PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE RONDÔNIA Porto Velho - Fórum Cível Av Lauro Sodré, 1728, São João Bosco,
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1 CONCLUSÃO Aos 07 dias do mês de Janeiro de 2016, faço estes autos conclusos ao Juiz de Direito Jorge Luiz dos Santos Leal. Eu, Clêuda S. M. de Carvalho - Escrivã(o) Judicial, escrevi conclusos. Vara: 1ª Vara Cível Processo: Classe: Procedimento Ordinário (Cível) Requerente: Luminax Trading Serviços Tecnologicos Ltda Requerido: Azul Linhas Aéreas Brasileiras S/A S E N T E N Ç A Vistos, etc... I RELATÓRIO LUMINAX TRADING SERVIÇOS TECNOLÓGICOS LTDA propôs a presente AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS em face de AZUL LINHAS AÉREAS BRASILEIRAS S/A alegando em síntese ter importado dos Estados Unidos por meio da exportadora CT MIAMI LLC diversos aparelhos celulares destinados à revenda neste país de modo que para realizar seus transportes contratou a companhia aérea ré. Disse que ao recepcionar a carga em Porto Velho aos notou a ausência de 140 (cento e quarenta) aparelhos no valor total de R$ ,34 (dezoito mil, novecentos e oitenta e seis reais e trinta e quatro centavos). Além disso, que houve diferença no peso da carga. Afirma também ter contatado a Ré por inúmeras vezes, mas que sempre recebeu resposta negativa, não vislumbrando outra alternativa senão a propositura da presente ação judicial. Com base nessas alegações, requereu a condenação da companhia aérea Ré ao pagamento de danos materiais no valor dos aparelhos extraviados, indenização por lucros cessantes em razão das vendas que deixou realizar na ordem de R$ ,65 (dez mil, novecentos e trinta e três reais e sessenta e cinco centavos), compensação por danos morais e verbas de sucumbência. A requerida apresentou contestação. Suscitou a inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor ao caso. No mérito que a autora optou por utilizar seus serviços Azul Cargo Amanhã e que a entrega da carga foi prevista para ocorrer no dia , mas que por razões desconhecidas a mercadoria foi Pág. 1 de 9
2 recepcionada aos em perfeitas condições. Argumentou que no momento da contração é expedido um documento identificado por Conhecimento Aéreo de modo que no caso de extravio de carga são aplicados limites de indenização estabelecidos pelo Código Brasileiro de Aeronáutica, cuja disposição é de três obrigações do tesouro nacional OTN por quilo. Defendeu que não houve declaração de valor para transporte e que a autora não arcou com taxa suplementar. Terminando por argumentar o não cabimento de indenização por lucros cessantes e danos morais, requereu a total improcedência dos pedidos e inversão do ônus da sucumbência. Houve réplica. Tentativa de conciliação infrutífera (fls. 92). Vieram-me os autos conclusos. É o relatório. Decido. II FUNDAMENTAÇÃO Do Julgamento Antecipado da Lide No caso, atento ao conteúdo dos autos, tenho que nele há elementos suficientemente inequívocos a ensejar o convencimento do juízo, sobretudo a permitir seu julgamento antecipado na forma do art. 353, inciso I, CPC. Dispensável, portanto, qualquer dilação probatória. Da Aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor No tocante à inaplicabilidade do CDC ao caso concreto, com razão a parte requerida, e isso porque, é jurisprudência dominante no âmbito do Superior Tribunal de Justiça que a relação jurídica firmada entre a sociedade empresária contratante e as entidades de transporte aéreo internacional de mercadorias não é de consumo, mas empresarial, por se tratar de avença mercantil. Quanto a isso, o seguinte julgado: DIREITO CIVIL E DIREITO DO CONSUMIDOR. TRANSPORTE AÉREO INTERNACIONAL DE CARGAS. ATRASO. CDC. AFASTAMENTO. CONVENÇÃO DE VARSÓVIA. APLICAÇÃO. 1. A jurisprudência do STJ se Pág. 2 de 9
