70ª Promotoria de Justiça Especializada de Proteção ao Patrimônio Público

Transcrição

1 INQUÉRITO CIVIL Nº 5867/ ª PRODEPPP. Interessado: Ministério Público do Estado do Amazonas. Representados: INSPREV e EMTU. Assunto: Apurar possível cobrança irregular de taxas abusivas para realização de vistorias de veículos utilizados para o serviço de táxi. PROMOÇÃO DE ARQUIVAMENTO N Trata-se de inquérito civil instaurado para apurar Notícia de Fato, cujo assunto versa sobre possível cobrança irregular de taxas abusivas para o licenciamento e renovação da permissão de táxi, realizada pela empresa INSPREV. A denúncia feita pelos Srs. Márcio Fleury e Gilberto Amaral foi protocolada neste Ministério Público no dia 22/02/2006. Inicialmente, foram expedidos Ofícios ao INMETRO e à JUCEA, solicitando informações. Por meio do Ofício nº 73/2006 4ª PJ/VFM foi solicitado ao Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial INMETRO, informações que esclarecessem se a acreditação da empresa Inspeção Veicular Ltda INSPREV havia sido renovada pelo instituto como organismo apto para inspeção de segurança veicular no Estado do Amazonas. Em resposta, o INMETRO enviou o Ofício n 208/CGRE, encaminhando cópia do processo n 4293, referente à reacreditação da INSPREV, no qual constam os relatórios da auditoria realizada, cópia do contrato de reacreditação, cópia da aprovação do processo de reacreditação e cópia de páginas do sítio do INMETRO onde a INSPREV figura como empresa acreditada pelo referido órgão. Também foi enviado o Ofício nº 74/ ª PJ/VFM a Junta Comercial do Estado do Amazonas JUCEA, para que a mesma enviasse cópia integral do contrato social, com todas as alterações, do INSPREV. Em resposta, a JUCEA enviou as cópias dos documentos solicitados, contendo o contrato social, as alterações realizadas, além de arrolamento dos bens e Direitos da empresa. Foi ainda enviado os Ofícios n s 110/2006 e 111/ ªPJ/VFM, em 17 de outubro de 2006, solicitando, respectivamente, à INSPREV e ao Departamento Estadual de Trânsito do Amazonas DETRAN, esclarecimentos sobre os fatos narrados na Notícia de Fato, inclusive quanto à legalidade da cobrança de taxas.

2 O DETRAN encaminhou resposta através do Ofício n 713/2006- DETRAN/AM/AT informando que a obrigatoriedade do Certificado de Segurança Veicular C.V.S, está amparada no Código de Trânsito Brasileiro C.T.B, artigos 98 e 106, e devidamente regulamentado pela Resolução 25/98, a qual dispõe sobre as modificações de veículos automotores. Esclareceu ainda que o credenciamento da empresa INSPREV para fins de emissão de Certificado de Segurança Veicular- S.N.V foi realizado pelo DENATRAN e INMETRO, na forma da lei. A INSPREV, protocolou neste Órgão Ministerial resposta ao Ofício nº 110/ ª PJ/VFM, informando que, como acontece nas diversas capitais do país, onde existem empresas habilitadas junto ao DENATRAN e INMETRO, a INSPREV é empresa de ordem privada, ressaltando o fato de cobrar somente por seus serviços prestados por ter fins comerciais e de lucro, que não estipula regras à atividade, obedecendo normas técnicas inerentes, jamais atuando de forma abusiva, ilegal ou ainda cobrando indevidamente valores. Informou ainda que não tinha qualquer ingerência ou competência legal para regulamentar a atividade que exercia, em especial as realizadas junto às empresas de ônibus. Por meio do Ofício nº , enviado ao Instituto Municipal de Transporte e Trânsito de Manaus IMTU, foram requisitadas informações acerca do período de vigência da Portaria n. 219/2005 EMTU, que incluiu na relações de exigências feitas a todo e qualquer veículo utilizado no transporte alternativo de passageiros na modalidade de lotação realizado por vans e similares, no Transporte Individual por Táxi e no Transporte Coletivo Escolar, a apresentação de Certificado de Inspeção e Vistoria de Segurança Veicular e Ambiental, descrito na norma NBR ABNT, emitido por Organismo de Inspeção Acreditado pelo INMETRO. Em resposta, o IMTU encaminhou o Ofício nº 042/2010 -UDF/DU/IMTT, esclarecendo que a Portaria nº 219/2005, que dispunha sobre a obrigatoriedade da apresentação do Certificado de Inspeção e Vistoria de Segurança Veicular e Ambiental, foi revogada em 03/07/2007, e, na mesma data, regulamentada a mesma matéria através da Resolução IMTU n 003/07, com alterações no 2, incisos a e b. Juntamente com a resposta, foram enviadas cópias das Portarias n 037/2007-IMTU e 219/2005, e da nova Resolução. Foi ainda requisitado à EMTU, por meio do Ofício nº , que esta enviasse informações acerca das hipóteses em que o Instituto exige o CSV referida na Resolução IMTU, especialmente se a exigência se restringiria aos casos de veículos convertidos para Gás Natural Veicular GNV ou com modificações. O mesmo pedido foi reiterado por meio do Ofício n

