POLITIZANDO. Boletim do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Política Social (NEPPOS/CEAM/UnB) ESPAÇO DO ALUNO EVENTOS FILMES E LIVROS
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1 ISSN POLITIZANDO Ano 2 - Nº. 4. Abr. de 2010 Boletim do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Política Social (NEPPOS/CEAM/UnB) ENTREVISTA: Envelhecimento e Políticas Sociais no Brasil Cecília Minayo e Anita Liberalesso ARTIGO Política Social para uma Sociedade Intergeracional De Izabel Pessoa e Elizabeth Hernandes ESPAÇO DO ALUNO EVENTOS FILMES E LIVROS TCC O Asilamento: escolha ou falta de escolha? (de Maria Helena Alves Bezerra) Dissertação Percepção dos idosos sobre o transporte público no Distrito Federal e Entorno (de Alda Faiad Góes) Tese Violência Institucional contra a Pessoa Idosa: a contradição de quem cuida (de Marília Anselmo Berzins) I Curso Sobre Conjuntura - A conjuntura política em 2010: burguesia brasileira, crise do capital e embate eleitoral XVII Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia: envelhecimento, funcionalidade, participação e sustentabilidade XIII CBAS - Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais Politizando Recomenda Filme A Família Savage (de Tamara Jenkins) Por: Clara Alencar Castro Livros Vovô vai à escola (de Mônica de Ávila Todaro) Por: Micheli Reguss Doege Envelhecimento e Longevidade (de Vera Maria A. T. Brandão e Elizabeth Frohlich Mercadante) Por: Rafaella O. da C. Ferreira
2 EDITORIAL TOME NOTA! Esta edição do POLITIZANDO aborda o complexo e multifacetado fenômeno do envelhecimento e da intergeracionalidade. A discussão acerca da convivência e interação entre diferentes gerações representa tanto a consolidação das mudanças demográficas e epidemiológicas, que resultaram em mais gente sobrevivendo e convivendo, quanto a emergência de novos desafios para a política social. Significativas parcelas da sociedade brasileira já perceberam que estão envelhecendo e vêm superando o paradigma da velhice como problema social. Por isso, nesta edição, a abordagem do envelhecimento constitui o pano de fundo das políticas sociais destinadas a uma população composta de diversas gerações que tentam conviver exercendo suas singularidades e fazendo prevalecer aspectos positivos das relações intergeracionais. Atualmente, no Brasil, o lócus da discussão sobre a intergeracionalidade tem sido pouco explorado fora da perspectiva econômica. Alguns trabalhos assinalam o aspecto intergeracional dos programas de transferência de renda, afirmando que, embora o conjunto desses programas contribua para a redução da pobreza em todas as faixas etárias, é entre os idosos que essa redução se acentua. Outros salientam que o programa de transferência de renda de maior impacto mais do que o Bolsa Família é o previdenciário, representado pela Previdência Rural, seguido do Benefício de Prestação Continuada - BPC, cuja população alvo é, em parte, composta de idosos. Uma breve análise de tais programas mostra que, de fato, as melhorias assinaladas significam, no contexto individual, a saída da condição de indigência para a de detentor de renda média de um salário mínimo. Entretanto, quando se discute intergeracionalidade no âmbito das políticas sociais é preciso ultrapassar questões relacionadas ao poder de compra e à satisfação de necessidades biológicas, para incluir temas como violência ou convivência entre gerações, seja no âmbito familiar, seja no espaço de locomoção urbana, tratados na dissertação e na tese apresentadas nesta edição. Como destacado no artigo central deste número, fazse necessário privilegiar o tema da intergeracionalidade na agenda das políticas públicas. A boa convivência entre as gerações constitui uma necessidade humana, e estas, por sua vez, vão além das questões meramente de ordem econômica e são permeadas por fenômenos históricos, subjetivos e imateriais. A efetivação de direitos, propiciada pela implementação das políticas sociais, corresponde à distribuição legítima de bens e serviços, como