Universidade Federal da Bahia. Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia. Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal nos Trópicos

Tamanho: px
Começar a partir da página:

Download "Universidade Federal da Bahia. Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia. Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal nos Trópicos"

Transcrição

1 Universidade Federal da Bahia Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal nos Trópicos CARACTERIZAÇÃO DA TUBERCULOSE BOVINA EM REGIÕES DE RELEVÂNCIA ECONÔMICA NO ESTADO DA BAHIA Luciana Bahiense da Costa Salvador-Bahia 2012

2 ii LUCIANA BAHIENSE DA COSTA CARACTERIZAÇÃO DA TUBERCULOSE BOVINA EM REGIÕES DE RELEVÂNCIA ECONÔMICA NO ESTADO DA BAHIA Dissertação apresentada à Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal da Bahia, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Ciência Animal nos Trópicos, na área de Saúde Animal. Orientador: Profa. Drª. Maria Emília Bavia Salvador Bahia 2012

3 iii Sistema de Bibliotecas - UFBA Costa, Luciana Bahiense da. Caracterização da tuberculose bovina em regiões de relevância econômica no Estado da Bahia / Luciana Bahiense da Costa f. : il. Inclui anexo. Orientador: Profª Drª Maria Emília Bavia. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia, Salvador, Tuberculose em bovino. 2. Epidemiologia. 3. Fatores de risco. 4. Sistemas de informação geográfica. I. Bavia, Maria Emília. II. Universidade Federal da Bahia. Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia. III. Título. CDD CDU :

4 iv CARACTERIZAÇÃO DA TUBERCULOSE BOVINA EM REGIÕES DE RELEVÂNCIA ECONÔMICA NO ESTADO DA BAHIA LUCIANA BAHIENSE DA COSTA Dissertação defendida e aprovada para obtenção do grau de Mestre em Ciência Animal nos Trópicos Salvador, 29 de fevereiro de 2012 Comissão Examinadora: Prof a Drª Maria Emília Bavia MEV/UFBA Orientadora Drª Verena Maria Mendes de Souza ADAB Salvador - BA Prof. Dr. Antônio Sergio Ferraudo UNESP Jaboticabal- SP

5 Aos meus pais e ao grande amor da minha vida, meu filho Diego!!!! v

6 vi AGRADECIMENTOS A DEUS acima de tudo pela permissão de estar aqui Aos nossos protetores de outro plano, que nos guiam sempre pelo caminho do bem e alicerçam a nossa existência. Aos meus pais (Maria José e Wedner), meus irmãos (Andrei e Alexandre) pelo amor, apoio, compreensão, convivência e inspiração. In memorian, aos meus avós maternos (Elza e Romualdo) e paternos (Nilza e Lourival) pelos anos de agradável convivência e ensinamentos. Aos meus tios e primos pela convivência sempre harmoniosa. Com menção agradecida a minha prima Juliana pela ajuda, paciência e introdução no mundo da matemática e estatística. À Profa. Maria Emília, pela confiança, orientação e convivência. Aos Professores José Soares e Fernando Ferreira do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia/USP por todo o auxílio e ensinamentos durante a realização deste trabalho. À Marta, pela amizade, auxílio, talento e generosidade. E a todos do Laboratório de Monitoramento de Doenças pelo Sistema de Informações Geográficas pelo apoio. À todos da ADAB pela maravilhosa convivência durante os anos de trabalho e aprendizado. Aos pecuaristas por permitirem a realização do estudo epidemiológico em seus rebanhos.

7 A distância entre o sonho e a realidade chama-se disciplina Bernardinho vii

8 viii SUMÁRIO Páginas LISTA DE TABELAS... LISTA DE FIGURAS... LISTA DE SIGLAS E ABREVITURAS... RESUMO... SUMMARY... ix x xi xii xiii 1. INTRODUÇÃO GERAL REVISÃO DE LITERATURA Tuberculose bovina Histórico Epidemiologia Impactos da ocorrência da tuberculose bovina Etiologia e importância Transmissibilidade Vias de eliminação Reservatórios Patogenia Sinais Clínicos Diagnóstico Tratamento Achados anátomo-patológicos Fatores de risco

9 ix Vigilância epidemiológica e medidas de prevenção O geoprocessamento e os mapas temáticos na saúde veterinária Controle da tuberculose bovina no Brasil e na Bahia ARTIGO CIENTÍFICO I ARTIGO CIENTÍFICO II CONSIDERAÇÕES FINAIS 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANEXO 103

10 x LISTA DE TABELAS PÁGINA TABELA 1 - TABELA 2 - TABELA 3 - Dados censitários da população bovina em propriedades com atividade reprodutiva nos circuitos pecuários 1 e 2 Prevalência aparente de focos de tuberculose bovina nos circuitos pecuários 1 e 2 Prevalência aparente de fêmeas com idade superior a 24 meses positivas para tuberculose bovina nos circuitos pecuários 1 e TABELA 4 - Prevalência aparente de focos de tuberculose bovina, estratificado por tipo de exploração segundo os circuitos pecuários 1 e 2 63 TABELA 5 - TABELA 6 - Resultados da análise univariada dos possíveis fatores de risco para a tuberculose bovina no Estado da Bahia Modelo final da regressão logística multivariada para os fatores de risco para a tuberculose bovina em rebanhos com atividade reprodutiva no estado da Bahia 65 66

11 xi LISTA DE FIGURAS PÁGINA FIGURA 1 - Ciclo de transmissão do Mycobacterium bovis entre bovinos e humanos. 22 MAPA 1 - Divisão do Estado da Bahia em circuitos pecuários 54 FIGURA 2 - Divisão do Estado da Bahia em circuitos pecuários 77 FIGURA 3 - Tipos de exploração pecuária nos circuitos pecuários 1 e 2 85 FIGURA 4 - Rebanhos com mais de 18 fêmeas de bovinos com idade 24 meses 85 FIGURA 5 - Status sanitário dos rebanhos nos circuitos pecuários 1 e 2 86

12 xii LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ADAB AIDS BAAR ELISA HIV Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia Síndrome da Imunodeficiência Adquirida Bacilo álcool ácido resistente enzyme-lynked imunnosorbent assay Vírus da imunodeficiência humana adquirida M. bovis Mycobacterium bovis M. tuberculosis Mycobacterium tuberculosis OIE OMS SIG TCS TCC Organização Mundial de Saúde Animal Organização Mundial da Saúde Sistema de Informação Geográfica Teste Cervical Simples Teste Cervical Comparativo

13 xiii Costa, L. B. A Tuberculose Bovina em regiões de relevância econômica no Estado da Bahia. Salvador, Bahia, p. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal nos Trópicos) Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal da Bahia, RESUMO Em virtude da importância da tuberculose bovina como enfermidade causadora de prejuízos econômicos e o impacto em saúde pública e visando apoiar o planejamento e execução do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Tuberculose Bovina, foi realizado um estudo epidemiológico para caracterizar a situação da enfermidade no Estado da Bahia, localizado na região nordeste do Brasil, entre 2008 e 2010, com base em parceria estabelecida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MAPA e a Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB), em conjunto com o Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP). O estudo teve como objetivos estimar a prevalência de machos e fêmeas acima de 24 meses com resultado à tuberculinização positiva para tuberculose, além da prevalência de focos de tuberculose bovina em diferentes áreas do estado. Para isso, a Bahia foi dividida em 04 circuitos produtores. Complementarmente foi realizada caracterização epidemiológica do Estado da Bahia como um todo e de cada circuito pecuário, além da verificação de possíveis fatores de risco associados à presença de tuberculose bovina. As prevalências de focos de tuberculose bovina e de animais positivos no estado foram 1,6% e 0,21% respectivamente. Nos circuitos produtores 1 e 2, que correspondem às mesorregiões do extremo oeste, Vale São Francisco, Centro-Sul e Sul Baiano e, alguns municípios da Centro-Norte e Nordeste Baiano, as prevalências de focos foram de 2,0% e 2,9% respectivamente e as prevalências de animais nos referidos circuitos foram de 0,08% e 0,66% respectivamente. Os possíveis fatores de risco associados à ocorrência de tuberculose bovina nos circuitos pecuários supracitados foram o tipo de exploração leite e mista e a propriedade possuir uma quantidade superior a 18 fêmeas de bovinos acima de 24 meses de idade. Palavras-chave: Tuberculose bovina, prevalência, fatores de risco

14 xiv Costa, L. B. Bovine Tuberculosis in regions of economic importance in the State of Bahia. Salvador, Bahia, 125 p. Dissertation (Master in Animal Science in the Tropics) - Veterinary Medicine School, Federal University of Bahia, SUMMARY Given the importance of bovine tuberculosis as a disease causing economic losses and the impact on public health and to support the planning and implementation of National Programme for Control and Eradication of Bovine Tuberculosis, an epidemiological study was conducted to characterize the situation of the disease in the State of Bahia, located in northeastern Brazil, between 2008 and 2010, based on a partnership established by the Ministry of Agriculture, Livestock and Food Supply - MAPA and the State Bureau of Agricultural Defense of Bahia (ADAB), in conjunction with the Department of Veterinary Preventive Medicine and Animal Health, Faculty of Veterinary Medicine, University of São Paulo (USP-FMVZ). The study aimed to estimate the prevalence of males and females over 24 months with a result to the tuberculin positive for tuberculosis, and the prevalence of outbreaks of bovine tuberculosis in different areas of the state. For this, Bahia was divided into 04 regions. Addition was conducted epidemiological characterization of Bahia as a whole and each circuit livestock, and the verification of possible risk factors associated with the presence of bovine tuberculosis. The prevalence of outbreaks of bovine tuberculosis and positive animals in the state were 1.6% and 0.21% respectively. In production circuits 1 and 2, which correspond to the meso far west Valley St. - Francisco, Center- South and South Bahia, and some municipalities of the North Central and Northeast Baiano, the prevalence of infected herds were 2.0% and 2 9% respectively and the prevalence of animals in these circuits were 0.08% and 0.66% respectively. The possible risk factors associated with the occurrence of bovine tuberculosis in cattle above circuits were the type of milk and mixed farm and the property has an excess of 18 female cattle over 24 months of age. Keywords: Bovine tuberculosis, prevalence, risk factors

15 1 1. Introdução Geral No início da década de 90, a economia mundial vivia uma fase de prosperidade e de crescente liquidez. Nesse contexto, grandes empresas internacionais das mais variadas áreas aprofundaram a sua face multinacional, motivadas por diferentes estratégias. No caso específico do Brasil, a existência de grandes reservas de terras cultiváveis e os avanços contínuos na área da pesquisa foram fatores altamente atrativos e que explicam o interesse dos grandes grupos internacionais pelo agronegócio brasileiro. (BENETTI, 2004). O aumento da presença do capital estrangeiro em vários segmentos do agronegócio pela presença, no Brasil, de novos grupos internacionais (norte-americanos, italianos, franceses, argentinos, portugueses, noruegueses) ampliou muito a competição no mercado brasileiro. Trata-se de um país privilegiado quanto às condições para produção de proteínas de origem animal, incluindo clima, solo, tecnologia, recursos humanos e uma ampla extensão territorial, o que lhe dá excelentes perspectivas futuras, com 90 milhões de hectares ainda não explorados e o possibilita à produção de proteína animal a preços competitivos, com quantidades crescentes e qualidade cada vez mais exigida pelos mercados consumidores (DOMINGUES, 2008). Atualmente o Brasil é o maior exportador de carne bovina, isoladamente, segundo em carne de frango e quarto em carne suína. Em termos de produção é o maior produtor de carne bovina, terceiro produtor de carne de frango e quarto em carne suína, sendo a União Européia o maior comprador de produtos agropecuários do Brasil responsabilizando-se por cerca de 35,8% das exportações brasileiras (MAPA, 2011). Projeções de carnes para o Brasil mostram que esse setor deve apresentar intenso crescimento nos próximos anos com projeções das maiores taxas de crescimento da produção no período 2010/2011 a 2020/2021 para a carne de frango, que deve crescer

16 2 anualmente 2,6%, e a bovina, cujo crescimento projetado para esse período é de 2,2% ao ano. A projeção de crescimento para a carne suína é de 1,9% ao ano, o que também representa um valor relativamente elevado, pois consegue atender ao consumo doméstico e às exportações. As projeções para o leite demonstram elevada possibilidade de crescimento na produção atingindo uma média de 2,5% ao ano (MAPA 2011). Apesar do crescimento em produção e exportação de produtos agropecuários o Brasil tem enfrentado grande competitividade internacional traduzida através das exigências cada vez maiores estabelecidas pelos países importadores, compondo as barreiras sanitárias. As exigências giram em torno da produção, com destaque para o bem estar animal e o controle sanitário dos rebanhos, o que irá refletir em produtos sem risco sanitário, com qualidade e assim, competitividade nos mercados. Dentre as enfermidades restritivas ao comércio internacional de animais e produtos de origem animal e vegetal, destaca-se a febre aftosa, onde se ressaltam atualmente no comércio internacional os países livres e os países com aftosa, seguida de outras como a tuberculose e a brucelose bovina, principalmente interferindo na comercialização de produtos lácteos. A tuberculose é uma doença infecciosa crônica de longa duração no homem, além de representar importante causa de mortalidade em muitos países em desenvolvimento. Caracteriza-se por ser uma enfermidade antiga (HIIJAR et al., 2005), pois se encontrou evidências da sua ocorrência nas múmias egípcias, há cerca de anos (PELCZAR, 1981). Em 1882 Robert Koch descobriu o agente infeccioso, mas apenas em 1897, nos EUA, a diferenciação entre o bacilo humano, o bovino e o aviário foi descrita por Theobald Smith. Essa descoberta foi de grande importância, pois a partir daí pode-se constatar que quase todos os animais domésticos e também os selvagens,

17 3 livres e em cativeiro, assim como as aves, particularmente as domésticas, podem se infectar e adoecer (CASTRO, 2009). A tuberculose é uma das doenças infecciosas mais disseminadas, sendo líder em causa de morte por um único agente infeccioso em indivíduos adultos no mundo. A incidência global da tuberculose é amplamente subestimada, a maioria dos casos reportados, cerca de 62% ocorreram no Sudeste da Ásia, em regiões do Pacífico Ocidental, na África, em cada uma das regiões das Américas, Leste do Mediterrâneo e Europa. Muitos países tem dificuldade ou são incapazes de reportar a ocorrência de casos em virtude da dificuldade na identificação de casos suspeitos, estabelecimento de diagnóstico e registro de casos identificados (COSIVI, et al., 1998). Em 1993, foi declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) doença de emergência global, com base nos elevados índices de incidência e mortalidade, principalmente nos países com piores condições sócio-econômicas, sendo também destacada como uma das principais doenças associadas entre os pacientes portadores do vírus da imunodeficiência humana adquirida (HIV). Dentre os vinte e dois países com os maiores números absolutos de casos, o Brasil ocupa o 15º lugar (HIIJAR et al., 2005). Há vários tipos de bacilos da tuberculose: as espécies humana, bovina e aviária, e as encontradas em animais de sangue frio. As espécies humana e bovina possuem especial importância visto que ambas são capazes de causar infecções no homem. A espécie aviária não é patogênica para o homem (PELCZAR, 1981). O Mycobacterium tuberculosis é a causa mais comum da tuberculose humana, mas, uma proporção desconhecida de casos acontece devido à presença do Mycobacterium bovis (LOBUE et al., 2003). Em países da América Latina como o Brasil, onde a febre aftosa está em fase de erradicação, o controle da tuberculose e da brucelose está sendo realizado em virtude

18 4 da expectativa de serem as próximas enfermidades a se tornarem alvo das exigências sanitárias internacionais (VALENTE, 2009). É fato que além dos prejuízos causados aos rebanhos e restrições ao comércio internacional, estão amplamente distribuídas no território nacional, além de serem doenças infecciosas de caráter zoonótico, o que as remete a um problema de saúde pública. Abordando os danos causados aos sistemas produtivos, trata-se de uma enfermidade, assim como a brucelose, de evolução crônica causando reduzida mortalidade, entretanto consegue deteriorar a capacidade produtiva e reprodutiva dos animais, influenciando também nos custos de produção, principalmente com medicamentos para tratamento de infecções secundárias além da reposição de animais eliminados quando positivos aos testes de diagnóstico, como recomenda a legislação em vigor. O caráter crônico e a reduzida mortalidade contribuem para a uma baixa percepção dos prejuízos em curto prazo, por parte dos pecuaristas (VALENTE, 2009). A tuberculose como zoonose deve suscitar preocupação, principalmente nos países em desenvolvimento, onde os aspectos relacionados à saúde pública devem ser melhorados. E, no que diz respeito à infecção humana pelo M. bovis, deve-se avaliar especialmente as populações em risco, incluindo tratadores, criadores, médicos veterinários e trabalhadores da indústria de carnes. Kantor e Ritaco (1994) estimaram que cerca de 8% dos casos de tuberculose humana, na América Latina, sejam causados pela tuberculose de bovinos. No Brasil são notificados anualmente aproximadamente 87 mil casos de tuberculose, sendo que destes 71 mil são casos novos (Ministério da Saúde MS, 2012). Como não há estudos para diferenciação do bacilo causador não se tem referência acerca de quanto destes casos foram causados pelo M. bovis.

