: MIN. CELSO DE MELLO SANTO ESPÍRITO SANTO

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1 AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA ESPÍRITO SANTO RELATOR AUTOR(A/S)(ES) PROC.(A/S)(ES) RÉU(É)(S) PROC.(A/S)(ES) : MIN. CELSO DE MELLO :MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO :PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO :MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL :PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA EMENTA: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES. COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA DIRIMI-LO. PRECEDENTES. INVESTIGAÇÃO PENAL DE SUPOSTA PRÁTICA DELITUOSA QUE CONFIGURARIA, EM TESE, CRIME DE CONTRABANDO (CP, art. 334). DELITO QUE SE INCLUI, JUNTAMENTE COM O CRIME DE DESCAMINHO, NA ESFERA DE COMPETÊNCIA PENAL DA JUSTIÇA FEDERAL COMUM (CF, art. 109, IV). DOUTRINA. PRECEDENTES. RECONHECIMENTO, NO CASO, DA ATRIBUIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PARA ATUAR NO CONCERNENTE PROCEDIMENTO PENAL.

2 DECISÃO: Trata-se de conflito de atribuições instaurado entre o Ministério Público estadual (comarca de Vila Velha/ES) e o Ministério Público Federal (Subseção Judiciária de Vitória/ES). Cabe verificar, preliminarmente, se a presente causa inclui-se, ou não, na esfera de competência originária do Supremo Tribunal Federal. Como se sabe, o Plenário do Supremo Tribunal Federal, ao julgar a Pet 3.528/BA, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, revendo anterior orientação jurisprudencial, reconheceu assistir a esta Suprema Corte competência originária para dirimir conflito de atribuições instaurado entre o Ministério Público Federal, de um lado, e o Ministério Público estadual, de outro: COMPETÊNCIA CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL VERSUS MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. Compete ao Supremo a solução de conflito de atribuições a envolver o Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual. CONFLITO NEGATIVO DE ATRIBUIÇÕES MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL VERSUS MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL ROUBO E DESCAMINHO. Define-se o conflito considerado o crime de que cuida o processo. A circunstância de, no roubo, tratar-se de mercadoria alvo de contrabando não desloca a atribuição, para denunciar, do Ministério Público Estadual para o Federal. (Pet 3.528/BA, Rel. Min. MARCO AURÉLIO grifei) Observo que esse julgamento plenário vem orientando as decisões proferidas, no âmbito desta Corte, a propósito de idêntica questão (ACO 852/BA, Rel. Min. AYRES BRITTO ACO 889/RJ, Rel. Min. ELLEN GRACIE ACO 911/SP, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI ACO 1.041/SP, Rel. Min. GILMAR MENDES ACO 1.079/SP, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI ACO 1.117/RJ, Rel. Min. CELSO DE 2

3 MELLO ACO 1.193/PI, Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA ACO 1.239/DF, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI ACO 1.281/SP, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA ACO 1.440/PR, Rel. Min. CELSO DE MELLO ACO 1.445/MG, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, v.g.). Não obstante a minha pessoal convicção em sentido contrário (ACO 946/RR ACO 947/RR Pet 3.101/RJ, v.g.), devo ajustar o meu entendimento à diretriz jurisprudencial prevalecente nesta Suprema Corte, em respeito e em atenção ao princípio da colegialidade. Definida, assim, a competência originária deste Tribunal para processar e julgar a presente causa, passo à analise do pedido. O Ministério Público Federal, em pronunciamento da lavra do eminente Procurador-Geral da República, Dr. RODRIGO JANOT MONTEIRO DE BARROS, formulou parecer que está assim ementado (fls. 144): CONFLITO NEGATIVO DE ATRIBUIÇÃO ENTRE MPF E MPE. ART. 273, 1º, B, I, DO CÓDIGO PENAL. APREENSÃO DE PRODUTOS TERAPÊUTICOS, MEDICINAIS E ANABOLIZANTES. FORTES INDÍCIOS DA IMPORTAÇÃO DE TAIS PRODUTOS. CRIME DE COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. PARECER PELA ATRIBUIÇÃO DO MPF. (grifei) Entendo assistir plena razão ao eminente Chefe do Ministério Público da União, pois, tratando-se, em tese, de crime que se submete à competência penal da Justiça Federal comum (CF, art. 109, IV), cabe ao Ministério Público Federal atuar na correspondente persecutio criminis, eis que se cuida de matéria que refoge, por inteiro, à esfera de atribuições do Ministério Público estadual. 3