saúde, educação, suporte social, entre outros, cujo alcance, se norteado por princípios democráticos, beneficiará todas as gerações. Izabel Lima Pessoa, Elizabeth S. Cagliari Hernandes, Jurilza Maria Barros de Mendonça, Vitória Góis de Araújo e Albamaria Paulino de Campos Abigalil - Editoras responsáveis por esta edição 06 a 26/maio I Curso sobre Conjuntura - A conjuntura política em 2010: burguesia brasileira, crise do capital e embate eleitoral Local: Universidade de Brasília/ DF Vagas limitadas! Taxa de Inscrição: R$ 180,00 Informações: ccpbdf@gmail.com 28/junho a 31/julho XVII Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia: envelhecimento, funcionalidade, participação e sustentabilidade Local: Expominas - Belo Horizonte/MG Informações: index.php 31/julho a 05/agosto/2010 XIII CBAS - Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais Local: Brasília/DF Informações: EXPEDIENTE: Editora-Chefe: Camila Potyara Pereira Comissão Editorial: Carlos Lima, Potyara A. P. Pereira, Maria Auxiliadora César, Vitória Góis de Araújo e Marcos César Alves Siqueira Editoras responsáveis por esta Edição: Izabel Lima Pessoa, Elizabeth S. Cagliari Hernandes, Jurilza Maria Barros de Mendonça, Vitória Góis de Araújo e Albamaria Paulino de Campos Abigalil Bolsistas: Carolina Sampaio Vaz, Micheli Reguss Doege, Rafaella Oliveira da Câmara Ferreira e Tázya Coelho Sousa Revisão: Marcos César Alves Siqueira Criação e Diagramação: Camila Potyara Pereira Imagem da Capa: Domínio Público Núcleo de Estudos e Pesquisas em Política Social (NEPPOS / CEAM / UnB) Universidade de Brasília - Campus Universitário Darcy Ribeiro Pavilhão Multiuso I, Gleba A, Bloco A. Asa Norte. CEP: Brasília/ DF. Tel: +55 (61) Website: s: neppos.ceam.unb@gmail.com ou neppos@unb.br P á g i n a 2
3 ESPAÇO DO ALUNO O ASILAMENTO: ESCOLHA OU FALTA DE ESCOLHA? Este estudo tem como foco a percepção do motivo da institucionalização de idosas no Lar Maria Madalena no DF. Essa percepção não é vista isoladamente, mas no contexto em que ela se deu, com busca das razões reais em que ela se configura. A proposta de compreender os motivos e condições que levaram as idosas abrigadas no Lar Maria Madalena DF ao asilamento, levou-nos à percepção de que estes estão vinculados às condições sociais e familiares e às decisões tomadas no processo de envelhecimento individual. O resultado deste trabalho aponta que existem vários determinantes que levaram as idosas ao asilamento, tanto por escolha como por falta de alternativas diante das histórias de vida e relações sociais e familiares. Por fim, reafirma-se que a velhice é construída culturalmente, de acordo com os valores da sociedade e seus costumes. E na sociedade capitalista do século XXI, prevalece com muita força o estigma de que ser velho é ser um estorvo, algo ultrapassado. GRADUAÇÃO Autora: Maria Helena Alves Bezerra Orientador: Prof. Vicente de Paula Faleiros Data de Defesa: Junho/2009 Instituição: Departamento de Serviço Social da Universidade Católica de Brasília (UCB) Autora: MESTRADO Alda Abrahão Faiad Góes Orientadora: Profª. Carmen J. de Cárdena Data de Defesa: Dezembro/2009 Instituição: Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Serviço Social/ Universidade Católica de Brasília (UCB) PERCEPÇÃO DOS IDOSOS SOBRE O TRANSPORTE PÚBLICO NO DISTRITO FEDERAL E ENTORNO O transporte, como um dos setores que mais contribui para a estruturação urbana, integra-se ao planejamento implementando ações promotoras do desenvolvimento para a população idosa e dando suporte às relações sociais. As empresas de transporte urbano asseguram gratuidade da passagem para idosos, a partir de 65 anos, 10% dos assentos para pessoas com deficiência, bem como a qualificação dos profissionais. Este trabalho objetiva conhecer a qualidade do atendimento ao idoso portador do passe livre no transporte coletivo urbano do Distrito Federal e Entorno. Os entrevistados foram abordados em pontos de ônibus, logradouros públicos e residências. O resultado revelou a presença de atitudes e palavras discriminatórias