ACÓRDÃO PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE JUSTIÇA. : Desembargador Frederico Martinho da NObrega Coutinho. : Hermes José de Sousa

Transcrição

1 ACÓRDÃO PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE JUSTIÇA Apelação Cível ri /001 Origem : 4-4 Vara da Comarca de Guarabira Relator : Desembargador Frederico Martinho da NObrega Coutinho Apelante : Hermes José de Sousa Advogados : Julianna Érika Pessoa de Araújo e outros Apelado : Município de Guarabira Advoga:dos : Fábio Meireles Fernandes da Costa, José Anchieta dos Santos e outros APELAÇÃO. SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL. VIGILANTE. ATIVIDADE DE RISCO. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. NOMENCLATURA INADEQUADA. PLEITO REFERENTE À ATIVIDADE NOTURNA. DIREITO ASSEGURADO À LUZ DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INTELIGÊNCIA DO ART. 39, 3Q, DA CARTA MAGNA. REFORMA DA DECISÃO A QUO. PROVIMENTO DO RECURSO. - A posição consolidada do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de se conferir ao pedido uma exegese sistêmica, ou seja, em consonância com o integral conteúdo da exordial, de modo a se conceder à parte o foi efetivamente pretendido, sem, com isso, ser gerada decisão extra ou ltra petita. - Revela-se desnecessária a Apelação Ove! n' /001

2 adicional noturno, por tratar-se de direito assegurado co. nstitucionalmente também aos servidores públicos, art. 39, 3 9, da Constituição Federal, não dependendo, portanto, de regulamentação de lei local para a fruição deste benefício. - Esta Corte de Justiça já pacificou o entendimento no sentido de que, embora o adicional noturno seja verba trabalhista, é aplicável aos servidores públicos ocupantes de cargos públicos, conforme determinado pelo art. 39, 3Q, da Carta da República. autos. VISTOS, relatados e discutidos os presentes de Justiça da Paraíba, por unanimidade, prover o recurso. ACORDA a Quarta Câmara Cível do Tribunal Trata-se de APELAÇÃO, fls. 83/89, interposta por Hermes José de Sousa contra sentença, fls. 76/81, da lavra do Juiz de Direito da 4-4 Vara da Comarca de Guarabira que, nos autos da Ação de Cobrança proposta em face do Município de Guarabira, julgou improcedente o pedido, em decisão assim consubstanciada: No entanto, referida lei municipal somente instituiu o adicional de periculosidade para o cargo de eletricista, condicionando, ainda, para percepção de mencionada vantagem pecuniária, que o eletricista exerça suas funções na instalação, substituição e reparos de braços, relé e cruzetas de ilu mação pública e, ainda, outras ativi -a\des, des que realizadas nos postes de rede el trica de ai. baixa Apelação Ove! n /001

3 tensão no município (Lei Municipal n. 846/09, art. 5Q, parágrafo único). Portanto, em face de o autor exercer o cargo de vigilante, este não tem direito ao recebimento do adicional de periculosidade. (...) Por todo o exposto, julgo improcedente a pretensão requerida na inicial desta ação ajuizada por Hermes José de Sousa, assistido pelo Sindicato unificado dos Servidores Públicos Municipais (SINDSERVM), contra o Município de Guarabira/PB. Nas suas razões recursais, o recorrente alega, em síntese, não haver omissão quanto ao cargo por ele ocupado na norma municipal, explicando que os desempenhantes da função de vigilante estão expostos a perigos noturnos. Para tanto, ressalta seu horário de trabalho, compreendido entre 20 (vinte) e 05 (cinco) horas e pugna pelo provimento do apelo, a fim de ser-lhe deferido o adicional de periculosidade. Devidamente intimada, a Edilidade ofertou contrarrazões, fls. 93/96, asseverando a impossibilidade do recebimento do benefício, porquanto a Lei Municipal n 2 846/09 veda a concessão do adicional para vigilantes. Discorreu sobre a norma, em questão e pleiteou a manutenção do decisum. A Procuradoria de Justiça, através do Dr. José Raimundo de Lima, não se manifestou quanto ao mérito, fls. 102/104. É o RELATÓRIO. VOTO Hermes José de Sousa tencionou mpetent Ação Ordinária de Cobrança, em face do Município de Guar alega ser Apelação Cível n /001