4 Não se desconhece que os delitos tipificados no art. 334 do CP (contrabando e descaminho) qualificam-se como infrações penais sujeitas à competência da Justiça Federal comum, nos termos do que prescreve a própria Constituição da República (CF, art. 109, IV), consoante adverte o magistério da doutrina (JOSÉ PAULO BALTAZAR JUNIOR, Crimes Federais, p. 196 e 212, 6ª ed., 2010, Livraria do Advogado; ROBERTO LUIS LUCHI DEMO, Competência Penal Originária, p. 150, item n. 2.9, 2005, Malheiros; EUGÊNIO PACELLI DE OLIVEIRA, Curso de Processo Penal, p. 215, item n , 10ª ed., 2008, Lumen Juris, v.g.) e enfatiza a jurisprudência dos Tribunais (Súmula 151/STJ CC 1.078/MG, Rel. Min. WILLIAM PATTERSON CC /PR, Red. p/ o acórdão Min. VICENTE LEAL CC /MT, Rel. Min. VICENTE LEAL, v.g.). Vale destacar, por oportuno, que essa orientação tem o beneplácito da jurisprudência firmada pelo E. Superior Tribunal de Justiça a propósito da matéria ora em análise, em julgados que, dirimindo conflitos de competência, têm reconhecido incluir-se, na esfera de atribuições jurisdicionais da Justiça Federal comum, o poder de julgar os litígios penais concernentes ao delito de contrabando, inclusive aqueles crimes que envolvem a introdução não autorizada, no território nacional, de produtos farmacêuticos de comercialização vedada em nosso País (CC /SP, Rel. Min. JORGE MUSSI CC /PR, Rel. Min. ARNALDO ESTEVES LIMA CC /SP, Rel. Min. MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA CC /PR, Rel. Min. ALDERITA RAMOS DE OLIVEIRA CC /SP, Rel. Min. LAURITA VAZ CC /PR, Rel. Min. MARCO AURÉLIO BELLIZZE CC /PR, Rel. Min. MARCO AURÉLIO BELLIZZE CC /SP, Rel. Min. ALDERITA RAMOS DE OLIVEIRA, v.g.). Daí a correta observação, a seguir reproduzida, que também acolho (AI AgR-ED/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.), constante do 4

5 douto parecer oferecido pelo eminente Procurador-Geral da República (fls. 148/150): A documentação constante dos autos diz que os produtos apreendidos na sede da empresa Vitader Suplementos Alimentares Ltda., de propriedade de Éder dos Santos, avaliadas em R$ ,65 (trezentos e trinta e quatro mil, duzentos e cinquenta e nove reais e sessenta e cinco centavos), eram de origem estrangeira e estavam desacompanhadas de documentação comprobatória de sua importação regular. Esta a razão pela qual o inquérito fora instaurado para apurar possível crime previsto no art. 334, 1º, c, do CP, consistente em manter em depósito, para venda, mercadorias estrangeiras em situação irregular no país. Neste caso, a competência seria da Justiça Federal e, por conseguinte, a atribuição do Ministério Público Federal. Embora conste da representação fiscal para fins penais que após a apreensão das mercadorias, Éder dos Santos, proprietário da empresa Vitader Suplementos Alimentares Ltda., prestou declarações aos servidores do Núcleo de Repressão da Divisão de Repressão ao contrabando e descaminho NUREP/ES e esclareceu sobre a aquisição no mercado interno de parte da mercadoria retida fato considerado pelo Ministério Público Federal para a formação de seu entendimento a Receita Federal do Brasil não tomou como idôneas a demonstrar a regularidade fiscal das mercadorias as notas fiscais por ele apresentadas. Segundo ela, a documentação apresentada não foi considerada legítima para a comprovação da regularidade fiscal da mercadoria em face das designações genéricas impeditivas da distinção de tais produtos. Acrescente-se ainda que foram apresentadas várias notas que não se relacionam à mercadoria retida. (fl. 17 do apenso). E concluiu: (...) portanto, permanecem no depósito, retidas pelo NUREP, as mercadorias que não tiveram sua regularidade fiscal comprovada, e que são objeto deste lançamento. 5

6 Diante do acima exposto, constatamos que as mercadorias ainda retidas em decorrência dos fatos aqui narrados subsumem-se ao comando normativo contido no artigo 68, X, do Regulamento Aduaneiro, que prevê a aplicação da pena de perdimento, a saber: Art. 618 Aplica-se a pena de perdimento da mercadoria nas seguintes hipóteses, por configurarem dano ao Erário: X estrangeira, exposta à venda, depositada ou em circulação comercial no País, se não for feita prova de sua importação regular. Vê-se, assim, que o proprietário das mercadorias apreendidas, inobstante suas declarações e alguns documentos por ele apresentados, não logrou êxito em demonstrar que a sua aquisição tivesse se dado em território nacional, razão por que a Receita Federal do Brasil reputou não ter sido feita a prova da regular importação, aplicando ao seu proprietário a pena de perdimento. Está-se, portanto, em princípio, diante de mercadorias de procedência estrangeira, cuja regular aquisição em território nacional não foi demonstrada pelo proprietário. Aliás, para algumas delas a comprovação de regularidade não seria nem mesmo possível, porquanto de importação e comercialização proibidas, a exemplo das substâncias constantes da Lista C5 Lista das Substâncias Anabolizantes do anexo I da Portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998 (cf. Laudo nº 187/2010 SETEC/SR/DPF/ES, fls. 13/17). Éder dos Santos, ao ser inquirido, disse que grande parte das mercadorias era adquirida de uma empresa importadora, da qual, estranhamente, sequer soube citar endereço ou telefone (fls. 44/45). Assim, os fortes indícios de que o proprietário tenha internalizado as mercadorias apreendidas é suficiente, até aqui, para se firmar a competência da Justiça Federal e a atribuição do Ministério Público Federal para atuar no feito, na linha dos precedentes invocados pelo suscitante. (grifei) 6

7 Sendo assim, pelas razões expostas e acolhendo, ainda, a manifestação da douta Procuradoria-Geral da República, conheço do presente conflito, para, dirimindo-o, reconhecer a atribuição do Ministério Público Federal (Subseção Judiciária de Vitória/ES) para apurar os fatos descritos no IPL nº 699/ Encaminhem-se os presentes autos à douta Procuradoria Regional da República (Subseção Judiciária de Vitória/ES) para a adoção das medidas pertinentes. Publique-se. Brasília, 22 de abril de Ministro CELSO DE MELLO Relator 7