EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 54/2007. EMENDA DOS APÁTRIDAS (Revisado e Atualizado em 30/05/2008)

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1 EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 54/2007. EMENDA DOS APÁTRIDAS (Revisado e Atualizado em 30/05/2008) Otávio Piva No dia 20 de setembro de 2007 em uma esvaziada sessão conjunta do Congresso Nacional, foram promulgadas duas Emendas à Constituição. Entre elas, destaca-se a EC 54/2007 (PEC nº 00024/1999, do Senador Lúcio Alcântara, PSDB CE), que tem sido chamada por alguns de a Emenda dos Apátridas, na medida em que altera o art. 12, I, c, da Constituição da República de Nada obstante, para correto entendimento da mudança constitucional, mister se faz analisar a evolução constitucional neste específico tema. Ocorre que, com o advento da EC 54/2007, esta já é a segunda alteração do texto magno. Veja-se comparativamente: TEXTO ORIGINAL TEXTO DADO PELA ECR Nº 03/94 TEXTO DADO PELA EC Nº 54/07 c) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente, ou venham a residir na República Federativa do Brasil antes da maioridade e, alcançada esta, optem, em qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira; c) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira; c) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente, ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira; 1

2 Note-se, portanto, em que pese a muito duvidosa redação do novo art. 12, I, c, da CF/88, ao que parece, o que se quis foi facultar a escolha entre REGISTRAR no exterior ou RESIDIR no Brasil. Todavia, em qualquer caso, permaneceria a necessidade de opção confirmativa, desde que exercida após a maioridade e a qualquer tempo (grifos nossos): Com o novo texto, basta que sejam registrados em repartição brasileira competente, diplomática ou consular (registro optativo). Também há a opção de vir a residir a qualquer momento no país, mesmo que não tenha sido feito o registro mencionado anteriormente. Permanece a necessidade de que haja uma opção pela nacionalidade brasileira a qualquer tempo, mas agora fica explicitado que a opção só ocorre após a maioridade (após a maioridade e a qualquer tempo, insista-se). Pela nova redação, a residência, que permanecia na redação por último em vigor como requisito, poderá ser doravante suprida pelo registro no exterior (opção). (TAVARES, André Ramos, Curso de Direito Constitucional. 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 731). Resumidamente, estas seriam as novas condições: (A) filho de pai ou mãe brasileira que não esteja a serviço público; (B) registro em repartição competente no exterior (C) alcançada a maioridade civil, a qualquer tempo e após a maioridade, ingressar com a ação de opção confirmativa na Justiça Federal brasileira ou, não havendo o registro no exterior, (A) filho de pai ou mãe brasileira que não esteja a serviço público; (B) residir no Brasil; (C) alcançada a maioridade civil, a qualquer tempo e após a maioridade, ingressar com a ação de opção confirmativa na Justiça Federal brasileira; 2

3 Por outro lado, PEDRO LENZA, apresenta opinião diversa, afirmando que o simples registro e nada mais do que isso possibilitaria a aquisição da nacionalidade originária: [...] a EC n. 54/2007, resgatando a regra anterior, estabeleceu a possibilidade de aquisição da nacionalidade originária pelo simples registro em repartição brasileira competente e, assim, resolvendo um grave problema dos apátridas. (LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 12 ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 671) Conseqüentemente, para este autor, da redação nova do art. 12, I, c, da CF/88, se poderia concluir que as condições atuais de aquisição da nacionalidade originária seriam: (A) filho de pai ou mãe brasileira (não estando a serviço público); (B) registro em repartição competente no exterior ou, não havendo o registro no exterior, (A) filho de pai ou mãe brasileira (não estando a serviço público); (B) residir no Brasil; (C) alcançada a maioridade civil, a qualquer tempo e após a maioridade, ingressar com a ação de opção confirmativa na Justiça Federal brasileira; - Mas, em que pese o dissídio doutrinário, o que teria ensejado a mudança do texto constitucional? 3