3 encontra consolidada no sentido de que a determinação da qualidade de consumidor deve, em regra, ser feita mediante aplicação da teoria finalista, que, numa exegese restritiva do art. 2º do CDC, considera destinatário final tão somente o destinatário fático e econômico do bem ou serviço, seja ele pessoa física ou jurídica. 2. Pela teoria finalista, fica excluído da proteção do CDC o consumo intermediário, assim entendido como aquele cujo produto retorna para as cadeias de produção e distribuição, compondo o custo (e, portanto, o preço final) de um novo bem ou serviço. Vale dizer, só pode ser considerado consumidor, para fins de tutela pela Lei nº 8.078/90, aquele que exaure a função econômica do bem ou serviço, excluindo-o de forma definitiva do mercado de consumo. 3. Em situações excepcionais, todavia, esta Corte tem mitigado os rigores da teoria finalista, para autorizar a incidência do CDC nas hipóteses em que a parte (pessoa física ou jurídica), embora não seja tecnicamente a destinatária final do produto ou serviço, se apresenta em situação de vulnerabilidade. 4. Na hipótese em análise, percebe-se que, pelo panorama fático delineado pelas instâncias ordinárias e dos fatos incontroversos fixados ao longo do processo, não é possível identificar nenhum tipo de vulnerabilidade da recorrida, de modo que a aplicação do CDC deve ser afastada, devendo ser preservada a aplicação da teoria finalista na relação jurídica estabelecida entre as partes. 5. Recurso especial conhecido e provido (REsp /SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 28/05/2013, DJe 17/06/2013). Destaquei. No caso dos autos, a carga consistia exatamente em mercadorias a serem utilizadas como insumos na atividade desempenhada pela autora, também sociedade empresária. Ademais, não vislumbro qualquer vulnerabilidade técnica, econômica ou jurídica a legitimar a aplicação do CDC, cujas normas, portanto, não podem ser aplicadas na espécie. Do Mérito As partes são legítimas e estão bem representadas. Presentes as condições da ação e os pressupostos processuais o mérito pode ser analisado. Da análise dos autos, vejo que os pedidos procedem em parte. Pág. 3 de 9
4 É preciso destacar que no tocante à responsabilidade da transportadora, em se cuidando de transporte aéreo de cargas, aplicável é o art. 264 da Lei nº 7.565/86, pelo qual se presume responsável o transportador por quaisquer danos e extravios da mercadoria transportada, incumbindo-lhe a prova das excludentes de responsabilidade. Tal previsão está de acordo com o art. 750 do Código Civil, que disciplina o transporte de cargas e pelo qual é presumida a responsabilidade do transportador por quaisquer danos e extravios da mercadoria transportada, ocorridos durante toda a viagem. O transportador somente afasta a sua responsabilidade provando que tenha ocorrido fato exclusivo de terceiro, caso fortuito ou força maior, ou ainda vício intrínseco da coisa, em se cuidando do transporte de carga. No caso dos autos, é possível perceber que a empresa autora realmente adquiriu inúmeros aparelhos de telefone celular da exportadora CT MIAMI LLC (fls. 19) cujo transporte foi realizado pela companhia aérea Ré. Pela nota fiscal de fls. 26 e Manifesto de Carga (fls. 27) é ainda possível perceber que ao embarcar as mercadorias no aeroporto de Manaus/AM com destino à Porto Velho/RO, constou o peso total de 409kg (quatrocentos e nove quilos). Todavia, ao desembarcá-las, o peso foi de 380kg (trezentos e oitenta quilos). A disparidade é evidente. Não é crível que uma carga sofra redução de vinte e nove quilos e ainda sim, esteja em perfeitas condições. E não é só. A entrega da carga estava prevista para ocorrer aos e a própria Ré informa que por razões desconhecidas somente o foi aos Logo, as provas produzidas nos autos conduzem ao convencimento de que houve extravio de parte das mercadorias importadas pela empresa autora, cabendo à Ré, portanto, em razão da responsabilidade objetiva por quaisquer danos e extravios da mercadoria transportada, indenizar todos os prejuízos aqui tido por experimentados. Quanto aos danos materiais, com razão a empresa autora. Pág. 4 de 9
