Relatório de Caracterização Sumária
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- Isaac Meneses Vilanova
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1 Plano de Intervenção Imediata Relatório de Caracterização Sumária Instituições de Acolhimento 2006 Agosto de 2007
2 FICHA TÉCNICA TÍTULO Relatório de Caracterização Sumária das Instituições de Acolhimento e Acolhimento Familiar AUTORIA DO RELATÓRIO Equipa de Projecto para a Adopção e Acolhimento, Departamento de Desenvolvimento Social, Área de Infância de Juventude do ISS, I.P Sandra Alves Vasco Oliveira EQUIPA TÉCNICA RESPONSÁVEL PELA GESTÃO E TRATAMENTO DOS DADOS Carlos Woodcock Instituto de Informática, I.P. Filipa Alvarenga Área de Investigação e Conhecimento ISS,I.P. Sandra Alves Vasco Oliveira EXECUÇÃO DO PII 2006: Casa Pia de Lisboa Centros Distritais de Segurança Social do Centro de Segurança Social da Madeira Instituto de Acção Social dos Açores Santa Casa da Misericórdia de Lisboa Lisboa, Agosto
3 Índice Introdução 4 01 Escalões Etários Distribuição geográfica 7 02 Género 8 03 Capacidade 8 04 Lotação 9 05 Equipa Técnica Relação Instituição - Gestor de caso Regime de visitas Garantia do direito de visitas Frequência das visitas 14 3
4 Introdução O presente relatório surge integrado no âmbito da recolha realizada através do Plano de Intervenção Imediata de 2006, onde pela primeira vez se procedeu à caracterização sumária das instituições de acolhimento. Ou seja, para além de caracterizar a situação e os projectos de vida das crianças e jovens acolhidas, estuda o contexto institucional onde as mesmas se inserem, tendo abrangido 354 instituições 230 Lares de Infância e Juventude, 94 Centros de Acolhimento Temporário, 3 Centros de Acolhimento de Emergência, 3 Apartamentos de Autonomização, 7 Centros de Apoio à Vida e 17 Lares Residenciais. 4
5 Siglas CAT LIJ CAE CAV Centro de Acolhimento Temporário Lar de Infância e Juventude Casa de Acolhimento de Emergência Centro de Apoio à Vida 5
6 01 Escalões Etários anos 0-12 anos 0-21 anos 6-12 anos 6-18 anos anos anos 0-18 anos Outras Gráfico 1: Escalões etários a que as instituições dão resposta (Nº) N=354 Caracterizando o panorama institucional, em termos dos escalões etários que acolhem, verifica-se que predominam as instituições que acolhem crianças e jovens entre os 0 e os 18 anos de idade (31%), fazendo prever uma tipologia de intervenção mais heterogénea, dirigida a vários grupos etários, que coabitam o mesmo espaço físico, e respectivas características de desenvolvimento inerentes. Igualmente relevante é o número de instituições direccionadas para o acolhimento de crianças entre os 0 e os 12 anos de idade. 6
7 01.1 Distribuição geográfica Analisemos, agora, a distribuição geográfica das instituições, pelo seu perfil em termos dos escalões etários que acolhem (3) VIANA do CASTELO 0-18 (21) BRAGA BRAGANÇA 0-18 (5) VILA REAL 0-18 (7) PORTO 0-12 (4) AVEIRO 6-18 (5) VISEU GUARDA 0-12 (4) 0-18 (12) COIMBRA 0-18 (4) 0-18 (13) 6-18 (13) 0-18 (25) 0-12 (14) 6-12 (8) (13) LEIRIA SANTARÉM LISBOA SETÚBAL CASTELO BRANCO PORTALEGRE 0-12 (6) 0-18 (8) (4) 0-18 (4) (4) 0-18 (6) ÉVORA 0-12 (11) (4) 0-18 (4) BEJA Legenda: 0-12 (2) 6-18 (2) x-y (zz) FARO 0-12 (5) Faixa Etária de acolhimento Nº Instituições De referir que apenas estão representadas, em cada região, os perfis institucionais predominantes, ou seja, o maior número de instituições em cada região, que acolhe 1 Não se inclui nesta análise regional, as instituições do distrito do Porto, uma vez não terem as mesmas sido abrangidas, em tempo, no processo de caracterização institucional do PII
8 determinado escalão etário (ex. em Faro, predominam as instituições que acolhem crianças até aos 12 anos). Será interessante verificar, por exemplo, que existe uma cobertura nacional mais ou menos homogénea de instituições que acolhem jovens até aos 18 anos, o que não será coerente com a dificuldade manifesta de encontro de vaga para acolhimento de jovens a partir dos 12 / 13 anos. 02 Género Misto Feminino Masculino Gráfico 2: Géneros a que as instituições de acolhimento dão resposta (Nº) N=354 Tal como nos escalões etários, também no género que acolhem, as instituições são bastante abrangentes, sendo predominantes as que se dirigem a crianças e jovens de ambos os sexos (55%). 03 Capacidade a a a a a a 100 mais 100 Gráfico 3: Capacidade das instituições de acolhimento (Nº) N=354 8
