brasileiros, que nem sempre usufruem destes investimentos. Desta forma, em 1967, foi criada a Comissão Mista técnica Brasileiro-Paraguaia, para estudar o aproveitamento hidrelétrico do Rio Paraná, implementando a Ata de Iguaçu quanto aos estudos preliminares. Em 26 de abril de 1973, Brasil e Paraguai assinaram o Tratado de Itaipu, o qual previa a construção da usina no Rio Paraná e a criação de uma empresa binacional para administrar as obras e, futuramente, gerenciar a produção e comercializar a energia. A Itaipu tornava-se neste período a esperança das autoridades de transformar o Brasil em uma grande potência mundial, aparecendo nos discursos como um projeto que demonstraria, no futuro, uma Nação forte e respeitada. Assim, em 1974 foi criada a entidade Itaipu Binacional e no ano seguinte dado início às obras. Em 1978, foi aberto o canal de desvio do Rio Paraná. Para a concretização da obra, uma área entre Brasil e Paraguai de quilômetros quadrados ficou submersa. Isso significa que um grande contingente de pessoas foi desapropriado de suas terras: estima-se uma média de moradores expropriados, somente no lado brasileiro (RIBEIRO, 2002, p. 28), gerando problemas sociais na região. Os discursos oficiais exaltavam o crescimento econômico do município e os benefícios oferecidos pela obra da Itaipu para Foz do Iguaçu que registrou, segundo os discursos oficiais, um acentuado progresso com as obras, no qual houve no período de quatro anos, um aumento do número de estabelecimentos comerciais, industriais e de serviços, aumento no número de casas ligadas por rede de esgotos, da rede de abastecimento de água e do número de telefones instalados. Tal crescimento colocava Foz do Iguaçu como um dos municípios de maior crescimento no Estado do Paraná, porém também em um processo progressivo de favelização ocorrendo de forma concomitante às obras, mas que eram ocultadas nestes discursos. A modificação mais visível no município foi o inchaço populacional, com um aumento de quatro vezes em um período de dez anos. Em 1970, o número estava em torno de 34 mil habitantes; em 1980, aumentou para 136 mil; e, em 1991, chegou a 190 mil habitantes. A obra absorvia, em termos de força de trabalho, aproximadamente 40 mil trabalhadores (RIBEIRO, 2002, p. 62), 20 mil somente do lado brasileiro (CATTA, 2002, p. 92). Somando-se as suas famílias e o pessoal de atividades subsidiárias, o contingente chegava em torno de 120 mil pessoas.
3 673 O conflito entre Itaipu e os atingidos pela barragem O ponto nevrálgico na construção da hidrelétrica de Itaipu, foi o processo de desapropriação das terras atingidas pelo lago de Itaipu. A forma de desapropriação provocada pela Itaipu, não ocorreu de maneira homogênea para todas as terras, pois dependia da categoria da mesma. A pesquisadora Guiomar Inez Germani, trás no seu livro Expropriados Terra e Água: o conflito de Itaipu, essas categorias que diferenciavam a negociação, demonstrando que não havia igualdade entre elas. A autora enquadra as formas de propriedade em duas categorias: proprietários e posseiros. O que os diferenciam é a apropriação ou não de uma escritura pública registrada. A Empresa, representante do capital e da propriedade privada da terra, obviamente privilegiará os proprietários, onde negociará como parceiros. Essa postura não foi adotada com os posseiros, que sem escritura, não tinham o direito de receber nada pela terra. Porém essas categorias não são apresentadas de forma tão simples pela autora, no qual descreve uma diversidade de situações entre proprietários e posseiros que tinham a posse da terra, mas não a escritura, dificultando o recebimento de indenizações pela terra. Muitas famílias não tinham como sair da terra, que era a condição básica de existência como produtores (GERMANI, 2003, p ). Desta forma, iniciaram-se os conflitos entre a Itaipu e os atingidos pela barragem. O que os expropriados alegavam, não era tanto a perda em si da terra, que, já era algo bastante traumático considerando todo o esforço que estes trabalhadores tiveram na lida da terra e construindo uma estrutura em seu entorno que atendesse as suas necessidades básicas. O que os atingidos mais reclamavam era a forma desumana e arbitrária de como a Itaipu procedeu às desapropriações. A falta de informação e de clareza do projeto que não contemplou o impacto social, gerou uma situação de insegurança no processo de desapropriação. No início, a Itaipu fazia reuniões em diferentes municípios e distribuía materiais como panfletos, cartazes e utilizavam a rádio para informar a população o seus feitos e demonstrar a seriedade da obra, inclusive se auto-afirmando com propagandas de que a Itaipu pagaria o preço justo, tentando criar um consenso entre os atingidos. Porém, a partir do momento em que iniciaram as primeiras indenizações, esse consenso começa a ficar mais longe de ser alcançado.