19 5 A erradicação da tuberculose já foi alcançada em vários países: na Dinamarca (em 1980), na Holanda, Finlândia e Suíça (em 1995), na Alemanha e Luxemburgo (em 1997), na Áustria e em algumas regiões da Itália (1999), na França (em 2001) e na Bélgica em 2003 (VALENTE, 2009). Em virtude das tentativas isoladas de alguns estados do controle da enfermidade em seus rebanhos, da necessidade premente da implementação de medidas de maneira mais abrangente visando atender possíveis exigências sanitárias internacionais futuras, foi instituído em 2001, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT). Seus objetivos principais incluem a redução da prevalência e incidência de novos focos de tuberculose e de brucelose além da criação de um número significativo de propriedades certificadas como livres e/ou monitoradas para tuberculose e brucelose, de modo a oferecer ao consumidor produtos de baixo risco sanitário (BRASIL, 2006). O programa tem em vista o combate de doenças crônicas e endêmicas e adotou como base estratégias que visam não só prevenir a disseminação do agente infeccioso como também alcançar a eliminação progressiva de focos da enfermidade. Por isso, conta com um conjunto de medidas compulsórias associadas a ações de adesão voluntária. Dentre as medidas compulsórias adotadas pelo programa em relação ao controle da tuberculose bovina destaca-se o controle do trânsito de animais destinados à reprodução. As ações de adesão voluntária dizem respeito à certificação de propriedades livres e monitoradas, instrumento a ser utilizado por parte dos produtores e setor agroindustrial para agregar valor aos seus produtos. Desse modo, o programa é capaz de envolver todos os elos da cadeia produtiva assim como os médicos veterinários do setor privado.

20 6 O rebanho bovino da Bahia, com efetivo de de cabeças, distribuídos em 417 municípios (ADAB, 2008) e 32 microrregiões (IBGE, 2011) contribui para a crescente importância do agronegócio no Estado. Esse crescimento torna cada vez mais necessário o incremento do controle sanitário nos rebanhos. Tornase cada vez mais importante, a informação sobre os indicadores de saúde da população do nosso rebanho, da mesma maneira que a importância do levantamento dos fatores de risco ligados às doenças, especificamente, a Tuberculose Bovina. Tais informações tornam-se extremamente relevantes na busca de informações que possam vir a subsidiar as atividades dos programas clássicos de controle e erradicação dessa doença. O controle e monitoramento, em busca da erradicação da enfermidade, são atividades imprescindíveis para a sanidade dos rebanhos, qualidade dos produtos, aumento da produtividade, competitividade do rebanho e conseqüente renda (ALVES, 2008). A compreensão da distribuição espacial de dados a partir dos fenômenos ocorridos no espaço tem se revelado um desafio para a elucidação de questões centrais em diversas áreas de conhecimento, dentre elas a saúde humana e animal. A proposta deste trabalho segue a orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS) e Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), que postula o enfoque de risco para o estudo de doenças endêmicas e zoonóticas, em países em desenvolvimento. Esse trabalho tem como objetivo a caracterização epidemiológica da tuberculose bovina no estado da Bahia, especificamente nas mesorregiões do extremo oeste, Vale São Franciscano, Centro-Sul e Sul Baiano e, alguns municípios da Centro-Norte e Nordeste Baiano e visa a identificação de fatores e áreas prioritárias para o desenvolvimento da doença, fornecendo informações que poderão servir de subsídio para possíveis alterações nas estratégias de controle da doença nas rerferidas regiões.

21 7 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. TUBERCULOSE BOVINA Histórico A tuberculose é uma doença infecciosa crônica de longa duração no homem além de representar importante causa de mortalidade em muitos países em desenvolvimento. É uma das doenças infecciosas mais difundidas e é a principal causa de morte devido a um único agente infeccioso em adultos, no mundo (COSIVI et al., 1998). Caracteriza-se por ser uma enfermidade tão antiga quanto a civilização (PELCZAR, 1981; FERREIRA NETO & BERNARDI, 2008), pois se encontrou evidências da sua ocorrência nas múmias egípcias, há cerca de anos (PELCZAR, 1981). Em 1882 Robert Koch descobriu e descreveu o agente infeccioso (OLIVEIRA et al., 2008), mas apenas em 1897, nos EUA, a diferenciação entre o bacilo humano, o bovino e o aviário foi descrita (JÚNIOR & SOUZA, 2008; CASTRO, 2009). Essa descoberta foi de grande importância, pois a partir daí pode-se constatar que quase todos os animais domésticos e também os selvagens, livres e em cativeiro, assim como as aves, particularmente as domésticas, podem se infectar e adoecer (CASTRO, 2009). A história natural da tuberculose bovina começou a ser compreendida em 1810, a partir da observação de Carmichael que estabeleceu uma ligação entre o aparecimento de escrófula em crianças e o consumo de leite de vaca, porém concluindo equivocadamente que fatores nutricionais desencadeavam a enfermidade. Em 1846, Klencke concluiu que a fonte da doença era o leite após observar uma maior freqüência de linfadenite tuberculosa entre crianças alimentadas com leite de vaca em

22 8 relação às alimentadas com leite materno (FERREIRA NETO & BERNARDI, 2008). Villemin, em 1868, reproduziu experimentalmente a tuberculose, inoculando coelhos com material obtido de vacas doentes, e observou que o material proveniente dos bovinos era mais virulento para o coelho do que o material análogo proveniente de humanos (FERREIRA NETO & BERNARDI, 2008). Na virada do século o governo inglês resolveu nomear uma comissão: Royal Comissiono of Tuberculosis com vistas ao esclarecimento de dúvidas relacionadas à doença humana e animal, principalmente no que se refere ao aspecto zoonótico. A comissão desenvolveu um extenso programa de pesquisa visando dirimir as dúvidas sobre a tuberculose bovina e sua relação com a tuberculose humana, no período de 1901 a 1911, gerando a produção de quatro documentos e as seguintes conclusões: a existência de três tipos de bacilos tuberculosos (humano, bovino e aviário) assim como micobactérias saprófitas, a causalidade de tuberculose extra-pulmonar no homem (crianças) pelo bacilo tuberculoso presente no leite bovino, infecção do homem com tuberculose pulmonar pelo agente dos bovinos via inalação, notável susceptibilidade do homem ao bacilo bovino, além do desenvolvimento de técnicas experimentais e investigação de testes tuberculínicos para o diagnóstico da doença (FERREIRA NETO & BERNARDI, 2008). Existem várias referências anteriores à era bacteriana sobre o perigo que representa para o homem o consumo de carne de animais com caquexia, sendo provável que estivesse incluída nesta designação a tuberculose bovina: No Talmud, no fim do século II, quando houve uma proibição pelos rabinos da utilização da carne de bovinos em cujos pulmões fossem encontradas lesões ulcerativas; Em Munique, em 1307, pela promulgação de lei semelhante a do Talmud e em Leipzg, 1788, onde a morte de 12

23 9 estudantes foi atribuída à ingestão de carne de animal tuberculoso (SOUZA et al., 2009). No final do século passado a ocorrência de tuberculose entre os bovinos em muitos países da Europa girava em torno de 20 a 40%, assim, em 1911 chegou-se a conclusão que os bovinos tuberculosos representavam um risco para a saúde pública e que algo deveria ser feito a respeito (FERREIRA NETO & BERNARDI, 2008). A partir daí vários países iniciaram programas de controle da enfermidade, com base na introdução de rotinas de inspeção de carnes, pasteurização do leite e controle da doença nas populações animais, com grandes benefícios de ordem econômica e para os consumidores de produtos de origem animal. A importância da tuberculose animal em saúde pública foi reconhecida primeiramente pela OMS, através de publicação do Comitê Consultivo em Tuberculose no ano de O comitê reconheceu a ocorrência de infecção humana da tuberculose bovina nos países onde a doença é prevalente nos rebanhos bovinos além do risco de transmissão da infecção pelo contato direto entre animais infectados e trabalhadores de fazendas e seus familiares, assim como, através do consumo de produtos contaminados (COSIVI et al., 1998). Desde então a enfermidade tem sido alvo de controle e quase eliminação em vários países industrializados, porém em poucos países em desenvolvimento. Dados de 1982, do Centro Panamericano de Zoonoses, na Argentina, indicam a ocorrência entre 1941 e 1955, de 24 casos de tuberculose bovina em humanos, a partir de 235 cepas examinadas (SOUZA et al., 2009). Anteriormente, o bacilo tuberculoso era considerado uma variante do Mycobacterium tuberculosis, sendo denominado M. tuberculosis variante bovis ou M. tuberculosis subespécie bovis. Em 1970, KARLSON & LESSEL propuseram a

24 10 classificação, utilizada atualmente, de Mycobacterium bovis (FERREIRA NETO & BERNARDI, 2008) Epidemiologia A tuberculose bovina (TB) é uma enfermidade infecto-contagiosa, de caráter crônico (RUGGIERO, 2004; SHITAYE et al., 2007; FUVERKI, 2008; MARQUES, 2008; HUMBLET et al., 2009; SABEDOT et al., 2009; FIGUEIREDO, 2010; LAVAGNOLI, 2010), caracterizada pela formação de granulomas específicos, denominados tubérculos (RUGGIERO, 2004; JÚNIOR & SOUZA, 2008; CASTRO et al., 2009; PACHECO et al., 2009; SOUZA ET AL., 2009; LAVAGNOLI, 2010; SENASA, 2011) que podem localizar-se em qualquer órgão ou tecido (WURFEL,2009). Afeta mamíferos, incluindo o homem, caracterizando-se como uma zoonose (SABEDOT et al., 2009), e aves, e constitui um sério problema de saúde humana e animal (JÚNIOR & SOUZA, 2008). Possui um período de incubação longo, com quadros pouco uniformes e uma evolução demorada (DUARTE et al., 2007). Ocasionalmente pode assumir um caráter agudo e curso progressivo rápido (RUGGIERO, 2004). Presente em diversas partes do mundo (RUGGIERO, 2004) a tuberculose bovina apresenta maior prevalência em rebanhos leiteiros (LILENBAUM, 2007; SOUZA et al., 2009; FIGUEIREDO, 2010), principalmente rebanhos estabulados (SOUZA et al., 2009) causando prejuízos além de risco à população que consome produtos de origem animal (LILENBAUM, 2007). Para rebanhos de corte, com animais criados extensivamente, a importância epidemiológica da tuberculose é menor (SOUZA et al., 2009).

25 11 A tuberculose bovina apresenta incidência reduzida em alguns países, incluindo Estados Unidos, Canadá, Reino unido e outros países da Europa (CASTRO et al., 2009) mas a cada ano são diagnosticados dez milhões de novos casos, sendo a maior prevalência verificada nos países em desenvolvimento (JÚNIOR & SOUZA, 2008; HUMBLET et al., 2009) e a menor em países desenvolvidos, onde o controle e erradicação encontram-se em fase avançada. Apesar de o agente causador ter sido descoberto no final do século XIX, o desenrolar da enfermidade humana e bovina tem se agravado, principalmente nos países subdesenvolvidos (JÚNIOR & SOUZA, 2008). Dos 34 países da América latina e Caribe 12 reportaram a ocorrência de tuberculose bovina como esporádica ou baixa, 07 (sete) reportaram-na como enzoótica e um (República Dominicana) descreveu a ocorrência como elevada. Doze países não reportaram a ocorrência e, dos dois países remanescentes não havia dados disponíveis. Na região, doze países aplicam medidas de controle da doença como parte de política sanitária de teste e sacrifício obrigatório de animais positivos e, consideram a tuberculose bovina uma doença notificável, contudo, nos 22 países restantes a doença está parcialmente controlada ou não está controlada (COSIVI et al., 1998). Na América latina e Caribe, do total da população de bovinos, quase 76% está em países onde a enfermidade é notificável e há política sanitária de teste e eliminação de animais positivos, estando os 24% restantes em regiões onde a TB (Tuberculose Bovina) é controlada parcialmente ou não é controlada, coincidindo com a presença da maior parte da população humana (COSIVI et al., 1998). Segundo a HEALTH PROTECTION AGENCY durante a década de 30, 40% dos bovinos abatidos na Inglaterra e País de Gales apresentavam tuberculose óbvia. Taxas da enfermidade caíram drasticamente desde então com novos casos confirmados ocorrendo em apenas cerca de 0,4% dos rebanhos de bovinos do Reino Unido a cada ano. Contudo, a

26 12 incidência de tuberculose causada pelo M. bovis está aumentando, tendo alcançado no sudoeste da Inglaterra mais de 1% dos rebanhos de bovinos afetados anualmente. No Brasil, no que se refere a dados oficiais com relação à tuberculose bovina, há uma estimativa da prevalência em 1986 numa população bovina de 137 milhões de cabeças entre 0,9 e 2,9% com 6,2 a 26,3% de rebanhos acometidos (RUGGIERO, 2004). Entre 1989 e 1998, os dados de notificações oficiais indicam uma prevalência média no país de 1,3% de animais infectados (BRASIL, 2006). Informações acerca da ocorrência da enfermidade em humanos a partir do M. bovis, tanto em países desenvolvidos como em países em desenvolvimento, são escassas (RUGGIERO, 2004; HEALTH PROTECTION AGENCY, 2009). Estudos a partir de revisões da ocorrência de tuberculose zoonótica publicados entre 1954 e 1970 estimaram que a proporção de casos humanos pelo M. bovis eram responsáveis por 3,1% de todas as formas de tuberculose: 2,1% das formas pulmonares e 9,4% das extrapulmonares (COSIVI et al, 1998). Outros estudos realizados na Inglaterra e País de Gales em 1931, 1937 e 1941 estimaram que em torno de 6% das mortes por todas as formas de tuberculose ocorreram em virtude da infecção pelo referido Mycobacterium (HEALTH PROTECTION AGENCY, 2009). Enfermidade humana causada pelo M. bovis tem sido confirmada em países do continente africano como Nigéria, Zaire, Tanzânia, Zambia, dentre outros, assim como em alguns países da Ásia (COSIVI et al., 1998). A incidência do M. bovis permanecerá provavelmente subestimada enquanto a diferenciação entre as espécies de Mycobacterium (M. bovis e M. tuberculosis) não esteja sendo sistematicamente realizada (HUMBLET et al., 2009). Ainda que a epidemiologia da tuberculose bovina seja bem entendida e documentada e estratégias para um controle efetivo e eliminação da enfermidade sejam conhecidos há algum tempo, a doença ainda encontra-se amplamente distribuída e

27 13 frequentemente negligenciada na maior parte dos países em desenvolvimento. Nesses países, suas consequências em saúde pública raramente são investigadas, permanecendo em muitas regiões totalmente ignoradas (COSIVI et al., 1998). A prevalência de tuberculose causada pelo Mycobacterium bovis em países em desenvolvimento é desconhecida devido à complexidade e restrição de verbas para realização da diferenciação das espécies de micobactérias (HEALTH PROTECTION AGENCY, 2009). Resultados de estudos de prevalência encontrados na literatura apresentam uma variação que tem uma relação direta com o tipo de teste realizado (SABEDOT et al., 2009) Impactos da ocorrência da Tuberculose Bovina A tuberculose tanto no homem como nos animais continua a desempenhar um papel preponderante entre as doenças infecto-contagiosas, apresentando grande impacto nas populações e causando grandes prejuízos econômicos e sociais (ROXO, 2008). Alguns prejuízos causados pela ocorrência da enfermidade nos rebanhos caracterizam a importância econômica dessa enfermidade e envolvem: perdas por mortes de animais, redução na eficiência reprodutiva, queda na produção de leite e no ganho de peso, descarte precoce, eliminação de animais de alto valor zootécnico (FUVERKI, 2008; OLIVEIRA et al., 2008; PACHECO et al., 2009) condenação de carcaças e restrição à exportação (OLIVEIRA et al., 2008). Observa-se ainda a perda de prestígio e credibilidade da unidade de criação onde a doença é registrada (PACHECO et al., 2009), além da redução do valor dos animais vivos infectados (JÚNIOR & SOUZA, 2008).