9 Da análise do gráfico acima, verifica-se que o panorama institucional actual já não é dominado pelas grandes instituições de acolhimento, que albergam várias dezenas de crianças. Aliás, 56% das instituições são de pequena dimensão, destinando-se ao acolhimento de 20 crianças, no máximo e apenas 9% das instituições acolhem mais de 50 crianças. Poderá significar, então, que caminhamos no sentido da humanização e individualização do acolhimento de crianças e jovens e no sentido do cumprimento do princípio ético e legal de conferir às instituições de acolhimento um ambiente e funcionamento, o mais próximo possível da família. 04 Lotação Vagas disponíveis (nº instituições) 1 5 vagas vagas vagas 6 Ocupação total (nº instituições) 140 Sobrelotação (nº instituições) 1 4 crianças crianças crianças 31 Cerca de metade das instituições de acolhimento (43%) encontra-se em situação de sobrelotação, acolhendo mais crianças do que a sua capacidade permite, vendo constrangidas, por isso, as devidas e necessárias condições de acolhimento e de tratamento individualizado às crianças. No entanto, e ao contrário daquilo que é geralmente veiculado devido às dificuldades de encontro de vaga de acolhimento, 18% das instituições têm vagas disponíveis, sendo que 5% tem mais de 6 camas disponíveis. 9
10 05 Equipa Técnica Artigo nº 54, nº 1, Lei nº 147/99 de 1 de Setembro: As instituições de acolhimento dispõem necessariamente de uma equipa técnica, a quem cabe o diagnóstico da situação da criança ou do jovem acolhidos e a definição e execução do seu projecto de promoção e protecção C/Equipa Técnica S/Equipa Técnica CAT LIJ CAE CAV Ap.Autonomização Lar Residencial Gráfico 4: Recursos técnicos por resposta de acolhimento (nº) Apesar da maioria das respostas de acolhimento darem cumprimento ao disposto legal, relativamente à existência de Técnicos especializados nos seus quadros, 29% das instituições não dispõem de Equipa Técnica, sendo que um número considerável diz respeito a Lares de Infância e Juventude. 06 Relação Instituição - Gestor de caso CAT LIJ CAE CAV Ap.Autonomização Lar Residencial Gráfico 5: Respostas sociais com prática de reuniões regulares com o gestor de caso (%) 10
11 O gestor caso é entendido como o técnico responsável pela identificação, dinamização e articulação de todos os recursos humanos, materiais e logísticos que cada caso exige, assumindo uma actuação directa junto das situações ou indirecta, quando à data da sua entrada em acção, já existe intervenção a ser desenvolvida por outra Equipa / Serviço. Faz, igualmente, o reporte de todas as informações recolhidas e intervenções sectoriais desenvolvidas, junto do Tribunal ou da CPCJ. Pode assumir este papel, o técnico da CPCJ, da EMAT ou de outra entidade (por exemplo, a instituição de acolhimento onde a criança está acolhida), caso o Tribunal assim o designe, como responsável pelo acompanhamento da execução da medida de promoção e protecção aplicada. De acordo com o gráfico acima, a quase totalidade das instituições assume como prática corrente a realização de reuniões regulares com o gestor de caso. Cruzemos, agora, esta prática com frequência com que a mesma ocorre: CAT: 16% dos CAT têm estas reuniões com uma frequência igual ou inferior a mensal; 80% realizam estas reuniões sempre que necessário, não assumindo uma frequência pré-definida. LIJ: 16% dos LIJ têm estas reuniões com uma frequência igual ou inferior a mensal; 67% realizam estas reuniões sempre que necessário, não assumindo uma frequência pré-definida. 11
12 07 Regime de visitas A manutenção de um regime de visitas pela instituição, que permita o contacto entre a criança e a sua família apresenta várias vantagens (Child Welfare Manual, 2006): 01 As visitas permitem a manutenção de relações familiares e afectivas essenciais: Proporciona aos membros da família a oportunidade de interagirem e experimentarem momentos em conjunto; Possibilita a manutenção dos laços afectivos e familiares entre as fratrias, quando acolhidas separadamente; Possibilita aos pais que constatem que a sua criança se encontra em segurança e a receber os cuidados adequados; Ajuda os pais a manterem-se sempre a par das aquisições de desenvolvimento das crianças; Ajuda a preparar a criança e a família para a reunificação familiar e para outro Projecto de Vida; Ajuda os pais a manterem a criança viva na sua cabeça. 