Poder Judiciário da União Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

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1 Poder Judiciário da União Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios Fls. Órgão : 5ª TURMA CÍVEL Classe : AGRAVO DE INSTRUMENTO N. Processo : AGI ( ) Agravante(s) : RODRIGO ANDRADE DA PONTE Agravado(s) : CONDOMINIO DO EDIFICIO MIAMI CENTER Relator : Desembargador HECTOR VALVERDE Acórdão N. : E M E N T A AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE ANULAÇÃO DE EDITAL E DA ASSEMBLEIA CONDOMINIAL. AUSENCIA DE NULIDADE DA DELIBERAÇÃO. DIVULGAÇÃO DA ASSEMBLEIA DE MODO EFICAZ. ÔNUS DA PROVA INCUMBE AO AUTOR. ART. 373, INCISO I DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. Ainda que a convocação para assembleia condominial não tenha observado previsão da Convenção do Condomínio, não há que se falar em nulidade da deliberação se de outro modo eficaz foi divulgada a reunião. O ônus da prova é o encargo que a parte tem de trazer à demanda elementos suficientes aptos a alcançar o êxito daquilo que se propõe. Conforme dispõe o art. 373, inc. I, do Código de Processo Civil. Agravo de instrumento desprovido. GABINETE DO DESEMBARGADOR HECTOR VALVERDE 1

2 A C Ó R D Ã O Acordam os Senhores Desembargadores da 5ª TURMA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, HECTOR VALVERDE - Relator, SILVA LEMOS - 1º Vogal, ALVARO CIARLINI - 2º Vogal, sob a presidência do Senhor Desembargador SILVA LEMOS, em proferir a seguinte decisão: CONHECER. NEGAR PROVIMENTO. UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas. Brasilia(DF), 24 de Agosto de Documento Assinado Eletronicamente HECTOR VALVERDE Relator GABINETE DO DESEMBARGADOR HECTOR VALVERDE 2

3 R E L A T Ó R I O Trata-se de agravo de instrumento interposto contra a r. decisão que, em ação anulatória de edital e da assembleia condominial, não concedeu a tutela de urgência requerida. O agravante afirma que era síndico do condomínio agravado, tendo sido eleito aos 30/01/2016. Narra que, no dia 07/04/2016, verificou em sua caixa de correspondência o Edital de Convocação de uma Assembleia a ser realizada no dia 09/04/2016, para destituição e eleição de novo síndico. Relata que em momento algum foi solicitado a ele qualquer esclarecimento sobre sua gestão ou convocação de assembleia. Afirma que não praticou atos irregulares, tampouco administrou inconvenientemente o edifício ou deixou de prestar contas e conclui que a convocação não tinha base legal. Relata que alguns condôminos lhe informaram terem sido procurados pela Sra. Maria de Lourdes, à época presidente do conselho fiscal, para assinarem um abaixo assinado. Sustenta as seguintes nulidades em relação ao edital de convocação: 1) não foi enviado a todos os proprietários, tampouco obedeceu ao prazo de cinco dias estipulado em convenção do condomínio para realização notificações. Não houve, ainda, o protocolo exigido pela convenção do condomínio; 2) com o edital de convocação há quatro folhas, mas apenas em duas delas há cabeçalho com a identificação a que se destinam. Argumenta que as outras duas folhas não podem ser consideradas, pois as pessoas não sabiam o que assinavam. Afirma que algumas unidades de apartamentos não contém assinatura ou são repetidas, além de verificar assinatura de unidades inadimplentes, as quais sustenta serem inválidas. Informa que em duas assinaturas as unidades não estão representadas pelos proprietários, além de existirem unidades com a mesma assinatura, sem apresentação de documento que as autorize ou sem procuração específica. Conclui que a convocação da assembleia não se deu por ¼ dos condôminos, além de não ter obedecido aos cinco dias de prazo e defende, portanto, ser nula. Em relação à assembleia realizada, o agravante afirma que as pessoas presentes foram levadas a erro e sustenta que algumas procurações GABINETE DO DESEMBARGADOR HECTOR VALVERDE 3

