Solenidade de NPS Bento. 11 de julho de 2015 Reflexão sobre a vida monástica de São Bento.

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Bernadete Fernandes Alcaide
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1 Solenidade de NPS Bento. 11 de julho de 2015 Reflexão sobre a vida monástica de São Bento. Caríssimos irmãos: O Senhor nos concedeu a graça de celebrarmos, uma vez mais, a Solenidade de NPS Bento, no dia 11 de julho, passado próximo. Como é do conhecimento de muitos, a veneração que temos pelo Homem de Deus é singular. Sua vida, sua doutrina, sem dúvida alguma, é um poço inesgotável de águas cristalinas. Aliás o que deve ser todo cristão, e consequentemente todo monge. Como S. Bento, somos tão somente o poço, chamados a conter ou não a Água Viva. Se tivermos rachaduras em nossa humana constituição, se não a reparamos pelos Sacramentos e pelas boas obras, não a conteremos. E, nada mais triste e injusto ao povo de Deus deparar-se com um monge sem a Água da Vida para oferecer aos que vêm sedentos ao seu encontro. Hoje, somos muito exigentes ao profissionalismo do homem moderno. Ninguém tolera um péssimo engenheiro, médico ou advogado. Tolera-se, então, um monge mal constituído pela experiência de Deus? Aliás, tantos mosteiros com séculos e até milenares de tradição ininterrupta acabaram. Provavelmente, nada ou muito pouco tinham eles para 1

2 oferecer à Igreja, ao Povo de Deus e à sociedade. Tiveram seu término porque tinham, provavelmente, apenas as paredes e o acervo artístico para oferecer à sociedade! Não terminam, na verdade, transformam-se em museus, hotéis ou curiosas ruínas. O Papa São Gregório Magno, narrando a vida de S. Bento, contanos que, certo dia, o Santo Abade estava, com seus irmãos, iniciando a fundação de Monte Cassino. Sabemos por outras histórias que o antigo inimigo procurava destruir o que se construía de evangélico em sua comunidade monástica. No relato do cap. XI dos II Diálogos de São Gregório, uma parede em obras desabando, esmaga um jovem monge. Os irmãos em Monte Cassino não titubeavam e sabiam para onde se encaminhar nas horas de dificuldades. Com o sucedido, correm à cela do Pai do Mosteiro. S. Bento lhes ordena, então, trazer o corpo e estendê-lo em sua na esteira, lugar onde costumava rezar. A esteira em sua cela não era um objeto qualquer. Era espaço sagrado ; extensão do coro. A atitude de S. Bento ao restituir a vida por quem fora esmagado pelos acidentes da vida, não se encerra no relato de sua biografia. Pelo contrário, diz respeito, também, a todo monge e a todo cristão, que por vocação, é chamado a levar todos os seres humanos triturados por tantos motivos à sua esteira, se a tem em sua cela monástica ou um leigo, em algum lugar de sua casa. Mas, temos uma esteira verdadeiramente? 2

3 A vida monástica, como toda vida cristã, é uma escola. Uma escola onde aprendemos que é preciso também ter uma esteira e não apenas a estala ou cadeira que ocupamos na Igreja. A vida do monge não é feita apenas de oração litúrgica. Ela tem primazia entre outras ocupações que constituem a vida monástica, mas o monge é igualmente chamado à oração pessoal e solitária. Todo monge, pois, precisa prolongar em sua cela a intimidade que tem com Deus, concluída a celebração dos Divinos Mistérios. O mosteiro, porém, não oferece esteira para ninguém. Se a trazemos de casa, que é muito louvável, com certeza será remodelada. Oferece, pois, o material e nos ensina a confeccioná-la. Vai sair a cara do monge. Vai ter o tamanho, não do corpo, mas do seu coração. É de uso pessoal e resistente para conter toda a humanidade que o monge traz no coração. Se não temos a esteira em nossa cela, teremos onde depositar alguém, nosso irmão triturado pelos horrores da vida? O que temos em nossa cela, devemos nos perguntar? Quem nós levamos no coração quando fechamos a porta do nosso pequeno santuário, a cela monástica? Muitas vezes chegamos até nossa esteira pesados de nós mesmos, sobrecarregados de nossos fantasmas, cansados de nossas lutas in- 3

4 teriores. Ela existe para nos pôr diante do Senhor e sustentar o peso de nossa natureza limitada, frágil e pecadora. Entretanto, como estamos a caminho da Jerusalém do Alto e nada prontos para lá chegar, nem sempre levamos no coração alguém para estendê-lo em nossa esteira e, pelas nossas orações, restituir-lhe a vida. Levamo-lo para uma arena de circo e o pintamos de palhaço e até argumentamos: Eis como é bom e alegre viverem juntos os irmãos. (Sl 132) Outras vezes, se um irmão bate à porta em vez de fechá-la com delicadeza, por respeito devido aos seus confrades, somos impulsionados a conduzi-lo para o caldeirão de ferro aquecido por uma fornalha ardente de iras e imprecações dizendo: Deus é Rei durante os séculos eternos. Desapareçam desta terra os malfeitores. (Sl 9,16) Certamente não faltaram momentos em que trocamos a esteira por um divã e nele alojamos muitas pessoas. Eles tramam e disfarçam os seus crimes. É um abismo o coração de cada homem. (Sl 63, 7). Se o dia esquentou mesmo, no lugar de nossa esteira arrumamos o ringue para dar início a mais um espetáculo de luta livre. Vós me cingistes de coragem para a luta e dobrastes os rebeldes a meus pés. (Sl 17, 40) Queridos irmãos, não há necessidade de muita criatividade para continuarmos a substituir a esteira que devemos ter por outros espaços em nossa cela monástica. Usem a criatividade! 4

5 Aprendamos de S.Bento, homem das Bem-aventuranças. Tinha o espírito de todos os justos porque a Lectio o levava da contemplação às obras. Em nossas celas, o nosso deserto, não faltem a esteira, símbolo do espaço de acolhimento a todos que Deus coloca em nossas vidas. Algumas vezes penso que S. Bento deveria ser um homem muito, mas muito alegre mesmo. Alias, insiste tanto na Santa Regra sobre essa virtude. Uma alegria que vinha dessa capacidade de acolhimento para restituir a vida a seus irmãos. Quem restitui a vida à alguém dá-lhe a alegria e dela participa. Alegria que é fruto do Espírito Santo. Que Ele, abençoado por Deus, interceda por nós. Que os monges vivendo sua palavra: nada antepor ao Ofício Divino, também nada anteponham ao uso de esteiras em suas celas, privilégio de todos aqueles que renunciaram a tudo para seguir o Cristo. Uma esteira na cela já é, sem dúvida alguma, uma parte do cêntuplo prometido pelo Senhor. Deus nos abençoe a todos! 5

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