02 As visitas promovem o bem-estar da criança em acolhimento Assegura à criança que a família quer continuar a vê-la e que não a abandonou; Ajuda a criança a trabalhar e ultrapassar os sentimentos desencadeados pela separação, em vez de permitir que aumentem e ganhem relevo. 03 As visitas desenvolvem a capacitação dos pais Assegura aos pais a oportunidade de continuarem a supervisionar os seus filhos e a tomarem decisões em relação aos mesmos durante o acolhimento; Permite que os pais continuem a assumir o seu papel e responsabilidades parentais; Aumenta a participação da família na identificação dos problemas (fase de diagnóstico) e no planeamento da intervenção, para que, dessa forma, definam e entendam a suas potencialidades e fragilidades como pais. 04 As visitas ajudam os membros da família a encararem a realidade Previne que a criança fantasie sobre os pais / família que nunca vê de forma excessivamente idealizada ou excessivamente negativa; Ajuda os pais a perceberem as suas próprias ambivalências quanto ao seu papel de pais de uma forma geral, ou em relação àquela criança em específico; Ajuda os pais e a criança e enfrentarem a vontade e / ou capacidade para fazerem as mudanças necessárias para criarem um ambiente seguro para o reintegração da criança e vontade e capacidade da criança para voltar a viver com os pais. 12
13 05 As visitas criam oportunidades para aprender, praticar e demonstrar novos comportamentos e padrões de interacção: Servir como momentos de contribuição para a melhoria das funções parentais, possibilitando aos técnicos intervir sobre formas de desenvolver respostas mais adequadas aos comportamentos ou sentimentos da criança/jovem; 06 As visitas facilitam o acompanhamento e avaliação da família Permite a observação dos membros da família. Mais do que avaliar a utilização dos serviços pela família, torna possível avaliar os progressos e as dificuldades que a mesma apresenta. Efectivamente, é essencial que a tomada de decisão no sentido da reunificação familiar seja sustentada na avaliação da mudança dos comportamentos da família, directamente indutores do acolhimento e não tanto do seu grau de cumprimento em relação aos serviços. A observação directa das visitas fornece informação relativa aos problemas da família que devem ser prioritariamente resolvidos antes da reunificação, às mudanças que os membros da família estão a fazer e aos sentimentos que experimentam quando estão juntos. 07 Quando o objectivo da intervenção não é a reunificação familiar, ajuda os membros da família a lidar com a mudança ou com o fim da relação Ajuda a criança a compreender as razões pelas quais não poderá regressar a casa, o tipo de relacionamento familiar que será possível manter no futuro e as formas pelas quais poderá manter a ligação com diferentes membros da família; Oferece a possibilidade aos membros da família de experimentarem e exprimirem sentimentos sobre as mudanças ocorridas nas relações familiares, contribuindo para o processo de perda e reparação da mesma. Oferece à criança a possibilidade de manter a relação com a família, como suporte à sua vida adulta. Tendo em consideração os pressupostos acima enunciados, procedeu-se à análise dos dados recolhidos junto das instituições de acolhimento relativamente ao seu regime de visitas, que agora se apresenta. 13
14 07.1 Garantia do direito de visitas Sim Não CAT LIJ CAE CAV Ap.Autonomização Lar Residencial Gráfico 6: Permissão de visitas da criança à família, por resposta de acolhimento (Nº) N=354 Apesar de ser uma prática francamente adoptada pela maioria das instituições, foram identificadas delas, CAT que não permitem a realização de visitas da criança na família. Esta restrição indiscriminada, sem estar relacionada com as precauções ou exigências judiciais de algumas crianças em particular, revela alguma estranheza quanto ao tipo de proximidade que é permitida à família e criança e sobre o tipo de intervenção com vista à reunificação que poderá ser feito nestas instituições. No que diz respeito à permissão de visitas na instituição, verificou-se que todas as respostas de acolhimento permitem a sua ocorrência Frequência das visitas Artigo nº 53, nº 3, Lei nº 147/99 de 1 de Setembro: os pais, os representantes legais ou os detentores da guarda de facto, podem visitar a criança ou o jovem, de acordo com os horários e as regras de funcionamento da instituição, salvo decisão judicial em contrário. Nunca as regras de funcionamento da instituição deverão constituir um obstáculo à manutenção de relações saudáveis e espontâneas da criança com a sua família, adultos e pares de referência. 14