4 apresentadas são nulas, por terem data anterior à data do edital e trazerem em seu corpo a especificação da data agendada para a realização da assembleia, por terem rasura ou trazerem nomes diferentes do proprietário na procuração e na lista de presença. Argumenta ter sido destituído da função de síndico sem que fossem esclarecidos os atos que levaram à sua destituição e informa que a Sra. Maria de Lourdes, eleita como síndica na assembleia cuja anulação é pretendida, é ré em processo movido pelo condomínio. Pede a atribuição de efeito suspensivo ativo ao recurso, concedendo a liminar pleiteada para determinar a anulação do edital e, consequentemente, da assembleia realizada no dia 09/04/2016, reconduzindo-o ao cargo de síndico. Alternativamente, pede a suspensão dos efeitos das resoluções da assembleia de 09/04/2016, reconduzindo-o ao cargo de síndico. Em relação ao mérito, o agravante requer a modificação da r. decisão agravada, determinando-se a anulação do edital e da assembleia realizada no dia 09/04/2016, além de sua recondução ao cargo de síndico. Alternativamente, pede a suspensão dos efeitos das resoluções da assembleia mencionada, reconduzindo-o ao cargo de síndico. Preparo regular (f. 26). Instruiu o presente agravo de instrumento com os documentos de f Esta Relatoria recebeu o recurso somente no efeito devolutivo (f. 298). É o relatório. GABINETE DO DESEMBARGADOR HECTOR VALVERDE 4

5 V O T O S O Senhor Desembargador HECTOR VALVERDE - Relator Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do agravo de instrumento. Trata-se de agravo de instrumento interposto contra a r. decisão que, em ação anulatória de edital e da assembleia condominial, não concedeu a tutela de urgência requerida. Não observo nenhum fato novo capaz de modificar o entendimento exposto por ocasião da apreciação do pedido de atribuição do efeito suspensivo, motivo pelo qual adoto como razões de decidir os fundamentos da decisão proferida às f , que ora transcrevo: Os recursos não impedem a eficácia da decisão recorrida (art. 995, caput, do Código de Processo Civil). O relator somente deverá suspender a eficácia da decisão ou, sendo esta de conteúdo negativo, conceder a medida pleiteada como mérito do recurso, se da imediata produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação, e ficar demonstrada a probabilidade de provimento do recurso (art. 995, parágrafo único, do Código de Processo Civil). Há, portanto, dois pressupostos cumulativos a serem considerados pelo relator: a probabilidade de provimento e o perigo da demora. Ao menos em sede de cognição sumária, não está demonstrada a probabilidade de provimento do agravo, o que impede a concessão do efeito suspensivo. Os argumentos da r. decisão agravada realmente são inabaláveis, pois fundados estritamente nos elementos apresentados pelo autor, ora agravante. O agravante afirma que nem todos os condôminos foram convocados para a Assembleia Geral Extraordinária, além de não ter sido observado o quórum mínimo de ¼ de condôminos (proprietários) e adimplentes para a convocação. Argumenta que a convocação para a Assembleia não obedeceu, ainda, ao prazo necessário de cinco dias previsto no parágrafo 2º da cláusula 12ª da Convenção de Condomínio. Observo que não consta nos autos qualquer documento que demonstre a ausência de convocação de condôminos. Os documentos de f. 58 e 61 apenas indicam a data em que dois GABINETE DO DESEMBARGADOR HECTOR VALVERDE 5

6 condôminos tomaram ciência da assembleia a ser realizada, mas não comprovam a alegação de que os condôminos não foram informados no prazo necessário previsto na convenção condominial. No edital de convocação consta a data 22/03/2016 (f. 46), mas não é possível constatar, pelos documentos juntados aos autos, a data em que a reunião foi divulgada publicamente. Saliento que, ainda que a convocação para assembleia condominial não tenha observado previsão da Convenção do Condomínio, não há que se falar em nulidade da deliberação se de outro modo eficaz foi divulgada a reunião. Em caso análogo, este E. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios assim se manifestou: DIREITO CIVIL. ANULAÇÃO DE ASSEMBLÉIA DE CONDOMÍNIO VERTICAL. OBRA NECESSÁRIA. DISPENSA DE QUORUM QUALIFICADO. I. Ainda que a convocação para assembléia condominial não haja observado o que prevê a Convenção do Condomínio, não há falar-se em nulidade da deliberação se de outro modo eficaz foi divulgada a reunião. II. Hipótese em que nem a Lei nem a Convenção determinam a nulidade da assembléia em caso de vício da convocação. III. Verificado pela prova dos autos que a obra questionada pelo recorrente tem caráter necessário, dispensável o quorum qualificado para a sua aprovação. IV. Sentença mantida. (Acórdão n , ACJ, Relator: HECTOR VALVERDE SANTANNA, 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal, Data de Julgamento: 14/08/2007, Publicado no DJU SEÇÃO 3: 05/09/2007. Pág.: 124) Destaco que o ônus da prova é o encargo que a parte tem de trazer à demanda elementos suficientes aptos a alcançar o êxito daquilo que se propõe. Conforme dispõe o art. 373, inc. I, do Código de Processo Civil, "o ônus da prova incumbe ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito". O agravante argumenta que a assembleia não foi convocada por ¼ dos condôminos (30 condôminos). Discorre a respeito de nulidades em relação às assinaturas nas duas primeiras páginas do edital convocatório e desconsidera as duas páginas seguintes sob o fundamento de que não há cabeçalho e, por isso, as pessoas não sabiam o que estavam assinando. As f , conforme afirmou o MM. Juízo de Primeiro Grau, são continuação do documento de mesma formatação de f , o qual possui as assinaturas suficientes (quarenta e seis) para convocação da assembleia. GABINETE DO DESEMBARGADOR HECTOR VALVERDE 6

