PROVA DE AFERIÇÃO (RNE) MANHÃ. Deontologia Profissional (12 Valores) GRELHA DE CORREÇÃO
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- Gabriel Henrique Neves Barreiro
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1 Comissão Nacional de Avaliação PROVA DE AFERIÇÃO (RNE) MANHÃ Deontologia Profissional (12 Valores) GRELHA DE CORREÇÃO 2 de Dezembro de 2015
2 Ex.ma(o) Colega, considere as seguintes Hipóteses 1.Jorge, jovem Advogado, indicou para seu domicílio profissional o local da sua residência, onde vivia com a sua companheira Luísa, a quem patrocinava em ação judicial contra o ex-marido Mário. Algum tempo depois da sua inscrição como advogado resolveu aceitar o cargo de administrador sem regime de subordinação e sem exclusividade, no conselho de administração de uma empresa pública municipal dedicada à promoção e apoio, de forma duradoura e continuada, a projetos turísticos na região, área onde Jorge, pelos conhecimentos que já possuía, estava apostado em desenvolver paralelamente a sua carreira profissional como advogado, tendo até relações profissionais com a Open Space Lda., empresa do sector Analise e comente o projeto profissional alicerçado por Jorge procurando identificar as questões deontológicas que o mesmo suscita. (3,5 V) Tema Principal: Regime das incompatibilidades e impedimentos - O cargo aceite por Jorge gera a incompatibilidade prevista no artigo 82º n.º 1 j) do EOA (0,50 valores) e é inconciliável com os valores da isenção e independência exigíveis para o exercício da advocacia consignados nos n.ºs 1 e 2 do artigo 81º do EOA (0,50 valores), não ocorrendo no caso em concreto qualquer das exceções previstas n.ºs 3 e 4 do referido artigo 82º (0,50 valores). - Jorge, aceitando o cargo, teria por força dos artigos 91º d) e 188º n.º 1 d) do EOA de suspender de imediato o exercício da profissão e requerer no prazo máximo de 30 dias à Ordem dos Advogados a suspensão da sua inscrição dada a existência da incompatibilidade superveniente, (0,50 valores). Se o não fizesse, Jorge incorreria na prática de exercício irregular da profissão, nos termos dos artigos 87º e 121º nº1 (0,50 valores), com inerente responsabilidade disciplinar prevista no artigo 115º, todos do EOA (0,30 valores) - O projeto de Jorge, se fosse admissível, assentaria num propósito de angariação de clientela vedada pelo artigo 90º n.2 h) - (0,20 valores) e mesmo que Jorge viesse a renunciar ao cargo para poder advogar, sempre estaria impedido de extrair benefícios ou mover influências perante a entidade onde o desempenhou, por força do disposto n.º 2 do artigo 83º sob pena de indignidade profissional e violação de dever de integridade estabelecido no artigo 88º, tudo do EOA. (0,50 valores) 2
3 2. Jorge, entretanto, havia entrado em litígio com Luísa, de quem se separou, pelo que Luísa requereu o arrolamento dos bens existentes na casa de morada de ambos, onde Jorge guardava os seus documentos profissionais. Deferida a providência, do que Jorge não foi notificado, compareceram na sua residência um agente de execução e um louvado, sem qualquer outro acompanhante, para realizarem o decretado arrolamento. a) Colocando-se na posição de Jorge e analisando a situação, teria fundamento para se opor à diligência? (1,5V) Tema Principal: Regime do artigo 75º do EOA No caso concreto era na sua residência que Jorge fazia arquivo profissional pelo que o arrolamento teria de ser não só decretado mas também ser na sua execução presidido pelo Juiz (0,5 valores), devendo ainda ser observadas as demais notificações e convocações previstas nos n.