contra os usuários - chamados de carteirinha. Ficou evidente que os passageiros idosos têm seus direitos de ir e vir lesados bem como o descumprimento da obrigação de um serviço de transporte com respeito e dignidade. VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL CONTRA A PESSOA IDOSA: A CONTRADIÇÃO DE QUEM CUIDA Esta pesquisa, fundamentada no referencial teórico da gerontologia e na perspectiva interpretativa, estudou a velhice e a violência institucional contra pessoas idosas a partir da interpretação do conteúdo das entrevistas de profissionais que trabalham no setor de emergência de um hospital público da cidade de São Paulo. Os profissionais entrevistados declararam que as pessoas idosas são vítimas de diversas formas de violência institucional manifestadas em subcategorias. Este grupo de profissionais não se reconhece como agente de violência institucional, responsabilizando outros pela ação violenta: em primeiro lugar, os próprios colegas de trabalho, e de forma genérica, para a organização do sistema de trabalho. A violência institucional é infligida a todos os usuários, independentemente da idade. Entretanto, os profissionais de saúde apontam para uma maior vulnerabilidade das pessoas idosas, apoiados no conceito e entendimento que eles têm da velhice. Assim, a pesquisa aponta para a necessidade de reconstrução cultural do conceito de velhice pelos profissionais de saúde de forma a favorecer um cuidado mais humanizado. DOUTORADO Autora: Marília Anselmo V. da S. Berzins Orientadora: Profª. Helena A. W. Watanabe Data de Defesa: Março/2009 Instituição: Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública/ Faculdade de Saúde Pública / Universidade de São Paulo (USP) P á g i n a 3
4 Izabel Pessoa e Elizabeth Hernandes Política Social para uma Sociedade Intergeracional Afirmar que o Brasil está envelhecendo a passos largos não é novidade. Todavia, a sociedade brasileira ainda não compreendeu que o fenômeno do envelhecimento é um grande desafio para o país e, em particular, para a política social. Essa situação demonstra a necessidade de fomentar o debate e a reflexão acerca das implicações deste fenômeno, dentre as principais, a convivência intergeracional. As necessidades humanas são históricas, subjetivas, materiais e imateriais. Isso significa que elas são constituídas a partir da realidade de vida e do cotidiano de cada indivíduo. Quando essas necessidades são identificadas e reconhecidas como indispensáveis à vida e à dignidade humana, tornam-se direitos sociais. A efetivação destes direitos, por sua vez, é realizada por meio de políticas sociais, que na prática, correspondem à disponibilização de um conjunto de bens e serviços destinados a atender as diferentes necessidades do ser humano tais como saúde, educação, cultura, lazer, renda, apoio social, entre outras que vão se apresentando conforme o momento e o contexto histórico e do qual é exemplo a boa convivência intergeracional. Também fazem parte das necessidades humanas os bens imateriais como felicidade, harmonia, paz, tranquilidade, dignidade, respeito. Viver boas relações intergeracionais contribui para o acesso a estes bens. Isso reforça a importância de as políticas sociais promoverem as relações entre as diferentes gerações. Essa promoção se torna ainda mais urgente diante dos processos de transformações sociais em andamento como é o caso das mudanças na composição e na dinâmica dos arranjos familiares e do novo papel feminino na sociedade. Também fazem parte dessas transformações as contradições das tecnologias de comunicação, que aproximam e, ao mesmo tempo, isolam os indivíduos, estimulam o conflito entre o novo e o velho, o moderno e o ultrapassado. Em suma, diversos fatores podem ser elencados para evidenciar a necessidade de se promover boas relações intergeracionais. O que se pretende destacar, contudo, é que a falta de atenção com o tema pode trazer sérias consequências para a sociedade nesse contexto de transformações e, sobretudo, diante do histórico social