7 A inadimplência a ser considerada não é para a convocação, mas sim para a votação em assembleia, pois o 1º da cláusula 12ª, que dispõe sobre a convocação das Assembleias Gerais Extraordinárias, não apresenta como requisito a adimplência (f. 277). Confira-se: As Assembleias Gerais Extraordinárias, realizar-se-ão sempre que houver necessidade, por iniciativa do Síndico, ou por convocação dos condôminos que representem ¼ (um quarto), no mínimo do condomínio, sempre que exigirem os interesses gerais. O agravante alega que da leitura apurada da ata da assembleia não foi apontada nenhuma conduta temerosa ou que justificasse sua destituição. A Ata da Assembleia, contudo, dispõe: A Presidente do Conselho elencou diversas irregularidades na gestão, tais como a não prestação de contas mensal dos gastos do condomínio, desde o início da gestão, bem como a solicitação de pagamentos, sem a apresentação do devido documento fiscal. A Assembleia foi realizada em segunda convocação (f. 63), observando os termos do 1º da Cláusula 12ª da Convenção de Condomínio (f. 277), segundo o qual "em primeira convocação reunir-se-ão validamente com dois terços dos condôminos e em segunda convocação com qualquer número". Observo que, conforme "Planilha de Votação" (f. 68), 44 (quarenta e quatro) condôminos, de um total de 47 (quarenta e sete), votaram pela destituição do síndico. O agravante afirma que quatorze condôminos presentes à assembleia eram inadimplentes, contudo, a situação de inadimplência não restou esclarecida, apesar de o agravante ter apresentado planilha com débitos às f , cuja data de referência é 29/02/2016. Os documentos juntados aos autos não comprovam as irregularidades dos atos apontadas pelo agravante. Mostra-se necessária maior dilação probatória para que reste evidenciada a probabilidade do direito. Confira-se: AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO DENEGATÓRIA DE ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA. AÇÃO DECLARATÓRIA. DESTITUIÇÃO DE SÍNDICA. ASSEMBLEIA. QUÓRUM MÍNIMO. INOBSERVÂNCIA NÃO COMPROVADA. NECESSIDADE DE INCURSÃO PROBATÓRIA. AGRAVO IMPROVIDO. 1. Para a concessão da tutela antecipatória, é necessária a demonstração, pelo autor, da presença concomitante dos requisitos previstos no art. 273 do Código de Processo Civil. GABINETE DO DESEMBARGADOR HECTOR VALVERDE 7

8 2. No caso dos autos, o pleito antecipatório, da maneira como foi requerido, não merece acolhimento, porquanto não estão presentes os requisitos indispensáveis para a sua concessão, quais sejam: a verossimilhança das alegações e o receio de dano de difícil reparação. 3. Não há verossimilhança da alegação quando paira dúvida sobre o preenchimento dos requisitos objetivos para convocação de assembléia e destituição de síndica de condomínio. 4. Ademais, no caso dos autos, é incontestável a necessidade de maior incursão probatória para esclarecer os fatos, mostrando-se prudente o aguardo da angularização da relação processual e a produção da prova que possa efetivamente esclarecer o preenchimento dos requisitos da Assembléia condominial. 5. Agravo improvido. (Acórdão n , AGI, Relator: JOÃO EGMONT, 5ª Turma Cível, Data de Julgamento: 02/03/2012, Publicado no DJE: 09/03/2012. Pág.: 247) Diante das peculiaridades do caso em exame, não se mostra razoável a atribuição de efeito suspensivo ao agravo de instrumento. Ante o exposto, nego provimento ao recurso. É como voto. O Senhor Desembargador SILVA LEMOS - Vogal Com o relator. O Senhor Desembargador ALVARO CIARLINI - Vogal Com o relator. D E C I S Ã O CONHECER. NEGAR PROVIMENTO. UNÂNIME GABINETE DO DESEMBARGADOR HECTOR VALVERDE 8

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