Palestrante: Lúcia Schneider Hardt Inspiração: Livro de Clóvis de Barros Filho e Arthur Meucci Ed.

Transcrição

1 A vida que vale a pena ser vivida na escola: o gestor e as vivências do cotidiano Palestrante: Lúcia Schneider Hardt luciashardt@gmail.com Inspiração: Livro de Clóvis de Barros Filho e Arthur Meucci Ed. Vozes, 2010

2 Dimensões e temáticas ticas do curso a) dimensão da gestão pedagógica e administrativa b) dimensão da gestão de pessoas As três perspectivas desejam conduzir o gestor a pensar o seu projeto na escola. Significado de projeto, deriva do latim projectus, significando algo como um jato lançado para frente. Um projeto se articula com a ideia de problema e programa. Um projeto coloca em ação : sujeito, objeto, trajeto. Características fundamentais: referência ao futuro, abertura para o novo e o caráter indelegável da ação projetada

3 Antes do projeto: ilusões A capacidade de ter projetos é que nos torna humanos, mas antes disto está um desejo de ação, de participação, de inovação. Origem da palavra ilusão. Deriva do latim illusio, illudere, forma simples ludere que está associada a ideia de jogo. Ter ilusões é achar que vale a pena estar no jogo, permanecer jogando, seguindo as regras e buscando resultados; não ter ilusões é desistir de jogar o jogo da vida. Precisamos para viver de um estoque de ilusões. Um professor precisa de ilusões, precisa acreditar na semeadura, na fecundidade do trabalho. E o gestor?

4 Projetos nacionais Um país precisa de um Plano Nacional de educação, de uma legislação que normatiza as ações pedagógicas (LDB), diretrizes curriculares, políticas públicas para formação de professores e demais ações educativas. O Estado deve saber recolher as ilusões, utopias e sonhos de uma população como recursos para estabelecer projetos que articulem o individual e o coletivo. Um gestor deve saber recolher o estoque de ilusões de sua comunidade escolar.

5 Do projeto para a vida que vale a pena ser vivida Dimensão da convivência com as pessoas: Vida tranquila Vida potente Vida moralizada Dimensão pedagógica: Vida pensada Vida prazerosa Vida intensa Dimensão administrativa: Vida ajustada Vida socializada Vida útil

6 Algumas advertências O livro- inspirador não é um manual de receitas, não oferecerá soluções mágicas para a vida O livro não é uma sociologia da felicidade, não está revelando nenhum tesouro e nem poderá de imediato resolver os problemas de sua vida. Desconfie de programas de excelência existencial, pois se funcionasse a tristeza já estaria erradicada. O livro quer lembrá-lo de sua soberania, soberania para deliberar sobre sua própria vida, com todos os riscos, este é nosso maior patrimônio. Inalienável.

7 Pensar é viver Pensar é bom e necessário. Tudo que se passa conosco depende de ininterruptas decisões: a hora de colocar o despertador, a roupa que vestimos, o que comer no café da manhã, etc. Algumas ações tornam-se automáticas e já nem pensamos mais: escovamos os dentes e estamos com o pensamento em outro lugar, dirigimos e planejamos a reunião, o almoço, o que dizer aos pais de um aluno. Mas e a vida pensada? Trata-se de uma recomendação filosófica. Se mesmo pensando a vida nem sempre é boa, o que devo fazer para que a vida fique melhor?

8 Os gregos e o pensamento Pensar para os gregos está relacionado com a vida boa. Exemplos: 1) amizade depois de uma relação de muitos anos você enfrenta uma decepção. Então você é convidado a pensar: o conceito de amizade Para ter boas relações com amigos, urge saber o que é a amizade, encontrável apenas pelo uso da razão, não é possível ter amigos sem saber o que a amizade significa.

9 Fragmentos de um diálogo de Platão Se o pai e a mãe querem a felicidade do filho, desejam ser amigos, também não deixam o filho fazer o quiser, proíbem várias coisas, estabelecem regras exatamente por desejarem a felicidade dos filhos. ( Platão, Lísias) Aqui começa a ficar clara a diferença entre o que Sócrates e Platão entendiam pelo pensamento para a vida boa e o que cada um de nós faz todos os dias nas suas escolhas particulares. Para dizer o que é amizade Sócrates questiona muitas das posições que já temos: um amigo deve sempre estar ao meu lado, preciso sempre acompanhar um amigo em suas ideias e ações, etc. Para Sócrates a ideia de amizade precisa de nossa razão, ele não tem respostas prontas, mas quer nos ajudar fazendo perguntas que motivem a reflexão( maiêutica).

10 Pensamento, beleza e justiça Outro exemplo: O que é beleza, o que é justiça? Quando não temos nenhuma ideia destes conceitos ficamos a mercê das opiniões, das tendências. O Banquete de Platão fala do belo e do bom e vai mostrando que estão implicados pelo que nos falta que é o saber. Desejamos o que não temos. Mas podemos buscar por meio de nosso pensamento. Ex: em uma eleição: estamos diante de vários candidatos e você precisa identificar aquele que é merecedor do seu voto: você pensa nos amigos, numa performance pitoresca, aposta naquele que vai ganhar, mas pode também votar em um candidato em função do que ele defende. Mas como saber se o que o candidato defende é justo? Platão no livro a República, indaga: quem deve governar? O homem justo não deve beneficiar amigos, mas deve conhecer o que é em si a ideia de justiça.