28 14 Estima-se que a perda na produção de leite pode chegar a 10% e na produção de carne a 20% em rebanhos com animais tuberculosos (JÚNIOR & SOUZA, 2008), alcançando 25% de reduções na produtividade animal e interferindo na capacidade plena de produção (POLETTO et al., 2004). Estimativas dão conta de uma perda anual em relação à TB na Argentina de aproximadamente 63 milhões de dólares. Estudos na Turquia estimam um impacto sócio-econômico no agronegócio e na saúde de aproximadamente 15 a 59 milhões de dólares por ano (COSIVI et al., 1998). Em muitos países da América Latina a decisão para o controle e erradicação da tuberculose bovina tem sido tomada através de acordos entre governo e criadores. Em regiões onde a febre aftosa foi erradicada, a eliminação de outras doenças infecciosas com a brucelose e a tuberculose bovina, tornou-se importante em virtude do impacto nas exportações de animais vivos e de carne (COSIVI et al., 1998). Oliveira et al (2008) cita que no Estado do Rio de Janeiro, no período de 1980 a 1989 houve grande preocupação com a baixa fertilidade e controle sanitário dos rebanhos, além de haver suspeita da ocorrência de TB, levando os médicos veterinários responsáveis a procurar auxílio dos órgãos competentes para diagnóstico e controle da enfermidade nos rebanhos. Em muitos países em desenvolvimento as implicações econômicas da tuberculose zoonótica são negligenciadas e o real impacto da doença tanto na saúde pública quanto na produção animal necessita ser avaliado (COSIVI et al., 1998). O M. bovis, classificado como um patógeno de risco 3 para a saúde pública, pode ser responsável por cerca de 4 mil casos dentre os 100 mil casos de tuberculose em humanos descritos anualmente no Brasil (FUVERKI, 2008). Na área de saúde pública, no país, a escassez de trabalhos de caráter epidemiológico recentes em humanos,

29 15 incluindo a realização de tipificação do agente causador da tuberculose, associada à possibilidade de uma infecção primária silenciosa, como por exemplo, a AIDS, impedem uma análise real da situação da progressão da zoonose em seres humanos (JÚNIOR & SOUZA, 2008). JÚNIOR & SOUZA Referem ser a TB responsável por parte das infecções humanas, principalmente pelo consumo de leite cru. Por isso a necessidade de pasteurização. Outros grupos de maior exposição à doença incluem os tratadores de rebanhos infectados e trabalhadores da indústria da carne. Na Argentina, com base no diagnóstico bacteriológico, ficou comprovado o caráter ocupacional da doença e sua transmissão por aerossóis. Entre 1984 e 1989, 2,4 a 6,2% de todos os casos de tuberculose diagnosticados, eram causados pelo bacilo bovino e cerca de 64% envolviam profissionais de matadouro e tratadores de animais (RUGGIERO, 2004). Dados epidemiológicos sobre a prevalência da TB no país são escassos, o que dificulta muito o estudo sistemático do impacto econômico dessas enfermidades, principalmente no rebanho bovino leiteiro, por oferecer maior possibilidade de infecção do homem, através do contato direto e consumo de leite e derivados (POLETTO et al., 2004). Nas diferentes regiões há variação na prevalência da TB podendo estar relacionada a diversos fatores como fonte de aquisição de animais, manejo, clima e a rotina de diagnóstico de TB em cada propriedade. Brasil e Argentina juntos possuem 3,5 milhões de bovinos infectados espalhados por todo o território, representando quase 2% da população bovina existente (ROXO, 2008). Dados do Centro Panamericano de Zoonoses, de 1972, demonstram que além das perdas por condenação total ou parcial de carcaças, os custos adicionais de

30 16 processamento de animais tuberculosos são de aproximadamente 8,5% do valor do animal (BUBNIAK, 2000) Etiologia e Importância É causada principalmente pelo Mycobacterium bovis (HEADLEY, 2002; RUGGIERO, 2004; FUVERKI, 2008; JÚNIOR & SOUZA, 2008; PACHECO et al., 2009; SABEDOT et al., 2009), microorganismo que pertence à ordem Actynomicetalis, ao gênero Mycobacterium e a família Mycobacteriaceae (RUGGIERO, 2004; JÚNIOR & SOUZA, 2008; PACHECO et al., 2009). O referido agente faz parte do complexo Mycobacterium tuberculosis que inclui o M. bovis, o M. tuberculosis, o M. africanum, ainda não isolado no Brasil, o M. microti, patogênico apenas para a ratazana (Microtis agrestis), e o M. canettii, não patogênico para o homem (COUTO, 2008; JÚNIOR & SOUZA, 2008; HEALTH PROTECTION AGENCY, 2009), e, representa um grupo de microrganismos com a capacidade de causar tuberculose em seres humanos (HEALTH PROTECTION AGENCY, 2009). Em 2003, foi descoberta uma nova espécie o M. pinnipedii isolada em focas e leões marinhos, mas há pouco conhecimento sobre sua patogenicidade para o homem e outros animais (RUGGIERO, 2004). Com menor freqüência a TB pode ser causada pelo Mycobacterium avium e Mycobacterium tuberculosis. As micobactérias são microrganismos pequenos, bastonetes gram-positivos, curtos, imóveis, não ramificados, aeróbicos, álcool-ácido resistentes e não apresentam hifas aéreas. Podem apresentar-se como bactérias encurvadas ou em forma de bastões, às vezes filamentosas. São finas e não apresentam cápsula nem esporo (JÚNIOR &

31 17 SOUZA, 2008; CASTRO et al., 2009). Bacilos curtos aeróbicos, imóveis, não capsulados, não flagelados, apresentando aspecto granular quando corados, medindo de 0,5 a 0,7 µm de comprimento e 0,3 µm de largura (RUGGIERO, 2004; PACHECO et al, 2009). Possuem característica tintorial, nos gêneros Mycobacterium e Nocardia, tornando difícil a diferenciação em alguns casos. O termo tuberculose só é usado para a doença causada pelo M. tuberculosis, M. bovis e M. avium, agentes etiológicos da tuberculose humana, bovina e aviária, respectivamente (JÚNIOR & SOUZA, 2008). Há vários tipos de bacilos da tuberculose, as espécies humana, bovina e aviária e as encontradas em animais de sangue frio. As espécies: humana e bovina tem especial importância visto que ambas são capazes de causar infecções no homem. A espécie aviária não é patogênica para o homem (PELCZAR, 1981). A espécie humana (Mycobacterium tuberculosis) parasita quase que exclusivamente o homem, sendo responsável por mais de 90% dos casos de tuberculose, enquanto que a espécie bovina, geralmente adquirida pela ingestão de produtos de animais infectados, geralmente se manifesta como uma tuberculose óssea ou do sistema linfático. O Mycobacterium tuberculosis é a causa mais comum da tuberculose humana, mas uma proporção de casos ainda não conhecida ocorre devido à presença do Mycobacterium bovis (COSIVI et al., 1998). O M. bovis é patogênico para as espécies domésticas e silvestres, principalmente bovinos e bubalinos (MARQUES, 2008), e pode participar da etiologia da tuberculose humana (JÚNIOR & SOUZA, 2008). O M. tuberculosis é a principal causa da tuberculose em humanos, mas pode infectar bovinos e mesmo sem causar doença progressiva pode sensibilizá-los ao teste tuberculínico. Possui caráter autolimitante e não há relato da transmissão deste microrganismo entre bovinos ou de bovinos para humanos. O M. avium é causa de tuberculose em várias espécies de aves e

32 18 também pode provocar reações inespecíficas à tuberculinização, dificultando o diagnóstico da tuberculose em bovinos e bubalinos (CASTRO et al., 2009), além de poder ser responsável por uma proporção considerável em outras espécies animais (JÚNIOR & SOUZA, 2008). Quanto à resistência e sensibilidade do agente, ao abrigo da luz, como por exemplo, em estábulos, o M. bovis pode sobreviver por vários meses e nas pastagens por até dois anos (ABRAHÃO, 1999; CASTRO et al., 2009). É sensível à pasteurização do leite, a ação da luz solar direta em ambiente seco e a alguns fenóis orgânicos a 3%, após meia hora (CASTRO et al., 2009). Em estábulos e ao abrigo da luz, podem sobreviver em grandes expectorações durante vários meses e em gotículas de três a dezoito dias (SOUZA et al., 2009). É resistente a vários desinfetantes químicos, com exceção dos produtos que desnaturam proteínas como o fenol, formol, cresol e álcool e naturalmente resistente à pirazinamida, que é uma das principais drogas antituberculosas (ABRAHÃO, 1999). O M. bovis infecta os animais independentemente da estação do ano, clima, sexo e região, mas possui relação com a quantidade de anos vividos pelo animal, assim, quanto mais velho o bovino, maior a probabilidade de contágio (CASTRO et al., 2009). A tuberculose bovina tem importância em saúde pública (POLETTO et al., 2004) por tratar-se de uma zoonose importante (RUGGIERO, 2004; CASTRO et al., 2009) pela facilidade e frequência da transmissão dos animais para o homem incrementando o aumento da incidência da tuberculose em humanos, com destaque para os imunodeprimidos (CASTRO et al., 2009). Em regiões onde a tuberculose bovina está eliminada, a ocorrência de alguns casos residuais foi observada em idosos com resultado da reativação de lesões latentes (COSIVI et al., 1998). No Brasil, apesar da

33 19 existência de um programa oficial de controle e erradicação, representa uma doença importante em várias regiões do país (LILENBAUM, 2007) Transmissibilidade A transmissão natural entre os bovinos acontece de maneira direta ou indireta, assim como no homem. Através de investigação anatomopatológica pode-se determinar a via de transmissão, descobrindo-se a localização da lesão primária. Para a transmissão aerógena o foco primário nos pulmões é encontrado em 90% dos bovinos adultos (CASTRO et al., 2009). A transmissão entre os animais ocorre principalmente a partir de aerossóis oriundos de animais infectados (BUBNIAK, 2000; JÚNIOR & SOUZA, 2008; OLIVEIRA et al., 2008; SOUZA et al., 2009; LAVAGNOLI, 2010) em aproximadamente 90% das infecções (PACHECO et al, 2009). Cerca de 90% das infecções pelo M. bovis em bovinos e bubalinos se dá pela via respiratória através da inalação de aerossóis contaminados com o microorganismo (MARQUES, 2008). Os métodos de criação também interferem na transmissão principalmente em bovinos de leite, pelo contato direto entre os animais, tanto no momento da ordenha, como nos meses de estabulamento durante o inverno (CASTRO et al., 2009). Outros fatores dão conta de que algumas condições ambientais que levam os animais a terem um comportamento diferenciado podem interferir na transmissão da enfermidade, como em épocas de seca ou enchentes que forçam os animais, mesmo os de corte a se concentrar em um determinado local (JÚNIOR & SOUZA, 2008).

34 20 Segundo Castro et al. (2009) os bezerros podem adquirir a infecção ao ingerir leite contaminado, assim como outras espécies e os seres humanos. Sendo assim, a via digestiva torna-se importante apenas antes do desmame (OLIVEIRA et al., 2008). Em alguns países reservatórios silvestres de M. bovis são a principal via de infecção para bovinos criados a pasto. A transmissão transplacentária é considerada muito rara ou inexistente em bovinos e, a intrauterina e pelo coito são menos comuns (CASTRO et al., 2009). Há relatos de infecção por via congênita em 1% dos bezerros, quando se observa um quadro grave de metrite tuberculosa (JÚNIOR & SOUZA, 2008). Dentre os aspectos que devem ser considerados na avaliação da transmissão da tuberculose bovina tem-se que pastos e alimentos contaminados possuem menor importância na transmissão da doença e que um bovino infectado é capaz de transmitir a doença aos outros mesmo antes do desenvolvimento das lesões nos tecidos (CASTRO et al., 2009). A via de infecção pode ser determinada pela localização da lesão no foco primário e nos gânglios linfáticos regionais. Alguns resultados de infecções experimentais realizados por via aerógena e digestiva, evidenciam que 80 a 90% dos indivíduos são infectados por via aerógena pela inalação de aerossóis contaminados com o bacilo, tornando-se a via de maior importância, tanto em animais adultos quanto em bezerros, que ocasionalmente podem ser infectados pela ingestão de leite contamindo (JÚNIOR & SOUZA, 2008). A transmissibilidade da doença aos animais a partir de material humano foi descoberta pela primeira vez em 1865 por Villemin (CASTRO et al., 2009). A principal via de transmissão para o homem é a digestiva, principalmente pela ingestão de leite cru contaminado (COSIVI et al., 1998; MCGEARY, 2008; CASTRO et al., 2009) por crianças (CASTRO et al., 2009), mas também pode ocorrer a transmissão por via aerógena. (MCGEARY, 2008; OLIVEIRA et al., 2008; CASTRO et al., 2009). Na

35 21 maioria dos países onde a TB não está controlada a maior parte dos casos acontece em pessoas jovens a partir da ingestão ou manipulação de leite contaminado (COSIVI et al., 1998). No Brasil, a situação se torna mais preocupante, pois 41% do leite produzido é clandestino e consumido in natura e também na forma de queijos, iogurtes e bebidas lácteas (JORDÃO JUNIOR et al., 2005). O risco de se contrair o agente pela ingestão de produtos cárneos contaminados é menor devido à baixa persistência do agente em tecidos musculares e do hábito de não se comer carne crua no Brasil, mas não deve ser ignorado em virtude da existência de um grande número de abates clandestinos ou o abate de animais descartados de rebanhos positivos em matadouros municipais, que não atendem as normas de inspeção exigidas pela lei (JÚNIOR & SOUZA, 2008). Trabalhos realizados na Nigéria apontam a ingestão de carne contaminada como responsável por cerca de 45% dos casos de tuberculose em humanos causada pelo M. bovis (SOUZA et al., 2009). A transmissão da tuberculose bovina para seres humanos ocorre principalmente em pessoas que lidam diariamente e diretamente com animais vivos, assim como os trabalhadores de abatedouros e magarefes (VALENTE, 2009), trabalhadores de laticínios e laboratórios (LINS et al., 2010), o que reforça o caráter ocupacional da enfermidade. Trabalhadores do setor pecuário/agrícola podem adquirir a doença através da inalação de aerossóis quando da tosse de bovinos infectados e assim desenvolverem quadro de tuberculose pulmonar típica. Pode haver também a transmissão desses pacientes para os bovinos, mas a transmissão do M. bovis entre seres humanos é reportada como limitada (COSIVI, et al., 1998). A ingestão de alimentos de origem animal contaminados, especialmente leite e derivados não pasteurizados também contribui para a infecção humana (LOBUE, 2003; LINS et al., 2010).

36 22 A transmissão do M. bovis pode ocorrer entre animais, de animais para seres humanos e vice-versa e raramente, entre seres humanos (figura 1) (HEALTH PROTECTION AGENCY, 2009). Contudo, LOBUE (2003) sugere em trabalho realizado em 73 pacientes em San Diego, potencial significante de que a transmissão pode ter ocorrido de pessoa-a-pessoa pelo ar. Assim como acontece com o Mycobacterium tuberculosis, a transmissão ocorre mais comumente através da via aérea e também através da ingestão de leite e carne de animais infectados. A ligação entre a ingestão de leite de vacas doentes e o desenvolvimento de escrófula foi estabelecida em meados do século XIX quando mais da metade dos casos de linfadenite cervical em crianças eram causadas pelo M. bovis. A infecção adquirida através da ingestão de M. bovis provavelmente resultará em uma forma não pulmonar da doença (HEALTH PROTECTION AGENCY, 2009). Em rebanhos leiteiros onde a doença é recorrente o homem pode ser o portador de M. bovis na forma genitourinária tornando-se a fonte de infecção (BUBNIAK, 2000). Figura 1: Ciclo de transmissão do Mycobacterium bovis entre bovinos e humanos. Fonte: A seta mais fina sugere probabilidade e a mais grossa real possibilidade. Adaptado de Collins and Grange (1987).

