MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO AUDITORIA INTERNA SECRETARIA DE ORIENTAÇÃO E AVALIAÇÃO PARECER SEORI/AUDIN MPU Nº 3.023/2014

Transcrição

1 a * i MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO AUDITORIA INTERNA SECRETARIA DE ORIENTAÇÃO E AVALIAÇÃO PARECER SEORI/AUDIN MPU Nº 3.023/2014 Referência : Processo nº / Assunto : Pessoal. Adicional de insalubridade. Interessado : Diretoria-Geral do Ministério Público do Trabalho. Por intermédio do Ofício nº 266/2014-DG, de 2 de outubro de 2014, a Senhora Diretora-Geral Substituta do MPT solicita orientação desta Auditoria Interna do MPU a respeito da possibilidade de concessão do adicional de insalubridade aos servidores ocupantes do cargo de Técnico do MPU/Apoio Técnico Administrativo/Administração, lotados na Seção de Assistência Integral à Saúde (SAIS), da Procuradoria-Geral do Trabalho, em razão da manifestação do Departamento de Recursos Humanos do MPT, fls. 20/ Esclarece o DRH/MPT que, em razão de a ON SRH/MPOG nº 2/2010, a qual fundamentou o Parecer COVAP/SEORI/AUDIN-MPU nº 817/2011, ter sido revogada pela ON SGP/MPOG nº 6/2013, os servidores lotados na área administrativa da SAIS/PGT, que tiveram o pagamento do adicional de insalubridade suspenso, em decorrência da manifestação desta Auditoria Interna no referido Parecer, solicitaram que as condições de seu ambiente de trabalho fossem reavaliadas, mediante emissão de laudo técnico, no intuito de restabelecer o supracitado pagamento. 3. Diante disso, a Consulente faz a seguinte indagação: Por oportuno, ressalta-se que, caso seja comprovado, por meio de laudo técnico, emitido nos termos da Orientação Normativa SRH/MPOG nº 6, de 18 de março de 2013, que a condição de trabalho dos Requerentes, lotados na SAIS da PGT, cumpre as exigências estabelecidas na legislação, perquiro se o pagamento do adicional de insalubridade poderá ser realizado pelo MPT. 4. Em exame, convém lembrar, de início, que, de acordo com o art. 70 da Lei nº 8.112/1990, para a concessão do adicional de insalubridade, serão observadas as situações estabelecidas em legislação específica. Desse modo, o art. 12 da Lei nº 8.270/1991 1/7

2 estabeleceu que os servidores da União, das autarquias e das fundações públicas federais perceberão o adicional de insalubridade, nos termos das normas legais e regulamentares pertinentes aos trabalhadores em geral, nos percentuais por ela fixados, conforme verifica-se abaixo na transcrição dos dispositivos referidos: LEI Nº 8.112/1990 Art. 70. Na concessão dos adicionais de atividades penosas, de insalubridade e de periculosidade, serão observadas as situações estabelecidas em legislação específica. LEI Nº 8.270/1991 Art. 12. Os servidores civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais perceberão adicionais de insalubridade e de periculosidade, nos termos das normas legais e regulamentares pertinentes aos trabalhadores em geral e calculados com base nos seguintes percentuais: I - cinco, dez e vinte por cento, no caso de insalubridade nos graus mínimo, médio e máximo, respectivamente; (grifo nosso) 5. Além disso, a Secretaria de Gestão Pública do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão expediu orientações sobre a concessão de insalubridade, inicialmente, por meio da Orientação Normativa SGP/MPOG nº 2/2010, revogada posteriormente pela Orientação Normativa SGP/MPOG nº 6/2013. No art. 10 dessa Orientação, foi estabelecido que somente é possível o pagamento do adicional de insalubridade nas situações em que houver exposição habitual ou permanente a agentes físicos, químicos ou biológicos, conforme transcrito abaixo: ORIENTAÇÃO NORMATIVA SGP/MPOG Nº 6/2013 Art. 10. A caracterização e a justificativa para concessão de adicionais de insalubridade e periculosidade aos servidores da Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional, quando houver exposição permanente ou habitual a agentes físicos, químicos ou biológicos, dar-se-ão por meio de laudo técnico elaborado com base nos limites de tolerância mensurados nos termos das Normas Regulamentadoras nº 15 e nº 16, aprovadas pela Portaria do Ministério do Trabalho e Emprego nº 3.214, de 08 de junho de (grifo nosso) 6. Nesse ponto, vale notar que a diferenciação entre a exposição permanente e a habitual, mencionadas no transcrito art. 10 da ON SGP/MPOG nº 6/2013, foi estabelecida no art. 9º da própria Orientação Normativa, consoante se verifica a seguir: 2/7

