OS VOOS SECRETOS E A TORTURA NAS PRISÕES DA CIA
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- Vanessa Andreia Bicalho Conceição
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1 2006/05/04 OS VOOS SECRETOS E A TORTURA NAS PRISÕES DA CIA O presidente George W. Bush não pensa duas vezes quando o assunto é a imposição da democracia nos chamados países fracassados. Raros são aqueles que percebem nessa manobra, a imposição de um sistema político que permite aos Estados Unidos, fazer valer seus caprichos. A democracia acentuada pelos falcões nada mais é que uma ditadura disfarçada. Os Estados Unidos estão entre os países que mais violam os direitos humanos e a soberania das nações no mundo. Recentemente, a Amnistia Internacional tornou público o seu relatório em que acusa Washington de desacato à lei internacional. Além disso, a administração Bush viola de forma contundente os direitos dos povos, ao considerar árabes e muçulmanos como suspeitos permanentes de pertencerem à rede terrorista Al-Qaeda e a outras organizações terroristas. No documento intitulado "Voos Secretos à Tortura e ao Desaparecimento," é uma pequena demonstração de como funcionam as redes de prisões secretas mantidas pela inteligência militar da Agência Central de Inteligência (CIA) mundo afora. Um homem preso pelos norte-americanos no Afeganistão, suspeito de pertencer a Al-Qaeda, se recusou a cooperar com os Estados Unidos e como represália, foi enviado da prisão de Guantánamo, em Cuba, para o Egipto, onde teve as unhas arrancadas por torturadores da CIA. O relatório cita também o testemunho de três cidadãos do Iémen capturados e examinados fora desse país por agentes norte-americanos. Durante 18 meses, foram sujeitados a interrogatório "resistente" e transportados de uma prisão secreta para outra. Em consequência, "visitaram" Djibuti, Afeganistão e "algum lugar da Europa oriental" (que se julga pela distância dos vôos e de alguns outros detalhes, poderia ter sido Eslováquia, Roménia, Bulgária, Bósnia e Herzegovina, Albânia ou Turquia). Depois que os investigadores compreenderam que não poderiam arrancar-lhes nenhuma informação valiosa, puseram-nos num voo regular e enviaram-nos de volta para casa, sem que nada fosse dito. Os presos sequer foram informados das razões que os levaram a esse tour dos horrores, num exemplo de flagrante desrespeito as normas internacionais. No entanto, esses cidadãos retornaram com vida às suas casas, o que é uma excepção em se tratando das práticas cometidas pelos serviços secretos dos Estados Unidos, onde a maioria dos suspeitos presos foi torturada e simplesmente desapareceram, sem deixar rastro algum. Ninguém sabe onde estão ou o que lhes aconteceu. Um cidadão alemão de origem síria foi sequestrado, segundo seus parentes, em Casablanca, no Marrocos, em Outubro de Ele chegou a ser visto numa prisão subterrânea secreta na Síria, mas seus vestígios foram perdidos. Segundo a Amnistia Internacional, já foram realizados aproximadamente mil voos secretos da CIA, a partir de um Boeing-737 e três pela chamada "Corrente do Golfo", realizados por linhas aéreas confidenciais dos Estados Unidos. Os principais pontos do trânsito "das prisões de voo" são Alemanha, Reino Unido, Irlanda e Portugal, e os pontos de destino: Afeganistão, Iraque, Egipto, Síria, Jordânia, Líbia, Marrocos, Uzbequistão, República Checa e Chipre. Também foram registrados voos para o Azerbeijão, Estónia e um que desceu em Moscovo. Apesar disso, a reacção oficial da administração norte-americana e dos oficiais superiores da CIA a todas essas exposições era de silêncio absoluto ou negação, geralmente expressado na maior parte pela Secretária de Estado Condoleezza Rice. Entretanto, parlamentares europeus e activistas dos direitos humanos mantiveram-se escavando informações. No Parlamento Europeu, foi criada uma Comissão para investigar as denúncias e acusações, quando se encontrou o fio-da-meada. Diante dos fatos, não restou ao director da Inteligência norte-americana, John Negroponte, outro caminho senão reconhecer publicamente a existência das prisões secretas da CIA. E foi além, ao
2 afirmar que três dúzias de militantes perigosos da Al-Qaeda e outros suspeitos estavam detidos naquelas prisões. "Estes povos estão sendo presos. E são actores maus. E enquanto esta situação continuar, a guerra do terror vai continuar. Não estou certo de poder dizer-lhes qual será a disposição final daqueles detidos", afirmou taxativo. O chefe da espionagem dos Estados Unidos afirmou também que os serviços secretos norte-americanos consolidaram sua força "para assegurar a segurança do mundo". Negroponte mencionou que os Estados Unidos tentariam ajustar a cooperação com os serviços secretos de outros Estados, incluindo a China, como forma de diminuir as pressões sobre a administração Bush. O que não está claro é se o director da Inteligência Nacional dos Estados Unidos tinha em mente a ideia de usar territórios de outros países convenientes para transformálos em calabouços secretos para torturas aos "inimigos da América". As revelações de Negroponte não representam uma surpresa para os especialistas. A maioria deles sabia que "as prisões secretas da CIA" não era fruto de fantasia dos jornalistas. Seguramente, as actividades secretas da CIA não eram realizadas sem o conhecimento e o consentimento dos demais serviços secretos dos Estados Unidos. As últimas revelações de Negroponte provam que, para os Estados Unidos, "tudo é considerável na guerra do terrorismo internacional". Neste contexto, todas as garantias têm sido dadas à administração de Bush, inclusive quanto à condenação do uso da tortura, que não passou de um gesto isolado aqui e ali, marcados sobretudo, pela timidez. Não é de se admirar que por muito tempo Washington venha sendo acusado de praticar dois pesos e duas medidas no cenário internacional, enquanto critica duramente outros países por "violações brutais aos direitos humanos", o que parece especialmente cínico. [1] Editor do InfoRel (Página de Notícia e Informação em Relações Internacionais no Brasil) 96 TEXTOS RELACIONADOS: 2012/07/27 O TERRORISMO JIHADISTA NA EUROPA: ALGUMAS TENDÊNCIAS SOBRE RADICALIZAÇÃO E RECRUTAMENTO[1] Francisco Jorge Gonçalves[2] 2011/12/07 AFRICOM, UM OLHAR MAIS ABRANGENTE SOBRE ÁFRICA Pedro Barge Cunha[1] 2011/07/07 A RETIRADA AMERICANA DO AFEGANISTÃO 2011/05/29 O DISCURSO DE OBAMA E O M ÉDIO ORIENTE 2011/05/11 A MORTE DE BIN LADEN E O FUTURO DA AL QAEDA 2010/12/12 AINDA OS BLINDADOS E O PORQUÊ DAS COISAS João José Brandão Ferreira 2010/07/09 A INTERVENÇÃO MILITAR DA OTAN NA JUGOSLÁVIA[1] Carlos Ruiz Ferreira[2] (Brasil) 2009/08/16 OS EUA E AS RELAÇÕES RUSSO-IRANIANAS 2009/08/01 IRÃO, UMA CRISE NÃO RESOLVIDA 2009/07/15
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