37 23 Os bovinos, aves e o homem são fontes de infecção para suínos (através de contato direto ou indireto, solo, água ou cama contaminados), caprinos e ovinos. Os gatos tem como fonte de infecção os bovinos e o homem, e o cão adquire a infecção do homem e transmite tanto para este como para o bovino. Os animais silvestres, principalmente quando se encontram em cativeiro, oferecem risco à saúde humana e animal (JÚNIOR & SOUZA, 2008) e em vários países são considerados fontes de infecção do M. bovis (LILENBAUM, 2007). A introdução da tuberculose em um rebanho acontece principalmente pela aquisição de animais infectados, propagando-se entre os outros animais dentro do rebanho, independentemente de sexo, raça ou idade. Dentre as formas de manejo, a estabulação contribui para que a dispersão da enfermidade com maior rapidez, pois propicia o contato estreito e freqüente entre os animais (SOUZA et al., 2009) e também contribui para uma rápida propagação entre os animais (JÚNIOR & SOUZA, 2008). Vale ressaltar que o trânsito de animais oportuniza a transmissão de doenças e por isso deve ser controlado (LILENBAUM, 2007) Vias de eliminação O bacilo pode ser eliminado pela respiração, leite, fezes, corrimento nasal, urina, secreções vaginais e uterinas e pelo sêmen (ABRAHÃO, 1999; JÚNIOR & SOUZA, 2008). Um grande número de bacilos pode ser eliminado pelas fezes de animais tuberculosos, contaminando as pastagens; contudo tal via de transmissão não parece possuir importância epidemiológica (JÚNIOR & SOUZA, 2008). O que pode ser confirmado pela observação de novilhas sadias colocadas em pastagens juntamente com

38 24 vacas comprovadamente saudáveis apresentando baixa incidência da infecção nos animais sadios, o que não ocorre quando as mesmas são estabuladas com vacas tuberculosas (MORRIS et al., 1994) Reservatórios Apesar de infectar uma grande variedade de espécies animais o Mycobacterium bovis tem como principal reservatório os bovinos (HEADLEY, 2002; OLIVEIRA et al., 2008; CASTRO et al., 2009; HEALTH PROTECTION AGENCY, 2009; SENASA, 2011), sendo considerado o seu hospedeiro primário (SABEDOT et al., 2009) e bubalinos (FIGUEIREDO, 2010). Os bovinos são susceptíveis à infecção e a doença pulmonar tuberculosa (HEALTH PROTECTION AGENCY, 2009). Equinos, suínos, gatos e primatas não humanos também são altamente susceptíveis para o desenvolvimento da enfermidade, e ovinos, caprinos e cães são relativamente resistentes a infecções pelo M. bovis (HEADLEY, 2002). Pesquisas em animais silvestres de vida livre e em cativeiro no Brasil não relataram qualquer referência à presença do M. bovis. Já em outros países como no Reino Unido, Nova Zelândia, África do Sul, Irlanda e Austrália vários animais silvestres de vida livre são considerados reservatórios do referido agente (HEADLEY, 2002; LILENBAUM, 2007) e responsáveis pela reintrodução de doença em explorações livres de tuberculose (DUARTE et al., 2007). Em algumas regiões da Espanha os javalis são considerados reservatórios da tuberculose bovina por ela ter se tornado endêmica nestes animais.

39 25 É difícil avaliar a importância dos animais silvestres na epidemiologia da tuberculose bovina, visto que prevalências elevadas na população silvestre podem não implicar forçosamente num papel importante na transmissão da doença para os bovinos (DUARTE et al., 2007). Deve-se avaliar também se a transmissão do agente infeccioso ocorre entre os animais silvestres e domésticos ou através de uma fonte de infecção comum a ambos. Dentre os vários animais infectados por M. bovis no mundo são considerados os principais reservatórios silvestres os texugos, os gambás e os cervos (ABRAHÃO, 1999) Patogenia Após a inalação e uma vez no alvéolo, o bacilo é capturado por macrófagos e a depender da virulência do microorganismo, carga infectante e resistência do hospedeiro, passa à fase seguinte, caso não sejam destruídos (MARQUES, 2008; PACHECO et al., 2009). Na sequência haverá a multiplicação dos bacilos dentro dos macrófagos trazidos pela corrente sanguínea, atraídos pelos fatores quimiotáticos liberados pelo próprio bacilo (MARQUES, 2008; PACHECO et al., 2009). A partir daí, quando há uma redução na referida multiplicação cerca de duas a três semanas a partir da inalação do agente, acontece uma resposta imune mediada por células e reação de hipersensibilidade retardada, quando o hospedeiro destrói seus próprios tecidos através de necrose de caseificação visando conter o crescimento intracelular das micobactérias. Acontece então a migração de novas células de defesa culminando na formação de granulomas, que são constituídos de uma parte central, muitas vezes com área de necrose de caseificação circundada por células epitelióides, células gigantes, linfócitos, macrófagos e fibroblastos. Os bacilos da lesão tuberculosa do parênquima pulmonar alcançam o

40 26 linfonodo satélite, onde desencadeiam a formação de um novo granuloma, caracterizando o complexo primário (MARQUES, 2008; PACHECO et al, 2009). Segundo PACHECO, 2009 apud THOMAZ, 2006, o início das lesões pulmonares se dá na junção bronquíolo alveolar com disseminação para os alvéolos e linfonodos brônquicos, podendo a partir daí regredir, persistir estabilizadas ou progredir. A disseminação da infecção para outros órgãos pode ocorrer durante o desenvolvimento da doença (precocemente), ou numa fase tardia, provavelmente em virtude de uma queda na imunidade do animal. A disseminação/generalização da infecção pode assumir duas formas: a miliar, que acontece de maneira abrupta e maciça culminando na entrada de um grande número, de bacilos na circulação sanguínea, e, a protraída (mais comum) acometendo o pulmão, linfonodos, fígado, baço, úbere, ossos, rins, sistema nervoso central por via linfática ou sanguínea, disseminando-se por todos os tecidos (MARQUES, 2008; PACHECO et al., 2009). Assim, a enfermidade pode apresentar-se de diversas formas no animal, podendo o mesmo não sofrer uma disseminação precoce ou sofrê-la e não morrer, poderá não curar ou curar clinicamente e mais tarde apresentar reabertura dos focos por baixas de resistência (fome, doenças intercorrentes, gestações e lactações continuadas, tratamento por corticóides, descalcificação, etc.), reativação da doença por infecção endógena ou sofrer nova infecção exógena (PACHECO et al., 2009). Um indivíduo com imunidade adquirida durante a primeira infecção irá responder a uma nova infecção pelo M. bovis de maneira diferente daquele infectado pela primeira vez, não apresentando alterações tuberculosas nos gânglios linfáticos (FIGUEIREDO, 2010). Na patogenia da TB há evidências que a resistência genética do hospedeiro a uma infecção por M. bovis, tanto quanto a influência de fatores fisiológicos e imunológicos, em animais e pessoas, interferem significativamente no curso da

41 27 enfermidade, apesar de não haver uma comprovação experimental conclusiva (SOUZA et al., 2009). Além disso, a infecção pode ocorrer na infância e só na fase adulta haver o aparecimento dos sintomas Sinais clínicos (nos animais e no homem) Nos bovinos a doença tem uma evolução lenta e sinais clínicos pouco visíveis (BUBNIAK, 2000), podendo alguns animais passar toda a vida útil sem sintomatologia evidente, constituindo uma ameaça potencial para o resto do rebanho, porém em estágios avançados os animais podem apresentar uma magreza progressiva (JÚNIOR & SOUSA, 2008). Por isso, principalmente em animais com extensas lesões tuberculosas do tipo miliar, o emagrecimento progressivo sem associação a outros sinais deve levantar a suspeita para a tuberculose bovina (JÚNIOR & SOUZA, 2008), assim como a falta de apetite e oscilação de temperatura. Outros aspectos clínicos que podem ser observados nos animais incluem a condição da pelagem, podendo estar áspera ou macia, docilidade e falta de energia, mas com olhos brilhantes e alertas. Nas fêmeas, após o parto esses sinais podem apresentar-se mais pronunciados (JÚNIOR & SOUZA, 2008). A prevalência no rebanho pode interferir na apresentação dos sinais clínicos (BUBNIAK, 2000). Quando há comprometimento dos pulmões, os animais podem apresentar uma tosse crônica, em virtude de broncopneumonia, ocorrendo vez ou outra de maneira deprimida, entrecortada e produtiva e com a evolução da doença, quando a maior parte dos pulmões já foi destruída, observa-se uma dispnéia com taquipnéia e respiração profunda (JÚNIOR & SOUZA, 2008). Os bovinos ainda podem apresentar perda de peso, debilidade, febre e anorexia (BUBNIAK, 2000).

42 28 Quando há infecção pela via digestiva, os sinais mais comuns são causados pela pressão de linfonodos aumentados sobre os órgãos vizinhos. Pode-se observar timpanismo rumenal recidivante, e depois, persistente e, raramente diarréias (JÚNIOR & SOUZA, 2008). A mastite tuberculosa é de grande importância com vistas ao perigo para a saúde pública, em virtude da disseminação da doença para os bezerros e pela dificuldade de diferenciá-la de outras formas de mastite. O achado característico da sua presença é um endurecimento e hipertrofia acentuados envolvendo inicialmente a parte superior do úbere nos quartos posteriores (JÚNIOR & SOUZA, 2008). Em decorrência da via de transmissão da tuberculose bovina para o homem ela pode se manifestar não somente na forma clássica de tuberculose intestinal ou escrofulose (transmitida por alimentos contaminados), mas, também na forma pulmonar, quando a transmissão se dá por aerossóis (JORDÃO JUNIOR et al., 2005; CASTRO, 2009). A tuberculose causada pelo M. bovis é indistinguível clinicamente, no ser humano, da tuberculose causada pelo M. tuberculosis (COSIVI et al., 1998). Em indivíduos da área rural, há maior ocorrência da forma pulmonar da TB, sendo considerada uma doença com caráter ocupacional. Assim, médicos veterinários e trabalhadores de frigoríficos, por manterem um contato direto com o animal, também estão sujeitos à infecção pelo bacilo bovino, através da inalação de aerossóis (SOUZA et al., 2009). Em jovens, infectados a partir de leite contaminado, a ocorrência de linfoadenopatia cervical, lesões intestinais (comum em crianças), tuberculose cutânea crônica (lúpus vulgaris) e outras formas não pulmonares são particularmente comuns (COSIVI et al., 1998; SOUZA et al., 2009). Nos casos extrapulmonares também é

43 29 comum a localização óssea e articular, causando lesões ósseas localizadas e artrite. As formas genito-urinárias são menos frequentes (SOUZA et al., 2009). Para BARRETO 2003 et al, no Brasil, a constatação da variedade bovina como agente etiológico de lesões intestinais em pacientes humanos é excepcional e destaca a possibilidade de envolvimento de vários mecanismos patogênicos: a deglutição de escarro com semeadura direta, disseminação hematogênica ou a ingestão de leite contaminado pela cepa bovina. Outra forma de manifestação da tuberculose bovina em humanos é o acometimento cutâneo, havendo a infecção pelo contato direto com carcaças contaminadas. As lesões são pouco extensas e regressivas manifestando-se através de pequenas pápulas (verrugas). As classes profissionais mais acometidas são os magarefes, auxiliares de inspeção e médicos veterinários (SOUZA et al., 2009). Ocorrência de meningite tuberculosa também é reportada e frequentemente tem sido observada secundariamente a tuberculose em outro local do corpo, particularmente os pulmões. Infecção do sistema nervoso central por M. bovis pode levar a tuberculose extrapulmonar, semelhante à infecção por M. tuberculosis, com sintomatologia idêntica. Infecção por M. bovis tem sido observada em indivíduos imunocompetentes como em imunodeprimidos (SHAH et al., 2006) Diagnóstico Pouco é conhecido da freqüência relativa de ocorrência de casos de tuberculose não pulmonar a partir do M. bovis, por causa das limitações laboratoriais quanto à cultura e tipificação do bacilo da tuberculose (COSIVI et al., 1998).

44 30 A grande variabilidade de sintomas e lesões, assim como o caráter crônico da TB faz com que o diagnóstico clínico proporcione apenas um diagnóstico presuntivo (SOUZA et al., 2009). O diagnóstico da TB pode ser efetuado através de métodos diretos e indiretos. Nos diretos há a detecção e identificação do agente etiológico no material biológico enquanto que nos métodos indiretos é pesquisada uma resposta imunológica do hospedeiro ao agente etiológico, que pode ser humoral (produção de anticorpos circulantes) ou celular (medida por linfócitos e macrófagos). A tuberculinização é uma medida de imunidade celular contra o M. bovis por uma reação de hipersensibilidade retardada (tipo IV) (PACHECO et al. 2009). A reação tuberculínica, a bacteriologia e a histopatologia são os métodos mais utilizados para o diagnóstico da tuberculose bovina e bubalina. A ocorrência de sinais clínicos inespecíficos, a dificuldade de isolamento do M. bovis do animal vivo, além do baixo nível de anticorpos durante o período inicial de infecção contribuem para um valor relativo dos diagnósticos clínico, bacteriológico e sorológico (BRASIL, 2006). A associação do diagnóstico clínico à tuberculinização pode possibilitar a identificação de animais com tuberculose avançada, levando ao entendimento que existem métodos de diagnóstico adequados ao desenvolvimento de programas de controle e erradicação da TB, porém não existem métodos de diagnóstico com eficácia absoluta (BRASIL, 2006). O uso de microscopia direta como único método para o diagnóstico de suspeita de tuberculose, ainda que seja essencial para qualquer programa nacional para controle da enfermidade, pode explicar em parte a baixa taxa de notificação da tuberculose causada pelo M. bovis em países em desenvolvimento, visto que não permite a diferenciação entre espécies do complexo M. tuberculosis. E, mesmo quando a cultura é realizada, no meio utilizado que é Lowestein Jensen o M. bovis quase não cresce (COSIVI et al., 1998).

45 31 Testes como o Enzyme-linked immunosorbent assay (ELISA) e gammainterferon apresentaram mais sensibilidade e especificidade que o teste de tuberculinização e podem facilitar os procedimentos de diagnóstico. Tecnologias com base em ácidos nucléicos, como a reação em cadeia de polimerase (PCR) e métodos relacionados tem se mostrado como uma ferramenta de diagnóstico mais rápida, sensível e específica. Porém, a aplicabilidade dessas técnicas no diagnóstico da tuberculose humana tem demonstrado que a sensibilidade e especificidade não são tão altas como inicialmente esperado havendo a necessidade de resolução de muitos problemas antes da sua utilização na rotina de diagnóstico laboratorial (COSIVI et al., 1998), sendo descrito como um método eficiente na determinação da espécie da micobactéria e tornando possível o diagnóstico definitivo em amostras post-mortem e em produtos de origem animal (FUVERKI, 2008). O ELISA pode ser utilizado como um exame complementar aos ensaios baseados na imunidade celular e se mostra útil na identificação de animais anérgicos. Em alguns países há a utilização associada ao teste de tuberculina em programas de controle sanitário (JÚNIOR & SOUZA, 2008). Restriction fragment length analysis (RFLP) pode ser útil em estudos epidemiológicos que investigam a disseminação da doença entre bovinos, outros animais e seres humanos e para uma rápida diferenciação do M. bovis dentro do complexo M. tuberculosis, mas o uso dessa técnica é limitado pelo custo na maioria dos países em desenvolvimento (COSIVI et al., 1998). Em estudo realizado em Alentejo, Duarte et al (2007), destacaram a relevância da utilização de técnicas de genotipagem integradas aos dados epidemiológicos convencionais que para a constatação da transmissão da TB entre espécies domésticas e silvestres, através da confirmação ou refutação de conexões epidemiológicas entre isolados.

