A Fundamentação de Facto e de Direito da Decisão Cível
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- Adriana Carreiro Escobar
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1 A Fundamentação de Facto e de Direito da Decisão Cível
2 O Dever de Fundamentação A nível internacional O dever de fundamentação das decisões judiciais constitui uma manifestação do direito a um processo equitativo (artigos 6.º da CEDH, 14.º do PIDCP e 10.º da DUDH) A nível constitucional Direito a um processo equitativo (artigo 20.º, n.º 4, da CRP) As decisões dos tribunais que não sejam de mero expediente são fundamentadas na forma prevista na lei (artigo 205.º, n.º 1, da CRP)
3 O Dever de Fundamentação Artigo 154.º do CPC Dever de fundamentar a decisão 1 As decisões proferidas sobre qualquer pedido controvertido ou sobre alguma dúvida suscitada no processo são sempre fundamentadas. 2 A justificação não pode consistir na simples adesão aos fundamentos alegados no requerimento ou na oposição, salvo quando, tratando-se de despacho interlocutório, a contraparte não tenha apresentado oposição ao pedido e o caso seja de manifesta simplicidade
4 O Dever de Fundamentação Artigo 567.º, n.º 3, do CPC Se a resolução da causa revestir manifesta simplicidade, a sentença pode limitar-se à parte decisória, precedida da necessária identificação das partes e da fundamentação sumária do julgado
5 O Dever de Fundamentação Função interna - impõe ao juiz um momento de verificação, permitindo-lhe fazer o seu próprio autocontrolo Função externa - é através da fundamentação que os destinatários da decisão judicial (partes, tribunais superiores ou público em geral) podem compreender e controlar a razão pela qual o tribunal chegou àquela conclusão ou decisão (e não a outra), qual o raciocínio lógico que seguiu e os argumentos em que baseou.
6 A Estrutura da Sentença Relatório (artigo 607.º, n.º 2, do CPC) Identificação das partes Identificação do objecto do litígio Enunciação das questões que ao tribunal cumpre solucionar (pedidos deduzidos e respectivas causas de pedir, excepções suscitadas e outras questões que cumpra ao tribunal conhecer oficiosamente) Fundamentação (artigo 607.º, n.º 4 e 5, do CPC) Fundamentos de facto Indicação dos factos provados e não provados Análise crítica das provas Fundamentos de direito Indicação, interpretação e aplicação das normas jurídicas aplicáveis aos factos Dispositivo (artigo 607.º, n.º 6, do CPC) Decisão de absolvição da instância ou de procedência ou improcedência quanto aos pedidos e excepções deduzidos Condenação em custas
7 A Fundamentação de Facto A averiguação dos factos, as ocorrências concretas da vida real, o estado e a situação real das pessoas e das coisas (como o sexo, a área de certo prédio ou se o mesmo confina com outro prédio); Os acontecimentos do foro interno da vida das pessoas (como a dor física, o sofrimento moral, o conhecimento pela testemunha de determinado evento concreto ou a vontade psicológica do testador); As ocorrências hipotéticas (como saber se o condutor do veículo teria ou não teria podido travar num espaço livre e visível à sua frente se os travões tivessem sido correctamente verificados e inspeccionados); Os juízos periciais de facto (como saber qual a percentagem da diminuição da capacidade de trabalho).
8 A Fundamentação de Facto dono de prédio rústico, terreno baldio, correntes de água não navegável nem flutuável viver como marido e mulher, como se de marido e mulher se tratasse subscrição do aumento do capital social ataque jornalístico interposta pessoa sociedade, actividade mercantil mulher séria, bem comportada ou de comportamento exemplar arrendamento, renda e inquilino parapeito estar separado de facto empréstimo encerrado (em acção de despejo) transporte a título gratuito gerente ou gerência contrato proprietário residência permanente
9 Indicação dos Factos Provados e Não Provados Artigo 5.º do CPC Ónus de alegação das partes e poderes de cognição do Tribunal 1 Às partes cabe alegar os factos essenciais que constituem a causa de pedir e aqueles em que se baseiam as excepções invocadas. 2 Além dos factos articulados pelas partes, são ainda considerados pelo juiz: Os factos instrumentais que resultem da instrução da causa; Os factos que sejam complemento ou concretização dos que as partes hajam alegado e resultem da instrução da causa, desde que sobre eles tenham tido a possibilidade de se pronunciar; Os factos notórios e aqueles de que o tribunal tem conhecimento por virtude do exercício das suas funções.