4 674 No início da obra, a aquisição das terras era realizada através de Escritura Pública de Compra e Venda, e após 1977 com a assinatura do Decreto Federal, foi delimitada a área para a formação do reservatório, considerando a área de utilidade pública, assim autorizava a desapropriação. Os conflitos eram gerados pela falta de informação, pela falta de critérios na avaliação das terras, pelas imposições e intimidações própria do período de ditadura militar. Os atingidos recebiam a notícia de que seriam desapropriados, mas não tinham a data deste acontecimento e o valor que seria pago pelas suas terras (RIBEIRO, 2006, p. 62). A tentativa de criar um consenso através do Informativo Unicon Pretende-se, ao longo da pesquisa no mestrado de história, analisar o material produzido pela Itaipu, no sentido de compreender como foi construído o seu discurso. A usina foi construída para atender a determinados interesses econômicos, que com certeza não era a da maioria da população brasileira, pois visava garantir a infra-estrutura necessária para o processo de aceleração da industrialização, perpetuando a hegemonia da classe dominante. Para justificar tamanha obra, era necessário criar um discurso que tentasse atingir a população na sua totalidade, pois como toda a hegemonia busca-se o consenso em todos os grupos. O discurso era fundamental para convencer e estabelecer o consenso necessário na população, principalmente a que estava mais próxima da obra, que seria direta ou indiretamente afetada pela usina. Desta forma, tentava-se propagar uma a imagem do Brasil como um país forte, um país do futuro e rico em recursos naturais, assim aclamavam para o patriotismo, convidando os brasileiros a contribuírem para este crescimento. As formas para difundir este discurso foram inúmeros, panfletos, jingles, cartazes, e uma série de recursos da mídia foram utilizados para justificar projetos ditos nacionais. No período da ditadura militar além de criar uma estrutura altamente repressiva, também criou uma sustentação que garantisse um certo consenso em torno do seu projeto de desenvolvimento econômico, onde vinculasse a sua imagem ou atuação, ao crescimento econômico do país, especificamente no final da década de 1960 e início da década de 70. Para que isso se viabilizasse, o governo de Costa e Silva criou a Aerp (Assessoria Especial de Relações Públicas), um canal de comunicação entre governo e sociedade civil. Segundo Martins, atribuiu-se a criação da Aerp a péssima imagem que a opinião pública guardava da ditadura militar e para reverter essa imagem negativa bastaria, segundo suas concepções, esse diálogo do governo com a sociedade.