brasileiro. O Brasil é um país rico, habitado por um considerável número de pessoas em grave situação de pobreza. Esse cenário sociodemográfico é um campo fértil para o antagonismo entre as gerações por diversas razões, entre elas, a disputa por recursos e atenção das políticas públicas. Ademais, observa-se que a convivência intergeracional tem caráter contraditório, pois pode desenvolver-se gerando aproximação e consenso, mas também, distanciamento e conflito. Isso significa que pode haver consequências benéficas convivência harmoniosa e solidária entre as gerações e indesejáveis, tais como a violência intrafamiliar ou a fragilização e o isolamento social do segmento idoso, entre outros. Logicamente, o que se deseja é o estabelecimento de relações intergeracionais que tragam benefícios para a sociedade. Isso pode ser alcançado por meio da promoção de ações e práticas que estimulem o respeito, a solidariedade e a interação positiva entre pessoas de diferentes gerações. Tais ações e práticas podem ser definidas como programas intergeracionais. Segundo Newman e Sanchez (2009), estes programas são constituídos por três elementos básicos. Primeiro, é necessário haver participação de pessoas de diferentes gerações; segundo, tal participação implica desenvolver atividades que tragam benefícios para cada pessoa individualmente e para a comunidade em geral; e por último, as atividades devem estimular a continuidade das relações e interações estabelecidas. Além disso, tais programas devem se desenvolver sob um marco amplo de estudo, reflexão e análise, ou seja, devem ser fundamentados em teorias, investigações e práticas que propiciem o máximo aproveitamento de seus resultados por toda a sociedade. No Brasil, o interesse acadêmico e político P á g i n a 4
5 pelo tema das relações intergeracionais ainda é incipiente. Isso conduz a um debate pouco qualificado e ao baixo fomento a programas intergeracionais, fazendo com que o assunto fique restrito a determinadas áreas da política social e da discussão acadêmica. Tradicionalmente estas áreas são aquelas que, por sua natureza, necessitam utilizar a intergeracionalidade como princípio ou fundamento no desenvolvimento de suas ações. As políticas de seguridade social têm se a- presentado como campo mais propício para a utilização da intergeracionalidade nas suas ações. A política previdenciária tem a solidariedade intergeracional como seu principal fundamento, visto que as gerações do presente sustentam a aposentadoria das gerações mais idosas. A família é tradicionalmente o lócus privilegiado da convivência e das relações intergeracionais e a política de assistência social aposta nessa relação para promover o apoio, atenção e cuidado dos idosos, criança e adolescentes. Na trilha deste mesmo modelo está a política de saúde, apresentada pelo Estado como universal e integral, mas que, na prática, demanda solidariedade intergeracional no cuidado e atenção aos mais vulneráveis, especialmente crianças, idosos e pessoas com deficiência. Dessa forma, conclui-se que, se por um lado o interesse dos diferentes atores sociais pelo tema ainda é baixo, por outro, a presença da intergeracionalidade nas relações humanas e, particularmente na política social, é um fato real. Assim, para contribuir com a reflexão e o debate do tema em questão, recomenda-se que as relações intergeracionais sejam pensadas e inseridas nas agendas da política social como: princípio na gestão das diferentes áreas da política social (saúde, assistência social, previdência, educação, cultura, esporte, lazer, entre outras); paradigma de transformação das relações sociais e culturais imprescindíveis à satisfação de necessidades humanas, especialmente no que diz respeito à convivência respeitosa, digna e proveitosa entre as gerações, A sociedade brasileira ainda não compreendeu que o fenômeno do envelhecimento é um grande desafio para o país e, em particular, para a política social. nos diferentes ambientes sociais (familiar, laboral, comunitário); tema transversal nos diferentes