ESTADO DO CEARÁ PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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1 EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSUAL CIVIL E EMPRESARIAL. ILEGITIMIDADE DE PESSOA JURÍDICA PARA POSTULAR EM NOME DOS SÓCIOS. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. NOVAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES. SUSPENSÃO DE PROTESTOS. NÃO INCLUSÃO DE NOME EM CADASTROS DE MAUS PAGADORES. RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E PROVIDO. 1. Recurso aforado contra decisório de primeira instância, mediante o qual foi indeferido pleito de suspensão de publicidade de protestos em desfavor das ora recorrentes e de sócios garantidores, bem como de não inclusão em cadastros de maus pagadores, nada obstante encontre-se pendente recuperação judicial. 2. Há limitar o âmbito de cognição recursal tão somente quanto aos pedidos de suspensão de protestos de títulos referentes às dívidas efetivamente submetidas aos efeitos da recuperação judicial e, ainda, em relação unicamente às empresas agravantes, que não possuem legitimidade processual para pleitear em nome de seus respectivos sócios, haja vista divergirem as personalidades jurídicas de ambos (art. 6º, CPC). 3. A novação das dívidas das empresas em recuperação, ex vi art. 59 da Nova Lei de Falências, surte efeitos desde a concessão desse benefício, seja pela aprovação do plano pelos credores, seja pelo deferimento do juiz, na forma do art. 58, 1º, daquele Diploma legal, estando condicionadas as atuais obrigações, ou dívidas novadas, à cláusula resolutiva da verificação do evento futuro e incerto, qual seja, o descumprimento do plano, resolvendo-se, neste caso, os seus efeitos de pleno direito, retornando o crédito ao status quo ante. 4. Assim, se de novação é o que se trata, tem-se incompatível a manutenção dos efeitos de protestos havidos por descumprimento de

2 obrigação anterior, extinta pela novatio, inclusive sob pena de violação ao princípio motor da novel lei falimentar, estatuído no art. 47 da Lei nº /2005, qual seja, o princípio da preservação da empresa, porquanto são fato notório as dificuldades que o protesto gera nas pretensões creditícias da empresa recuperanda. 5. Recurso parcialmente conhecido e, nessa parte, provido, para o fim de ordenar ao magistrado de primeira instância diligencie a suspensão da publicidade dos protestos existentes em nome das agravantes, que tenham por objeto títulos abrangidos pela recuperação judicial, em Cartórios de Protestos dos locais de suas sedes e filiais; bem como envie incontinenti ofícios ao SERASA e ao SPC, com vistas a se absterem de incluir o nome das agravantes em cadastros de maus pagadores por conta de dívidas objeto desta recuperação, ou, porventura incluídos, que os retirem de imediato. ACÓRDÃO Acordam os integrantes da Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, por uma de suas Turmas, unanimemente, em conhecer parcialmente do recurso e, nessa parte, dar-lhe provimento, nos termos do voto da Relatora. Fortaleza, 11 de abril de PRESIDENTE RELATORA PROCURADOR DE JUSTIÇA RELATÓRIO Cuida-se de agravo de instrumento interposto por Sucos do

3 Brasil S.A e Industrial e Comercial de Sucos Tropicais Ltda. em face de decisório do Juízo da 1ª Vara Cível da Comarca de Pacajus (fls ), nos autos do Processo nº /0 (recuperação judicial), por meio do qual indeferiu pleito de suspensão de publicidade de protestos em desfavor das ora recorrentes e de sócios garantidores, bem como de não inclusão em cadastros de maus pagadores. Aduzem as insurgentes (fls ), em síntese, haver error in judicando cometido pela juíza a quo, uma vez que, se o deferimento da recuperação judicial impõe a suspensão de ações e execuções contra mencionadas empresas (art. 52, III, da Lei nº /2005), deve-se possibilitar igualmente a suspensão da publicidade de protestos de títulos e não inclusão dos dados das empresas em cadastros restritivos, sob pena de inviabilizar a continuidade dos negócios das pessoas jurídicas em alusão. Sustentam, ainda, que houve novação de todas as obrigações mediante o deferimento da recuperação judicial, não existindo impontualidade a ensejar qualquer protesto e inclusão de dados das citadas empresas, bem como dos sócios destas, em listas restritivas de crédito. Documentos de fls Requisitaram a concessão de efeito ativo ao recurso, o qual foi concedido mediante decisório de fls , para o fim de determinar a suspensão da publicidade dos protestos existentes em nome das agravantes, que tivessem por objeto títulos abrangidos pela recuperação judicial, em Cartórios de Protestos dos locais de suas sedes e filiais, bem como para que fossem enviados ofícios ao SERASA e ao SPC, com vistas a se absterem de incluir o nome das recorrentes