3 Em resposta, a Superintendência Municipal de Transportes Urbanos SMTU, encaminhou o Ofício 026/2015-SUP/SMTU, informando que a Resolução 003/2007, que tratava da obrigatoriedade da apresentação de Certificado de Inspeção e Vistoria de Segurança Veicular e Ambiental foi revogada pela Resolução IMTU n 005/2007, conforme publicação no Diário Oficial do Município n 1858, cuja cópia foi encaminhada em anexo a esta resposta, tendo sido extinta a exigência do CSV. O Sr. Marcio Fleury Mendes, um dos autores da denúncia, compareceu a esta Promotoria de Justiça, no dia 09/06/15, tendo sido lavrado termo de declarações, no qual consta, em suma, o seguinte: [ ] que sua reclamação ao Ministério Público decorreu em razão da insatisfação da classe dos taxistas pelo elevado valor pelo serviço que era prestado, na época, pela empresa acreditada Inspeção Veicular do Amazonas INSPREV; que a INSPREV erá a única empresa qualificada para prestar esse serviço na cidade de Manaus, não tendo o Município feito uma licitação para oportunizar outras empresas fora do estado para prestar esse serviço, teno o município autorizado a INSPREV a prestação do serviço de inspeção veicular, que resultava na emissão de um Certificado de Serviço Veicular CSV; Que essa empresa foi acreditada pelo INMETRO, que aprovou todos seus instrumentos de trabalho; Que essa taxa da INSPREV foi cobrada por um período, em torno, de um ano e meio, tendo sido extinta no final do ano de 2007; Que em razão de não mais ser exigido o Certificado de Serviço Veicular CSV pela EMTU, a taxa deixou de ser cobrada, entendendo o declarante que sua reclamação perdeu o objeto; Que o declarante nesse momento não tem interesse no seguimento da presente investigação.[...] O Sr. Gilberto Souza Amaral compareceu a esta Promotoria de Justiça no dia 09/06/2015, tendo sido lavrado termo de declarações, no qual consta,em suma, o seguinte: [ ] que com relação a reclamação formulada neste Ministério Público, constante às fls. 07, declara que o objetivo de sua manifestação era insurgir-se contra a taxa cobrada pela INSPREV para emissão do CSV, que era uma exigência para licenciamento e renovação do veículo táxi; Que essa taxa foi cobrada por um período de, mais ou menos, dois anos; Que na verdade essa taxa tinha a natureza de serviço prestado, onde a prestadora de serviço INSPREV emitia recibos e notas fiscais de serviços que eram prestados, vistoriados, nos veículos para os quais emitia o CSV, certificado na época exigido pela EMTU para que os referidos veículos prestassem o serviço de táxi na cidade de Manaus; Que, também, uma das razões que motivou a reclamação foi o fato de existir em Manaus somente essa empresa especializada na prestação desse serviço de vistoria, quando uma resolução da CONTRAM exigia a existência na cidade de que pelo menos