46 32 A inspeção de carcaça ou a necropsia detalhada constituem ferramentas importantes no diagnóstico da TB, mas o diagnóstico definitivo é realizado mediante o isolamento e a identificação do agente por métodos bacteriológicos (BRASIL, 2006). Amostras frescas podem ser fixadas em lâmina e coradas pelo método de Ziehl-Neelsen para a pesquisa de bacilos álcool ácido resistentes (BAAR), porém a sensibilidade do método é baixa e um resultado positivo sugere a presença de micobactéria mas não informa a espécie (BRASIL, 2006). Essa coloração pode ser empregada também para colônias isoladas em meios de cultura. O diagnóstico bacteriológico por isolamento requer um longo período de incubação (30 a 90 dias), pois o M. bovis possui um crescimento lento em meios artificiais. Ao mesmo tempo recomenda-se a semeadura nos meios de cultura Lowestein-Jensen e Stonebrink-Lesslie. As análises bacteriológicas completas só serão necessárias nas seguintes situações: confirmação da presença de infecção tuberculosa em bovinos de um país ou região onde não foi comprovada anteriormente, estudo de animais positivos ao teste tuberculínico que não apresentam lesões macroscópicas sugestivas de tuberculose (pesquisa bacteriológica em amostras de linfonodos do trato respiratório e intestinal), confirmação da presença de infecção em animais oriundos de propriedades livres de tuberculose positivos ao teste tuberculínico (com ou sem lesões macroscópicas), pesquisa de micobactérias em lesões sugestivas de tuberculose durante a inspeção sanitária post-mortem de animais provenientes de unidades de criação monitoradas para tuberculose, pesquisa de micobactérias em amostras de leite e de outros produtos de origem animal e necropsias de animais com reações inespecíficas com lesões sugestivas de tuberculose (BRASIL, 2006). Segundo JÚNIOR & SOUZA, 2008 uma proporção das amostras com lesões aparentes de TB, encontradas durante a inspeção veterinária devem ser encaminhadas a laboratórios da rede oficial de diagnóstico para estudo

47 33 histopatológico e bacteriológico. A biologia molecular também pode auxiliar as medidas de controle, pois a identificação de cepas isoladas pode permitir o estabelecimento de relações epidemiológicas entre regiões geográficas e estabelecimentos (JÚNIOR & SOUZA, 2008). O diagnóstico alérgico-cutâneo com a aplicação de tuberculina é um instrumento básico para programas de controle e erradicação da tuberculose bovina em todo o mundo, podendo revelar infecções a partir de 3 a 8 semanas da exposição ao Mycobacterium. O teste apresenta boa sensibilidade e especificidade, sendo considerado pela OIE como técnica de referência. Para garantir o pleno funcionamento desta ferramenta diagnóstica em um programa de controle a padronização de procedimentos e equipamentos utilizados deve ser realizada (BRASIL, 2006). Atualmente no Brasil, o protocolo de testes preconizado pela legislação em vigor recomenda para o diagnóstico indireto da tuberculose, a utilização testes alérgicos de tuberculinização intradérmica em bovinos e bubalinos com idade igual ou superior a seis semanas e devem ser realizados por médico veterinário habilitado pelo MAPA. Para a realização dos testes é obrigatória a utilização de material próprio para tuberculinização, de acordo com as determinações do Departamento de Defesa Animal (DDA). O Teste Cervical Simples (TCS) é o teste de rotina recomendado, o teste da prega caudal (TPC) pode ser utilizado também como teste de rotina, exclusivamente em estabelecimentos de criação especializados na pecuária de corte e o Teste Cervical Comparativo (TCC) é o teste confirmatório utilizado em animais inconclusivos ao Teste Cervical Simples e reagentes ao Teste da Prega Caudal, além de ser recomendado como teste de rotina para estabelecimentos de criação com ocorrência de reações inespecíficas, estabelecimentos certificados como livres e para estabelecimentos de criação de bubalinos, visando garantir boa especificidade diagnóstica (BRASIL, 2012),

48 34 permitindo-se minimizar diagnósticos falso-positivos a partir de reações desencadeadas pelos agentes do complexo MAIS (M. avium, M. infracelulareae, M. scrofulaceum) que não são patogênicos para bovinos, mas são capazes de desencadear reações positivas. Os referidos testes avaliam respostas de hipersensibilidade retardada (JÚNIOR & SOUZA, 2008) e devem ser realizados observando-se os critérios de execução e interpretação estabelecidos na Instrução Normativa n.o 06, de 08 de janeiro de Resultados falso-negativos tem sido observados em diversas situações, dentre elas: infecções recentes (30 a 50 dias), alergia em decorrência de acometimento generalizado (tuberculose miliar), no período entre 42 e 60 dias entre testes, no periparto, onde se observa uma imunossupressão transitória (JÚNIOR & SOUZA, 2008). Segundo RUGGIERO 2007, nos programas de controle da tuberculose não há ensaios rápidos e sensíveis para o diagnóstico da doença, principalmente em regiões endêmicas além da indisponibilidade de metodologia para distinção entre o M. bovis e o M. tuberculosis com vistas ao acompanhamento da disseminação do bacilo bovino em humanos e elaboração de análise fiel da situação epidemiológica da tuberculose bovina nas várias regiões (RUGGIERO, 2007) Tratamento Para Mota et al. 2004, o tratamento com izoniazida é considerado econômico demonstrando ser uma solução plausível em rebanhos de alto valor zootécnico ou com elevada prevalência. Para os animais pelo tempo de duração, alto custo do tratamento e freqüente recorrência da doença quando da interrupção do mesmo além da possibilidade de

49 35 desenvolvimento de cepas multidroga-resistentes, o tratamento não é recomendado (ABRAHÃO, 1999), sendo indicado o sacrifício dos animais positivos Achados Anátomo-patológicos As lesões provocadas pelo M. bovis não são patognomônicas da TB. As mesmas apresentam coloração amarelada em bovinos e ligeiramente esbranquiçadas em búfalos. Lesões típicas de TB são caracterizadas por apresentar tamanhos variados, estar localizadas superficialmente ou profundamente, como tubérculos firmes e grosseiros construídos a partir de superfícies mucosa ou serosa (HEADLEY, 2002). Os nódulos observados apresentam 1 a 3 cm de diâmetro ou mais, que podem ser confluentes, de aspecto purulento ou caseoso, com cápsula fibrosa, podendo apresentar necrose de caseificação no centro da lesão, ou ainda, calcificação nos casos mais avançados (HEADLEY, 2002; BRASIL, 2006), portanto são geralmente firmes, com centro caseoso, e quando calcificados rangem ao corte com faca, como se houvesse a presença de areia (PACHECO et al., 2009). Em 70% a 90% dos casos, as lesões encontram-se em linfonodos da cabeça e do tórax e 66% dos animais necropsiados apresentam apenas uma única lesão visível. A maior parte das lesões (95% dos casos) está localizada em linfonodos (medistínicos, retrofaríngeos, bronquiais, parotídeos, cervicais, inguinais superficiais e mesentéricos), pulmão e fígado. Com menor freqüência observa-se a presença em intestino e tecido mamário, ou em qualquer outro órgão ou tecido do animal (BRASIL, 2006). Segundo HEADLEY, 2002 as lesões mais grosseiras são mais frequentemente visualizadas nos

50 36 linfonodos bronquiais, medistínicos, submaxilares e retrofaríngeos do que nos pulmões e fígado. Lesões granulomatosas disseminadas tem sido descritas nas superfícies pleural e peritoneal de bovinos e alguns casos podem estar associados com meningites (HEADLEY, 2002). Lesões parecidas com as da TB têm sido observadas na pele de bovinos, mas não tem sido relacionadas diretamente ao M. bovis (HEADLEY, 2002). Ao exame microscópico, tubérculos se apresentam como lesões granulomatosas caracterizadas por uma coleção de células gigantes e células epitelióides cercadas por uma cama de fibroblastos e linfócitos, tendo o centro do granuloma necrosado e calcificado (HEADLEY, 2002; SOUZA et al., 2009). Associação da identificação de bactérias pela técnica de coloração de Ziehl-Neelsen com a presença de tubérculos típicos é suficiente para o estabelecimento do diagnóstico de tuberculose (HEADLEY, 2002). Situações onde os bovinos positivos aos testes tuberculínicos não apresentem lesões visíveis à necropsia podem ocorrer. Alguns aspectos podem estar envolvidos, tais como: os animais estarem no estágio inicial da doença, lesões estarem localizadas em partes do corpo que geralmente não são examinadas na inspeção de rotina ou contato com outras micobactérias que não o M. bovis (SOUZA et al., 2009) Fatores de risco A análise de fatores de risco tem sido utilizada na elaboração de modelos epidemiológicos da tuberculose zoonótica em países industrializados, contudo diferenças epidemiológicas relacionadas tanto a populações animais como humanas devem ser observadas nas avaliações em países em desenvolvimento. Dentre os fatores

51 37 de risco relacionados à população animal observados em países desenvolvidos destacam-se a presença de reservatórios animais, incluindo selvagens e domésticos, criação de animais de produção principalmente para a exploração leite e a existência de programas e/ou medidas de controle da enfermidade nos rebanhos (COSIVI et al., 1998). A distribuição do M. bovis em propriedades e em populações de animais selvagens representa uma ampla capacidade do agente em se perpetuar em reservatórios. A disseminação do agente a partir de animais infectados para animais susceptíveis tem maior probabilidade de ocorrer quando animais selvagens e domésticos compartilham pastos ou territórios. Quanto à produção leiteira, esta obteve um aumento na maior parte dos países em desenvolvimento como conseqüência da crescente demanda do consumo do produto pela população humana. Há uma variação da prevalência da doença, mesmo dentro do mesmo país, mas as maiores incidências são observadas onde o tipo de criação intensiva é mais comum e, o problema é exacerbado quando não há adequada supervisão veterinária, como acontece na maioria dos países em desenvolvimento (COSIVI et al., 1998). Mas mesmo em países onde a TB está próxima da erradicação, as principais fontes de infecção residem nos grandes rebanhos onde os animais são criados muito próximos. Segundo COSIVI et al, fatores de risco relacionados a transmissão da TB à população humana envolvem: contato físico, práticas de higiene de alimentos e existência de co-infecção HIV/AIDS. Estudos realizados utilizando técnicas de análise multivariada para analisar fatores associados à ocorrência de tuberculose em rebanhos bovinos destacam algumas variáveis como determinantes de prevalências diferenciadas de TB, dentre elas: sistemas de produção, tamanho de rebanho, manejo, idade, raça, introdução de animais e

52 38 presença de animais de corte e leite nos rebanhos (OLIVEIRA, et al., 2008) No Brasil, Belchior (2001) descreveu com fatores de risco para a ocorrência de tuberculose as variáveis: sistema de produção, grupo genético, sistema de ordenha, resfriamento do leite e monitoramento da produção. Para MARANGON et al., 1997 a introdução de animais de corte em rebanhos leiteiros pode representar um elevado risco de infecção em virtude dos animais poderem ser originários de diferentes regiões, ressaltando o risco de transmissão de doenças pela movimentação de animais entre rebanhos. A tuberculose bovina é caracteristicamente uma enfermidade que afeta rebanhos leiteiros, principalmente com sistema de criação estabulado, tendo menor importância epidemiológica em rebanhos com aptidão corte (JÚNIOR & SOUZA, 2008), em virtude do sistema de criação utilizado geralmente ser o extensivo. O confinamento é um importante fator na dispersão da doença no rebanho, o que explica a maior prevalência em rebanhos leiteiros a medida em que a idade do rebanho aumenta, e a menor no gado de corte, onde os animais são abatidos precocemente e tendo menor tempo de exposição. O tamanho do rebanho também tem impacto na transmissão (ABRAHÃO, 1999). O conhecimento prévio de tais características epidemiológicas são de extrema importância na inspeção, principalmente em estabelecimentos que realizam o abate de vacas leiteiras de descarte (JÚNIOR & SOUZA, 2008). Segundo LILENBAUM 2007, alguns fatores de risco podem influenciar a ocorrência de TB, dentre eles, o manejo do colostro e leite para bezerros, a localização da propriedade em uma área com elevada ocorrência de tuberculose, a gestão de resíduos e tratamento de dejetos, além do tamanho do rebanho e contigüidade com outros rebanhos infectados. Condições de manejo podem variar significativamente de um país para outro e até de uma região para outra, o que se refletirá na prevalência da(s) doença(s) infecciosa(s) (LILENBAUM, 2007).

53 39 HAMBLET et al. (2009) descreve os fatores de risco para a transmissão da tuberculose bovina em níveis diferenciados: ao nível do animal destaca a idade, o sexo, a raça, a condição corpórea, o estado imunológico, a resistência genética e susceptibilidade à TB, a transmissão vertical e pseudo-vertical, e a auto-contaminação; ao nível do rebanho destacando história de surto de TB no rebanho e antecedente de TB humana na casa, tamanho do rebanho, tipo de exploração, manejo (tipo de criação, destino das fezes, alimentação, suplementação e armazenamento, transmissão entre bovinos via fecal-oral), não realização de testes de diagnóstico, frequência de tuberculinizações, redução da manipulação humana e contato com os serviços veterinários, introdução de animais no rebanho (aquisição), trânsito de animais, contato entre animais, taxa de abate, outras espécies domésticas, animais selvagens e persistência do M. bovis no ambiente e influência do clima. Quanto aos fatores ligados à região/país ressalta a prevalência e antecedentes da TB na região/país, contigüidade com outros rebanhos, comércio internacional e movimento interfronteiriço e migração/globalização Vigilância Epidemiológica e medidas de prevenção e controle No quadro global de combate à tuberculose e proteção da saúde humana tornase indispensável à erradicação da tuberculose bovina. A maioria dos trabalhos publicados chama a atenção para a necessidade de um controle mais efetivo da zoonose (BAPTISTA, 2004). No Brasil seu controle visa principalmente reduzir o impacto desta enfermidade no comércio nacional e internacional de animais e produtos de origem

54 40 animal, certificando os rebanhos, visando garantir a qualidade na origem (ROXO, 2008). Esse tipo de patógeno foi gradualmente eliminado dos Estados Unidos como resultado de ações de inspeção de carnes por parte de órgãos governamentais, realização de testes tuberculínicos no gado, sacrifício doa animais infectados e pasteurização do leite (PELCZAR, 1981). No que se refere á transmissão da enfermidade pela ingestão do leite contaminado, esta pode ser reduzida significativamente pela pasteurização do leite, mas apenas a completa erradicação da doença poderá proteger o criador e sua família (CASTRO et al., 2009). Estratégias alternativas envolvendo programas baseados na vigilância em matadouros investigando a origem dos animais com lesões tuberculosas podem tecnicamente e economicamente apresentar vantagens (COSIVI et al., 1998). Ainda segundo COSIVI et al, medidas visando a,prevenção da transmissão da infecção devem ser primordiais aliadas a existência de profissionais de saúde pública capacitados, educação em saúde e adoção de práticas de higiene. Programas com base no teste e eliminação de animais positivos são mais apropriados em áreas com baixa prevalência da TB e um controle efetivo do trânsito de animais. A vacinação de animais contra TB, ainda que não seja considerada uma medida relevante em programas de eliminação da doença em rebanhos, pode ser uma estratégia viável em duas situações de controle da doença: em animais domésticos em países em desenvolvimento e em reservatórios selvagens e de vida livre em países industrializados onde programas de teste de animais e eliminação dos positivos falharam no objetivo de eliminação da doença (COSIVI et al., 1998). Contudo, vários aspectos ainda devem ser

55 41 levados em consideração antes da vacinação se tornar uma opção real para o controle da enfermidade em bovinos e outros animais. De início, uma vacina altamente efetiva precisa ser desenvolvida, pois os resultados obtidos com a bacillus Calmette-Guérin (BCG) não foram bons e sua eficácia variou consideravelmente de região para região, além de dificuldades na aplicação em animais selvagens e o comprometimento dos resultados dos testes de diagnóstico, inviabilizando a utilização da estratégia como chave em programas de controle. Segundo Cosivi et al. (1998), por causa dos impactos do M. bovis na saúde animal e saúde pública, programas de vigilância da doença em humanos devem ser considerados uma prioridade, especialmente em áreas onde fatores de risco estão presentes. A elevação da tuberculose bovina nessas áreas torna necessária uma colaboração intensa entre profissionais médicos e médicos veterinários para avaliar o grau do problema, principalmente quando a TB represente risco, por exemplo, em comunidades rurais e em locais de trabalho. Para Marques (2008), o controle da tuberculose bovina no Brasil, nos últimos anos não despertou a atenção necessária dos médicos veterinários, criadores e autoridades sanitárias, assim como dos consumidores dos produtos de origem animal, tornando-se necessário a elaboração de novas medidas de controle e erradicação. Segundo Marques (2008) isso se deve ao caráter crônico da enfermidade, ausência de sinais clínicos alarmantes (aborto, febre alta, queda abrupta de produção) como ocorre nas doenças agudas. Informações ao longo dos anos demonstram que antes da introdução de efetivas medidas de controle, incluindo a pasteurização do leite e a tuberculinização de rebanhos para identificação de animais infectados, infecções por M. bovis eram muito

56 42 mais freqüentes (HEALTH PROTECTION AGENCY, 2009). Entre os anos de 1994 e 2007, 79% dos 453 casos humanos reportados à Agência de Proteção á Saúde estavam na faixa etária de 45 anos de idade e destes, apenas 17% não haviam nascido no Reino Unido, sugerindo que a maioria dos casos no Reino Unido foram atribuídos à reativação de infecção latente, provavelmente adquirida anteriormente à disseminação da implantação de medidas de controle, principalmente pasteurização do leite e inspeção de carnes. A adoção de sistemas de cooperação entre os serviços de sanidade animal e os de saúde pública, através de convênios e/ou acordos, permitem a coordenação das ações e aproveitamento das facilidades existentes em ambas as áreas com o objetivo comum de controlar a TB (SENASA, 2012). As estratégias estabelecidas para o controle e erradicação da TB nos rebanhos são bem conhecidas e definidas. Contudo, alguns aspectos interferem negativamente na execução das referidas medidas, principalmente nos países em desenvolvimento, dentre estes: a insuficiência de recursos, escassez de profissionais treinados para atuar na área, falta de decisão política, além da subestimação da importância da tuberculose zoonótica nos setores de saúde pública e animal pelos órgãos estaduais e nacionais de controle sanitário (COSIVI et al., 1998). Para Cosivi et al. (1998), o sucesso de uma estratégia como a de teste e eliminação de animais positivos requer cooperação dos serviços veterinários oficiais e privados, do setor de inspeção de carnes, do setor produtivo, assim como da existência de uma adequada compensação dos serviços, e, apenas alguns países podem atender a esses requerimentos. A não existência de hospedeiros para a infecção também é citado por COSIVI et al como um fator na eliminação da Tb em um país ou região.