setores da política social; como ação, programa, projeto ou atividade destinados a efetivar o direito à boa convivência intergeracional, contribuir para a mudança de comportamentos sociais estereotipados, preservar a memória cultural das gerações, auxiliar no combate à violência intrafamiliar e oportunizar a melhoria geral das condições de vida das pessoas. Para concluir, pode-se afirmar que há, no Brasil, lugar e demanda social por boas relações intergeracionais. Por conseguinte, isso requer práticas políticas e de pesquisa efetivas, no sentido de encarar o envelhecimento da população como um bônus real e a convivência entre gerações como um dos componentes do patrimônio social. Portanto, como afirma Novaes (2005: p ): numa sociedade intergeracional, cada geração tem que comprometer-se com um projeto de sociedade, que exigirá planificações mais amplas e envolvimentos culturais que ultrapassem a simples gestão das carências e urgências dos problemas imediatos. Dir-se-á, porém, que não só cada geração, mas toda a sociedade e, principalmente, o Estado, deve comprometer-se com tal projeto por meio do fomento e implantação de programas intergeracionais, para que o cidadão brasileiro possa viver dignamente seus diferentes ciclos de vida e suas relações intergeracionais. Referências Bibliográficas NEWMAN, S.; SANCHEZ, M. Los programas intergeneracionales: concepto, historia y modelos. In: Programas Intergeneracionales: Hacia uma sociedad para todas las edades. Colleción Estudios Sociales nº 23. (Org.) Mariano Sanchez. Espãna: Barcelona. Edición Eletróncia, disponible en < obrasocial>. Consultado em 06/10/2009. NOVAES, M. H. As gerações e suas lições de vida: aprender em tempo do viver. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, P á g i n a 5
6 OPINIÃO: Anita Liberalesso e Cecília Minayo Envelhecimento e Políticas Sociais no Brasil Profª Cecília - As implicações do envelhecimento populacional para as políticas sociais são várias: 1) Considerar quem é essa população, o que ela representa na vida econômica, social, política e cultural do país. Nesse sentido, são de fundamental importância os textos de Ana Amélia Camarano com seus vários estudos, sobretudo os que tratam dos indicadores sociais relativos à população de 60 anos ou mais. 2) Fazer uma distinção dos vários estratos dessa população não apenas do ponto de vista sócio-econômico, como de segmentos etários dentro do próprio grupo de idosos. Para cada estrato é preciso pensar políticas sociais adequadas. 3) Distinguir os idosos independentes e os dependentes por problemas de saúde. O número de idosos dependentes é pequeno em relação ao conjunto, mas as políticas voltadas para eles exigem muito mais especialização, adequação e custam muito caro. Esse é um nó górdio das políticas sociais hoje, pois tudo é ainda muito capenga, a não ser que os idosos tenham posses e possam pagar caríssimo pela atenção a suas necessidades específicas. O contin- Anita Liberalesso Neri é Professora Titular na Faculdade de Educação da Unicamp, Doutora e Mestre em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da USP. Foi cientista visitante no Instituto Max Planck for Human Development and Education em Berlim e Introduziu o paradigma lifespan em Psicologia e em Gerontologia no Brasil. Maria Cecília de Souza Minayo é doutora em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz, editora científica da Revista Ciência & Saúde da Associação Brasileira de Saúde Coletiva e pesquisadora titular da Fundação Oswaldo Cruz. Escreveu 116 artigos, 37 livros sozinha ou em grupo e 101 capítulos de livro. Politizando: O envelhecimento da população brasileira já é uma realidade. A seu ver, o Brasil, que sempre se intitulou um país de jovens, está preparado para viver sem grandes problemas essa realidade? Profª Anita - Sem uma ampla reforma na Previdência, melhoria substancial na educação fundamental, acesso universal à informação, formação cientifica de qualidade, geração de empregos qualificados e diminuição da carga tributária, os velhos