ºs 2 e 3 do mesmo normativo, o que também, não foi efetuado (0,50 valores). Assim, Jorge poderia invocar a inobservância de tais formalidades essenciais para se opor ao início da diligência ou, caso esta mesmo assim se viesse a realizar, arguir a competente nulidade processual. (0,50 valores) b) Integrando os documentos profissionais referidos no enunciado meros apontamentos escritos de Jorge contendo informações recolhidas de Mário e Luísa em reuniões que com eles manteve com vista à harmonização do conflito tinham tais documentos a proteção do sigilo profissional? (2,5V) Tema Principal: Segredo Profissional artigos 76º e 92º do EOA Os documentos em causa estavam abrangidos pela obrigação de segredo profissional já que os factos que reportam foram conhecidos por Jorge no exercício e por causa do exercício da profissão de advogado - artigo 92º nº1 do EOA (0,50 valores), tendo sido revelados a Jorge pela sua cliente e ainda pela parte contrária no âmbito de negociações para acordo visando o termo do litígio artigo 92º n.º1 alínea a) e alínea e) do EOA (0,50 valores); o segredo profissional abrange também os documentos relacionados com tais factos artigo 92º n.º 3 (0,50 valores) e porque os apontamentos em questão continham informações transpostas a escrito sobre o objeto do mandato conferido a Jorge por Luísa, merecem ainda a proteção especial do artigo 76º n.º 3 do EOA, que proíbe expressamente a apreensão deste tipo de documentos. (1 valor) 3
4 c) Independentemente da resposta que der à questão anterior, como poderia Jorge preservar o segredo profissional perante a tentativa de apreensão de tais documentos no decurso do arrolamento que viesse validamente a realizar-se? (1V) Tema Principal: Segredo Profissional Reclamação do artigo 77º do EOA Jorge, estando presente na diligência, deveria apresentar a reclamação prevista no artigo 77º do EOA visando a proteção do segredo profissional de tais documentos, devendo o Juiz sobrestar na diligência em relação aos documentos submetidos a reclamação, acondicionando-os imediatamente em volume selado sem os ler e examinar, seguindo-se os ulteriores termos previstos nos n.ºs 3 e 4 da referida norma legal. (1 valor) 3.Agastado com a iniciativa de Luísa em promover o arrolamento de bens, Jorge decidiu renunciar ao mandato que Luísa lhe conferira e, limitando-se a avisá-la de que teria de encontrar novo Advogado para a patrocinar, desligou-se de imediato do processo, não tendo por isso comparecido numa audiência prévia para a qual havia sido notificado. - Como aprecia deontologicamente a atitude de Jorge? (2,5V) Tema Principal: Relações com os clientes - Jorge, tendo em consideração o litígio com Luísa, tinha justa causa para renunciar ao mandato que lhe conferira, já que era de supor que havia rompido a relação de confiança indispensável nas relações entre advogados e clientes artigo 97º n.º 1 (0,50 valores), podendo assim fazer cessar o patrocínio de Luísa artigo 100º, n.º 1 e) do EOA. (0,50 valores) - Contudo, mesmo tendo fundamento para a renúncia ao mandato, deveria ter respeitado o critério da oportunidade exigido pelo n.º 2 do mesmo artigo 100º do EOA (0,50 valores) e ter ainda em conta que, por força do artigo 47º n.º 2 do C. P. Civil, os efeitos da renúncia não operam de imediato mas apenas com a notificação ao mandante, devendo o mandatário assegurar o patrocínio enquanto não for substituído nos termos previstos na citada norma legal. (0,50 valores) - Não tendo agido em conformidade com estas regras, Jorge violou o dever de tratar com zelo e diligência a questão que lhe estava confiada, incumprindo com as suas responsabilidades como mandatário forense e, consequentemente, olvidando os seus deveres para a boa administração da Justiça (artigos 88º, 90º n.º 1 e 2. a) do EOA) incorrendo em responsabilidade disciplinar e até em eventual responsabilidade civil. (0,50 valores) 4