57 43 A prova tuberculínica, a vigilância epidemiológica em matadouros, os controles sanitários, o diagnóstico de laboratório são elementos básicos e devem ser aplicados com critério e de modo adequado a cada situação epidemiológica (BRASIL, 2006). De acordo com a legislação em vigor, a Instrução Normativa n.o 06, de 08 de janeiro de 2004, é fundamental que os animais positivos sejam encaminhados ao abate sanitário, ou, destruídos na própria propriedade (BRASIL, 2004). A aplicação de testes tuberculínicos, a inspeção em matadouros, os controles sanitários e o diagnóstico laboratorial soa elementos básicos que contribuem com a vigilância epidemiológica da enfermidade e devem ser empregados com critério a cada situação epidemiológica (ROSALES RODRIGUEZ, 2005; PACHECO et al., 2009). Em um contexto geral de um sistema de vigilância epidemiológica da tuberculose bovina, a participação de frigoríficos e matadouros constituem um elo importante nas atividades que envolvem a notificação e registro da enfermidade, para que após análise e interpretação possam ser tomadas as decisões e ações correspondentes (SENASA, 2011). Se a informação obtida é confiável e a cobertura ampla, os dados obtidos são muito valiosos visto que em parte a quase totalidade dos animais, em algum momento de sua produção são abatidos e inspecionados pelo serviço veterinário. O procedimento de monitoramento em frigoríficos demonstrou em países como Austrália, Estados Unidos, Canadá e Cuba ser de fundamental importância na erradicação da enfermidade em virtude do sucesso na identificação de animais procedentes de áreas de quarentena e na rastreabilidade da origem dos animais com lesões compatíveis com TB (ROSALES RODRIGUEZ, 2005; SOUZA et al., 2009). Para isso, os serviços devem dispor de procedimentos uniformes na inspeção sanitária a

58 44 nível nacional e estadual para detectar e registrar animais e estabelecimentos afetados pela enfermidade (SOUZA et al., 2009). Esta estratégia tem sido empregada por diversos países em fases adiantadas de seus programas de controle (ROSALES RODRIGUEZ, 2005). Outro aspecto relacionado é o estabelecimento de uma barreira de proteção para o consumidor, preservando a qualidade higiênico-sanitária do produto final (SENASA, 2011). O conhecimento prévio de características epidemiológicas do rebanho torna-se importante para a inspeção principalmente em estabelecimentos que realizam o abate de vacas leiteiras de descarte (SOUZA et al., 2009). As informações permitem conhecer as situações epidemiológicas em que se encontram os rebanhos, determinar a as estratégias regionais aplicáveis à certificação de áreas livres e realizar análise permanente da sensibilidade e especificidade das provas tuberculínicas em uso e outras técnicas diagnósticas em estudo. Assim, a vigilância epidemiológica da TB tem como finalidade orientar as ações para o controle e erradicação da enfermidade. O resultado das análises e identificação dos problemas concretos, situação sanitária em um contexto econômico, institucional ou ambiental fornece subsídios para a realização de um diagnóstico de situação (SENASA, 2011). A localização e o mapeamento das propriedades positivas podem ser de extrema utilidade para a identificação de áreas de risco e auxílio na racionalização de recursos e estabelecimento de prioridades (ROSALES RODRIGUEZ, 2005). De acordo com o SENASA a qualidade de um sistema de vigilância depende de uma formação profissional sólida, tanto de médicos veterinários oficiais como do setor privado, da organização e preparação de inspetores sanitários, assim como, das técnicas e procedimentos utilizados nos laboratórios. A escolha do melhor momento para a sua implementação dependerá de uma análise criteriosa da situação

59 45 epidemiológica da enfermidade, estágio de desenvolvimento do programa e disponibilidade de infra-estrutura e de recursos financeiros (ROSALES RODRIGUEZ, 2005). O conhecimento da freqüência de doenças fornece subsídios para a melhoria de programas de saúde nacional (SABEDOT et al., 2009). Para LILENBAUM 2007, a identificação de práticas e manejo que possam estar associadas à disseminação da doença pode representar uma importante ferramenta para a erradicação da tuberculose em rebanhos leiteiros. No Brasil, em virtude do tamanho do país e do seu rebanho, e, peculiaridades regionais as estratégias de controle devem ser diferenciadas (ROSALES RODRIGUEZ, 2005). Países com um programa ativo para o combate à tuberculose bovina apresentam uma baixa frequência de transmissão do M. bovis de animais para seres humanos. Programas com base em estratégias de controle, também devem incluir educação em saúde dentre as medidas preventivas informando sobre a transmissão, sintomas e o aspecto zoonótco (MCGEARY, 2008). Enquanto a TB permanecer um problema mundial, é imperativo a intensificação das medidas de prevenção e controle visando a erradicação (HUMBLET et al., 2009). É de extrema importância o conhecimento da real situação epidemiológica, tanto da brucelose quanto da tuberculose, em cada Estado e região, principalmente quando se pretende implementar um programa de controle e erradicação, pois permite escolher as melhores estratégias, na dependência da freqüência e padrão de distribuição das doenças nas sub-populações estudadas e o conhecimento da situação inicial da mesma contribuindo para o acompanhamento do andamento do programa e julgamento,

60 46 racional da necessidade de promover correções, evitando o desperdício de tempo e recursos (FERREIRA NETO, 2010) O geoprocessamento e os mapas temáticos na saúde veterinária A compreensão da distribuição espacial dos dados a partir dos fenômenos ocorridos no espaço revela-se um desafio para a elucidação de questões centrais em diversas áreas de conhecimento, dentre elas a saúde. Os mapas temáticos apresentam-se como poderosos instrumentos na análise espacial de risco de determinada doença, objetivando descrever e permitir a visualização da distribuição espacial do evento, explorar sugerindo os determinantes locais do evento além de apontar as associações entre o evento e seus determinantes. A reincorporação pela saúde pública da categoria espaço como elemento que compõe análises e intervenções no que se refere aos problemas de saúde nas populações abre novas perspectivas de estudos. A construção de um sistema de vigilância na área de saúde orientado por um modelo de análise de risco substituindo o modelo de risco individual representa um maior poder explicativo. O espaço surge então como categoria de estudo visando uma melhor compreensão do processo saúde-doença nas coletividades por meio da distribuição e caracterização epidemiológica da ocorrência de endemias (SANTOS et al., 2004). O ambiente SIG (Sistema de Informação Geográfica) possibilita a integração de informações diversas proporcionando uma visão mais abrangente da situação no espaço (SANTOS et al., 2004). O termo Sistemas de Informação Geográfica é aplicado para sistemas que realizam o tratamento computacional de dados geográficos e

61 47 recuperam informações a partir de suas características alfanuméricas e localização espacial. Para tornar isso possível, a geometria e os atributos devem ser georreferenciados (localizados na superfície terrestre e representados numa projeção cartográfica). O SIG possui uma ampla gama de aplicações: como ferramenta para produção de mapas, suporte para análise espacial de fenômenos e banco de dados geográficos (CÂMARA & QUEIROZ, 2005). No Brasil pouco se sabe sobre a distribuição espacial das doenças endêmicas. Como auxílio ao controle da tuberculose bovina, o uso das informações obtidas pelo GIS/GPS em associação com outras técnicas como a tipificação genética do M. bovis isolado, pode contribuir para identificar origem comum entre os focos, diferenciar nos focos reincidentes os casos de reintrodução da doença daqueles com persistência do mesmo foco não controlado ou até mesmo a comprovação de reservatórios silvestres (ROSALES RODRIGUEZ, 2005). Na epidemiologia veterinária a necessidade do mapeamento para localização de rebanhos é uma prioridade. Em qualquer doença epidêmica o mapeamento auxilia no monitoramento e análise da dispersão da doença e ainda fornece ferramentas muito úteis visando avaliar diferentes estratégias de controle (MARTÍNEZ et al., 2007) Controle da Tuberculose no Brasil e na Bahia Com o objetivo de reduzir o impacto negativo causado tanto pela brucelose como pela tuberculose (zoonoses) na saúde humana e animal, além de promover a competitividade da pecuária nacional, foi instituído o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal, implementado pela Instrução Normativa n.º 06, de 08 de janeiro de 2004 e

62 48 com estratégias de ação que englobam medidas compulsórias como a vacinação das fêmeas de bovinos e/ou bubalinos entre 03 e 08 meses de idade contra a brucelose, o controle do trânsito de animais com destino à reprodução, a capacitação e a habilitação de médicos veterinários, a realização de diagnóstico e apoio laboratorial, além de medidas de adesão voluntária como a certificação de propriedades livres e de propriedades monitoradas para brucelose e tuberculose. Dentre as estratégias do programa direcionadas ao controle da tuberculose bovina destacam-se atualmente o controle do trânsito de bovino e/ou bubalinos para eventos pecuários e para outros estados, com permissão de trânsito para bovinos e bubalinos acompanhados de teste de diagnóstico com resultado negativo e destino dos animais positivos aos testes de diagnóstico preconizados ao abate sanitário ou destruição na propriedade.

63 49 3. ARTIGO CIENTÍFICO I Caracterização da Tuberculose Bovina em regiões de relevância econômica no Estado da Bahia Costa, Luciana Bahiense 1 ; Ferreira Neto, José Soares 2 ; Ferreira, Fernando 2 ; Ávila, Luciana Niedesberg 3 ; Silva, Marta Mariana Nascimento 4 ; Bavia, Maria Emília Diretoria de Vigilância Epidemiológica Secretaria da Saúde do Estado da Bahia 2. Departamento de Medicina Veterinária Preventiva Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo 3. Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia 4. Laboratório de Monitoramento de Doenças pelo Sistema de Informações Geográficas Universidade Federal da Bahia RESUMO A tuberculose é uma enfermidade infecciosa, provocada por micobactérias patogênicas, com ampla distribuição mundial, que acomete o homem e diversas espécies de mamíferos. Em virtude da importância da tuberculose bovina como enfermidade causadora de prejuízos econômicos e o impacto em saúde pública foi realizado o inquérito epidemiológico da Tuberculose no Estado da Bahia, entre 2008 e 2010, com o objetivo de estimar a prevalência e distribuição geográfica de propriedades e animais reagentes à tuberculina e fatores de risco associados à infecção. Houve uma estratificação do estado que foi subdividido em quatro regiões com características homogêneas (circuitos produtores), onde foram amostradas aleatoriamente entre 320 e 370 propriedades. Em cada uma das propriedades foram escolhidas, também aleatoriamente, 20 e 40 bovinos (machos e fêmeas) com idade igual ou superior a 02 anos. O diagnóstico foi realizado através do teste cervical comparativo, sendo positivo o(s) animal(is) reagente(s) positivo(s) ou duas vezes inconclusivos. As prevalências de focos e de animais (fêmeas e machos com idade maior ou igual a 24 meses) do Estado foram de 1,6% (1,0-2,6%) e 0,21 (0,07-0,6%), respectivamente. Para os circuitos produtores 1 e 2 foram: circuito 1, 2% (1,0-4,2%) e 0,08% (0,035%-0,17%); circuito 2, 2,9% (1,5%-5,5%) e 0,66% (0,20%-2,16%). Para as analises de fatores de risco associados à ocorrência de tuberculose foi aplicado um questionário epidemiológico em cada propriedade visitada. Os fatores de risco (odds ratio, OR) associados à condição de foco foram: ser propriedade do tipo de exploração leiteira (OR= 9,72), ser propriedade do tipo de exploração mista (OR= 6,66) e ter mais de 18 fêmeas em idade igual ou superior a 24 meses (OR= 8,44). Palavras chave: tuberculose bovina, prevalência, distribuição espacial, Bahia

64 50 Characterization of Bovine Tuberculosis in regions of economic importance in the State of Bahia Costa, Luciana Bahiense 1 ; Ferreira Neto, José Soares 2 ; Ferreira, Fernando 2 ; Ávila, Luciana Niedesberg 3 ; Silva, Marta Mariana Nascimento 4 ; Bavia, Maria Emília Diretoria de Vigilância Epidemiológica Secretaria da Saúde do Estado da Bahia 2. Departamento de Medicina Veterinária Preventiva Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo 3. Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia 4. Laboratório de Monitoramento de Doenças pelo Sistema de Informações Geográficas Universidade Federal da Bahia Summary Tuberculosis is an infectious disease caused by pathogenic mycobacteria, with worldwide distribution that affects humans and several mammalian species. Given the importance of bovine tuberculosis as a disease causing economic losses and the impact on public health was conducted epidemiological surveys of tuberculosis in Bahia State, between 2008 and 2010, with the objective of estimating the prevalence and geographic distribution of properties and reactor animals tuberculin and risk factors associated with infection. There was a stratification of the state was divided into four regions with homogeneous characteristics (production circuits), which were randomly sampled between 320 and 370 properties. In each of the properties were chosen, also randomly, 20 and 40 animals (males and females) aged over 02 years. The diagnosis was made by cervical comparative test, one positive animal (s) (s) reagent (s) positive (s) or twice inconclusive. The prevalence of herds and animals (females and males aged greater than or equal to 24 months) of the state were 1.6% (1.0 to 2.6%) and 0.21 (from 0.07 to 0.6 %), respectively. For the production circuits 1 and 2 were circuit 1, 2% (1.0 to 4.2%) and 0.08% (0.035% -0.17%); circuit 2, 2.9% (1.5 % -5.5%) and 0.66% (0.20% -2.16%). For the analysis of risk factors associated with the occurrence of tuberculosis epidemiological questionnaire was applied on each property visited. Risk factors (odds ratio, OR) associated with the focus were property of the type of dairy farm (OR = 9.72), property of the type of mixed farm (OR = 6.66) and have more than 18 females aged 24 months (OR = 8.44). Key - words: bovine tuberculosis, prevalence, spatial distribution, Bahia

65 51 INTRODUÇÃO A tuberculose bovina (TB) é uma doença infecto-contagiosa, de caráter crônico caracterizada pela formação de granulomas específicos, denominados tubérculos (RUGGIERO, 2004; JÚNIOR & SOUZA, 2008; CASTRO et al., 2009; PACHECO et al., 2009; SOUZA ET AL., 2009; LAVAGNOLI, 2010; SENASA, 2011) causada pelo Mycobacterium bovis, que acomete diversas espécies animais de produção com destaque para os bovinos (OLIVEIRA et al., 2008). Afeta mamíferos, incluindo o homem e aves, caracterizando-se como uma zoonose (SABEDOT et al., 2009) e constitui um sério problema de saúde humana e animal (JÚNIOR & SOUZA, 2008). A transmissão dos animais ao homem se dá fundamentalmente pela ingestão de leite cru de bovinos infectados e em países desenvolvidos onde a pasteurização é obrigatória a ocorrência da doença é quase nula (GIL e SAMARTINO, 2001). A história natural da doença começou a ser compreendida em 1810, a partir da observação de Carmichael que estabeleceu uma ligação entre o aparecimento de escrófula em crianças e o consumo de leite de vaca, porém concluindo equivocadamente que fatores nutricionais desencadeavam a enfermidade. Em 1846, Klencke concluiu que a fonte da doença era o leite após observar uma maior freqüência de linfadenite tuberculosa entre crianças alimentadas com leite de vaca em relação às alimentadas com leite materno (FERREIRA NETO & BERNARDI, 2008). Apenas em 1897, nos EUA, a diferenciação entre o bacilo humano, o bovino e o aviário foi descrita por Theobald Smith (JÚNIOR & SOUZA, 2008; CASTRO, 2009). A tuberculose bovina está presente em diversas partes do mundo (RUGGIERO, 2004), sendo a maior prevalência verificada nos países em desenvolvimento (JÚNIOR

66 52 & SOUZA, 2008; HUMBLET et al., 2009) e a menor em países desenvolvidos, onde o controle e erradicação encontram-se em fase avançada. Levantamentos epidemiológicos, caracterizando-se como vigilância epidemiológica da tuberculose bovina, permitem conhecer em quais situações epidemiológicas se encontram os rebanhos, auxiliam na determinação das estratégias regionais aplicáveis inclusive para a certificação de áreas livres além de efetuar uma análise permanente da sensibilidade e especificidade das provas tuberculínicas em uso e as demais técnicas diagnósticas em estudo, orientando assim as ações para alcançar o objetivo maior de controlar e erradicar esta enfermidade. O controle da tuberculose bovina se fundamenta no bloqueio dos pontos críticos de transmissão da doença. A identificação das fontes de infecção é feita por meio da realização de rotina de testes tuberculínicos com abate dos animais reagentes e justifica-se tradicionalmente por tratar-se de uma doença infecto-contagiosa de caráter zoonótico, reemergente e impõe limitações ao comércio internacional de bovinos e seus subprodutos, além de diminuir a produtividade dos animais afetados. No quadro global de combate à tuberculose e proteção da saúde humana é indispensável, também, a erradicação da tuberculose bovina, sendo a susceptibilidade do homem ao M. bovis uma das principais razões da importância dessa zoonose nos bovinos (BATISTA et al., 2004). Alguns prejuízos causados pela ocorrência da enfermidade nos rebanhos caracterizam a importância econômica dessa enfermidade e envolvem: perdas por mortes de animais, redução na eficiência reprodutiva, queda na produção de leite e no ganho de peso, descarte precoce, eliminação de animais de alto valor zootécnico (FUVERKI, 2008; OLIVEIRA et al., 2008; PACHECO et al., 2009) condenação de

67 53 carcaças e restrição à exportação (OLIVEIRA et al., 2008), além das barreiras sanitárias impostas à comercialização de produtos de origem animal dentre eles o leite e a carne. A proposta desse estudo se justifica pela a importância da tuberculose bovina no cenário mundial, como causadora de inúmeros prejuízos de ordem sócio-econômica, nos rebanhos, além das restrições sanitárias impostas pelos grandes mercados consumidores, que cada vez mais exigem qualidade garantida, e para que os produtos possam ter aceitação e competitividade, além do impacto em saúde pública por tratar-se de uma zoonose re-emergente. O objetivo desse estudo é caracterizar a tuberculose bovina no Estado da Bahia, identificar os possíveis fatores e áreas com risco de ocorrência da tuberculose bovina, contribuindo assim, para o fornecimento de subsídios com vistas a possíveis alterações das estratégias do programa de controle e/ou erradicação dessa endemia no Estado. MATERIAL E MÉTODOS a. Desenho do Estudo Foi realizado um estudo transversal,onde o Estado da Bahia foi dividido em quatro circuitos pecuários, considerando-se os padrões epidemiológicos no que se refere aos sistemas de produção diferenciados, as práticas de manejo, finalidade de exploração, tamanho dos rebanhos, sistema de comercialização da região e contando com a capacidade operacional e logística da Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB) com vistas à realização das atividades de campo. Para cada circuito produtor, foi conhecido o número de propriedades com bovinos e o número total de bovinos (machos e fêmeas) com idade igual ou superior a dois anos. Cada um dos circuitos produtores representou uma realidade

68 54 epidemiológica distinta e, praticamente, independente. A figura 1 mostra a divisão do Estado da Bahia em circuitos produtores pecuários com realce para a área de estudo. Mapa 1 Divisão do Estado da Bahia em circuitos pecuários Salvador b. Período do Estudo O inquérito epidemiológico foi realizado no período de outubro de 2008 a novembro de O referido estudo foi planejado por responsáveis técnicos do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal (PNCEBT), pelas equipes do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal (VPS) da faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP), da Universidade de Brasília (UnB) e da Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB).

