Palavras-chave: Língua brasileira de sinais. Tradução. Tecnologia Assistiva. Avatares. Introdução

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1 DESAFIOS DA APRENDIZAGEM DE PORTUGUÊS/ LIBRAS POR MEIO DA TRADUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO COM USO DE AVATARES EXPRESSIVOS: FOCO NA CRIAÇÃO DE CONCEITOS PARA O ENSINO DE CIENCIAS Kate Mamhy Oliveira Kumada Universidade de São Paulo (Feusp) Ivani Rodrigues Silva José Mario De Martino Paula D. Paro Costa Luciana Aguero Rosa Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Ângelo B. Benetti Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI) Eixo Temático: 14 - Tecnologia Assistiva Agência Financiadora: CNPq Palavras-chave: Língua brasileira de sinais. Tradução. Tecnologia Assistiva. Avatares. Introdução De acordo com dados do Censo Demográfico de 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), verificou-se que 5,1% dos brasileiros declararam ter pelo menos alguma perda permanente da audição, um total de 9,7 milhões dos 190,7 milhões de habitantes. Entre eles, mais que 776 mil pessoas se encontravam em idade escolar (entre 0 e 17 anos de idade) na data do referido levantamento. Apesar de ser uma quantidade considerável de pessoas, iniciativas para promover uma educação que respeita a condição bilíngue de alunos surdos ainda são escassas. Desafios se estendem desde a falta de profissionais capacitados e/ou com formação adequada até a ausência de materiais de aprendizagem voltadas para essa comunidade. Assim, a proposta do uso de avatares para a tradução automática de livros didáticos de Português para Libras não só

2 contribui para tornar o material fornecido pela escola acessível a alunos surdos, mas também considera e respeita o seu contato com Português, como segunda língua. 1. Percurso metodológico A partir de uma abordagem de pesquisa qualitativa, em andamento, o objetivo do presente trabalho consiste em descrever parcialmente o processo e discutir os desafios evidenciados na tradução da Língua Portuguesa para a Libras envolvendo como conteúdo um livro de Ciências (do 3º ano do Ensino Fundamental) utilizado para dar suporte aos avatares expressivos (uma adaptação e extensão do sistema SinaLibras 3D). O livro escolhido para tradução foi dividido em dez capítulos, sendo nove unidades de conteúdo e um glossário. Para abranger o conteúdo do material em sua totalidade, o texto foi fragmentado em mais de dois mil vídeos, que vão desde a representação de uma ou duas palavras (como em títulos e subtextos mais curtos) até a representação de um parágrafo inteiro. Com o apoio e parceira do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer, realizamos 23 dias de sessões de captura de imagem e movimento tendo como tradutores sujeitos surdos com formação e fluência em Libras. Vídeos prévios com as traduções foram elaborados para serem projetados no dia das gravações, acompanhados do texto em português e da transcrição do vídeo em Libras para apoio ao tradutor surdo. Marcadores devidamente posicionados no corpo do tradutor surdo possibilitaram a reprodução da trajetória dos movimentos de cada sinalização conforme ilustra a Imagem 1: Imagem 1: Captura de movimentos e criação do avatar Posteriormente, os vídeos gerados também foram analisados por participantes surdos, intérpretes de Libras e profissionais da área do ensino de ciências e biologia com domínio em

3 Libras que se concentravam em avaliar os aspectos linguísticos da tradução, tais como, o vocabulário utilizado, a estrutura sintática, a clareza na escolha e no uso de classificadores e recursos narrativos da Libras, entre outros. Além disso, os vídeos foram transcritos utilizando o software Elan (Eudico Linguistic Annotator), a partir de anotações em oito trilhas (Imagem 2), a saber: 1) Inglês; 2) Português; 3) Libras; 4) Sinais Compostos; 5) Configuração de mão (mão direita e mão esquerda); 6) Flexões; 7) Classificadores ou Recursos Narrativos e 8) Comentários. Imagem 2: Tela da análise de um vídeo no Elan. Esses procedimentos de análise foram essenciais para a criação dos avatares expressivos, e possibilitaram, mediante a reflexão sobre o processo de tradução, identificar inúmeros desafios que decorrem, em grande parte, da ainda recente descrição linguística da Libras. 2. Discussão dos resultados preliminares Durante nosso processo de tradução de livros didáticos nos deparamos com diversos desafios, mas nos deteremos à discussão de três nesta seção. Em geral, os dicionários das línguas orais, aparentemente, funcionam como instrumento balizador para o uso da linguagem formal, especialmente, quando estamos lidando com a língua ensinada pela escola. Seguindo essa lógica, ao consultarmos os dicionários de Libras em busca de uma linguagem formal, nos deparamos com alguns conflito, sobretudo, em encontrar consenso entre eles, pois é comum que o número de movimentos, a configuração de mão, a direção da palma, enfim, os parâmetros linguísticos apresentados apresentem divergências em suas descrições, como por exemplo, no sinais de IMAGINAR. O sinal de IMAGINAR no dicionário de Capovilla e Raphael (2008, p. 746) é executado com a mão