5 4.Jorge sendo advogado da sociedade Open Space Lda. acordou com ela que os seus honorários seriam fixados previamente pela percentagem de 10% sobre o valor processual e tributário das causas que viesse a patrocinar e em que a Open Space Lda. fosse parte. -É lícita a fixação de honorários nestes termos? (1V) É lícita porque nos termos do artigo 106º n.º 3 do EOA, não constitui pacto de quota litis o acordo que consista na fixação prévia do valor dos honorários, mesmo que em percentagem, em função do valor do assunto confiado, o que é o caso, porquanto o valor processual e tributário serve de critério razoável para a fixação prévia e fixa do valor do assunto confiado, não ficando os honorários dependentes do resultado a obter. (1 valor) 5
6 Comissão Nacional de Avaliação PROVA DE AFERIÇÃO (RNE) TARDE Informática Jurídica (8 Valores) GRELHA DE CORRECÇÃO 2 de Dezembro de 2015
7 1-Manuel Afonso intentou uma ação com processo comum, emergente de contrato de trabalho, contra a empresa XP Tecnologias e Sistemas, SA, na qual pediu a declaração de nulidade do seu despedimento, com a respetiva condenação à reintegração, ao pagamento de salários vencidos e vincendos, uma indemnização por danos não patrimoniais e juros vencidos e vincendos, até ao integral e efetivo pagamento. Após a audiência de julgamento foi proferida Sentença, que julgou o despedimento ilícito, por ausência de justa causa, mas justificado o incidente de oposição à reintegração, deduzido pela Ré, condenando esta em conformidade. Inconformada a Ré interpôs Recurso de Apelação, para o Tribunal da Relação, que foi julgado totalmente procedente, absolvendo-a do pedido, Acórdão este que foi notificado no dia 2 de Outubro de Considerando o disposto no DL 150/2014, de 13 de Outubro (nomeadamente nos artigos 2.º, 3.º e 5.º), aplicável à prática de atos processuais enquanto se manteve a situação de excecionalidade provocada pelas dificuldades técnicas que afetaram o sistema informático de suporte à atividade dos Tribunais (CITIUS), o Autor não interpôs o Recurso no prazo fixado no Código de Processo de Trabalho, uma vez que o artigo 5.º do supra mencionado DL determinava a suspensão do prazo, enquanto se mantivessem aquelas dificuldades técnicas. - Explique fundamentadamente se o Autor procedeu corretamente. O Recurso foi tempestivo? (2V) Não, o Autor não procedeu corretamente, uma vez que o DL 150/2014, de 13 de Outubro, que clarificou o regime aplicável à prática de atos processuais enquanto se manteve a situação de constrangimentos técnicos no CITIUS só é aplicável aos Tribunais de 1.ª Instância (0,5 Valores), que são os Tribunais que em regra utilizam o CITIUS, não sendo aplicável aos Tribunais Superiores (0,5 Valores), pelo que inexistiam quaisquer constrangimentos que impedissem a prática do ato (0,2 Valores). Portanto, ao não cumprir o prazo previsto no CPT o Autor interpôs um Recurso extemporâneo (0,3 Valores), salvo caso ainda o tenha feito dentro dos 3 dias previstos no art.º 139.º. n.º 5, do CPC, após a data de realização da notificação (0,5 Valores). 2- JK Comunicações e Informática, Lda., sediada em Santarém, instaurou ação de processo comum contra GNP Consultadoria, Lda., sediada em Lisboa, na qual pediu o pagamento de serviços encomendados por esta e prestados por aquela, que se consubstanciavam no desenvolvimento de uma aplicação informática. Na sua Contestação a Ré deduziu uma exceção perentória alegando sucintamente que o programa em causa era inapto para a finalidade a que se destinava, que não efetuava corretamente as tarefas para as quais deveria ter sido desenvolvido, além de ter impugnado todos os factos constitutivos do direito invocado pela Autora. Após Audiência de Julgamento, o Tribunal julgou improcedente a ação, por não provada. Inconformada, a Autora apelou para o Tribunal da Relação, tendo posteriormente a Recorrida apresentado as suas Contra-Alegações. Contudo, a Recorrente veio aos autos alegar a extemporaneidade do ato, uma vez que o Advogado da Recorrida teria aberto a notificação, e tomado conhecimento da mesma, no próprio dia em que a mesma foi elaborada, ilidindo, desta forma, a presunção do art.º 248.º do CPC. - Que presunções estabelece a Lei nesta matéria? São ilidíveis? Em caso afirmativo, em que circunstâncias? (1,8V) O artigo 248.º do CPC consagra duas presunções (0,2 Valores): (1) que a notificação efetuada por transmissão eletrónica de dados via CITIUS presume-se realizada na data da expedição (0,2 Valores) e (2) que a expedição presume-se efetuada no terceiro dia posterior ao da elaboração da notificação (0,2 Valores), ou no primeiro dia