3 Art. 9º Em relação aos adicionais de insalubridade e periculosidade, consideram-se: I - exposição eventual ou esporádica: aquela em que o servidor se submete a circunstâncias ou condições insalubres ou perigosas, como atribuição legal do seu cargo, por tempo inferior à metade da jornada de trabalho mensal; II - exposição habitual: aquela em que o servidor submete-se a circunstâncias ou condições insalubres ou perigosas como atribuição legal do seu cargo por tempo igual ou superior à metade da jornada de trabalho mensal; e III - exposição permanente: aquela que é constante, durante toda a jornada laboral e prescrita como principal atividade do servidor. 7. Observa-se que, para fazer jus à percepção do adicional de insalubridade, em razão da exposição habitual a agentes físicos, químicos ou biológicos, é necessário que o servidor seja exposto a essa condição, em razão das atribuições legais do cargo e por tempo igual ou superior a metade da jornada de trabalho mensal. Por sua vez, para caracterizar a exposição permanente às condições insalubres, esta deve ocorrer durante toda a jornada do servidor e deve ser prescrita como atividade principal do servidor, independente do cargo que ocupe. 8. Há também, como regra que regulamenta a concessão do adicional de insalubridade, a Norma Regulamentadora nº 15, expedida pelo Ministério do Trabalho e Emprego, por intermédio da Portaria Ministerial nº 3.214/1978, que especifica quais os trabalhos e operações são considerados insalubres, ao relacionar, no Anexo nº 14, as atividades que envolvam o contato permanente do profissional com os pacientes, conforme transcrito abaixo: AGENTES BIOLÓGICOS Relação das atividades que envolvem agentes biológicos, cuja insalubridade é caracterizada pela avaliação qualitativa. Insalubridade de grau máximo Trabalho ou operações, em contato permanente com: - pacientes em isolamento por doenças infecto-contagiosas, bem como objetos de seu uso, não previamente esterilizados; (...) Insalubridade de grau médio Trabalhos e operações em contato permanente com pacientes, animais ou com material infecto-contagiante, em: 3/7

4 - hospitais, serviços de emergência, enfermarias, ambulatórios, postos de vacinação e outros estabelecimentos destinados aos cuidados da saúde humana (aplica-se unicamente ao pessoal que tenha contato com os pacientes, bem como aos que manuseiam objetos de uso desses pacientes, não previamente esterilizados); (destacamos) 9. Da leitura da NR nº 15/MTE, depreende-se que, para que seu trabalho seja qualificado como insalubre, o profissional deve desenvolver suas atividades em contato permanente com os pacientes nos locais destinados aos cuidados da saúde humana. 10. Logo, para a regularidade do pagamento do adicional de insalubridade de que se trata, a atividade desempenhada pelo servidor deve estar enquadrada na relação expedida pelo MTE, não bastando somente o laudo pericial constatando a insalubridade, conforme Orientação Jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho, Seção de Dissídios Individuais (Subseção I), transcrita abaixo: ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO SEÇÃO DE DISSÍDIOS INDIVIDUAIS (Subseção I) 4. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. LIXO URBANO. (nova redação em decorrência da incorporação da Orientação Jurisprudencial nº 170 da SBDI-1) DJ I - Não basta a constatação da insalubridade por meio de laudo pericial para que o empregado tenha direito ao respectivo adicional, sendo necessária a classificação da atividade insalubre na relação oficial elaborada pelo Ministério do Trabalho. II - A limpeza em residências e escritórios e a respectiva coleta de lixo não podem ser consideradas atividades insalubres, ainda que constatadas por laudo pericial, porque não se encontram dentre as classificadas como lixo urbano na Portaria do Ministério do Trabalho. (ex-oj nº 170 da SDI-1 - inserida em ) 11. A propósito, o entendimento de que o laudo pericial é condição necessária, mas não suficiente para a concessão do adicional de insalubridade, encontra-se pacificado na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, consoante se verifica abaixo: Resp /RS RECURSO ESPECIAL 1997/ , da relatoria do e. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, DJ de 13/08/2001: Reclamação trabalhista. Adicional de insalubridade. I Para a concessão do adicional de insalubridade é necessário que a atividade considerada insalubre conste da relação oficial elaborada pelo 4/7

