Pedagogia da Autonomia. Resenha Crítica. Por: Nadine Comaneci Barros Mota
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1 Pedagogia da Autonomia Resenha Crítica Por: Nadine Comaneci Barros Mota A obra de Paulo Freire, Pedagogia da Autonomia também pode ser considerada como um grandioso guia educacional para todos os profissionais relacionados de alguma maneira à educação. Ela trás de forma grandiosa a contribuição unificada que faltava, digo no sentido de em um único livro, conter informativos que facilitam a compreensão sobre tantas questões voltadas ao meio educacional, como também um grande aliado para as práticas pedagógicas cotidianas. Freire explica claramente que através do ensinar, aquele que ensina também aprende o saber, como também da mesma maneira que aquele que aprende o determinado assunto, também passa a ensinar. Ele diz que "não há docência sem dicência, as duas se explicam, e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem a condição, de objeto um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar, e quem aprende ensina ao aprender"(p. 23). Diante disto, podemos parar e comparar nossas realidades em sala de aula com as afirmações sábias e verdadeiras feitas pelo autor. A troca de informações é constante no âmbito da sala de aula, e é essa inquietação do aluno que envolve e estimula o professor a sempre buscar conhecimento para ter em suas mãos a condição de atender as necessidade deste aluno, tirando suas dúvidas quando as tiver. Sendo assim, ao darmos algo e recebermos algo, fica registrado e confirmado que o ensinar também é aprender e que a boa relação professor-aluno é profundamente necessária para esta prática. Além da prática bonita e encantadora, da simplicidade, do humanitarismo, também torna-se destaque nesta obra a ideia que o autor tinha sobre ética. Segundo Freire, "A ética universal do ser humano. Da ética que condena o cinismo do discurso citado acima, que condena a exploração da força de trabalho 1
2 do ser humano, que condena acusar por ouvir dizer, afirmar que alguém falou A sabendo que foi dito B, falsear a verdade, iludir o encanto, golpear o fraco e indefeso, soterrar o sonho e a utopia, prometer sabendo que não cumprirá a promessa" (p.16). Ou seja, ser realmente franco, justo, coerente, verdadeiro, sem preconceitos ou discriminação racial ou de qualquer natureza, essas são algumas das qualidades de um ser ético no segmento que o autor expressou seu pensamento, é por essa prática educativa que luta o autor. Ao mesmo tempo onde se mostra firme a ideia e a força que tem a educação em nossas vidas, em nosso meio social, cultural e político, mostra também que não devemos desprezar o conhecimento empírico dos alunos e nem as experiências por ele vivenciadas. Em Pedagogia da Autonomia, o autor une em uma só produção as suas indagações e preocupações com a educação. Revela suas curiosidades e inquietações mais profundas, ele propõe ao professor uma mudança de atitude, em virtude de que o educador além de atuar em sala de aula como professor de disciplinas acadêmicas, esse profissional possa conscientizar, orientar e preparar seus alunos para a vida, guiando-os sempre para os caminhos corretos, capazes de fazer desses alunos no futuro, verdadeiros cidadãos com senso crítico, munidos não só de inteligência mas também de valores. Um simples gesto de um professor pode significar muito na vida de um aluno, pode marcá-lo de maneira positiva ou negativa. Por isso é preciso ter cuidado com as palavras utilizadas em sala de aula diante dos alunos. Lembrando sempre que o professor é o espelho, a referência do aluno que naquele instante mágico do conhecimento, muitas vezes é o motivador da presença de determinado aluno na escola e nem tem conhecimento disso. O educador é referência para o educando, mas para isto, segundo Freire " O professor que não leva a sério sua formação, que não estude, que não se esforce para estar à altura de sua tarefa não tem força moral para coordenar as atividades de sua classe. Isto não significa, porém, que a opção e a prática do professor ou da professora sejam determinadas por sua competência científica" (p.92). 2