5 Isto porque a regra geral estipulada pelo Código Civil é a responsabilidade do transportador pela integralidade dos prejuízos sofridos pelo expedidor da carga, notadamente porque aquele assume uma obrigação de resultado, qual seja, a de entregar a mercadoria sem avarias. Ademais, irrelevante ter a autora pago taxa suplementar. Sequer há notícia de que esse valor foi exigido pela empresa ré. Havendo danos ou extravio da carga, é evidente que o transportador deve ressarci-los de modo integral. Diante disso, apenas se pode cogitar da aplicação da norma do Código Brasileiro de Aeronáutica, limitando o valor da indenização a 3 OTN - obrigações do tesouro nacional por quilo, caso seja impossível identificar o valor da mercadoria transportada. Não é, contudo, o caso dos autos, pois o valor da mercadoria transportada é facilmente identificável a partir da documentação apresentada pela autora. Nesse sentido, o STJ: RESPONSABILIDADE CIVIL. TRANSPORTE AÉREO DOMÉSTICO DE MERCADORIAS. INDENIZAÇÃO INTEGRAL. - Não se tratando de acidente áereo, a indenização por extravio de carga acha-se subordinada ao princípio da ampla reparação, independentemente do recolhimento da taxa suplementar ad valorem. Precedentes do STJ (cf. REsp /SP, rel. Ministro Barros Monteiro, DJ 14/03/2005 p. 338). Destaquei. TRANSPORTE AÉREO. Extravio de carga. Indenização. 1. A indenização pelo dano decorrente de extravio de mercadoria transportada por companhia aérea deve ser integral. 2. Sentença que reconheceu o fato de que o desaparecimento da carga indica culpa grave dos prepostos da empresa, caso em que, mesmo aplicando a regra restritiva do Código Brasileiro do Ar, a indenização deve ser integral h (cf. REsp /SP, rel. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJ 05/08/2002 p. 344). Sublinhei. Logo, entendo que a autora faz jus ao valor das mercadorias extraviadas, no valor de R$ ,34 (dezoito mil, novecentos e oitenta e seis reais e trinta e quatro centavos) monetariamente corrigida a partir do ajuizamento da ação Pág. 5 de 9
6 e juros de mora de 1% ao mês. Quanto aos lucros cessantes, pretende a autora o recebimento do montante de R$ ,65 (dez mil, novecentos e trinta e três reais e sessenta e cinco centavos), equivalente aos prejuízos experimentados pela perda na revenda dos celulares extraviados. Pois bem. O art. 402 do Código Civil dispõe que salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar. Nesse sentido, a despeito da legislação de não definir com precisão, em que consiste o que razoavelmente deixou de lucrar, a doutrina e jurisprudência traçou seus contornos, justamente para permitir compreender em quais situações a incidência dos lucros cessantes se revela razoável. De qualquer sorte, os danos materiais danos emergentes e lucros cessantes efetivamente suportados pela vítima devem ser certos, sendo absolutamente necessária sua comprovação, não podendo se limitar a simples alegações (EDcl no REsp /PR, Rel. Min. João Otávio de Noronha, 4ª T. julgado em 23/02/2010, DJe 08/03/2010). Isso se justifica exatamente para que vítimas tenham êxito em pedidos sem qualquer base real, formulados com a intenção de não buscar o ressarcimento, mas a obtenção de lucro sem causa. Nessa linha de raciocínio nem mesmo na inexecução obrigacional resultado de falha na prestação dos serviços, a compensação devida só deverá incluir os danos emergentes diretos e imediatos, excluindo-se danos remotos e hipotéticos, situação esta que não se revela no caso dos autos. Isto porque a empresa autora adquiriu os aparelhos justamente para posterior revenda no exerício de sua atividade empresarial, sendo razoável presumir que obteria lucro com suas alienações para terceiros. Consoante planilha de fls. 07, cuidou a empresa autora de demonstrar por quanto venderia os aparelhos extraviados, indicando como perda o montante de R$ ,65 (dez mil, novecentos e trinta e três reais e sessenta e cinco centavos). Pág. 6 de 9