4 em cadastros de maus pagadores por conta de dívidas objeto desta recuperação, ou, porventura incluídos, que os retirem de imediato. Informações às fls A Procuradoria Geral de Justiça manifestou-se pelo provimento do agravo (fls ). É o relatório. VOTO Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço da presente postulação. Volta-se o agravo contra decisório de primeira instância, mediante o qual foi indeferido pleito de suspensão de publicidade de protestos em desfavor das ora recorrentes e de sócios garantidores, bem como de não inclusão em cadastros de maus pagadores, nada obstante encontre-se pendente recuperação judicial. Inicialmente, há limitar o âmbito de cognição recursal tão somente quanto aos pleitos de suspensão de protestos de títulos referentes a dívidas submetidas aos efeitos da recuperação judicial e, ainda, em relação unicamente às empresas agravantes, que não possuem legitimidade processual para pleitear em nome de seus respectivos sócios, haja vista divergirem as personalidades jurídicas de ambos (art. 6º, CPC[1]). Nesse sentido, mutatis mutandis: [ ] 3. No caso dos autos, ausente a legitimidade ativa ad causam, porquanto a recorrida pleiteia a inexistência de débito tributário e a consequente expedição de certidão negativa de débito ou certidão positiva, com efeitos de negativa, em nome de outrem. Violação do art. 6º do CPC. [ ] (STJ. 2ª Turma. REsp /CE.

5 Relator Ministro HUMBERTO MARTINS. DJe ) [ ] 1. A pessoa jurídica não tem legitimidade extraordinária para impetrar mandado de segurança buscando anular a inscrição do nome de seus sócios na dívida ativa em consequência de irregularidades praticadas por eles em outro grupo societário, e não em razão de seus próprios débitos fiscais. Não se confunde a personalidade jurídica da empresa com a de seus sócios. [ ] (STJ. 2ª Turma. REsp /DF. Relator Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA. DJU , p. 308) Entendo assistir razão às insurgentes. Com efeito, não se pode negar que a novação das dívidas das empresas em recuperação (art. 59 da Nova Lei de Falências[2]) surte efeitos desde a concessão desse benefício, seja pela aprovação do plano pelos credores, seja pelo deferimento do juiz, na forma do art. 58, 1º, daquele Diploma legal[3], estando condicionadas as atuais obrigações, ou dívidas novadas, à cláusula resolutiva da verificação do evento futuro e incerto, qual seja, o descumprimento do plano, resolvendo-se, neste caso, os seus efeitos de pleno direito, retornando o crédito ao status quo ante. Assim, se de novação é o que se trata, tem-se incompatível a manutenção dos efeitos de protestos havidos por descumprimento de obrigação anterior, extinta pela novatio, inclusive sob pena de violação ao princípio motor da novel lei falimentar, estatuído no art. 47 da Lei nº /2005[4], qual seja, o princípio da preservação da empresa, porquanto são fato notório as dificuldades que o protesto gera nas pretensões creditícias da empresa recuperanda. Contudo, em razão da existência dessa condição resolutiva na

6 espécie anômala de novação trazida na lei falimentar, há de se limitar a pretensão das agravantes à publicidade dos protestos, sob pena de limitar a repristinação dos efeitos da obrigação anterior, extinta pela novação, caso venha a ser decretada a falência das agravantes. É viável, contudo, determinar a sustação dos efeitos do protesto, impedindo que os Cartórios deem publicidade às anotações, suspendendo os seus efeitos até eventual convolação da recuperação em falência. Em que pese a existência de alguns poucos precedentes jurisprudenciais sobre o tema à luz da legislação anterior, relativos à concordata, no sentido da manutenção do protesto nessa hipótese, tal se dava porque, nos termos do art. 148 do Decreto-Lei nº 7.661/1945, a concordata não implicava novação do débito anterior, diversamente do que ocorre na recuperação judicial. Nesse sentido, vale destacar a lição doutrinária de Ecio Perin Junior: Nos termos do que dispunha o art. 148 do Dec.-Lei 7.661/45, a concordata não produzia novação, não desonerava os coobrigados com o devedor, nem os fiadores deste e os responsáveis por via de regresso. Significava dizer que aqueles que de alguma forma obrigaramse perante terceiros a cumprir obrigações assumidas pelo concordatário não poderiam desonerar-se da obrigação assumida pelo fato da concordata ou mesmo da falência do devedor principal, devendo efetuar o pagamento e, sub-rogados nos direitos do credor, habilitarse-iam na concordata ou falência do devedor. Exemplificando, o credor podia cobrar a integralidade do crédito do avalista na data do vencimento mencionado em um título de crédito, mesmo se concedida concordata em benefício do avalizado.