11 Busca de verdades? Não existem duas amizades iguais, belezas idênticas, decisões de justiças de igual medida, mas deve existir segundo Platão uma essência nestas ideias. Precisamos conhecer o atributo ( aquilo que faz ser) principal destas ideias. Recomenda-se um saber antes das particularidades da vivência O projeto socrático é uma aventura mental de caça a um tesouro cuja existência ele garante, pois estão em você, mas devem novamente ser lembradas pela razão. É preciso mergulhar nos pensamentos até encontrar tudo que nos é indispensável. Optar por esta estratégia implica abdicar de outros estilos de vida: a busca da satisfação dos apetites. O homem virtuoso é aquele que supera o desejo das coisas imediatas, respeitar a hierarquia entre a alma pensante e superior e o corpo desejante e inferior. Dualismo. No Banquete de Platão: amar é desejar. Desejo é o que falta. Quando aquilo que nos faltava torna-se presença, faltará o desejo. Ex: a criança quer muito um brinquedo, ao recebê-lo, a falta se fez presença que por vezes condena o brinquedo a um baú. E outros desejos virão!!! Afinal como fica a relação entre falta e presença para a vida boa?

12 Entre o desejo e sua realização Na filosofia várias respostas: desde a frustração até o tédio. Desejamos um concurso, uma profissão. Antes um desejo, por vezes uma frustração, quando alcançado pode o tédio nos dominar. Presença, deixou de faltar. Não pode neste pêndulo surgir uma vida que vale a pena ser vivida. Sair desta armadilha implica usar o pensamento. Colocar em ordem nossa vida pelo que é bom ( essencial) e nossos apetites deverão se conformar com isto. Em alguma medida precisamos de ideias essenciais para o bem viver. Se isto não estiver em processo, você corre o risco de viver à deriva. Um vida pensada impede a deriva, o naufrágio.

13 Vida prazerosa O prazer é sempre bom, assim a mera redução de um desconforto já é prazerosa. O prazer tem muito a ver com o sofrimento. Bebemos para aplacar a sede, comemos para eliminar a fome. Quanto mais intensas e diversificadas as carências, maior a chance de um encontro prazeroso. Referência: Epicuro. Filósofo nascido na ilha grega de Samos em 341 a.c. Foi aluno da Academia após a morte de Platão. Hostil ao platonismo.

14 A busca do prazer é condição e definição da própria pria felicidade ( Epicuro) A relação da vida boa com o prazer rendeu a Epicuro a pior das reputações. Injustiça com o filósofo: a busca do prazer exige um controle dos desejos mais do que sua satisfação desregrada. Ele deseja preparar o homem para o mundo. Dedica-se assim a atacar ficções, como mitos, crenças, religiões, dogmas. Desta forma, promover a paz interior, do corpo e da alma, que constituem para ele, uma só realidade.

15 Falar sobre a vida Indagações: Haverá uma idade, melhor do que as outras, para viver bem? A felicidade tem idade? Para alguns filósofos tem, pois a criança e o jovem não conseguem alcançá-la. Para Epicuro: não há idade para viver feliz. ( Carta sobre a felicidade) Compara o ato de filosofar com a busca da felicidade O bem-estar deve ser vivido sempre que possível no instante presente. Mas para isto é preciso algum investimento. A vida boa não cai do céu, mas depende do que fazemos a cada momento. Ex: nossos hábitos com o corpo indicam a futura saúde ou doença. Epicuro sempre se questionou sobre a real importância do conhecimento desvinculado da vida. Poucos professores conseguem estabelecer o vínculo entre o conteúdo programático e a vida. E os gestores?

16 Pensamos para viver melhor Em alguma medida existe em Epicuro uma crítica a Platão que insistia vivemos para pensar melhor. Epicuro vai dizer: pensar, filosofar é importante, mas exclusivamente como meio para a vida. A vida feliz é o fim, o bem soberano, assim o melhor estudo é o estudo da filosofia moral, independe da idade ou condição material.

17 Obstáculos para a felicidade Angústias e temores: Ex: preocupações com a morte; solidão, excesso de trabalho, doenças, etc. Quando pensamos em poder decidir como gastar o nosso tempo, vemos que temos pouca autonomia. Qual é hoje a nossa gestão do tempo considerando nossa profissão e o compromisso com quem depende de nós? Quais os obstáculos que enfrentamos?

18 Perspectiva de Epicuro Todo o conhecimento e sensação provêm dos sentidos então o mundo em que vivemos é o mundo que sentimos. O corpo precisa sentir para que uma experiência exista. O corpo de Epicuro é constituído por um agenciamento atômico, vamos deixando de ser a cada instante. Ilusão da permanência e ignorância sobre o fluxo. Morte: dispersão de átomos na natureza e nunca nada se perde, a matéria permanece, em ouros agenciamentos. Mortos não temos mais sentidos, assim o fim da vida não pode ser agradável, nem desagradável, assim é tolice temer a morte.