3 Para o autor, a falta de qualificação profissional e competência faz com que o professor perca a autoridade diante da sala de aula, pois sem os subsídios acadêmicos e preparos adequados para o ensino, a educação proposta não será possível. Mediante a falta de conhecimento dos conteúdos educativos esse professor perde seu valor ao se tornar desacreditado frente a sua classe, porém, existem educadores altamente preparados cientificamente e profundamente arrogantes, o que jamais deve acontecer. O ideal é manter a simplicidade somada com o conhecimento pedagógico necessário para uma prática coerente. Ensinar não é transferir conhecimento, mas é desenvolver um trabalho junto com o aluno e está sempre pronto para ouvir o que o mesmo tem a dizer. O professor vem ajudar a construir o conhecimento junto com seus alunos, oportunizando assim a construção de um país mais desenvolvido, mais justo e com oportunidades para todos. A verdade de que o professor possa contribuir para a construção de tal país não pode servir como justificativa da ideologia dominante, responsável por este desenvolvimento. Na escola moderna, o professor se torna figura fundamental para o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem de seus alunos reunidos nas denominadas escolas de massa. O sinal mais indicativo da responsabilidade do professor é o seu empenho na instrução e educação dos seus alunos, de modo que estes dominem o conhecimento básico e habilidades, e que desenvolvam suas potencialidades e capacidades. O docente precisa tornar o outro, sujeito da relação do conhecimento, interrompendo as relações intersubjetivas, tecidas pelo diálogo nas atividades escolares, e transformando-as. Para realizar sua tarefa o docente deve cercar-se de garantias para que o processo realizado produza resultados verdadeiros e objetivos, que explicitem o real valor de cada um dos discentes os quais classificados e hierarquizados, terão suas devidas recompensas, punições ou tratamentos adequados a cada caso. Sendo assim, o sujeito que conhece, precisa destacar-se do objeto de conhecimento, produzindo uma distância epistemológica que une ações desenvolvidas no processo contínuo. O ideal é que a experiência dos discentes e 3
4 docentes, convivam juntos no intuito de que os mesmos se transformem em sabedoria. Na questão que a obra trata sobre o ensinar que exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo, vale salientar a importância sobre como é interessante a questão da educação enquanto instrumento de intervenção no mundo. Através dessa janela repleta de informações que é a educação, seja ela bem ou mal ensinada e/ou aprendida, ela trás como bagagem de conhecimento uma gama de novos saberes que até então o homem e/ou mulher desconheciam. Sendo assim, a educação interfere também na ideologia dominante a que fomos apresentados. Contudo a educação não pode ser nem apenas dialética, nem apenas contraditória. A educação não pode ser vista e nem tradada como se fosse reprodutora da ideologia dominante. Sabemos que os obstáculos existem e são muitos, porém a intenção da educação é superar as barreiras existenciais, nortear os pensamentos humanos rumo a fazer da mente uma máquina pensante e crítica, capaz de por si só "realizar" em toda concepção da palavra, e não dificultar o aprender das pessoas, delimitando até onde se pode pensar. Freire afirma que A compreensão Mecanicista da História que reduz a consciência a puro reflexo da materialidade, e de outro, o subjetivismo idealista, que hipertrofia o papel da consciência no acontecer histórico. Nem somos, mulheres e homens, seres simplesmente determinados nem tampouco livres de condicionamento genético, culturais, sociais, históricos, de classe, de gênero que nos marcam e a que nos achamos referidos" (p.99). Então, seguindo esta linha de pensamento, podemos afirmar, que para as classes dominantes é de total interesse e importância que a educação não passe de uma prática imobilizadora e ocultadora de verdades, sim, é essa a real vontade, mesmo que quando se faça necessário esta mesma prática torne-se progressista, mesmo que seja em parte. Quando por exemplo, o sistema permite que haja o Movimento dos Sem Terra, eles se reúnem em assembleias, promovem reuniões em prol de todos aqueles que fazem parte do Movimento, 4
