DECISÃO MONOCRÁTICA PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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1 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE JUSTIÇA DECISÃO MONOCRÁTICA Apelação Cível nq /002 Origem : 24 Vara da Comarca de Bayeux Relator : Desembargador Frederico Martinho da Nobrega Coutinho Apelante : Rosiane Maria Rodrigues de Oliveira Advogados : Durval de Oliveira Filho Apelado : Banco Itaucard S/A Advogado : Celso Marcon e outros APELAÇÃO. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. CONVERSÃO EM DEPÓSITO. DEVEDORA CONSIDERADA COMO DEPOSITÁRIA INFIEL. DECRETO DE PRISÃO CIVIL POR QUATRO MESES CASO NÃO PAGUE O EQUIVALENTE EM DINHEIRO NEM ENTREGUE O BEM. DEPÓSITO FICTÍCIO. PRISÃO CIVIL. IMPOSSIBILIDADE. SENTENÇA PROFERIDA EM DESACORDO COM A SÚMULA VINCULANTE NQ 25, DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. REFORMA DA DECISÃO A QUO. INTELIGÊNCIA DO ART. 557, 1Q, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. PROVIMENTO. - Nos termos da Súmula Vinculante nq 25, do Supremo Tribunal Federal, é ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer qu seja modali ade do depósito. Apelação ave! o

2 - Estando a decisão recorrida em manifesto confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior, pode o relator, com esteio no art. 557, 1 - A, do Código de Processo Civil, monocraticamente, dar provimento ao recurso para adequar a decisão ao referido entendimento sumular ou jurisprudencial dominante. Vistos. Trata-se de APELAÇÃO, fls. 92/101, interposta por interposta por Rosiane Maria Rodrigues de Oliveira, desafiando sentença, fls. 68/69, proferida pelo Juiz de Direito da 2 4 Vara da Comarca de Bayeux, que, nos moldes da Ação de Busca e Apreensão convertida em Ação de Depósito, fls. 01/03, manejada pelo Banco Itaucard S/A, decidiu nos seguintes termos: (...) JULGO PROCEDENTE O PEDIDO de conversão da ação em depósito, devendo ser intimado o promovido para que entregue, em 24 horas, o veículo descrito na inicial, ou o equivalente em dinheiro, sob pena de prisão, como depositário infiel pelo prazo de 04 (quatro) meses na Penitenciária de Segurança Máxima de Mangabeira. Condeno o demandado ainda ao pagamento das custas e honorários advocatícios de 10% (dez por cento), sobre o valor atualizado atribuído à causa. - sem grifos no original. Em suas razões, a recorrente postula a reforma do referido comando sentencial, sob a alegação desta encontrar-se em desconformidade com a legislação constitucional, com o entendimento sumular e jurisprudencial pátrio, não havendo, assim, que se falar em possibilidade de q.ito de pri ~o civil Apelação Cível na /002 2

3 nos contratos de alienação fiduciário, mesmo diante da conversão em depósito, tendo o feito sido julgado ultra petita. certidão, fl Não foram ofertadas contrarrazões, conforme atesta A Procuradoria de Justiça, através do Dr. José Raimundo de Lima, fls.146/148, absteve-se de opinar no mérito. É o RELATÓRIO. DECIDO Rosiane Maria Rodrigues de Oliveira interpôs a Ação de Busca e Apreensão em face do Banco Itaucard S/A, aduzindo que firmou contrato de abertura de crédito para financiamento de compra e venda do veículo Parati 1.8 MI, Marca Wolkswagem, Ano de Fabricação 2000, cinza, placa KLW3744, por meio de alienação fiduciária, tendo a promovente se comprometido a pagar a dívida em 48 (quarenta e oito) prestações, deixando, contudo, de adimplir a parcela de vencimento 23/01/2008 e seguintes, incorrendo em mora. Para tanto, pugna pela busca e apreensão do bem supracitado, bem como a sua conversão em depósito. Decidindo a querela, o Magistrado a quo julgou procedente a pretensão disposta na inicial para converter a presente ação em depósito, determinando que a promovente entregue o bem ou pague o equivalente em dinheiro, no prazo de 24 horas, sob pena de lhe ser decretada prisão civil de 04 (quatro) meses, devendo ser cumprida na Penitencia Máxima de Mangabeira. Inconformada com o teor do édito judicial, a demandante interpôs recurso apelatório sustentando que o decisum hostilizado encontra -se em desconformidade com a legislação const.tucional e com o entendimento sumular e jurisprudencial pátrio, não havend, o qu se falar Apelação ave! n /002 3