15 Como em qualquer casa, as regras deverão existir, no entanto, essas mesmas regras devem ser delineadas em função das necessidades de socialização, de identidade e estabilidade emocional das crianças acolhidas e não com o fim último de manutenção do equilíbrio e organização institucionais. A análise que se segue tem em consideração estes pressupostos legais e organizacionais CAT LIJ CAE CAV Ap.Autonomização Lar Residencial Gráfico 7: Instituições que estabelecem limite de frequência de visitas (Nº) CAT LIJ CAE CAV Ap.Autonomização Lar Residencial Gráfico 8: Instituições que estabelecem dias pré-definidos de visitas (Nº) Conforme se constata nos gráficos acima, um número considerável de instituições estabelece um limite à frequência de visitas à criança, seja no espaço da instituição, seja na família. Por exemplo 52% dos LIJ assumem essa prática, bem como 46% dos CAT. Esta tendência só é contrariada pelos Lares Residenciais, onde apenas 12% assumem esta prática institucional. Por outro lado, a maioria das instituições estabelece dias pré-definidos para a ocorrência das visitas. Quer isto dizer que na sua estrutura organizacional, estas instituições consideram que a visita não poderá surgir espontaneamente, de acordo com a vontade e motivação da família (ou de outras pessoas de referência para a criança). Paralelamente, esta limitação poderá significar uma representação estigmatizada em 15
16 relação à família, que não é vista como parceira no processo de intervenção para a definição do seu projecto de vida. Se compararmos os dados relativos aos Lares Residenciais com as instituições de acolhimento mais vocacionadas para a promoção e protecção, é possível constatar que, em relação aos primeiros, a situação de deficiência não suscita um tão grande antagonismo em relação à família, como parece acontecer em relação às crianças em situação de perigo, às quais se associa uma família maltratante e que, de algum modo, se considera dever ser mantida a uma certa distância da criança. É claro que em algumas situações, poderá ser mesmo aconselhável (existindo por vezes limitações determinadas judicialmente) o afastamento da família, por razões que tenham a ver com a protecção de perigo. No entanto, tal é manifestamente diferente de uma prática instituída que não olha à especificidade dos casos, nem a uma garantia do direito a manter e desenvolver a relação com a família. Mesmo que as instituições considerem que o seu papel é fundamentalmente intervir junto da criança, ao limitarem a relação com a família estão também a limitar os direitos da criança, pois que está mais que provada a importância para a identidade da criança de manter e de desenvolver a sua ligação à família. De entre as instituições que estabelecem limites à frequência das visitas, existem graus diferentes de limitação, que poderão ser mais ou menos indutores do afastamento dos familiares e pessoas de referência da criança: LIJ: 38% só permitem visitas na instituição 1 vez por semana e 9% só permitem com frequência igual ou superior a 15 dias; 29% só permitem visitas da criança à família 1 vez por semana e 12% só permitem com frequência igual ou superior a 15 dias. CAT: 41% só permitem visitas na instituição 1 vez por semana e 3% só permitem com frequência igual ou superior a 15 dias; 16% só permitem visitas da criança à família 1 vez por semana e 4% só permitem com frequência igual ou superior a 15 dias. 16
17 Sim Não CAT LIJ CAE CAV Ap. Autonomização Lar Residencial Gráfico 9: Instituições que estabelecem horário pré-definido de visita (Nº) Observando o gráfico acima, é possível concluir que uma percentagem significativa das instituições estabelecem limitações aos horários de visita. No entanto, esta tendência não é tão acentuada como nos outros tipos de limitação. Os CAT são as instituições que maiores limitações impõem 76% do total tem esta prática prédefinida Até 1 mês 1-3 meses CAT LIJ CAE CAV Lar Residencial Gráfico 10: Instituições que impedem visitas no período inicial de acolhimento e duração do impedimento (Nº) Qualquer prática institucional reflecte o modo como as instituições pensam e sentem a realidade da criança acolhida e da sua família. Pelo gráfico que se apresenta, constata-se que ainda existe uma quantidade significativa de instituições que impedem o contacto presencial entre a família e a criança acolhida durante, maioritariamente, o primeiro mês de acolhimento. Crê-se que esta prática é justificada pela necessidade de dar estabilidade à criança, de facilitar a sua integração na instituição de acolhimento. No entanto, representa não só uma limitação do direito da criança e da família, mas como também poderá traduzir uma dificuldade em percepcionar a realidade da criança acolhida. 17