5 porém, quando os governantes determinam que devem parar com as reuniões, que parem com as invasões das propriedades, que é ordem do governo, os sem terra obedecem imediatamente. Aqueles que dominam o sistema são os mesmos que elaboram as fontes de onde derramam o conhecimento para as classes "dominadas", ou seja, só será transmitido em forma de conhecimento aquilo que for interessante e conveniente para os donos do poder. Então, pode-se dizer que ao passarmos da condição de manipulados, e que a gama de conhecimentos transmitidos pingo a pingo, em pitadas nada generosas, para uma nova situação, uma nova e esperada fase a da criticidade, do reconhecermos que podemos: avaliar, optar, que somos capazes de intervir, romper, comparar, escolher, decidir, observar etc. Não podemos cruzar os braços, essa atitude torna o ser conivente com os acontecimentos. A partir do momento em que enquanto educadores de uma prática que não pode e nem deve ser neutra, esta prática me cobra uma decisão, a que princípio devo seguir? Acreditamos que o bom professor tem como maior aliado o amor pela docência, a grande paixão pelo que faz, transformará seus momentos em sala de aula e o reencantar a educação, depende muito do professor. "Sou professor a favor da boniteza da minha própria prática, boniteza que dela some se não cuido do saber que devo ensinar, se não brigo por este saber, se não luto pelas condições materiais sem as quais meu corpo, descuidado corre o risco de se amofinar e de já não ser o testemunho que deve ser de lutador pertinaz, que cansa mas não desiste". (p.103). O primeiro passo para uma prática bonita é o amor por esta prática. Tudo que é trabalhado, preparado, planejado com amor, é belo. Sem este sentimento chamado de amor, se faz uma coisinha aqui, outra coisinha ali, mas não se faz tudo e nem de faz coisas, apenas coisinhas. Uma prática pedagógica repleta de boniteza, precisa ser vestida do saber ouvir, saber dialogar com os alunos, proporcionar momentos de reflexão da turma, debates sobre determinados assuntos que para a turma esteja em foco naquele momento. A beleza de ensinar e aprender é mais simples do que parece ser, precisa ser natural e sentida. 5
6 É reacionária a afirmação segundo a qual o que interessa aos operários é alcançar o máximo de sua eficácia técnica e não perder tempo com debates "ideológicos" que a nada levam. O operário precisa inventar, a partir do próprio trabalho, a sua cidadania que não se constrói apenas com a sua eficácia técnica, mas também com sua luta política em favor da recriação da sociedade injusta, a ceder seu lugar a outra menos injusta e mais humana. (Paulo Freire) A relevância deste assunto para o dia a dia no âmbito educacional, é imprescindível. Esta colocação além de séria é muito bem vinda. Acreditamos que para uma prática docente leal e humanitária, não podemos selecionar as inteligências dos alunos, nem por cara, nem por cor, muito menos por classe social, e nem medir conhecimento, pois o que aparentemente vemos pode nem ser a realidade. O professor deve trabalhar bem os seus conteúdos e aplicá-los para todos os alunos de igual para igual, sem diferencia-los nem por inteligência, nem por critério algum. O tratamento para com o aluno deve ser sempre o melhor, sempre atuando a favor da decência e contra qualquer forma de discriminação. Penso que a educação ainda chega lá, te exatamente onde almejamos, no tão sonhado patamar de educação de primeiro mundo depende muito de nós, e podemos sim fazer uma grande diferença. O professor jamais deve escolher qual dos alunos terá a melhor parte dos conteúdos, a parte que apenas os futuros líderes das nações terão. Jamais poderão excluir quem quer que seja e nem medir a capacidade de ninguém, tampouco atribuir valores a quem for, pois o que aparentemente vemos pode nem ser na realidade. Além de sonharmos é preciso arregaçarmos as mangas e irmos à luta. Não depende só de nós, mas depende muito de nós, podemos sim fazer acontecer. A partir desse pensamento entranhado em nossas mentes, permitiremos que se abram as portas da tolerância e do amor, porque não do amor? 6