5 675 Além dos meios de comunicação públicos ou órgão de propagada oficialmente governamental, havia os meios de comunicação privados que também disseminavam a ideologia da ditadura militar, se não era fazendo propaganda explícita a favor das políticas do governo, era explicitando temas apolíticos com temas que contribuíssem para um conformismo social. Segundo Gramsci, em uma sociedade de classes, a supremacia de uma delas se exerce sempre através da coerção e da hegemonia. Tenta-se através dos intelectuais do grupo dominante a obtenção de um consenso espontâneo, caso ocorra um fracasso, esse consenso é obtido por meio da coerção estatal (DIAS, 1996, p. 25). Nesta forma é possível compreender as ações da Itaipu, reflexo da atuação do Estado, ou seja, (...) adequar a civilização e a moralidade das mais amplas massas populares às necessidades do contínuo desenvolvimento do aparelho econômico de produção (GRAMSCI, 2000, p. 23). Dentro deste caráter educador, o UNICON que era um órgão do Departamento de Núcleos Comunitários Setor de Bem-Estar Social da Empresa Itaipu Binacional, cria no dia 4 de fevereiro de 1978 um informativo, do mesmo nome Unicon, bilíngüe (português e espanhol), com periodicidade quinzenal, cujo objetivo era divulgar os acontecimentos em todos os níveis de atuação da Itaipu. A mídia torna-se, especialmente neste período, um grande elemento de manipulação de massas, utilizada pelo Estado para impor projetos de interesse de uma minoria, mas ocultados de projetos nacionais. A análise do discurso será utilizada, ao longo da pesquisa no mestrado, para identificar os elementos que compunham o conteúdo dos discursos em relação à ideologia hegemônica do momento, visto que, o sujeito que está produzindo um discurso está situado em um espaço social e representa uma determinada posição social. Desse modo, todo o discurso é uma representação social, logo não pode ser analisada fora do contexto histórico-social do momento em que foi produzido: O discurso está situado e determinado não só pelo referente como pela posição do emissor nas relações de força e também pela sua relação com o emissor. (BARDIN, 1988, p. 214). O pressuposto essencial das metodologias propostas para a análise de textos em pesquisa histórica é o de que um documento é sempre portador de um discurso que, assim considerado, não pode ser visto como algo transparente. Ao debruçar-se sobre um documento, o historiador deve sempre atentar, portanto, para o modo através do qual se apresenta o conteúdo histórico que pretende examinar, quer se trate de uma simples informação, quer se
6 676 trate de idéias, do pensamento político [...]. (CARDOSO, VAINFAS, Domínios da História, 1997, p. 377). O papel da CPT na construção do discurso contra-hegemônico Para compreender a Comissão Pastoral da Terra - CPT é importante inseri-la no contexto das Comunidades Eclesiais de Base que surgem no Brasil na década de 60, com o objetivo de se tornar um lugar de resistência às determinações sociais. O surgimento das CEBs está relacionado com a própria mudança da Igreja Católica, pois historicamente a atuação da Igreja estava, no sentido de legitimar e defender a ordem estabelecida, ficando ao lado da classe dominante, mas no final da década de 1960 assume uma perspectiva de transformação da sociedade condenando as injustiças do sistema capitalista. Obviamente este processo não se deu de forma homogênea, mas contribuiu para se tornar um intelectual das classes subalternas. (PETRINI, 1984, p. 43). Segundo Petrini (1984), os membros da comunidade começaram a compreender que a ordem social existe como um produto da atividade humana, o mais importante nesse processo de renovação da Igreja Católica, através do movimento das CEBs, é a conversão da inteligência no sentido de compreender racionalmente os acontecimentos pessoais, familiares e sociais (PETRINI, 1984, p ). Dessa forma, segundo o autor, se antes, a população era excluída do processo social, desse momento passam a se tornar atores, na medida em que alteram a realidade em que estão inseridos, através de uma atuação política intensa entre as classes populares. Frei Betto chama a atenção para o fato de que as CEBs não são fechadas em si mesmas, pois raramente as questões discutidas nas CEBs deixam de ser questões