18 Se atentarmos aquilo que uma criança ou jovem poderá sentir ao ser acolhida, que tipo de sentimentos e receios poderão normalmente surgir? Que expectativas terá uma criança que vai para um local desconhecido e que tem de deixar a sua família? Entre outras questões que se lhe podem colocar, de certo iremos encontrar como preocupação central o medo de perder a ligação à família. Tal como sabemos, a criança frequentemente nem tem a noção exacta de que se encontrava em situação de perigo, portanto muitas vezes nem encontrará uma razão para o seu afastamento da família. Mesmo quando tem alguma consciência da situação de perigo, e que por um lado até deseje ter a oportunidade de crescer num ambiente diferente, as pessoas com quem vivia anteriormente (a família, outras pessoas com relação afectiva), continuam a fazer parte do seu sentido de identidade, por muito maltratantes que possam ter sido, uma vez que a criança se vincula a quem está próximo dela, independentemente da qualidade dos seus cuidados. Ao privar-se, logo de início, o contacto com a família, precipita-se na criança um sentimento de abandono, uma vez que também a instituição não se pode oferecer como referência num tão curto espaço de tempo. Tal tem também a implicação que a instituição procura substituir-se à família, forçando uma identificação e a uma conformação a um modelo de funcionamento, dando um sinal de que passa a depender unicamente da instituição o sucesso de um percurso de crescimento pessoal da criança. Por outro lado, ao tentar que a adaptação da criança à instituição melhore pela exclusão da família, poderá acontecer exactamente o oposto a médio ou longo prazo, uma vez se priva a criança de uma parte daquilo que ela é (a sua família), sendo natural que esta não sinta confiança em quem lhe impede o acesso a algo que para ela é essencial. Existe uma grande diferença entre acomodação e aceitação - a criança até pode corresponder no sentido de se adaptar ao funcionamento da instituição, mas no fundo terá, no mínimo, um sentimento ambivalente em relação aos seus prestadores de cuidados, quando o que se procura é exactamente que, no período de acolhimento, se possam reparar mazelas relacionais, possibilitando-se a identificação a modelos saudáveis de sentir a relação com os outros. Por outro lado, a relação de confiança com a família poderá igualmente ficar comprometida, uma vez que ao não se permitir sequer que conheça desde logo quem vai cuidar do seu filho, bem como o próprio local em que vai residir, é imposto um distanciamento que poderá vir a resultar no seu afastamento espontâneo, compreensível à luz de uma relação que não é alimentada pela própria instituição. 18
19 O movimento deverá ser o oposto, mesmo que a família não compareça espontaneamente na instituição, a instituição deve chamá-la, deve procurar envolvêla logo desde o início, por isso corresponder a uma necessidade da criança como atrás referimos, mas também porque a instituição tem um papel fundamental na sua reabilitação, o que se encontra espelhado nos princípios orientadores da Lei 147/99 ao preconizar-se a prevalência da família e a responsabilidade parental. Ora, nem uma coisa nem outra cessa com a entrada da criança na instituição. Fica comprometida igualmente qualquer tentativa de definição de um plano de intervenção que sustente um projecto de vida de reintegração na família (nuclear ou alargada), pois não é induzida a possibilidade desta demonstrar e assumir as suas competências e responsabilidades perante a criança. Desconhecem-se igualmente as suas fragilidades, superáveis ou insuperáveis, sendo que estas últimas poderão vir a sustentar com segurança a possibilidade de delinear outro Projecto de Vida alternativos, nomeadamente o da adopção. Impedimento de visitas de pessoas sem grau de parentesco na