8 útil seguinte a esse, quando não o seja (0,1 Valores). Contudo, esta presunção só pode ser ilidida pelo próprio Mandatário notificado (0,7 Valores), provando que a notificação não foi realizada ou que ocorreu em data posterior, por motivo que não lhe é imputável (0,2 Valores), ilição que só poderá ser realizada para o alargamento do prazo (0,2 Valores) 3- Ricardo Sanches, através do seu Advogado, instaurou, através do sistema informático de suporte à atividade dos Tribunais, uma ação em processo comum, na Instância Central - Secção Cível, em Penafiel, do Tribunal Judicial da Comarca de Porto Este, contra Isabel Silva. - O Autor deverá apresentar os documentos originais, duplicados e cópias do mesmo modo? (1,3V) A apresentação de peças processuais e documentos por via eletrónica dispensa a remessa dos originais, duplicados e cópias -art.º 4.º, n.º 1 da Port. n.º 280/2013, de (0,3 Valores). Porém, podem ser entregues em suporte físico os documentos cujo respetivo suporte não seja em papel, ou o papel tenha uma espessura superior a 127 g/m2 ou inferior a 50 g/m2 -art.º 6.º, n.º 5, alínea a), da mencionada Portaria- (0,2 Valores), ou então encontrem-se em formatos superiores a A4 -alínea b) do mesmo artigo- (0,2 Valores). Quando a parte pretenda que um documento seja submetido a perícia à letra ou assinatura poderá entregar inicialmente por via eletrónica mas deverá apresentar original para que seja realizada a referida diligência - art.º 4.º, n.º 2, alínea b) da supra mencionada Portaria- (0,3 Valores), da mesma forma que quando existam dúvidas sobre a autenticidade ou genuinidade dos documentos apresentados -alínea a) do artigo acima mencionado- situação na qual deverá ser junto o original (0,3 Valores) 4- No sistema de informação dos Tribunais Administrativos e Fiscais, as partes que apresentarem documentos por via eletrónica ficam dispensadas de enviarem ao tribunal o suporte em papel ou cópias? Como são efetuadas as consultas dos processos no âmbito da jurisdição administrativa? (1,7V) A parte que apresentar os documentos por via eletrónica fica dispensada de remeter ao Tribunal os documentos em suporte papel e as respetivas cópias -art.º 3.º, n.º 2, da Port /2003, de (0,3 Valores), salvo quando o total de cópias exceda as 100 páginas -art.º 3.º, n.º 2, da Port /2003, de (0,6 Valores). Em regra a consulta é efetuada em terminal informático disponível nas secretarias judiciais, ou no endereço (0,2 Valores), para quem disponha de assinatura eletrónica qualificada (0,2
9 Valores), exceto quando existam peças processuais e documentos não digitalizados, situação na qual o processo deve ser consultado na secretaria judicial (0,4 Valores). 5- No processo referido na segunda pergunta deste enunciado, a Autora juntou aos autos documentos entregues em suporte físico. Depois desta junção, como deverá proceder a Autora? (0,8V) A Autora deverá notificar a contraparte dos documentos entregues em suporte físico no prazo máximo de 5 dias -art.º 26.º, n.º 3, da Port. n.º 280/2013, de (0,4 Valores). Esta notificação deverá ser realizada de qualquer uma das outras formas legalmente admissíveis -art.º 144.º, n.º 7, do CPC- (0,4 Valores). 6- Qual é o endereço eletrónico do sítio de publicações de pessoas e empresas insolventes? (0,4V) O endereço do sítio é (0,4 Valores).
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