4 direita configurada em 4 dedos abertos oscilando, enquanto na consulta ao Dicionário de Língua Brasileira de Sinais disponível no site Acessibilidade Brasil, o mesmo sinal é executado com a mão direita configurada em 5 dedos abertos oscilando (cf. Quadro 1). Sinal de IMAGINAR feito com 4 dedos. Sinal de IMAGINAR feito com 5 dedos. Fonte: CAPOVILLA; RAPHAEL, 2008, p Fonte: Acessibilidade Brasil. Extraído de: Quadro 1: Catalogação do sinal IMAGINAR em dois dicionários diferentes. Outra questão com a qual nos deparamos foi a dificuldade em encontrar determinadas configurações de mãos (CMs) nas tabelas, atualmente, disponibilizadas na literatura. Por considerarmos as mesmas incompletas e também bastante estáticas, trabalhamos na produção de CMs em 3D e, com base em uma tabela de 79 CMs disponibilizada pelo Instituto Nacional de Educação de Surdos, vimos ampliando o número dessas configurações de acordo com nossa necessidade, registrando até o momento 92 CMs. Contudo, é inegável que o nosso principal desafio foi a falta de catalogação e divulgação de sinais da Libras para termos científicos específicos. De acordo com Marinho (2007), um dos maiores obstáculos no contexto educacional consiste na ausência de dicionários e glossários técnicos divididos por área, que incluem os termos específicos de cada disciplina. Os dicionários de Libras mais conhecidos no Brasil ainda estão limitados a vocabulário cotidiano, e as poucas iniciativas para padronizar glossários específicos são prejudicadas pela falta de divulgação. Diante desse impasse que emerge da ausência de catalogação de glossários da área de ciências, nossa solução se assemelha a encontrada por Marinho (2007) e tantas outras instituições que hoje tem investido em grupos para criação de glossários, "sinalários" ou "manuários" (adaptações para a língua de sinais do termo glossário). Destarte, reunimos um grupo com participantes de instituições de ensino situadas em diferentes partes do Brasil (Rio de Janeiro, Paraíba, Paraná, São Paulo, Aracaju, Alagoas, etc) que juntos constituem uma rede de contato para a consulta, criação e validação de sinais da Libras. Com essa constituição buscamos ampliar o alcance da divulgação dos sinais criados e

5 validados pelo grupo, minimizando as incompatibilidades entre glossários. Até o momento, criamos 116 sinais e catalogamos mais de 1400 sinais da área de ciências que estavam dispersos em diferentes bases. Nosso próximo passo é a divulgação desse glossário em nosso site 1 do Projeto TAS (Tecnologias Assistivas para Surdos) e em um canal das redes sociais, intitulado "Manuário GELT Unicamp". 3. Conclusões Entendemos que, a partir da legitimação da Libras, o campo da educação de surdos tornou-se cada vez mais fértil para se discutir e propor metodologias de ensino mais eficazes e do uso de novas tecnologias para a produção de materiais didáticos, mas essas questões se articulam com a necessidade de maiores estudos envolvendo a Libras, tal como a tradução e o processo de criação, validação e dicionarização dos sinais. Nesse sentido, esperamos dar subsídios à área da lexicografia, compartilhando os resultados ainda preliminares do trabalho que vimos desenvolvendo, na expectativa de colaborar com as discussões da área da educação de surdos, tradução de Libras e produção de materiais didáticos para alunos surdos. Referências CAPOVILLA, F.C.; RAPHAEL, W.D. Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngüe da Língua de Sinais Brasileira, Volume I e II. 3 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo Demográfico 2010: Características gerais da população, religião e pessoas com deficiência. Disponível em: < iencia/caracteristicas_religiao_deficiencia_tab_pdf.shtm>. Acesso em: 30 jul MARINHO, M. L. O ensino da biologia: o intérprete e a geração de sinais. Dissertação de Mestrado em Linguística. Universidade de Brasília, O site do Projeto TAS se encontra disponível em: < Acesso em: 04 abr