4 funcionário público daquela Edilidade, onde exerce a função de vigilante na Secretaria de Urbanismo - Meio Ambiente e Saneamento. Narra, para tanto, que por trabalhar no período das 20 (vinte) às 05 (cinco) horas, está exposto à violência noturna, fazendo jus ao recebimento de adicional de periculosidade, em seu grau máximo, qual seja, 30% (trinta por cento). Decidindo a querela, o Magistrado a quo julgou improcedente o pleito, por considerar que a "referida lei municipal somente instituiu o adicional de periculosidade para o cargo de eletricista", fl. 80, ensejando assim, o presente recurso. A questão controvertida trazida a estes autos diz respeito a possibilidade ou não do pagamento de adicional de periculosidade, quando a lei municipal existente resta omissa no tocante ao cargo de vigilante. O caso, contudo, guarda uma peculiaridade. Com efeito, embora o autor/apelante trate seu pedido como adicional de periculosidade, o pleito se refere ao trabalho desempenhado como vigilante, compreendido entre 20 (vinte) e 05 (cinco) horas. A nomenclatura adequada a ser dada ao benefício, portanto, seria do adicional noturno. De fato, a posição consolidada do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de se conferir ao pedido uma exegese sistêmica, ou seja, em consonância com o integral conteúdo da exordial, de modo a se conceder à parte o que foi efetivamente pretendido, sem, com isso, ser gerada decisão extra ou ultra petita. Para tanto, "o pedido deve ser extraído da interpretação lógico-sistemática da petição inicial, a partir da análise de todo o seu conteúdo" (AgRg no Ag /RJ, 3 Turma, Rel. MM. Paulo de Tarso Sanseverino, DJe de ). Nesse norte, entendo merecer nça, Apelação ave! n /001

5 porquanto esta Corte de Justiça já pacificou o entendimento no sentido de que, embora o adicional noturno seja verba trabalhista, é aplicável aos servidores públicos ocupantes de cargos públicos, conforme determinado pelo art. 39, 3 9, da Carta da República. Eis o seguinte escólio: REMESSA OFICIAL E APELAÇÃO CÍVEL SERVIDOR PÚBLICO. AÇÃO DE COBRANÇA. JORNADA DE TRABALHO. ADICIONAL DE HORAS EXTRAS. ADICIONAL NOTURNO. CABIMENTO. PREVISÃO NO TEXTO CONSTITUCIONAL E NO ESTATUTO MUNICIPAL. PAGAMENTO A MENOR. VERACIDADE. PRESUNÇÃO. AUSÊNCIA DE PROVA EM CONTRÁRIO. ONUS DA EDILIDADE. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS EQUITATIVOS. CAUSA DE NATUREZA ALIMENTAR. DESPROVIMENTO. - Os direitos sociais previstos no art. 70 da Constituição Federal são direitos fundamentais que vinculam a conduta do Poder Público na qualidade de empregador. - O adicional de horas extras e o adicional noturno são verbas trabalhistas, aplicáveis aos servidores públicos ocupantes de cargos públicos, conforme determinado pelo art. 39, da Carta da República. - É ônus de a edilidade provar o fato impeditivo, extintivo ou modificativo do direito ao pagamento de horas extras e de adicional noturno, já que detém os documentos cabais a tal comprovação. - Os honorários advocatícios impostos à Fazenda Pública são fixados equitativamente, quando se sopesa os interesses desta, e a natureza e a importância da causa. (TJPB - Acórdão do processo n rgão (2 8 Câmara Cível) - Relator Di6A. ARIA DAS NEVES DO E. A. D. FERREIRA - J. E 16/0 8) Apelaçõo Cível n /001 \'0 ose"