69 55 c. Delineamento amostral O estudo amostral foi realizado em duas etapas, em cada circuito pecuário. Primeiramente, foi obtida uma amostra de forma aleatória, contendo um número préestabelecido de propriedades/unidades de criação com atividade reprodutiva, definidas como unidades primárias da amostra. Uma segunda amostragem foi obtida contendo um número de fêmeas e machos bovinos com idade igual ou superior a 24 (vinte e quatro) meses, denominadas unidades secundárias da amostragem. O objetivo da estratégia adotada foi classificar o rebanho amostrado considerando a existência de animais positivos para tuberculose bovina. d. Sorteio das propriedades em cada circuito pecuário A escolha de unidades primárias foi realizada através do cadastro de propriedades rurais com atividade reprodutiva de bovinos e/ou bubalinos. Se a propriedade não pode ser visitada, por qualquer motivo, foi escolhida outra, nas proximidades, com características de produção próximas da propriedade anteriormente sorteada. O número de propriedades selecionadas por circuito produtor foi estimado pela fórmula para amostra simples aleatória (THRUSFIELD, 2007), conforme os seguintes parâmetros: Prevalência estimada de 20%, nível de confiança de 95% e erro de 5%, de acordo com a seguinte fórmula: Onde: n = número de propriedades amostradas por circuito produtor; Z α = valor da distribuição normal para o grau de confiança de 95%; P = prevalência esperada, fixada em 20%; d = precisão, fixada em 5%.

70 56 e. Escolha dos animais dentro das propriedades A escolha dos animais na propriedade foi feita através do método aleatório sistemático, sendo estabelecido o seguinte critério: onde existiam até 99 bovinos, machos e fêmeas, na faixa etária igual ou superior a dois anos, foram amostrados 20 animais com idade igual ou superior a dois anos de idade, ou todos os animais desta faixa etária quando eles eram em quantidade inferior a 20. Quando existiam 100 ou mais bovinos, machos e fêmeas, com idade igual ou superior a dois anos de idade, foram amostrados 40 animais dentro desta faixa etária estipulada. Os animais foram sorteados de maneira intercalada. Foram excluídas das amostras as fêmeas que estavam no período de peri-parto, ou seja, aproximadamente 15 dias antes do parto e nos 15 dias após o parto. Nas propriedades onde existiam, claramente, dois rebanhos distintos, apenas o rebanho principal foi alvo do inquérito (aquele de real valor econômico ou com o principal objetivo da produção), no qual os animais estavam submetidos às mesmas condições de manejo (condições de risco) e às mesmas medidas de controle. Para esse fim, foram utilizados os valores de sensibilidade agregada igual ou superior a 85% e especificidade agregada igual ou superior a 95%. Foram adotados os valores individuais de sensibilidade e especificidade de 80% e 99,5%, respectivamente. Os cálculos foram realizados com o auxílio do programa Herdacc versão 3.0. f. Coleta de dados Um questionário epidemiológico possibilitou a coleta de informações acerca do tipo de exploração, práticas de manejo empregadas (tipo de ordenha, uso de inseminação artificial, realização de testes de diagnóstico) e possíveis fatores de risco, entre outras informações (Anexo A).

71 57 g. Análise dos dados A primeira análise realizada foi o teste do qui-quadrado e o teste exato de Fisher (ZAR, 1996) com vistas a verificar a presença de associação entre a variável dependente e os potenciais fatores de risco. As variáveis com p 0,20 foram selecionadas para regressão logística, visando observar a probabilidade de ocorrência da doença a partir do conhecimento de sua exposição (HOSMER; LEMESHOW, 1989). Na análise multivariada, calculou-se a odds-ratio (razão de chances) entre os expostos e não expostos aos fatores considerados de risco. Os cálculos foram realizados no programa IBM SPSS Statistics 20. h. Elaboração dos Mapas Temáticos As coordenadas obtidas através do GPS a campo foram adicionadas ao Banco de Dados Epidemiológico (BDE), possibilitando sua representação em mapas temáticos, sendo possível a visualização da distribuição do status epidemiológico das propriedades (foco ou livre). O georreferencoamento e a construção dos mapas temáticos foram realizados com o auxílio do software ArcGIS (versão 10.0). i. Diagnóstico O protocolo de diagnóstico incluiu a realização de tuberculinização comparada ou Teste Cervical Comparativo (TCC) de acordo com o preconizado e normatizado pelo Manual Técnico do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal PNCEBT (LAGE, 2006). A leitura foi realizada por médicos

72 58 veterinários do serviço oficial, 72 horas mais ou menos 6 horas após a inoculação, também conforme preconiza a Instrução Normativa n. o 06, de 08 de janeiro de Os Purifieds Proteins Derivatives (PPD) utilizados, PPD bovino e PPD aviário, foram produzidos pelo Laboratório de Tecnologia do Paraná (TECPAR), em acordo com o estabelecido pela Portaria n.º 64 de 18 de março de 1994 da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Visando evitar que ao final do estudo existissem animais suspeitos ao teste, os que resultaram inconclusivos foram retestados com o mesmo procedimento diagnóstico em intervalo mínimo de 60 dias. Todos os animais positivos foram sacrificados. As propriedades classificadas como foco foram aquelas com até vinte bovinos amostrados e pelo menos um resultado positivo, assim como, aquelas com quarenta bovinos amostrados com dois ou mais animais positivos, detectados através do procedimento diagnóstico. j. Cálculos das prevalências Os cálculos das prevalências aparentes ponderadas e os respectivos intervalos de confiança (95%) foram realizados utilizando os Programas IBM SPSS Statistics 20 e Epi Info 7.0 (CDC, 2011). Os parâmetros utilizados no cálculo da prevalência aparente de focos foram status da propriedade (se é foco ou livre da tuberculose bovina), o circuito a que pertence cada propriedade e o peso estatístico de cada propriedade, calculado pela razão do número de propriedades com atividade produtiva e o número de propriedades amostradas em cada circuito produtor (DEAN, 1994). Os pesos de cada propriedade (P 1 ) no cálculo da prevalência de focos no Estado foram obtidos através do seguinte cálculo:

73 59 P1 = Propriedades com atividadereprodutiva existentesno circuito Propriedades com atividadereprodutiva amostradasno circuito A prevalência de fêmeas e machos maiores que 24 meses positivos também foi calculada para cada circuito produtor e para o Estado. Os parâmetros que serviram de base para o cálculo foram: status da propriedade (positivo e negativo), o circuito na qual a propriedade está inserida e a identificação da propriedade amostrada. O peso de cada animal (P 2 ) no cálculo da prevalência de animais no Estado foi calculado por: P2 = Fêmeas e machos Fêmeas e machos 24 meses na propriedade 24 meses amostrados na propriedade Fêmeas e machos Fêmeas e machos 24 meses 24 meses no circuito nas propriedades amostradas no circuito O primeiro termo do segundo membro da equação do Ρ 2 refere-se ao peso de cada animal para ponderação da prevalência de animais dentro de cada circuito produtor. k. Considerações éticas A tuberculose bovina é uma doença de notificação obrigatória no Brasil e a legislação vigente determina que os animais com reações positivas no teste cervical comparativo sejam marcados e posteriormente sacrificados ou destruídos. Assim sendo, com vistas a garantir o cumprimento do que preconiza a legislação em vigor e ao mesmo tempo esclarece criadores e população foi publicada portaria estadual n.o 353/2008 (Anexo B) vinculando a destruição do animal na propriedade a partir de resultado positivo ao teste pré-estabelecido para o Levantamento Epidemiológico com base no Regulamento Técnico do PNCEBT, sendo estabelecido um valor simbólico ao criador partícipe do inquérito.

74 60 Visando resguardar os criadores que participaram do estudo epidemiológico no que se refere à identidade dos mesmos e das propriedades envolvidas, não foram divulgados os nomes dos criadores e propriedades e, os sacrifícios, quando necessários foram realizados pelos técnicos da ADAB com absoluta discrição. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foi possível determinar as prevalências de focos e de fêmeas e machos adultos, com idade maior ou igual a 24 meses, positivos para tuberculose bovina no Estado e em cada circuito produtor, bem como medir o risco da doença, visando o fornecimento de subsídios para o redirecionamento das medidas de controle para a tuberculose bovina no Estado da Bahia. Na Tabela 1 são apresentados os dados censitários pecuários do Estado, divididos por circuitos pecuários (1 e 2). Os dados mostram que o circuito1 apresenta o maior número de municípios (132), porém no circuito 2 está situada a maior quantidade de propriedades com atividade reprodutiva ( propriedades) que representa 60,39% do total de propriedades com esse tipo de atividade. O circuito com maior número de fêmeas na faixa etária acima de 24 meses foi o 1, sendo também o circuito com o maior número de fêmeas amostradas. Tabela 1. Dados censitários da população bovina em propriedades com atividade reprodutiva nos circuitos pecuários 1 e 2 Circuitos pecuários analisados Número de municípios Propriedades existentes Propriedades amostradas Fêmeas com idade 24 meses existentes Fêmeas com idade > 24 meses amostradas Total Fonte: Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia, 2008.

75 61 Apesar do maior número de municípios no circuito pecuário 1, a presença de mais propriedades com atividade reprodutiva está no circuito 2, sendo considerada um fator de maior risco para a ocorrência de tuberculose bovina em virtude da presença de mais rebanhos em uma área, elevando a probabilidade da circunvizinhança com propriedades foco. Estudos entre rebanhos vizinhos demonstraram a ocorrência de transmissão da tuberculose bovina de animais infectados para animais saudáveis, sendo recomendada a limitação de contato entre rebanhos contíguos (HUMBLET, 2009). Apesar de número menor de propriedades com atividade reprodutiva no circuito 1, este apresenta um maior número de fêmeas com idade acima de 24 meses, demonstrando a presença de rebanhos com maior número de animais. Também, a quantidade elevada de fêmeas com idade acima de 24 meses aumenta as chances de aparecimento de animais infectados, principalmente em rebanhos leiteiros, estabulados, pela proximidade dos animais. Os resultados da prevalência de focos nos circuitos pecuários 1 e 2, incluindo os respectivos intervalos de confiança, estão expressos na Tabela 2. Os dados da tabela demonstram que as maiores prevalências de focos de tuberculose bovina são observadas nos circuitos 1 (2,0%) e 2 ( 2,9%), que equivalem às mesorregiões do extremo oeste, Vale São Franciscano, Centro-Sul e Sul Baiano e, alguns municípios da Centro-Norte e Nordeste Baiano. A maior prevalência dentre os circuitos foi observada no circuito pecuário 2. Tabela 2. Prevalência de focos de tuberculose bovina nos circuitos pecuários 1 e 2 Circuitos Propriedades com atividade Propriedades com atividade Prevalência IC (95%) pecuários analisados reprodutiva amostradas reprodutiva positivas (%) ,0 [1,0-4,2] ,9 [1,5-5,5] Total IC: Intervalo de confiança.

76 62 Estima-se que particularmente no circuito 1 estão cerca de 50% das propriedades leiteiras do Estado além de 49,7% dos estabelecimentos que recebem e beneficiam leite. A tuberculose bovina apresenta maior prevalência em rebanhos leiteiros (LILENBAUM, 2007; SOUZA et al., 2009; FIGUEIREDO, 2010), principalmente rebanhos estabulados (SOUZA et al., 2009) e podem causar prejuízos aos rebanhos além de risco à população que consome produtos de origem animal (LILENBAUM, 2007), se medidas de prevenção e controle não forem adotadas. A prevalência de fêmeas para tuberculose bovina está representada na Tabela 3 por circuito pecuário. Pode-se observar que a maior prevalência de fêmeas de bovinos acima de 24 meses está no circuito 2. Contudo, todas as prevalências de fêmeas são consideradas baixas, pois se encontram abaixo da prevalência média nacional que é de 1,3% (BRASIL, 2006). Tabela 3. Prevalência de fêmeas com idade superior a 24 meses positivas para tuberculose bovina nos circuitos pecuários 1 e 2 Circuitos pecuários Fêmeas bovinas com idade > 24 meses amostradas Fêmeas bovinas com idade > 24 meses positivas Prevalência (%) IC 95% ,08 [0,035 0,17] ,66 [0,20 2,16] Total IC: Intervalo de confiança A baixa prevalência de fêmeas é um fator positivo no controle da TB em virtude da recomendação do sacrifício de animais positivos pela legislação em vigor, diminuindo o impacto da reposição das fêmeas. Contudo, torna-se preocupante em virtude do contato com animais saudáveis principalmente de outros rebanhos, elevando a possibilidade de propagação da enfermidade dentro do rebanho e entre rebanhos, se não houver controle do trânsito, além do risco de infecção de bezerros e seres humanos

77 63 pela ingestão de leite contaminado. Segundo Castro et al. (2009) os bezerros podem adquirir a infecção ao ingerir leite contaminado, assim como outras espécies e os seres humanos, mantendo a infecção no rebanho. As prevalências de animais e propriedades, encontradas nesse estudo, para os circuitos 1 (2,0% e 0,08%) e 2 (2,9% e 0,66%), descritos nas tabelas 2 e 3, apresentaram uma diminuição em relação a estudos anteriores. Notificações oficiais existentes no Brasil, entre 1989 e 1998 indicaram uma prevalência de animais infectados de 1,3%. Em 1986 a ocorrência estava entre 0,9 a 2,9% com 6,2% a 26,3% dos rebanhos acometidos. No Estado da Bahia levantamento realizado no município de Ilhéus em 21,7% dos estabelecimentos pecuários existentes, correspondendo a 16% da população de fêmeas bovinas com idade igual ou superior a 24 meses observou-se uma prevalência de 10,6% em propriedades e 2,8% em animais (Ribeiro, et al., 2003). A prevalência de focos por tipo de exploração da propriedade, distribuída por circuitos pecuários está apresentada na Tabela 4, onde se observa que as maiores prevalências de focos de tuberculose bovina foram observadas em propriedades com tipo de exploração leite, nos circuitos pecuários 1 e 2. A maior prevalência ocorreu em propriedades leiteiras do circuito 2. Tabela 4. Prevalência aparente de focos de tuberculose bovina, estratificada por tipo de exploração segundo os circuitos pecuários 1 e 2 Circuitos Corte Leite Misto pecuários Prevalência % (p/e)* IC 95% (%) Prevalência % (p/e) IC 95% (%) Prevalência % (p/e) IC 95% (%) 1 0,0 (0/90) [0,0-3,24]** 3,7 (5/135) [1,21-8,43] 1,7 (2/119) [0,2-5,93] 2 0,8 (1/128) [0,02-4,28] 7,5 (4/53) [2,1-18,2] 3,2 (4/126) [0,87-7,92] * positivos(as)/examinados(as) O resultado observado está de acordo com o reportado por Júnior & Souza (2008) que destaca ser a tuberculose bovina caracteristicamente uma enfermidade que

78 64 afeta rebanhos leiteiros, principalmente com sistema de criação estabulado, tendo menor importância epidemiológica em rebanhos com aptidão corte, em virtude do sistema de criação utilizado geralmente ser o extensivo. Na Tabela 5 estão apresentados os resultados dos testes do qui quadrado e exato de fisher. Após a referida análise pode-se observar que os fatores associados à condição de foco de tuberculose bovina foram o tipo de exploração, principalmente em virtude dos tipos leite e mista, ter assistência veterinária e quantidade de fêmeas em idade reprodutiva ( 24 meses).