sociais ligadas à sobrevivência das classes populares, desta forma, as discussões eram de interesse não só de cristãos mas de interesse geral. Assim, a comunidade eclesial de base abre-se ao movimento popular, ajudando a criar ou a fortalecer formas de organização popular autônomas, desvinculadas do Estado e da Igreja. (BETTO, 1981, p. 24) Segundo Frei Betto (1981), foi na zona rural que as comunidades de base mais se proliferaram, pois os homens do campo, como o pequeno agricultor, o bóia fria ou o assalariado rural encontraram na Igreja o seu principal referencial ideológico. Estas comunidades rurais articulavam com a Comissão Pastoral da Terra CPT. A CPT foi criada em plena ditadura militar em 1975 durante o Encontro de Pastoral da Amazônia, convocado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e realizado
7 677 em Goiânia (GO). Segundo a CPT, sua criação era uma resposta à grave situação dos trabalhadores rurais, posseiros e peões, sobretudo na Amazônia. Estar ligada à Igreja, neste período de grande repressão, era fundamental para a própria sobrevivência do movimento. Segundo Frei Betto era a única instituição do país que, por sua índole histórica, escapava ao controle direto dos poderes públicos. A atuação da CPT se diferenciava conforme a região, pois dependia da realidade local. Cada região do Brasil tinha suas dificuldades e desafios a enfrentar e a CPT tinha o objetivo de estar à serviço das causas dos trabalhadores rurais, dando suporte para a sua organização. Segundo a CPT, a sua atuação na região Sul, está relacionada ao projeto de modernização que teve como conseqüência a marginalização os colonos e a iniciativa dos mesmos de se organizarem coletivamente. Na região oeste do Paraná, o problema mais evidente era a construção da Itaipu, e o conseqüente processo de desapropriação. Segundo Edmundo Fernandes Dias (1996), o partido, para realizar a tarefa de desconstrução/construção, deve mobilizar as vontades coletivas. Neste sentido, a CPT exerceu um papel fundamental de se colocar como porta-voz a favor dos desapropriados da Itaipu, dando maior homogeneidade e sentido ao movimento, que gradativamente ampliava a conscientização política. Ao mobilizar essas vontades coletivas, ampliava a atuação política do movimento, construindo, assim, uma pauta de reivindicações que atendesse aos seus interesses. Em 1977 foi instalado o Secretariado Regional da CPT no Paraná, de caráter ecumênico, a sede ficava em Marechal Cândido Rondon e a coordenação foi assumida pelo pastor Gernote Kirinus da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). Gernote Kirinus exerceu um importante papel de intelectual orgânico, por adesão, a partir da sua intensa militância política-religiosa na região Oeste do Paraná na função de secretário geral da CPT do Paraná. Kirinus relata o trabalho de esclarecimento realizado junto aos grupos de reflexão onde se relacionava o imaginário bíblico com a realidade social, ampliando a consciência crítica da população, segundo Maria de Fátima Ribeiro, a CPT vai prestar colaboração para a educação política dos agricultores e trabalhadores rurais, com a finalidade de tornar estes trabalhadores mais livres e conscientes tinha uma função pedagógica. (RIBEIRO, 2006, p. 66). Para garantir um canal de comunicação entre o movimento, cria-se em 1978, o boletim Poeira produzido em Marechal Cândido Rondon, com o objetivo de informar as CEBs sobre as ações da CPT. Apresentava-se como uma grande arma dos desapropriados de Itaipu, constituindo-se de um projeto contra-hegemônico produzido pela CPT. Se a Itaipu estava
8 678 produzindo uma verdadeira campanha publicitária para conquistar a opinião pública, como o informativo Unicon, que segundo Mazzarollo, é uma mensal reportagem sobre a não existência de problemas e dificuldades (...) era, então, necessário deslegitimar o discurso proferido pela Itaipu, demonstrando os confrontos e contrapontos dos expropriados, daqueles que estavam sofrendo na pele as injustiças cometidas pela Empresa. O boletim era o instrumento que os expropriados tinham para compartilhar suas experiências, elaborar concepções, denunciar as pressões sofridas pela Itaipu e a partir dessas elaborações propor um projeto para o movimento, citando o Edmundo, todo e qualquer movimento