PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

Transcrição

1 FUNDO DE COMÉRCIO. IDÊNTICA FRANQUEADORA. CURSO DE INGLÊS. Os bens materiais e imateriais reunidos e organizados pela empresa para a produção de seus benefícios econômicos constitui o fundo de comércio, e compõem toda a estrutura empresarial apta a ser transferida, cujo patrimônio tangível e intangível refletem na liquidação do seu valor. No caso dos autos, houve transferência de todo o estabelecimento de uma empresa para outra, com a utilização, inclusive, da mesma estrutura. No Direito do Trabalho a sucessão adquire feição objetiva, econômica, independente de vínculos jurídicos ou do elemento volitivo e ocorre com o repasse de unidades técnico-produtivas, do fundo de comércio, de partes expressivas do estabelecimento e dos equipamentos necessários para o exercício da atividade econômica. Recurso a que se nega provimento. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de agravo de petição em que constam, como Agravante, ANA LAÍS VASCO e, como Agravados, J. P. IDIOMAS LTDA E OUTROS. Adoto, na forma regimental, o relatório e a análise de

2 admissibilidade produzido pelo Exmo. Desembargador do Trabalho Rogério Lucas Martins. A redação desta Redatora Designada refere-se ao mérito do agravo de petição do exequente. RELATÓRIO Insurge-se a Exequente, em seu apelo de fls.431/432, contra a r. decisão de fls.429, da lavra da Exmª Juíza Maria Thereza da Costa Prata, proferida pela 63ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, que não reconheceu a responsabilidade por sucessão trabalhista, indeferindo o requerimento de fls.367/391. A Agravante sustenta estarem presentes os requisitos autorizadores da responsabilização por sucessão. Contraminuta a fls.438/442, com preliminar de não cabimento do recurso. Inexigível a garantia da execução. Deixo de encaminhar os autos ao Ministério Público do Trabalho, eis que não configuradas quaisquer das hipóteses previstas no art. 85, I, do Regimento Interno, do E. Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região. É o relatório. V O T O ADMISSIBILIDADE DA PRELIMINAR DE NÃO CABIMENTO DO AGRAVO DE PETIÇÃO Não tem razão os Agravados. A alínea a, do art. 897, da CLT, prevê o cabimento do agravo de petição das decisões proferidas na execução, sendo certo que a decisão proferida a fls.429, de indeferimento de pretensão executiva em face de empresa apontada como sucessora, desafia o recurso de agravo de petição. Rejeito

3 Preenchidos os pressupostos legais de admissibilidade, conheço do agravo de petição interposto pela Exequente. MÉRITO SUCESSÃO Insurge-se a exequente contra a decisão de origem que entendeu por não declarar a sucessão entre J P IDIOMAS LTDA e P C CURSOS DE IDIOMAS LTDA sob o seguinte fundamento (fl. 429): Vistos etc. A sucessão trabalhista caracteriza-se pela transferência da unidade econômico-produtiva. Não basta simplesmente que uma empresa venha a se estabelecer no mesmo lugar onde antes havia outra. É necessário que fique comprovado que, além de ocupar o local, a empresa superveniente tenha feito uso dos bens e pessoas da empresa que se extinguiu, o que não se verificou na espécie. Ademais, não se reconhece a figura da sucessão trabalhista por presunção ou meros indícios. Sua prova deve ser farta, de forma a permitir se chegue à conclusão de ter havido transferência de toda ou parte da organização produtiva. Assim, indefiro o requerimento de fls. 367/ Alega a agravante, por sua vez, que a documentação carreada aos autos (fls. 370/391 verso) comprova, de forma inequívoca, a sucessão trabalhista durante o trâmite da presente execução. Instada a PC CURSO DE IDIOMAS LTDA a se manifestar, esta alega que foi fundada em 20/08/2007, sete anos após a dispensa do exequente. Frisa que não há que se falar em sucessão visto que ambas as empresas possuem sócios distintos e que alugou o mesmo espaço antes ocupado pela executada devido ao ponto comercial que já era conhecido. Aduz que assinou um contrato de franquia com a CNA quando passou a ser seu franqueado e que encontra-se prescrita a intenção do exequente executar seus créditos trabalhistas

4 Pois bem. Da análise da prova documental, verifico, inicialmente, que a empresa P C CURSO DE IDIOMAS LTDA, suposta sucessora, foi constituída em 14/08/2007 (fls. 370/372), tendo por objeto o negócio de Ensino de Idiomas; sua matriz localizada no domicílio à Rua Augusto de Vasconcelos nº 618, Campo Grande; filial com sede e domicílio à Estrada do Mendanha nº 309, Campo Grande, e como sócios o Sr. Porfírio da Silva Costa e a Sra. Adriana Pereira da Silva. Às fls. 376/379 verifico que foi celebrado contrato de locação cujo objeto é o imóvel situado na Rua Augusto de Vasconcelos, nº 618, Campo Grande, contrato este celebrado entre Espólio de Ilma Silveira Boaventura (locadora) e JOSÉ CARLOS DA FONSECA PINTO (locatário), sócio da reclamada J P IDIOMAS LTDA (alteração contratual de fls. 373/375). E não é só. O prazo do referido contrato de locação (cláusula 2ª fl. 376) seria de 05 (cinco) anos, com início em 05 de julho de 2004 e término em 04 de julho de Ora, conclui-se, portanto, que a sucessora P C CURSO DE IDIOMAS LTDA foi, na realidade, constituída sob o contrato de locação da sucedida J P IDIOMAS LTDA. Desnecessário dizer que ambas as empresas possuem o mesmo objeto social. Outrossim, constato da análise da alteração contratual de fls. 373/375 que a reclamada J P IDIOMAS LTDA tem sede à Estrada do Mendanha nº 309, sendo que do comprovante de inscrição da empresa sucessora P C CURSO DE IDIOMAS LTDA junto à Receita Federal consta como logradouro o mesmo endereço. E ainda, do exame dos documentos de fl. 384/385, observo que a instrutora de inglês Gláucia de Araújo Souza foi admitida pela J P IDIOMAS LTDA tendo sido posteriormente transferida para a PC CURSO DE IDIOMAS LTDA sem qualquer solução de continuidade. Ademais, da certidão do Mandado de Verificação (fl. 391 verso) do oficial de justiça, restou comprovado que o professor Antonio Luiz, empregado da primeira, continuou