do futuro terão mais problemas do que os de hoje. mentais nos três níveis; nãogovernamentais; e também das instituições de pesquisa e ensino. De um lado o país está acordando para essa realidade inadiável, de outro, a própria população idosa está exigindo mais atenção e protagonismo. Politizando: Quais as implicações do rápido e irreversível aumento da população idosa para as políticas sociais? Profª Anita - A necessidade de criar soluções para os que estão envelhecendo, entre estes principalmente os muito idosos e, ao mesmo tempo, dar conta das demandas de educação, de saúde, de habitação, de emprego, de segurança, e de seguridade social dos não-idosos. Profª Cecília - Eu acho que o Brasil está começando a se preparar. São várias as iniciativas governagente de idosos saudáveis também precisa ser visto com todo o seu potencial para o trabalho, a colaboração social, o turismo, e os programas de promoção. 4) Nunca esquecer que o envelhecimento é um bem da sociedade brasileira e esta precisa investir na sua valorização do ponto de vista ideológico e real. 5) Investir nas famílias onde mais de 95% dos idosos passam esse tempo de sua vida. Neste sentido, campanhas de esclarecimento, cursos e seminários para conhecimento do fenômeno ou para formação de cuidadores, quando vêm acompanhadas de outras a- ções, podem produzir bons efeitos. Em resumo, a política social para a pessoa idosa é complexa e, assim, deve ser pensada e assumida pelos que a formulam e a colocam em prática. O idoso não constitui uma categoria homogênea. Politizando: Alguns estudos afirmam que, no Brasil, as políticas sociais destinadas aos idosos têm como pressuposto a imagem negativa da velhice. O que acha dessa afirmação? Profª Anita - Concordo, mas acho que essas imagens refletem um dado da realidade, qual seja, o da existência de grandes contingentes de idosos pobres, doentes, desvalidos e discriminados, até mesmo e principalmente, pelos serviços públicos de saúde e de seguridade social. Profª Cecília - Eu nunca havia pensado que as políticas sociais partiriam do pressuposto da velhice como algo negativo. A mim me parece que não. Geralmente, as políticas sociais voltadas para o idoso fazem crítica à visão do velho como problema e como descartável ou inativo. O que sinto é que, em geral, esse pensamento negativo faz parte das representações sociais (dos brasileiros e de muitas outras sociedades). Até considero que algumas políticas são de valorização e de gratidão ao idoso pelo P á g i n a 6
7 que já ofereceu ao país como é caso de: passe livre em transportes, meia-entrada em eventos culturais, prioridade em viagens e filas, e outros. Em todas essas conquistas existe a sensibilização da sociedade e o próprio protagonismo de idosos que são militantes hoje como o foram no passado. Nunca podemos nos esquecer de que a vibrante e militante coorte de jovens dos anos 1960 compõe o segmento dos jovens idosos, dispostos a mostrar que continuam a viver e a colaborar para as transformações sociais. Politizando: Severas e bem fundamentadas críticas tem sido feitas ao Estatuto do Idoso, dando a entender que este adota uma postura de tutela em relação ao idoso, como se este fosse incapaz de ser protagonista de sua própria cidadania. Tais críticas encampam a idéia de que há, no Brasil, uma grande distância entre as políticas formalizadas e a realidade que elas devem atender; ou seja, sofrem do crônico problema da falta de efetividade. Que orientações poderiam ser dadas àquelas pessoas e atores sociais que se interessam em superar a tutela das políticas destinadas à população idosa? Profª Anita - Há dois temas nessa questão. Um é o da distância entre as intenções e as ações. O outro é o da necessidade de os idosos se libertarem da tutela do Estado e de outras agências sociais. São questões complicadas, relacionadas entre si e com forte carga histórica e cultural. Não vejo como resolvê-las com base no voluntarismo de quem quer que seja e muito menos com base em novas leis. Mais educação para brasileiros de todas as