10 Matéria Conclusiva, Irrelevante ou de Direito Factos conclusivos - encerram um juízo ou conclusão e podem conter a decisão da própria causa Factos irrelevantes - não contendem nem influenciam de qualquer modo a relação material controvertida Conceitos de direito - conceitos estritamente jurídicos, que não têm qualquer sentido corrente
11 Conceitos de Direito proveito comum do casal; posse de estado (ser reputado pelo público como filho do pretenso pai ou ser tratado como filho pelo pretenso pai); contrato a prazo; economia comum; boa fé ou má fé; bons costumes; outorgar contrato; necessidade de casa para habitação; residência permanente no locado; comprometer a possibilidade de vida em comum; simulação (na celebração de um negócio); culpa (na colisão de veículo); ser contrário à ordem pública ou ofensivo dos bons costumes; vivência em condições análogas às dos cônjuges ou em concubinato duradouro; ofensa grave ou adultério; obtenção de benefícios excessivos ou injustificados (nos negócios usurários)
12 Da Base Instrutória aos Temas da Prova Artigo 511.º, n.º 1, do CPC O juiz, ao fixar a base instrutória, selecciona a matéria de facto relevante para a decisão da causa, segundo as várias soluções plausíveis da questão de direito, que deva considerar-se controvertida Técnica da quesitação: o juiz, tendo por base a factualidade alegada pelas partes, apurava os factos relevantes para a decisão da causa que careciam ainda de ser provados e condensava-os em quesitos. Estes assumiam a forma de perguntas, elaboradas de modo a merecer apenas uma resposta de sim ou não (provado ou não provado)
13 Da Base Instrutória aos Temas da Prova Artigo 596.º, n.º 1, do CPC Proferido despacho saneador, quando a acção houver de prosseguir, o juiz profere despacho destinado a identificar o objecto do litígio e a enunciar os temas da prova. O julgamento da matéria de facto deverá ser feito em linguagem corrida, mediante a narração completa dos factos (articulados pelas partes ou adquiridos na actividade instrutória) com interesse para a decisão da causa
14 A Análise Crítica da Prova Artigo 607.º do CPC 4 - Na fundamentação da sentença, o juiz declara quais os factos que julga provados e quais os que julga não provados, analisando criticamente as provas, indicando as ilações tiradas dos factos instrumentais e especificando os demais fundamentos que foram decisivos para a sua convicção; o juiz toma ainda em consideração os factos que estão admitidos por acordo, provados por documentos ou por confissão reduzida a escrito, compatibilizando toda a matéria de facto adquirida e extraindo dos factos apurados as presunções impostas pela lei ou por regras de experiência. 5 - O juiz aprecia livremente as provas segundo a sua prudente convicção acerca de cada facto; a livre apreciação não abrange os factos para cuja prova a lei exija formalidade especial, nem aqueles que só possam ser provados por documentos ou que estejam plenamente provados, quer por documentos, quer por acordo ou confissão das partes.
15 A Análise Crítica da Prova A valoração das provas pelo juiz deve ser feita de forma livre e segundo a sua prudente convicção, ou seja, sem estar condicionada por critérios legais pré-estabelecidos ou uma escala de hierarquização ou vinculação, o que constitui, nesta medida, um corte com o sistema da prova legal ou tarifada. Vale por dizer que o juiz deverá dar como provado (ou não provado) um determinado facto se, perante a prova produzida, se convenceu de que o mesmo ocorreu efectivamente ou não. Ficando na dúvida, decidirá contra a parte que tinha o ónus de provar o facto em apreço (artigo 414.º do CPC). A convicção não poderá ter por base critérios arbitrários, irracionais ou ilógicos, exigindo-se precisamente que os mesmos sejam racionais, lógicos, objectivos e assentes nas regras da experiência, de modo a que possam ser explicitáveis e compreensíveis (para o próprio julgador e para terceiros) através da fundamentação da decisão
16 A Análise Crítica da Prova Razão da ciência o modo ou fonte de onde adveio o conhecimento sobre os factos atestados Relações familiares, de amizade ou incompatibilidade, de dependência ou inexistentes Modo de produção de prova ou de articulação da prova produzida entre si Conformidade com as regras da experiência
17 As Declarações de Parte Artigo 466.º do CPC As partes podem requerer, até ao início das alegações orais em 1.ª instância, a prestação de declarações sobre factos em que tenham intervindo pessoalmente ou de que tenham conhecimento directo O Tribunal aprecia livremente as declarações das partes, salvo se as mesmas constituírem confissão
18 As Declarações de Parte Ac. TRP de 15/09/2014 As declarações de parte [artigo 466º do novo CPC] que divergem do depoimento de parte devem ser atendidas e valoradas com algum cuidado. As mesmas, como meio probatório, não podem olvidar que são declarações interessadas, parciais e não isentas, em que quem as produz tem um manifesto interesse na acção. Seria de todo insensato que sem mais, nomeadamente, sem o auxílio de outros meios probatórios, sejam eles documentais ou testemunhais, o Tribunal desse como provados os factos pela própria parte alegados e por ela, tão só, admitidos.
19 A Fundamentação de Direito Artigo 607.º, n.º 3, do CPC Interpretação e aplicação das normas jurídicas Artigo 5.º, n.º 3, do CPC O juiz não está sujeito às alegações das partes no tocante à indagação, interpretação e aplicação das regras de direito Artigos 203.º e 204.º, n.º 1, da CRP Os Tribunais estão sujeitos à lei e nos feitos submetidos a julgamento não podem os tribunais aplicar normas que infrinjam o disposto na Constituição ou os princípios nela consignados Artigo 4.º do CC Os Tribunais só podem resolver segundo a equidade quando haja disposição legal que o permita, quando haja acordo das partes e a relação jurídica não seja indisponível e quanto as partes tenham previamente convencionado o recurso à equidade, nos termos aplicáveis à cláusula compromissória
20 Vícios da Fundamentação Deixou de estar prevista a possibilidade de as partes reclamarem contra a deficiência, obscuridade ou contradição da decisão da matéria de facto ou contra a falta da sua motivação Eliminou-se a possibilidade de requerer o esclarecimento de alguma obscuridade ou ambiguidade que a sentença contenha (artigo 669.º, n.º 1, alínea a), do CPC) Actualmente constitui causa de nulidade da sentença a verificação de alguma ambiguidade ou obscuridade que torne a decisão ininteligível
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