político que pretenda a construção de uma hegemonia tem que criar, necessariamente, uma leitura da história com a qual e pela qual pode apresentar-se como projeto. (DIAS, 1996, p. 16) Desta forma o Poeira objetivava confrontar as verdades impostas pela Itaipu que tentava ludibriar os atingidos oferecendo um valor pela terra, bem abaixo do mercado e ainda tentava convencê-los que o sacrifício era para o bem do país. Desta forma, o boletim contribuiu para ampliar a conscientização política dos atingidos pela Itaipu, conforme expressa na Ata da reunião da CPT do Paraná realizada em Cascavel: O boletim deverá contar tanto com matérias de atualidade e de interesse imediato dos agricultores como com matérias de fundo. Além disso, o Poeira deve funcionar como um órgão de denúncia do agricultor, de divulgação de seus principais problemas e lutas. Além disso, foi cedida a seguinte sistemática para a elaboração do boletim. Uma parte de cada reunião da equipe da CPT seria dedicada à discussão da pauta do próximo número do boletim, onde cada membro traria sugestões. Além disso, a cada reunião, o boletim passado deverá ser discutido por todos os membros da equipe. 1 Considerações finais A usina hidrelétrica de Itaipu foi construída entre os anos da ditadura militar no Brasil nos anos de 1975 e Essa mega construção que atingiu 8 municípios da região oeste do Paraná estava inserida em um projeto nacional de desenvolvimento, no qual assentava-se no discurso de transformar o Brasil em um país potência, legitimando desta forma, suas ações empreendidas. Procurou-se ao longo deste artigo expor as contradições deste empreendimento que não foi realizado sem conflitos, pelo contrário, houve muita resistência por parte dos 1 SCHMITT, Judite Veranisa. Os atingidos por Itaipu: história e memória. Oeste do Paraná, décadas de 1970 a Marechal Cândido Rondon: Unioeste, (Dissertação de mestrado). p. 57.
9 679 atingidos da Itaipu, no qual muitos deles tiveram que sair de suas terras sem uma indenização justa. Objetivou-se contextualizar a temática do projeto de pesquisa para o mestrado de história procurando discutir algumas questões teóricas e conceituais, como o papel da CPT enquanto intelectual orgânico, no qual procuravam, a partir de um projeto contra-hegemônico, quebrar a construção do consenso estabelecido pela Itaipu. Este consenso realiza-se através de uma série de veículos, entre eles, o informativo Unicon, que servia para fundamentar o projeto desenvolvimentista do Governo. O objetivo era construir uma imagem positiva e sem contradições da obra, além de convencer as pessoas da importância deste projeto para o país. A Comissão Pastoral da Terra que esteve ao lado dos atingidos, ajudando a organizar o movimento de luta pelo direito à terra, criaram o boletim Poeira, no qual tiveram a oportunidade de ampliar a organização e mobilização do movimento garantindo a resistência dos atingidos. A proposta, que ainda encontra-se na fase de projeto, pretende analisar os discursos proferidos por estes dois aparelhos privados de hegemonia, o Unicon como porta-voz oficial da Itaipu que tenta tornar-se hegemônico construindo através de um discurso um consenso na sociedade e o Poeira, com um discurso contra-hegemônico, que contestava e denunciava determinadas ações da Itaipu. Pretende-se, no decorrer da pesquisa identificar quem são os atores ou classes que esses sujeitos coletivos organizados estão organicamente ligados e quais são os projetos que tentam tornar-se hegemônicos. Bibliografia BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Edições 70. Lisboa, BETTO, Frei. O que é comunidade eclesial de base. Brasiliense. São Paulo, BUCI-GLUCKSMANN, Christinne. Gramsci e o estado: por uma teoria materialista da filosofia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, CARDOSO, Ciro Flamarion, VAINFAS, Ronaldo (org.). Domínios da história. Campus, Rio de Janeiro, CATTA, Luiz Eduardo Pena. O Cotidiano de uma fronteira: a perversidade da modernidade. Edunioeste. Cascavel, Construção da Pesada. Itaipu: a conquista dos maiores índices de desenvolvimento tecnológico já alcançados pelo homem. Ano 9, n. 98, p , março, Novo Grupo editora técnica Ltda. CAVALHEIRO, Maria Thereza. (editora).
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