idades, em especial para os que ainda não são idosos é a única forma de lidar com ambas as questões. Enquanto os idosos continuarem a não perceber sequer o que lhes é ou foi negado durante toda a vida, a demagogia de muitos políticos, o romantismo ou catastrofismo de parte dos profissionais que trabalham na atenção aos idosos, os interesses envolvidos na pretensa proteção à velhice e o poder que o voto pode conferir aos cidadãos, tudo continuará igual. Profª Cecília - Eu considero que o Estatuto consagrou as lutas sociais pelo envelhecimento inclusivo no ciclo da vida social brasileira. Ele não tutela: ele reconhece direitos e deveres. O problema da tutela é de mentalidade individual e institucional. Quem pensa que o idoso precisa ser tutelado (a não ser o caso do idoso dependente por problemas mentais ou outros semelhantes) é porque o considera como incapaz e descartável. Mas esse não é um problema do Estatuto que, ao contrário, considera o idoso como um membro vivo da sociedade e protagonista de sua existência e de seus direitos. Politizando: A população idosa brasileira supera a casa dos 21 milhões de pessoas. Aproveitando esse momento de ano eleitoral, como vê o protagonismo deste grupo populacional na luta por seus próprios direitos sociais? Profª Anita - O protagonismo dos idosos em relação à luta por seus direitos é ainda incipiente. No atual cenário social brasileiro, é difícil falar em protagonismo de que tem a idade como base da organização dos cidadãos. Profª Cecília - Eu não poderia responder pelos idosos como grupo, pois eles não conformam um partido. Mas além de reivindicar seus direitos, eu vejo os idosos como brasileiros presentes e atentos para eleger os melhores candidatos possíveis, participando, discutindo, lendo jornais, buscando informações, denunciando abusos quando for o caso e estando junto com as outras gerações, empenhados em construir um Brasil saudável, inteligente e feliz. Politizando: A convivência entre gerações seja no espaço coletivo, seja no privado é uma das implicações relacionadas às mudanças sociais decorrentes do envelhecimento populacional. Isso tem sido discutido de formas distintas na sociedade brasileira. Em sua opinião, o que tem prevalecido na prática, o conflito ou a cooperação entre gerações diferentes? Profª Anita - A cooperação, a interdependência e a solidariedade entre as gerações, sem dúvida nenhuma. Profª Cecília - Essa é uma pergunta difícil de responder, pois há idosos e idosos. Todos os sábios e estudiosos nos ensinam que os defeitos e qualidades se acentuam com o tempo. Nesse sentido e quase sempre (estou me esforçando para não me contradizer), o idoso que não tem o respeito no seio de sua família, por exemplo, geralmente já trazia problemas de convivência nesse sentido na sua vida como pais (ausentes, autoritários, violentos, quase sempre). Isso não quer dizer que não existam tentativas competitivas dos adultos da família de destituírem o poder dos idosos, em qualquer hipótese. No entanto, os idosos que sempre compartilharam de forma generosa a vida familiar, os estudiosos mostram, costumam gozar de respeito e afeição. Noutras palavras, o conflito geracional sempre existe, mas ele se acirra e fica mais insustentável quando tem origem na vida pregressa dos idosos. Politizando: Gostaria de acrescentar ou destacar alguma questão para o debate sobre o envelhecimento no Brasil? Profª Anita - Não. Creio que o entrevistador tocou nos pontos mais importantes. Obrigada. Profª Cecília - Gostaria de lembrar que além de tudo o que já dissemos, pensando com a cabeça dos que se comovem com a economia do país, os idosos hoje constituem um segmento importante e potente. Isso não só porque mais de 60% continuam a contribuir com ou a manter suas famílias (são produtivos), mas também, porque são consumidores importantes, configurando um filão de mercado que em país nenhum é desprezível, menos ainda no caso do Brasil em que esse contingente é, atualmente, de 21 milhões de indivíduos. P á g i n a 7