4 em possibilidade de decreto de prisão civil nos contratos de alienação fiduciária, mesmo ante a sua transformação em ação de depósito. Registre-se, de início, que o inconformismo da Apelante restringe-se, tão somente, ao decreto de prisão civil por 04 (quatro) meses, caso não ocorra a entrega do bem ou o equivalente em dinheiro, significando, portanto, dizer que contra tais condenações a mesma se conforma explicitamente. De logo, infere-se que a insurgência merece acolhimento, haja vista o decreto de prisão civil determinado em primeiro grau revelar-se descabido em sede de ação de busca e apreensão convertida em ação de depósito, por não se tratar de depósito típico, no qual seria possível tal medida extrema. Com efeito, a Constituição Federal, em seu art. 5Q, LXVII, da Constituição Federal, prevê a possibilidade de prisão civil por dívida apenas no caso de inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e depositário infiel. Por sua vez, o 2, desse mesmo dispositivo, dispõe que os direitos e garantias expressos na Carta Política não excluem outros resultantes do regime e dos princípios por ela adotados, ou ainda, dos tratados internacionais no qual o Brasil seja parte. Através do Decreto Legislativo n 226/91, textos do Pacto internacional sobre Direitos Civis e Políticos (art. 11) incorporaram ao nosso ordenamento constitucional a vedação taxativa da prisão civil por descumprimento de obrigação contratual. O devedor/fiduciante que descumpre a obrigação pactuada, não entregando o bem ao credor-fiduciário, não se equ'rara 7.1 ao depositário Apelação ave! n /002 4

5 infiel, porquanto o contrato de depósito disciplinado nos arts e 1.287, do Código Civil, não se confunde ao contrato de alienação fiduciária. Trata-se, isto sim, de um contrato atípico, sendo, portanto, incabível a decretação de prisão do devedor, caso não restitua o bem ao credor. A toda evidência, a exegese do art. 1, do Decreto-Lei n0 911/69, que equipara a alienação fiduciária em garantia ao contrato de depósito, esmoreceu frente à nova ordem constitucional, de forma ser impossível decreto de prisão civil em decorrência de contrato de alienação fiduciária. Neste sentido: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PRISÃO CIVIL. DEPÓSITO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. NÃO CABIMENTO DA PRISÃO. PRECEDENTES DO STJ. Sedimentada nesta Corte a orientação de que é incabível a prisão civil do devedor fiduciante, porquanto, no caso específico da alienação fiduciária em garantia, não existe relação de depósito típico. Nesse caso, a prisão civil não passa de mera garantia mais gravosa ao contrato de mútuo celebrado. Precedentes do STJ. Recurso provido. (RHC /DF, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, QUARTA TURMA, julgado em , DJ , p. 628). E ainda: PROCESSO CIVIL - AGRAVO REGIMENii ALIENAÇÃO FIDUCIÁRI AUSÊN I Apelação Cível ri /002 5

6 IMPUGNAÇÃO AOS FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA - SÚMULA 182/STJ - BUSCA E APREENSÃO - CONVERSÃO EM AÇÃO DE DEPÓSITO - EQUIPARAÇÃO A DEPOSITÁRIO INFIEL - PRISÃO CIVIL - INADMISSIBILIDADE - DESPROVIMENTO. (...) 2 - Esta Corte já pacificou o entendimento no sentido de que, em caso de conversão da Ação de Busca e Apreensão em Ação de Depósito, como verificado na espécie, é inviável a prisão civil do devedor fiduciário, porquanto as hipóteses de depósito atípico não estão inseridas na exceção constitucional restritiva de liberdade, inadmitindo-se a respectiva ampliação. Precedentes. 3 - Agravo regimental desprovido. (AgRg no Ag /RJ, Rel. Ministro. JORGE SCARTEZZINI, QUARTA TURMA, julgado em , DJ , p. 607). A matéria, de tão sedimentada junto ao Superior Tribunal de Justiça e demais instâncias inferiores, tornou-se objeto de Súmula Vinculante, manifestando o Supremo Tribunal Federal no sentido de que "é ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito". (Súmula ne' 25, Supremo Tribunal Federal), sendo, portanto, manifesto o equívoco judicial em decretar a prisão civil da promovida, ora apelante. Por fim, poderá o relator, nos termos do art. 557, 1 2- A, do Código de Processo Civil, dar provimento ao recurso, desde que a decisão recorrida esteja em manifesto confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior. Ante o exposto, com esteio no di sto no 1 -A, do art. 557, do Código de Processo Civil Brasileiro, bem comj do t or d Súmula Apelação Cível n' /002 4;,0

7 Vinculante nq 25, do Supremo Tribunal Federal, DOU PROVIMENTO AO RECURSO APELATORIO, apenas para extrair do decisum monocrático a possibilidade de decretação da prisão civil da promovida/apelante, mantendo-se inalterada os demais termos da sentença. P. I. João Pessoa Frederi bargador Relator G Nóbre Coutinho Apelação ave! O