4 Observe-se o parecer do Deputado Bispo Rodrigues, relator da PEC na Comissão de Constituição e Justiça na Câmara dos Deputados: Aduz S.Exa. que o Constituinte de 1988, ao retirar o prazo da opção de quatro anos para a opção dos nascidos no exterior, gerou imprecisão na situação jurídica dessas pessoas. Como a redação original não estabelecia prazo e a aquisição da nacionalidade só se perfaz com um ato volitivo confirmatório, essas pessoas passaram a ser brasileiras pendente conditione e não podiam, por esta razão, invocar a nacionalidade brasileira. A Revisão Constitucional, segundo ainda o Autor, ao invés de aperfeiçoar o texto, sanando o equívoco cometido, acabou por ampliar a situação de incerteza jurídica, suprimindo a exigência de o nascido no exterior ser registrado em repartição brasileira competente. É possível concordar, evidentemente, que a denominada situação de incerteza jurídica era facilmente verificada no caso de nascimento no exterior de filhos de brasileiros, em país que não adote a regra do jus soli e cujos pais não se enquadrem no jus sanguinis. Neste caso, utilizando a regra constitucional ora revogada, a nacionalidade brasileira plena somente seria adquirida com a soma de dois eventos: residência no Brasil e ação de opção confirmativa. Assim, neste peculiar caso, enquanto a residência no Brasil não ocorresse, teríamos a indesejável figura do APÁTRIDA. Ora, por outro lado, é conveniente lembrar que o conceito de NACIONALIDADE não se perfaz em visão estritamente jurídica, mas especialmente inserido num contexto sociológico (grifos nossos): 4

5 A nacionalidade configura vínculo político e pessoal que se estabelece entre o Estado e o indivíduo, fazendo com que este integre uma dada comunidade política, o que faz com que o Estado distinga o nacional do estrangeiro para diversos fins. 1 Ser nacional, portanto, não pode se limitar ao simples fato de portar um documento de nascimento brasileiro. Ser brasileiro é efetivamente integrar a comunidade brasileira, de forma a ser distinguido como tal, através dos mais diversos aspectos: jurídicos, culturais, antropológicos, existenciais etc. Veja-se a modelar decisão do culto Juiz Federal Guilherme Beltrami, na Ação Civil Pública nº (Subseção Judiciária de Uruguaiana RS grifos nossos): A nacionalidade, porém, se constitui de um conjunto de vínculos culturais e afetivos, existenciais, do indivíduo com uma nação. E, no caso, estes vínculos não se alteram pela estada da parturiente, por algumas horas, 07 Km adentro do território Uruguaio, apenas para proceder ao parto, forçada pela inexistência de um hospital na sua cidade, transportada muitas vezes pela ambulância da própria Prefeitura Municipal de Barra do Quaraí. 1 MENDES, Gilmar Ferreira et al. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2007, p

6 Resta, portanto, instigante questionamento: - Com a restauração da possibilidade de o registro civil realizado no exterior ser prova da nacionalidade (dependente de confirmação perante a Justiça Federal brasileira), não se estará possibilitando a institucionalização de brasileiros de papel, posto que muitos não têm qualquer interesse por nossa pátria, não pretendem viver aqui, não dominam nosso idioma e desconhecem nossa cultura, mas portam um registro civil de brasileiro? Lembre-se que essa pessoa, por exemplo, sem sequer falar a língua portuguesa, cujo vínculo único com o Brasil poderia ser o sangue de pai ou mãe brasileira, por força da própria Constituição, poderia ser Presidente da República! - Seria legítimo, portanto, judicialmente ver-se negada a opção confirmativa a brasileiro que não demonstrasse... vínculos culturais e afetivos, existenciais, do indivíduo com uma nação..., mesmo tendo realizado o registro no exterior? Pensemos nisso. 6