8 POLITIZANDO Recomenda Com uso de linguagem simples e acessível, as autoras tratam da temática do envelhecimento contemplando diversos aspectos desse processo, apoiando-se em dados de recentes pesquisas. Ressaltam a relevância da compreensão do fenômeno considerando -se as identidades e subjetividades dos indivíduos e seus aspectos biopsicossociais, voltando as atenções aos idosos e aos profissionais de gerontologia. Procuram distinguir os conceitos de envelhecimento e longevidade, sendo que este último traz como consequências a transição demográfica, a transição epidemiológica, além de outros desafios postos à família, às políticas públicas e aos próprios sujeitos envolvidos no processo. Por meio de análise histórica e situacional, as autoras apontam a lógica das relações sociais no âmbito do sistema capitalista, como um desafio para os avanços na realidade social, pois esta reserva à pessoa idosa os espaços periféricos, sustentando-se de valores utilitaristas, nos quais o idoso é tido como inativo - inutilizável na produção de riquezas além de gerador de despesas excessivas ao Estado. O debate enriquecedor proposto nesta obra, aponta um novo olhar sobre o envelhecimento, com a criação de novas alternativas de enfrentamento dos desafios presentes e futuros. Referência: BRANDÃO, Vera Maria Antonieta Tordino & MERCADANTE, Elizabeth Frohlich. Envelhecimento ou Longevidade? São Paulo: Paulus, Coleção Questões Fundamentais do Ser Humano. Por Rafaella Oliveira da Câmara Ferreira Aluna do 8º semestre de Serviço Social da UnB Este livro trás orientações para a inclusão do tema velhice nas salas de aula do ensino fundamental. Ao partir do pressuposto de que as imagens sociais refletem complexos processos culturais, a autora afirma que o envelhecimento populacional é um fenômeno que merece a- tenção no âmbito educacional porque neste local ocorre a convivência entre diferentes gerações. Isso possibilita o estabelecimento de uma relação entre educação problematizadora e mudanças de atitude em relação à velhice. Assim, com o objetivo de levar crianças a reverem os estereótipos e preconceitos existentes em relação aos idosos, o livro analisa a legislação referente à velhice e à educação discutindo conceitos, tipologias e questões culturais. Tais análises são seguidas de comentários sobre publicações nacionais e internacionais da literatura infantil que apresentem personagens idosos. Ademais, é proposto um programa de leitura com sugestões de bibliografia, atividades práticas e outras ações educativas, visando traçar um caminho que elucide o diálogo entre a teoria gerontológica e a prática educacional, além de incentivar a abertura dos currículos escolares para a inclusão das diferenças etárias. Referência: TODARO, Mônica de Ávila. Vovô vai à escola: a velhice como tema transversal no ensino fundamental. Campinas, SP: Papirus, Coleção Vivaidade. Por Micheli Reguss Doege Aluna do 8º semestre de Serviço Social da UnB O drama apresentado neste filme relata a história de dois irmãos com vínculos familiares fragilizados, que se vêem obrigados a cuidar do pai idoso e doente. A alternativa encontrada por eles é colocá-lo em uma instituição para idosos, revelando, assim, as dificuldades e os preconceitos que a pessoa idosa enfrenta nas suas relações familiares. A institucionalização de pessoas idosas se tornou uma medida amplamente adotada pelas famílias modernas que não têm tempo, condições emocionais e/ou financeiras para cuidar de um parente idoso. No entanto, as políticas sociais e a assistência social seguem, teoricamente, a idéia de proteção familiar e da manutenção de seus laços. A prática, contudo, revela que, de maneira geral, as famílias não conseguem oferecer condições de vida digna e emancipada para a pessoa idosa e acabam por acentuar a sua fragilização. Referência: Tamara Jenkins. A família Savage (The Savages). 20th Century Fox Film Corporation. Cor/114minutos Por Clara Alencar Castro Aluna do 8º semestre de Serviço Social da UnB P á g i n a 8
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