5 Ministério do Trabalho, sendo insuficiente a comprovação através de laudo pericial.. (grifo nosso) AgRg no Ag /RS (Agravo Regimental no Agravo de Instrumento 2004/ ): 2. O magistrado não se vincula ao laudo pericial, devendo utilizar-se dos elementos dos autos para formar seu livre convencimento. Inteligência do art. 436 do CPC. 12. Por seu turno, há que se ter em mente que, para a concessão do adicional de insalubridade, em consequência da exposição permanente ou habitual a agentes biológicos, competem aos órgãos de pessoal verificar se as condições a que está submetido e a atividade desempenhada pelo servidor satisfazem as exigências previstas na ON SGP/MPOG nº 6/ Importa notar que o Anexo da ON SGP/MPOG nº 6/2013 especifica quais as situações a que o servidor deve estar submetido, durante o contato permanente com o paciente, para ser caracterizada a insalubridade de grau médio ou máximo: Atividade caracterizadora de grau máximo de insalubridade: Contato permanente com pacientes em isolamento por doenças infectocontagiosas, bem como objetos de seu uso, não previamente esterilizados. Caracteriza-se somente quando for isolamento de bloqueio, com o afastamento do paciente do convívio coletivo com vistas a impedir a transmissão de agentes infecciosos a indivíduos suscetíveis. Neste isolamento, além das Precauções Universais, são compulsoriamente adotadas barreiras físicas secundárias. O isolamento de bloqueio aplica-se quando o paciente apresenta doença infecciosa de alta transmissibilidade pessoa a pessoa, comprovada ou suspeita, e/ou colonização por germes multirresistentes, cuja transmissão dos agentes faz-se exclusivamente, ou em parte, por mecanismos aéreos, tal como pelo contato com gotículas oronasais. A concessão do adicional de insalubridade por exposição a riscos biológicos, em grau máximo, aplica-se somente àqueles servidores dedicados aos cuidados diretos e em contato permanente com pacientes em isolamento de bloqueio. Atividade caracterizadora de grau médio de insalubridade Trabalhos e operações em contato permanente com pacientes ou com material infectocontagiante, em hospitais, serviços de emergência, enfermarias, ambulatórios, postos de vacinação e outros estabelecimentos destinados aos cuidados da saúde humana (aplica-se unicamente ao pessoal que tenha contato com os pacientes, bem como aos que manuseiam objetos de uso desses pacientes, não previamente esterilizados). Entende-se que o contato com paciente se caracteriza pela necessidade do contato físico e/ou manipulação de secreções para o exercício da atividade do servidor. (sublinhamos) 5/7

6 14. Em complemento, a ON SGP/MPOG nº 6/2013, nos arts. 11 e 12, estabelece quais atividades ou situações desempenhadas pelo servidor não geram direito à percepção do adicional de insalubridade: ON SGP/MPOG nº 6/2013 Art. 11. Não geram direito aos adicionais de insalubridade e periculosidade as atividades: I - em que a exposição a circunstâncias ou condições insalubres ou perigosas seja eventual ou esporádica; II - consideradas como atividades-meio ou de suporte, em que não há obrigatoriedade e habitualidade do contato; III - que são realizadas em local inadequado, em virtude de questões gerenciais ou por problemas organizacionais de outra ordem; e IV - em que o servidor ocupe função de chefia ou direção, com atribuição de comando administrativo, exceto quando respaldado por laudo técnico individual que comprove a exposição em caráter habitual ou permanente. Art. 12. Em se tratando de concessão de adicional de insalubridade em decorrência de exposição permanente ou habitual a agentes biológicos, serão observadas as atividades e as condições estabelecidas no Anexo desta ON. Parágrafo único. Além do disposto no art. 11, não caracterizam situação para pagamento do adicional de que trata o caput: I - o contato com fungos, ácaros, bactérias e outros micro-organismos presentes em documentos, livros, processos e similares, carpetes, cortinas e similares, sistemas de condicionamento de ar ou em instalações sanitárias; II - as atividades em que o servidor somente mantenha contato com pacientes em área de convivência e circulação, ainda que o servidor permaneça nesses locais; e III - as atividades em que o servidor manuseie objetos que não se enquadrem como veiculadores de secreções do paciente, ainda que sejam prontuários, receitas, vidros de remédio, recipientes fechados para exame de laboratório e documentos em geral. (grifos nossos) 15. No caso sob análise, observa-se que, em princípio, segundo os normativos acima transcritos, as atividades administrativas desempenhadas pelos ocupantes dos cargos de Técnico do MPU/Apoio Técnico-Administrativo/Administração, ainda que haja manuseio de prontuários, receitas, vidros de remédios, recipientes fechados para exame de laboratório e documentos em geral, não geram o direito ao pagamento do adicional de insalubridade. Ademais, na situação concreta, a atribuição legal do cargo e as atividades desempenhadas não se encontram, em princípio, caracterizadas na relação expedida pelo Ministério do Trabalho e Emprego. 6/7

7 16. Em face do exposto, somos de parecer que, independente da conclusão do laudo técnico pericial, os servidores ocupantes do cargo de Técnico do MPU/Apoio Técnico Administrativo/Administração, lotados na Seção de Assistência Integral à Saúde SAIS, da Procuradoria Geral do Trabalho, não fazem jus à percepção do adicional de insalubridade. É o parecer que submetemos à consideração superior. Brasília, de novembro de 2014x. GLEDSON DA CRUZ MOURÃO Chefe da DIPE De acordo. À consideração do Senhor Auditor-Chefe. MICHEL ÂNGELO VIEIRA OCKÉ Coordenador da COGESP Aprovo. Encaminhe-se à DG/PGT. Em / 11 / MARA SANDRA DE OLIVEIRA Secretária de Orientação e Avaliação SEBASTIÃO GONÇALVES DE AMORIM Auditor-Chefe 7/7