7 Nesse sentido, destacamos acórdão do Tribunal de Justiça de São Paulo dando sua posição, na vigência da lei anterior, admitindo que o credor simultaneamente habilitasse seu crédito na falência do avalizado e movesse a ação executiva em face dos avalistas de título emitido em seu nome. Contudo, após essa longa exposição a respeito da legislação passada, cumpre destacarmos o que dispõe o art. 59 da LFRE, inovando sobre o tema, quando diz que o plano de recuperação implica novação dos créditos anteriores ao pedido e obriga o devedor e todos os credores a ele sujeitos, sem prejuízo das garantias, observado o disposto no 1º do art. 50 ("Na alienação de bem objeto de garantia real, a supressão da garantia ou sua substituição somente serão admitidas mediante aprovação expressa do credor titular da respectiva garantia"). Além disso, a própria lei, no art. 50, IX, estabelece como sendo um dos meios de recuperação judicial a novação de dívidas do passivo, com ou sem garantias próprias ou de terceiros. Finalmente, o 1º do art. 59 estabelece que a decisão judicial que conceder a recuperação judicial constituirá título executivo judicial, nos termos do art. 584, III, do Código de Processo Civil. (cf. Curso de Direito Falimentar e Recuperação de Empresas, Ed. Método, 3ª Edição, 2006, p , destaques) Outrossim, afigura-se presente na espécie o periculum in mora, uma vez que, ao serem publicizados protestos de títulos pertinentes a dívidas abrangidas pela recuperação judicial, bem como incluídos os dados das agravantes em rol de maus pagadores, cujo prejuízo será manifesto, dificilmente possibilitar-se-á a continuidade do negócio.

8 Sob tais fundamentos, conheço parcialmente do agravo e, nessa parte, dou-lhe provimento para o fim de ordenar ao magistrado de primeira instância diligencie a suspensão da publicidade dos protestos existentes em nome das agravantes, que tenham por objeto títulos abrangidos pela recuperação judicial, em Cartórios de Protestos dos locais de suas sedes e filiais; bem como envie incontinenti ofícios ao SERASA e ao SPC, com vistas a se absterem de incluir o nome das agravantes em cadastros de maus pagadores por conta de dívidas objeto desta recuperação, ou, porventura incluídos, que os retirem de imediato. É como voto. Juíza de Direito Convocada MARIA VILAUBA FAUSTO LOPES Relatora [1] CPC, Art. 6º. Ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando autorizado por lei. [2] Lei nº /2005, Art. 59. O plano de recuperação judicial implica novação dos créditos anteriores ao pedido, e obriga o devedor e todos os credores a ele sujeitos, sem prejuízo das garantias, observado o disposto no 1º do art. 50 desta Lei. 1º A decisão judicial que conceder a recuperação judicial constituirá título executivo judicial, nos termos do art. 584, inciso III, do caput da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de Código de Processo Civil. 2º Contra a decisão que conceder a recuperação judicial caberá agravo, que poderá ser interposto por qualquer credor e pelo Ministério Público.

9 [3] Lei nº /2005, Art. 58. Cumpridas as exigências desta Lei, o juiz concederá a recuperação judicial do devedor cujo plano não tenha sofrido objeção de credor nos termos do art. 55 desta Lei ou tenha sido aprovado pela assembleia-geral de credores na forma do art. 45 desta Lei. 1º O juiz poderá conceder a recuperação judicial com base em plano que não obteve aprovação na forma do art. 45 desta Lei, desde que, na mesma assembleia, tenha obtido, de forma cumulativa: I - o voto favorável de credores que representem mais da metade do valor de todos os créditos presentes à assembleia, independentemente de classes; II - a aprovação de 2 (duas) das classes de credores nos termos do art. 45 desta Lei ou, caso haja somente 2 (duas) classes com credores votantes, a aprovação de pelo menos 1 (uma) delas; III - na classe que o houver rejeitado, o voto favorável de mais de 1/3 (um terço) dos credores, computados na forma dos 1º e 2º do art. 45 desta Lei. 2º A recuperação judicial somente poderá ser concedida com base no 1º deste artigo se o plano não implicar tratamento diferenciado entre os credores da classe que o houver rejeitado. [4] Lei nº /2005, Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômicofinanceira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica.

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