7 Amar é querer bem, é ter respeito pelo outro, é ver no outro sua própria imagem, e se possível é sentir na pele o que o outro sentiria. Precisamos reintroduzir na escola o princípio de que todo o conhecimento tem algo a ver com a experiência e o prazer. Quando falta esta visão, quando o encanto do aprender e apreender, vira um processo meramente mecânico, o ensinar perde a função de doação, interação, troca... Porque a educação em sala de aula não pode ser vista sem esse aspecto de troca de conhecimento, de informações, troca de experiências, mudança de concepções sim, porque não? Ao estudar, é possível conhecermos e termos novas possibilidades em todos os sentidos. Conhecemos novas pessoas, formamos laços de amizade com colegas, professores, colaboradores em geral da Instituição onde estudamos. Informar e instruir os saberes já acumulados pela humanidade é um fator importante da escola, deve ser neste aspecto uma verdadeira central de serviços de qualidade para o educando. Pedagogia da Autonomia é presente para o professor. Um livro que retrata a necessidade de um melhor posicionamento do educador em sala de aula que ao mesmo tempo onde cobra qualificação profissional deste educador, também o incentiva a buscá-la de todas as formas. Mostra para os docentes que o aluno não deve sofrer nenhum tipo de discriminação por parte desse professor e sim auxílio constante durante as aulas. Freire apresenta uma prática pedagógica repleta de ética e bom senso para com o educando e educador. O autor mostra a todo o tempo que o educador precisa desenvolver um lado crítico diante da realidade, que ao mesmo tempo que incentiva o aluno, também critique-o se necessário, desta forma o aluno aprenderá e o professor cumprirá seu papel com mais responsabilidade diante do que foi proposto ao mesmo enquanto profissional da educação. É sugerido pelo autor que a prática educacional seja repleta de compreensão, amor, alegria, criticidade e ética ao ensinar. 7
8 Segundo Freire, A atividade docente de que a discente não se separa é uma experiência alegre por natureza. É falso também tomar como inconciliáveis seriedade docente e alegria, como se a alegria fosse inimiga da rigorosidade. É diante desta afirmação que ao contrário do que muitos educadores ainda pensam, é correto afirmar que a alegria do ensinar surge exatamente quando a docência é firme e séria, pois ao atingir os objetivos, o professor se enche de esperança ao ver que seus alunos estão conseguindo acompanhar os conteúdos e informativos aplicados em sala de aula. Isto faz com que o professor também se alegre. O rigor é algo que não deve ser retirado do âmbito da escola e da sala de aula. Em todos os lugares existem regras que foram criadas para serem cumpridas, na sala de aula é da mesma forma, é preciso disciplinas em todas as ocasiões, o rigor aplicado de maneira moderada e consciente, nada mais faz do que tornar o aluno um cidadão no futuro. É imprescindível ter um bom manejo em sala de aula, não de destreza com os alunos, mas de domínio em diversas situações, principalmente as de conflitos. Saber entender cada aluno, não é tarefa fácil, mas não é impossível. E isto é feito e refeito pela maioria dos professores que unicamente por amor permanecem nesta profissão, pois como diz o próprio autor, Apesar da imoralidade dos seus salários estão, mesmo que às vezes titubeando, seguindo com o propósito inicial de suas profissões educar, depois aprender ao educar e consequentemente, na troca de experiências entre professor e aluno, atender ao progressismo educacional sem arrogância e com competência, com amor e sem aspereza, com respeito e afetividade, com qualificação e esforço, sem destreza e sem falta de preparo, com ética e treino, para que assim a educação no Brasil tenha a oportunidade de se elevar aos olhares e parâmetros cobrados pelo sistema. 8
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