6 grifei. Nesse norte, tendo o apelante colacionado aos autos documentos que comprovem o seu vinculo funcional, bem como a realização do trabalho noturno, em prol da Edilidade, este sequer contraditou, resta demonstrado o direito do servidor de perceber o aludido adicional. Ademais, é imperioso esclarecer que as normas constitucionais, acima referidas, são definidoras de direitos e garantias fundamentais, motivo pelo qual ensejam aplicação imediata, nos moldes do 1 9, do art. 5 0 da Constituição da República. Assim, revela-se desnecessária a regulamentação do adicional noturno, por tratar-se de direito assegurado constitucionalmente também aos servidores públicos, art. 39, 3 0, da Constituição Federal, não dependendo, portanto, de regulamentação de lei local para a fruição deste benefício. Sobre o tema, calha transcrever os seguintes escólios: APELAÇÃO CÍVEL. SERVIDOR PÚBLICO. POLÍCIA CIVIL. ADICIONAL NOTURMO. LEI /92. REGULAMENTAÇÃO. DESNECESSIDADE. HONORÁRIOS. APLICAÇÃO DO ARTIGO 20, 40 DO CPC. A previsão do pagamento, a maior, pelo trabalho noturno, visa a compensar o servidor pelo esforço despendido em horário que teoricamente seria destinado ao descanso. Não depende 'de regulamentação o pagamento do adicional noturno previsto na Lei Estadual n /92, uma vez que o art. 39, 3 0, da Constituição Federal - norma definidora de direito e garantia fundamental, qu " I? ssui ap Vcação imediata - assegura seu pag ento aos s 1, ores ocupantes de cargo público Recuso o e ido, Apelação Cível n ' /001

7 mas não provido. (TJMG Processo n /001(1). Rel. Albergaria Costa. Dje. Em 26/06/2009) destaquei. E, AÇÃO ORDINÁRIA DE COBRANÇA - SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL - POLÍCIA CIVIL - TRABALHO NOTURNO - REGIME DE PLANTÃO - ADICIONAL NOTURNO - GARANTIA CONSTITUCIONAL - REGULAMENTAÇÃO - DESNECESSIDADE - ARTIGO 5, 1, DA CARTA POLÍTICA - SENTENÇA MANTIDA. O direito ao adicional noturno é garantia constitucional expressamente assegurada aos servidores públicos estaduais, cuja regulamentação se afigura desnecessária, nos termos do artigo 5, 1, da Carta Política. Sentença confirmada em reexame necessário. (3 4 Câmara Cível TJMG; Apelação Cível n.q /001 - Relator: Des. Kildare Carvalho J. 05/02/ p.13/03/2009) destaquei. pagamento, desnecessária a sua regulamentação. Destarte, havendo previsão legal para o seu À luz dessas considerações, vê-se que a sentença de primeiro grau merece reforma, devendo ser reformada em toda a sua integralidade. Ante o exposto, DOU PROVIMENTO AO RECURSO, para julgar procedente o pedido e determinar que o Município de Guarabira, ora recorrido, pague os valores do adicional noturno devido ao recorrente, desde seu exercício, acrescidos de correção monetária pel PC, a rartir do momento devido, além de juros de mora de 0,5% (meio po ês, contados a partir da citação, respeitando-se a prescrição quinquena Apelação Cível na /001

8 cento) sobre o valor total da condenação. Honorários advocatícios na base de 10% (dez por É como VOTO. Presidiu a sessão, o Desembargador Romero Marcelo da Fonseca Oliveira. Ainda, participaram do julgamento, os Desembargadores Frederico Martinho da Nóbrega Coutinho (Relator) e Maria das Graças Morais Guedes. 41, representando o Ministério Público. Presente o Dr Jcé Raimundo de Oliveira, Sala das de Justiça da Paraíba, em 04 de março uarta ra Cível do Tribunal tig o a óbre a Coutinho esernbargad Relator Apelação Cível /001 8