19 Vida e morte Enquanto somos a morte não nos toma, e se a morte chegar, não somos mais. Preocupar-se com a morte é não viver a vida, é renunciar a felicidade em ato. Para viver e bem o filósofo sugere que trabalhemos nossos desejos, eles provocam sofrimento, precisamos teorizar sobre eles. Categorizar, discernir seus atributos. Identificar quais são dignos de satisfação.

20 Três tipos de desejo em Epicuro a) desejos naturais e necessários b) desejos naturais e não necessários c) desejos não naturais e não necessários A felicidade vai depender do tipo de desejo que você vai dar atenção. Desejo natural-igual ao dos animais-comer, beber, dormir. Se não atendidos nos levam à morte. Desejos naturais e necessários. Mas Epicuro não aceitaria um beberrão e nem um comilão.

21 Desejos ainda Desejos naturais e não necessários: sexo. Nós e os animais desejamos sexo, mas não morremos com a abstinência. Outros: gula, excesso de sono, embriaguez. O hedonismo de Epicuro é totalmente diferente daquele que atualmente conhecemos. Para Epicuro- moderação para uma vida saudável Desejos não naturais e não necessários: glória, sucesso, luxo, riqueza, preocupação com beleza. Estes nada agregam ao bem-estar, não prolongam a vida e não trazem tranquilidade para o corpo e a alma. Nada que não seja essencial para viver serve par a felicidade

22 Desejos artificiais Estamos sendo consumidos por desejos artificiais em geral não necessários. E nos impedem acessar a felicidade. Como gestores, como lidamos com isto? Precisamos cuidar dos desejos naturais e necessários. O que significa isto na escola e o que cabe ao gestor neste contexto? A vida que vale a pena ser vivida é de prazer, mas não qualquer prazer, precisa decorrer de um prazer natural e necessário e com temperança. O que nos afasta hoje dos desejos naturais e necessários?

23 Vida intensa Intensidade, atributo da vida boa. Na intensidade, desaparecem passado e futuro, a vida se reconcilia com o presente. Quando a vida é intensa o tempo passa e você não percebe. Ex : Um filme excelente, uma música significativa, um amor inesquecível, a vinda de um filho desejado, etc. A vida intensa aparece quando nos damos conta de duas coisas: o conhecimento também revela incertezas, a perspectiva supraceleste em parte desmorona

24 O que é a vida intensa? Estamos aprendendo algumas coisas com toda a trajetória humana: Existem muitos projetos de felicidade: para alguns menos trabalho, para outros o bom mesmo é o happy hour da sexta feira, para outros todo tipo de excesso, outros ainda a vida sob a perspectiva ecológica. O autor deste livro nos diz: a qualidade de vida que desejo está no meio da sala de aula, com alunos, na descoberta dos clássicos e suas múltiplas interpretações. Qual o seu conceito de vida boa?

25 Sem pretensão de universalidade, uma regra para quem não tem vocação para tirano A vida intensa exige: a) defesa das singularidades- não existe um gabarito para a vida que seja aplicável a qualquer um. b)não existe uma solução existencial para cada um de nós, válida para toda nossa trajetória. Seremos sempre outro em relação ao que já fomos. c)o critério inédito da vida. Quando estamos bem, gostaríamos que nada mudasse, mas o fluxo da potência de vida não sossega e sempre novas lições aprendemos. E a vida que vale a pena? Esticar o encontro que alegra e abreviar o que entristece. E qual é a vida? A de cada um, a vida que te ronda em casa, nas escolas, a vida onde o tempo não pesa, onde existe vontade de renovação e criação.

26 De que estamos cansados? Oh! sim! Eu estou tão cansado Mas não prá dizer Que eu não acredito Mais em você... Com minhas calças vermelhas Meu casaco de general Cheio de anéis... Vou descendo por todas as ruas E vou tomar aquele velho navio Eu não preciso de muito dinheiro Graças a Deus! Oh! sim! Eu estou tão cansado Mas não prá dizer Que eu tô indo embora... Talvez eu volte Um dia eu volto Mas eu quero esquecê-la Eu preciso... Oh! minha grande! Oh! minha pequena! Oh! minha grande! Obsessão!... Ando tão a flor da pele Meu desejo se confunde Com a vontade de não ser (Baby!) Ando tão a flor da pele Que a minha pele tem o fogo (Honey Baby!) De um juízo final.. Barco sem porto Sem rumo, sem vela Cavalo sem cela Bicho solto, cão sem dono Menino um bandido As vezes me preservo Noutras, suicido... Ando tão a flor da pele Qualquer beijo de novela Me faz chorar Ando tão a flor da pele Que teu olhar Flor na janela Me faz morrer... Ando tão a flor da pele Meu desejo se confunde Com a vontade de não ser Ando tão a flor da pele Que a minha pele tem o fogo De um juízo final... Baby!