7 A quantia é proporcional, justamente por indicar acréscimo da média de 30% (trinta por cento) sobre o valor da aquisição dos aparelhos. Logo, entendo que a autora faz jus ao recebimento de R$ ,65 (dez mil, novecentos e trinta e três reais e sessenta e cinco centavos) a título de lucros cessantes, cuja quantia deverá ser monetariamente corrigida a partir da propositura da ação e juros de mora de 1% ao mês da citação. Quanto aos danos morais, muito embora o STJ tenha fixado entendimento por meio da súmula nº 227 na qual admite a possibilidade de pessoa jurídica sofrer dano moral, bastando a demonstração da circunstância que revele a situação ofensiva ao nome e reputação da pessoa jurídica honra objetiva, não vislumbro sua ocorrência no presente caso, visto ter havido mero descumprimento contratual pela parte requerida. Nesse sentido, os seguintes julgados: PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. ART. 535 DO CPC. ALEGAÇÕES GENÉRICAS. SÚMULA 284/STF. FORNECIMENTO DE ÁGUA. INADIMPLÊNCIA. SUSPENSÃO SEM PRÉVIO AVISO. IMPOSSIBILIDADE. DANOS MORAIS. PESSOA JURÍDICA. POSSIBILIDADE. SÚMULA 227/STJ. ANÁLISE DE MATÉRIA PROBATÓRIA. SÚMULA 7/STJ. [...]. 3. Segundo entendimento desta Corte, a pessoa jurídica pode sofrer dano moral, nos termos da Súmula 227/STJ, desde que haja ofensa à sua honra objetiva.[...]. (AgRg no AREsp /RJ, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 19/11/2013, DJe 25/11/2013). AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. DANO MORAL. VERIFICAÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. REEXAME FÁTICO-PROBATÓRIO. ENUNCIADO 7 DA SÚMULA DO STJ. DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL. MERO ABORRECIMENTO. PRECEDENTES. ENTENDIMENTO ADOTADO NESTA CORTE. VERBETE 83 DA SÚMULA DO STJ. NÃO PROVIMENTO. 1. O Tribunal de origem, com base nos fatos e provas dos autos, concluiu pela não ocorrência do dano moral. A revisão da conclusão adotada esbarra no óbice do verbete 7 da Súmula desta Corte. 2. O mero descumprimento contratual não Pág. 7 de 9
8 acarreta dano moral indenizável. 3. O Tribunal de origem julgou nos moldes da jurisprudência pacífica desta Corte. Incidente, portanto, o enunciado 83 da Súmula do STJ. 4. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no REsp /SP, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 08/05/2014, DJe 20/05/2014). A empresa autora nem ao menos relatou que em virtude do descumprimento contratual pelo Réu ficou impossibilitada de celebrar contratos com outras empresas ou teve rescindido outros já celebrados, ou, ainda teve sua imagem afetada ou abalada, impedindo-a de obter crédito perante instituições financeiras, limitando-se em discorrer doutrinariamente sobre o tema. III DISPOSITIVO Pelo exposto e por tudo o mais que consta nos autos, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos formulados na inicial proposta po LUMINAX TRADING SERVIÇOS TECNOLÓGICOS LTDA em face de AZUL LINHAS AÉREAS BRASILEIRAS S/A para: 1) Condenar a requerida, a título de indenização por danos emergentes, ao pagamento em favor da autora, o valor de R$ ,34 (dezoito mil, novecentos e oitenta e seis reais e trinta e quatro centavos) monetariamente corrigida a partir do ajuizamento da ação e juros de mora de 1% ao mês; 2) Condenar a requerida, a título de indenização por lucros cessantes, ao pagamento em favor da autora, o valor de R$ ,65 (dez mil, novecentos e trinta e três reais e sessenta e cinco centavos) monetariamente corrigida a partir do ajuizamento da ação e juros de mora de 1% ao mês; 3) Julgar improcedente o pedido de danos morais; Considerando ter a empresa autora sucumbido em parte mínima dos pedidos, condeno a ré ao pagamento da integralidade das custas e despesas processuais. Da mesma forma, condeno-a ao pagamento dos honorários advocatícios em favor do advogado parte autora, que ora fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor total da condenação conforme art. 85, 2º do NCPC. Certificado o trânsito em julgado, deverá a parte credora utilizar-se do processo virtual (PJe) para implementação da fase de cumprimento do julgado Pág. 8 de 9
9 (artigo 16 da Resolução de nº 013/2014-PR). Não havendo pagamento e nem requerimento do credor para o cumprimento da sentença no prazo de 30 (trinta) dias, dê-se baixa e arquive-se. Publique-se. Registre-se. Intime-se. Porto Velho-RO, sexta-feira, 6 de maio de Jorge Luiz dos Santos Leal Juiz de Direito RECEBIMENTO Aos dias do mês de Maio de Eu, Clêuda S. M. de Carvalho - Escrivã(o) Judicial, recebi estes autos. REGISTRO NO LIVRO DIGITAL Certifico e dou fé que a sentença retro, mediante lançamento automático, foi registrada no livro eletrônico sob o número 405/2016. Pág. 9 de 9
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