instituição Impedimento de visitas a pessoas sem grau de parentesco CAT LIJ 33% 16% 55% 30% Para além do direito de manutenção dos contactos da criança / jovem acolhida com os seus familiares, também é fundamental que a mesma mantenha ou estabeleça relações com outras pessoas que para ela poderão constituir uma referência: pares ou adultos. Para muitas crianças, inclusive, o seu círculo de relações poderá ser exclusivamente constituído por pessoas com as quais não tem grau de parentesco. É neste pressuposto que se sustenta um processo de desenvolvimento e de socialização saudável e equilibrado, rico em relacionamentos e experiências diversificadas: com os pares amigos e colegas que não têm que ser obrigatoriamente os seus pares de acolhimento e com quem a criança dá seguimento às relações que estabelece na comunidade e na escola; com adultos com quem já se relacionava antes do acolhimento ou ligações que estabeleceu após o acolhimento que não têm que ser exclusivamente os seus prestadores de cuidados na instituição ou pessoas que com quem tem laços de sangue. 19
20 O quadro acima, revela, todavia, que um número bastante considerável de instituições não consideram estes pressupostos como fundamentais, restringindo o número de natureza de relações e ligações da criança ao exterior. Esta postura de impedimento é tanto mais agravada, quanto se trate de visitas de da criança a casa dessas pessoas de referência, fora do espaço da instituição. Relativamente aos CAT, considera-se que uma das suas principais missões é efectuar ou aprofundar um diagnóstico da situação da criança. Para que exista um diagnóstico completo, é necessário avaliar não só o tipo de relação existente entre a criança e a sua família, mas também o modo como a criança estabelece relações com outras pessoas, noutros contextos, mesmo que o seu projecto de vida seja o de reintegração na família. CAT LIJ Visitas com supervisão técnica na instituição 98% 80% Visitas com supervisão técnica na família 25% 35% A análise do quadro acima faz prever um fraco investimento na supervisão técnica das visitas da criança à família, ou seja, as que ocorrem fora do espaço físico da instituição. Este dado poderá estar relacionado com um ou mais dos seguintes aspectos: uma subvalorização da importância destas visitas que ocorrem em casa da família, uma vez que as que ocorrem na instituição são tendencialmente mais observadas; dificuldades de garantir esta supervisão, nomeadamente junto das famílias das crianças que vivem geograficamente distantes; entendimento de que essa supervisão não constitui responsabilidade da Instituição, por ser fora de portas, mas de outra equipa / Serviço que assegure o acompanhamento da criança(p.e. EMAT, CPCJ). Será importante, antes de proceder à supervisão técnica das visitas, definir claramente o seu objectivo: a presença do técnico nas visitas visa garantir a segurança da criança quando existem indícios de que a interacção pais/criança possa representar um risco? Ou serve para fazer uma avaliação do caso, monitorizando as evoluções conseguidas e que possam também ter reflexos no tipo de interacção estabelecida, nomeadamente na definição do Projecto de Vida? 20
21 Ou ainda serve para contribuir para a melhoria das funções parentais, possibilitando a intervenção sobre formas de desenvolver respostas mais adequadas aos comportamentos ou sentimentos da criança/jovem? Em função dos objectivos que forem estabelecidos para a ocorrência de supervisão técnica nas visitas, esta deverá ser assegurada tanto na casa da família como na instituição, podendo haver ajustes sempre que necessário (por exemplo, passar de uma supervisão constante para uma monitorização, que exige menor grau de permanência do técnico). Em cada um dos locais podem ser recolhidos diferentes dados e informações, que irão influenciar a avaliação da situação, tornando-a mais completa e abrangente, pois em cada local criança e família tenderão a assumir comportamentos diferentes. Sempre que não seja possível assegurar a supervisão das visitas na família, seja por insuficiência de recursos humanos na instituição, seja por a família se encontrar geograficamente distante, a instituição deverá, em articulação com o gestor de processo, garantir que essa mesma supervisão seja efectuada por outra equipa envolvida no acompanhamento do caso. 21
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