4 três empresas prestadoras desse tipo de serviço; Que não sabe informar se na época foi realizado algum processo de concorrência pública para a definição da INSPREV como empresa acreditada pela prestação desse serviço; Que a reclamação apresentada não se insurgia contra qualquer lesão ao patrimônio público, e sim pelo fato dos serviços cobrados pela empresa acreditada ser de valor muito acima do que realmente deveria ser cobrado, cujo valor na época era superior a R$ 200; Que o CSV, no final de 2007, deixou de ser obrigatório para a renovação de permissão para os taxistas prestarem serviço na praça de Manaus; Que em razão da extinção dessa exigência o declarante entende que a presente reclamação perdeu o objeto, portanto solicita o arquivamento do presente procedimento investigatório[...] É o relatório, passo a considerar. O presente inquérito civil deve ser arquivado. Verifica-se que a investigação perdeu a razão de existir, uma vez que foram esclarecidos os fatos narrados na denúncia quanto à possível irregularidade na cobrança da taxa para emissão do Certificado de Segurança Veicular, e principalmente pelo fato de que a obrigatoriedade desse certificado para a renovação da permissão da concessão dos taxistas foi revogada. Conforme as informações apuradas por esta Promotoria de Justiça, a obrigatoriedade do Certificado de Segurança Veicular para a renovação da Licença de táxi, considerada abusiva segundo a denúncia apresentada a esta Promotoria de Justiça, era regulamentada pela Portaria 219/2005-EMTU, in verbis: 1- INCLUIR na relação de exigências feitas a todo e qualquer veículo usado no transporte Alternativo de Passageiros na modalidade de lotação realizado por vans e similares, no Transporte Individual por táxi e no Transporte Coletivo Escolares, a apresentação do Certificado de Inspeção e Vistoria de Segurança Veicular e Ambiental descrito na norma NBR ABNT, emitido por Organismo de Inspeção Creditado pelo INMETRO Posteriormente, a citada Portaria foi revogada por meio da Portaria n 037/2007-IMTU, e substituída, na mesma data, pela Resolução 003/2007, tendo sido esta, por fim, expressamente revogada em 29/11/2007 pela Resolução 005/2007- IMTU. Verifica-se ainda que ambas as regulamentações estão amparadas pelo Código de Trânsito Brasileiro, conforme disposto nos artigos 98 e 107. Senão Vejamos: Art. 98. Nenhum proprietário ou responsável poderá, sem prévia autorização da autoridade competente, fazer ou ordenar que sejam feitas no veículo modificações de suas características de fábrica.

5 Art Os veículos de aluguel, destinados ao transporte individual ou coletivo de passageiros, deverão satisfazer, além das exigências previstas neste Código, às condições técnicas e aos requisitos de segurança, higiene e conforto estabelecidos pelo poder competente para autorizar, permitir ou conceder a exploração dessa atividade. Portanto, não há indícios de irregularidades com relação à exigência do referido Certificado para a renovação e, tendo em vista que esta foi revogada em 29/11/2007 pela Resolução 005/2007- IMTU, não subsistem motivos para prosseguir com a investigação, uma vez que a mesma perdeu seu objeto, não havendo sequer indício de dano ao erário. Quanto à cobrança da taxa para a emissão do Certificado pela INSPREV, restou comprovado pela documentação enviada pela Junta Comercial de Manaus JUCEA que a empresa tem natureza privada, e que a cobrança realizada é na verdade pelo serviço de vistoria prestado, e não tem natureza de taxa uma vez que a empresa não tem natureza pública. Não restou comprovado, portanto, nenhum abuso cometido pela Administração Pública, não ficando evidenciada nenhuma lesão ao erário que justifique a continuação das investigações por esta Promotoria de Justiça. Isto posto, considerando que esta Promotoria de Justiça esgotou todas as diligências possíveis, bem como ante a inexistência de irregularidade na obrigatoriedade do Certificado de Inspeção e Vistoria de Segurança Veicular e Ambiental para a renovação da Licença para os taxistas durante os anos de 2006 e 2007, e, ainda, o não comprometimento do erário, uma vez que o valor cobrado não é relativo a uma taxa cobrada pela Administração Pública, e sim uma cobrança referente ao serviço prestado pela empresa de vistoria, não restou configurado qualquer ato ímprobo capaz de ensejar a propositura de ação civil por ato de improbidade administrativa. Assim, determino o arquivamento do presente inquérito civil, nos termos do art. 39, Inciso I, da Resolução n.º 006/2015-CSMP, in verbis: Art. 39. O inquérito civil será arquivado: I diante da inexistência de fundamento para a propositura da ação civil pública, depois de esgotadas todas as diligências possíveis; II parcialmente, na hipótese de a ação civil pública não abranger todos os fatos investigados, referidos na portaria inaugural; III quando celebrado compromisso de ajustamento de conduta, na forma do art. 71 e seguintes. Dê-se ciência aos interessados, e, caso não sejam encontrados, que seja fixado lavratura de termo de aviso neste Órgão Ministerial, conforme art. 39, parágrafo 4º da Resolução n. 006/2015 do CSMP.

6 Após a comprovação da cientificação pessoal dos interessados, determino o encaminhamento dos autos, no prazo máximo de três dias, ao Conselho Superior do Ministério Público para conhecimento, análise e ratificação, ou não, da presente decisão (Res.- CSMP 006/2015, art. 39, par. 2º). Manaus-AM, 30 de junho de EDGARD MAIA DE ALBUQUERQUE ROCHA PROMOTOR DE JUSTIÇA 70ªPRODEPPP