5 na segunda, ou seja, foi utilizada a mesma mão de obra. E, à fl. 14, consta relatório de aulas da autora em papel com timbre da CNA, com quem a sucessora alega ter celebrado contrato de franquia. Ora, discute-se aqui sobre sucessão de empresas para fins de responsabilidade pelos créditos trabalhistas, alegando a agravada ser parte ilegítima para figurar no polo passivo da execução. Contudo, diante das diversas constatações acima, fica bastante fragilizada a tese da agravada sobre não ter legitimidade para figurar no polo passivo, bem como de que não sucedeu a reclamada. Afinal, soa estranho que empresas concorrentes dividam o endereço. O que importa para o Direito do Trabalho é a realidade dos fatos, ou seja, transferido todo o estabelecimento de uma empresa para outra, como é o caso dos autos, utilizando-se, inclusive, da estrutura já instalada, caracterizada resta a sucessão. E, portanto, incidem as normas dos artigos 10 e 448 da CLT. Temos clara configuração da hipótese de incidência dos artigos 10 e 448 da CLT, revelando a caracterização da figura jurídica da sucessão trabalhista ou de empregadores, cuja tutela é informada por princípios assecuratórios da intangibilidade salarial do trabalhador, mediante a despersonalização do empregador. Desse modo, o sucessor avoca para si a responsabilidade pelos contratos de trabalho em curso, bem como daqueles extintos anteriormente à sucessão, firmados com o sucedido pelo que não há que se falar em prescrição. Constatada a mesma atividade, o mesmo objeto social, o mesmo estabelecimento, a ausência de solução de continuidade na prestação da atividade empresarial, mister se faz declarar a sucessão. Insta salientar que em uma visão sistemática, no plano do direito do trabalho, não importam as alterações implementadas, vez que a pessoalidade é característica do trabalhador, não do empregador. Em suma, a finalidade do instituto da sucessão no campo

6 trabalhista é permitir a solvabilidade dos créditos à parte obreira, de forma célere, buscando o seu cumprimento em face do empreendedor atual, não importando a transmissão do negócio, ainda que parcial e temporária, e ainda que o sucedido, em face do qual foi formalizada a relação jurídica de emprego, eventualmente subsista às transformações. Como analisado por Delgado, a complexidade de formas organizacionais das empresas, verificada nos últimos anos, não pode servir de empecilho para se caracterizar a transferência da unidade econômico-jurídica e garantir, consequentemente, o pagamento das verbas trabalhistas ao empregado, sujeito vulnerável da relação jurídica trabalhista: Tais imprecisão e generalidade é que têm permitido à jurisprudência, hoje, alargar o sentido original do instituto da sucessão trabalhista, de modo a abranger situações anteriormente tidas como estranhas à regência dos arts. 10 e 448 da CLT. Tais novas situações (tornadas comuns, no último lustro do milênio, pela política oficial de privatizações, por exemplo) conduziram a jurisprudência a reler os dois preceitos celetistas, encontrando neles um tipo legal mais amplo do que originalmente concebido pela doutrina e jurisprudência dominantes. A sucessão trabalhista verifica-se segundo fórmulas variadas de modificações empresariais. Distintas são, pois, as situações-tipo de sucessão de empregadores, todas submetendo-se à regência dos arts. 10 e 448 da CLT. O essencial, para a CLT, é que as modificações intra ou interempresariais não afetem os contratos de trabalho dos respectivos empregados. (DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho.7 a ed., São Paulo: Ltr, 2008, p. 410) Destarte, diante do substrato fático-probatório delineado nos autos, não se pode olvidar a caracterização da sucessão trabalhista. Pelo exposto, dou provimento ao agravo de petição do exequente para declarar a sucessão trabalhista, e determinar a retificação do pólo passivo para que passe a constar P.C Curso de idiomas Ltda. Epp, sucessora de J.P idiomas Ltda, com o consequente prosseguimento

7 da execução em face daquela. CONCLUSÃO Ante o exposto, CONHEÇO do agravo de petição interposto pelo Exequente e, no mérito, DOU-LHE PROVIMENTO, na forma da fundamentação supra. DISPOSITIVO Vistos e examinados, A C O R D A M os Desembargadores que compõem a Sétima Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, após a renovação do relatório, tendo em vista alteração na composição do Colegiado, colhidos os votos, por unanimidade, CONHECER do agravo de petição interposto pelo Exequente e, no mérito, por maioria, vencido o Relator que negava deferimento, DAR PROVIMENTO AO RECURSO, tudo na conformidade da fundamentação do voto da vistora Magistrada Sayonara Grillo que redigirá o acórdão. Falou o Dr. Alexandre dos Santos. Rio de Janeiro, 11 de junho de Desembargadora do Trabalho Sayonara Grillo Coutinho Leonardo da Silva Redatora designada fpas