79 65 Tabela 5. Resultados da análise univariada dos possíveis fatores de risco para tuberculose bovina no Estado da Bahia (variáveis com P 0,20) Número de Variável Total de propriedades propriedades expostas % Valor p tipo de exploração 0,004 corte ,20 leite ,02 misto ,66 tipo de ordenha 0,135 não ordenha ,66 1 ordenha ,97 2 ou 3 ordenhas ,00 raça 0,084 zebu ,28 europeu leite ,00 europeu corte 2 0 0,00 mestiço ,82 outras raças ,00 presença de animais silvestres não ,49 sim ,87 pastagem tem divisa com mata não ,89 sim ,90 0,064 0,118 ter assistência veterinária 0,03 não ,07 sim ,49 número de fêmeas 24 meses até , ,02 < 0,0001

80 66 Na Tabela 6 está o modelo final da regressão logística multivariada acerca dos fatores de risco para a tuberculose bovina no Estado da Bahia. Tabela 6 Modelo final da regressão logística multivariada para os fatores de risco para a tuberculose bovina em rebanhos no Estado da Bahia Bahia 2008 Variável OR IC 95% Valor p ser propriedade de leite 9,72 1,22; 77,6 0,03 ser propriedade mista 6,66 0,81; 54,5 0,07 ter mais de 18 fêmeas 24 meses 8,44 1,9; 37,4 0,005 A observação dos dados aponta o tipo de exploração de leite como fator de risco para ocorrência de tuberculose bovina, indicando que a proporção de focos de tuberculose nas propriedades do tipo de exploração leite supera a proporção de focos nas propriedades do tipo corte e mista. Segundo Abrahão (1999), o confinamento é um importante fator na difusão da doença no rebanho, o que explica a maior prevalência no gado leiteiro e a menor prevalência no gado de corte, os quais são abatidos precocemente tendo, portanto, menor tempo de exposição aos membros infectados do rebanho. O tamanho do rebanho também é importante na transmissão da infecção. Ter mais de 18 fêmeas em idade reprodutiva ( 24 meses) também representa um fator de risco na ocorrência da tuberculose, fator este possivelmente relacionado à maior movimentação do rebanho com introdução de animais possivelmente sem os devidos cuidados sanitários, ou seja, sem realização de testes diagnósticos ou prévio conhecimento da condição sanitária do rebanho de origem. Após análise de fatores de risco para transmissão de tuberculose Griffin et al (1996) observaram diferenças significativas entre as variáveis tamanho do rebanho, histórico de compra, histórico de teste prévio, idade, raça e aptidão.

81 67 A não existência de muitos trabalhos científicos envolvendo levantamentos regionais e/ou nacionais relacionados à tuberculose bovina não permite compreender a evolução da enfermidade no decorrer dos anos. Essa aparente não motivação por parte de médicos veterinários, criadores e autoridades sanitárias pode estar relacionada ao caráter crônico da enfermidade e ausência de sinais clínicos aparentes, mesmo com os impactos econômicos e em saúde pública (MARQUES, 2008). Essa realidade dificulta o estudo sistemático do impacto econômico dessas enfermidades nos rebanhos bovinos, com ênfase para os leiteiros, os quais oferecem maior possibilidade da transmissão aos seres humanos, principalmente pelo contato e consumo de leite e seus derivados (MANGONI, 2009). CONCLUSÃO A prevalência observada nos circuitos pecuários 1 e 2 pode ser considerada baixa, principalmente na população de fêmeas em idade reprodutiva (0,08% e 0,66%). Assim como, nas unidades primárias, as propriedades (2,0% e 2,9%). Ser propriedade leiteira e com tipo de exploração leite e mista, além de ter na propriedade mais de 18 fêmeas na faixa etária acima de 24 meses apresentou associação com a possibilidade de ocorrência de tuberculose bovina nos referidos circuitos. RECOMENDAÇÕES Recomenda-se um redirecionamento das medidas de controle atualmente adotadas para os municípios pertencentes aos circuitos pecuários 1 e 2, incluindo a intensificação do controle do trânsito na referida região por parte do órgão estadual de

82 68 defesa agropecuária. Com base nas recomendações preconizadas pelo PNCEBT, o estímulo e/ou obrigatoriedade da certificação de propriedades como livres de tuberculose bovina, incluindo remuneração mais elevada à matéria prima de propriedades certificadas e o estabelecimento de prazo para a certificação de propriedades fornecedoras de matéria prima a laticínios, contribuirão para reduzir a incidência da enfermidade nos rebanhos, além da necessidade de incremento no controle da distribuição de leite e derivados a laticínios e entrepostos assim como diretamente para co consumidor. A vigilância em matadouros também se torna uma excelente ferramenta com vistas á localização de propriedades suspeitas candidatas ao programa de certificação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

83 69 1. BELCHIOR, A.P.C. Prevalência, distribuição regional e fatores de risco da tuberculose bovina em Minas Gerais f. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária Preventiva e Epidemiologia) Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. 2. BRASIL, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Manual Técnico do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal. Brasília, CASTRO, K.G.; et al. Tuberculose bovina: diagnóstico, controle e profilaxia. PUBVET. Londrina. vol. 3, n. 30, Ed. 91, Art Cosivi, O., J. M. Grange, C. J. Daborn, M. C. Ravigilone, T. Fujikura, D. Cousins, R. A. Robinson, H. F. A. K. Huchzermeyer, I. De Kanntor, and F. X. Meslin Zoonotic tuberculosis due to Mycobacterium bovis in developing countries. Emerg. Infect. Dis. 4: DE MELO ABRAHÃO, R.. TUBERCULOSE HUMANA CAUSADA PELO Mycobacterium bovis: CONSIDERAÇÕES GERAIS E A IMPORTÂNCIA DOS RESERVATÓRIOS ANIMAIS. Archives of Veterinary Science, América do Norte, 4, out Disponível em: Acesso em: 22 Dez Elias K, Hussein D, Asseged B, Wondwossen T, Gebeyehu M. Status of bovine tuberculosis in Addis Ababa dairy farms. Rev Sci Tech. 2008;27(3): FERREIRA NETO, J.S.; BERNARDI, F. (2008) O controle da tuberculose bovina. Revista Higiene Alimentar. Disponível em < Acesso em 11/12/ FUVERKI, R.B.N.; MURAKAMI, P.S.; BIONDO, A.W.; BARROS FILHO, I.R. Uso da PCR para detecção e identificação de micobactérias a partir de amostras clínicas de bovinos. Archives of Veterinary Science, v.13, n.1, p.73-77, 2008.

84 70 9. GIL, A.D.; SAMARTINO, L. Zoonosis en los sistemas de producción animal de las áreas urbanas y periurbanas de América Latina. Roma: FAO, p (Livestock policy discussion. Paper, 2) 10. GRIFFIN, JM.; MARTIN,SW.; THORBURN, MA. A case-control study on the association of selected risk factors with the occurrence of bovine tuberculosis in the Republic of Ireland. Preventive Veterinary Medicine. v. 27, n. 34, p , HUMBLET, M.F.; BOSCHIROLI, M.L.; SAEGERMAN, C. Classification of worldwide bovine tuberculosis risk factors in cattle: a stratified approach. Vet Res Sep-Oct; 40(5):50. Epub 2009 Jun 6. Review. PubMed PMID: ; PubMed Central PMCID: PMC JÚNIOR, M.E.K. & SOUSA, C.L.M. Considerações sobre a tuberculose bovina no norte Fluminense e no município de Campos dos Goytacazes após o advento do PNCEBT Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Bovina. Perspectivas online. Vol. 2, n.8, ano LAVAGNOLI, M.R.; AMORIM, B.M.; MACHADO, G.P.; DEMONER, L.C.; ZANINI, M.S.; ANTUNES, J.M.A.P. Tuberculose em bovinos no Estado do Espírito Santo. Vet e Zootec. 17(1) Mar MANGONI, J. Ocorrência de tuberculose e de brucelose em rebanhos da região Sudoeste do Paraná. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, Garça, v. 7, n. 12, RUGGIERO, A.P.; IKUNO, A.A.; FERREIRA, V.C.A.; ROXO, E. Tuberculose bovina: Alternativas para o diagnóstico. Arq Inst Biol. 2007; 74(1): RUGGIERO, Ana Paula Macedo. Métodos moleculares aplicados ao diagnóstico da tuberculose bovina Dissertação (Mestrado em Epidemiologia Experimental e Aplicada às Zoonoses) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, Disponível em: < Acesso em: OIE (2009). Bovine Tuberculosis. OIE Terrestrial Manual. Paris, pp. 1-16

85 OLIVEIRA, V,M.; et al. Análise retrospectiva dos fatores associados à distribuição da tuberculose bovina no estado do Rio de Janeiro. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. [online]. 2008, vol.60, N.3, pp PACHECO, A.M.; HAMZÉ, A.L.; AVANZA, M.F.B.; PEREIRA, D.M.; PEREIRA, R.E.P.; CIPRIANO, R.S.; LOT, R.F.S. Tuberculose Bovina relato de caso. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária. Ano VII. N. 13. Julho ISSN: SABEDOT, M.A.; BATISTA, P.B.; POZZA, M.S.S.; BUSANELLO, M.; ALMEIDA, R.Z.; RODRIGUES, M. Prevalência de tuberculose bovina na região sudoeste do Paraná. Zootec. Águas de Lindoia, São Paulo. Seminário: 18 a SENASA. TORRES, Pedro M. Vigilancia Epidemiológica: Importancia de la detección en faena de la tuberculosis bovina. Servicio Nacional de Sanidad y Calidad Agroalimentaria (SENASA). < Acesso em SOUZA, A.V.S.; SOUSA, C.F.S.; SOUZA, R.M.; RIBEIRO, R.M.; OLIVEIRA, A.L. A importância da tuberculose bovina como zoonose. < Acesso em

86 72 4. ARTIGO CIENTÍFICO II Mapas Temáticos na caracterização epidemiológica da tuberculose bovina em regiões de relevância econômica no Estado da Bahia. Costa, Luciana Bahiense 1 ; Ferreira Neto, José Soares 2 ; Ferreira, Fernando 2 ; Amaku, M. 2 ; Dias, R.A. 2 ; Telles, E.O. 2 ; Gonçalves, V. 3 Silva, Marta Mariana Nascimento 4 ; Bavia, Maria Emília Diretoria de Vigilância Epidemiológica Secretaria da Saúde do Estado da Bahia, Salvador/Bahia, Brasil. lubahiense@hotmail.com 2. Departamento de Medicina Veterinária Preventiva Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, São Paulo/São Paulo, Brasil. jsoares@vps.fmvz.br 3. Universidade de Brasília, Brasília/DF, Brasil. vitorspg@unb.br. 4. Laboratório de Monitoramento de Doenças pelo Sistema de Informações Geográficas Universidade Federal da Bahia, Salvador/Bahia, Brasil. RESUMO A sanidade, associada à nutrição, ao melhoramento genético e ao manejo zootécnico, constitui a base de qualquer sistema de exploração de animais, sendo o equilíbrio destes fatores indispensável para assegurar a produtividade e qualidade, constituindo-se assim pré-requisito para a competitividade entre os mercados. Com base em parceria estabelecida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MAPA e a Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB), em conjunto com o Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP) foi realizado um levantamento epidemiológico da situação da tuberculose bovina no estado da Bahia, localizado na região nordeste do Brasil. O estudo teve como objetivo auxiliar o estado na planificação de estratégias e ações de controle e erradicação além de fornecer subsídios para melhor coordenação e execução do Regulamento Técnico do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal (PNCEBT). Estimou a prevalência de machos e fêmeas acima de 24 meses com resultado à tuberculinização positiva para tuberculose, além da prevalência de focos de tuberculose bovina em diferentes regiões do estado. Para isso, a Bahia foi dividida em 04 circuitos produtores. Complementarmente foi realizada caracterização epidemiológica da cada circuito produtor. Nos circuitos produtores 1 e 2, que correspondem às mesorregiões do extremo oeste, Vale São Franciscano, Centro-Sul e Sul Baiano e, alguns municípios da Centro-Norte e Nordeste Baiano, foi realizada análise descritiva das variáveis observadas a partir da aplicação de questionário epidemiológico. As prevalências de focos foram de 2,0% e 2,9%, e as prevalências de animais nos referidos circuitos foram de 0,08% e 0,66% respectivamente. Os possíveis fatores de risco associados à ocorrência de tuberculose bovina nos circuitos pecuários supracitados foram o tipo de exploração leite e mista, além de possuir uma quantidade superior a 18 fêmeas de bovinos acima de 24 meses de idade na propriedade. A espacialização das características com maior freqüência relacionadas à ocorrência de rebanhos e animais positivos para tuberculose bovina nos circuitos supracitados foi

87 73 realizada e colaborou com uma melhor visualização e caracterização das regiões supracitadas, fornecendo mais ferramentas para as ações de defesa sanitária animal. Palavras chave: Caracterização Epidemiológica, Distribuição Espacial, Tuberculose Bovina Thematic Maps on epidemiological characterization of bovine tuberculosis in areas of economic importance in the State of Bahia. SUMMARY Sanity, associated with nutrition, genetic improvement and improved livestock management, forms the basis of any system of exploitation of animals, being the balance of these essential factors to ensure productivity and quality, thus becoming a prerequisite for the competitiveness between markets. Based on the partnership established by the Ministry of Agriculture, Livestock and Food Supply - MAPA and the State Bureau of Agricultural Defense of Bahia (ADAB), in conjunction with the Department of Preventive Veterinary Medicine and Animal Health, Faculty of Veterinary Medicine, University of São Paulo (USP-FMVZ) was carried out an epidemiological situation of bovine tuberculosis in the state of Bahia, located in northeastern Brazil. The study aimed to assist the state in planning strategies and actions to control and eradication as well as provide support for better coordination and implementation of the Technical Regulations of the National Program for Control and Eradication of Brucellosis Animal (PNCEBT). Estimated the prevalence of males and females over 24 months with a result to the tuberculin positive for tuberculosis, and the prevalence of outbreaks of bovine tuberculosis in different regions of the state. For this, Bahia was divided into 04 regions. Addition was conducted epidemiological characterization of each circuit producer. In production circuits 1 and 2, which correspond to the meso far west Valley St. - Franciscan Center-South and South Bahia, and some municipalities of the North Central and Northeast Baiano, descriptive analysis was performed of the observed variables from the application of epidemiological questionnaire. The prevalence of infected herds were 2.0% and 2.9%, and prevalence of animals in these circuits were 0.08% and 0.66% respectively. The possible risk factors associated with the occurrence of bovine tuberculosis in cattle above circuits were the type of milk and mixed farm, besides possessing a quantity of more than 18 female cattle over 24 months old at the property. The spatial characteristics of the most frequently related to the occurrence of herds and animals positive for bovine tuberculosis in the circuits described above was performed and collaborated with a better visualization and characterization of the above mentioned areas, providing more tools for the actions of animal health protection. Keywords: Bovine tuberculosis, epidemiological characterization, spatial distribution

88 74 INTRODUÇÃO A tuberculose bovina (TB) é uma doença infecto-contagiosa, de caráter crônico (RUGGIERO, 2004; JÚNIOR & SOUZA, 2008; CASTRO et al., 2009; PACHECO et al., 2009; SOUZA ET AL., 2009; LAVAGNOLI, 2010; SENASA, 2011) causada pelo Mycobacterium bovis, que acomete diversas espécies animais de produção com destaque para os bovinos (OLIVEIRA et al., 2008). A transmissão dos animais ao homem se dá fundamentalmente pela ingestão de leite cru de bovinos infectados e em países desenvolvidos onde a pasteurização é obrigatória a ocorrência da doença é quase nula (GIL e SAMARTINO, 2001). A enfermidade apresenta interferências importantes no agronegócio mundial, causando perdas econômicas, caracterizando-se como uma importante barreira sanitária. O leite e a carne originários de países onde há tuberculose bovina não podem ser exportados para países onde ela é controlada, causando prejuízos à economia nacional pela menor cotação do produto e perda de mercado para as exportações. Afeta mamíferos, incluindo o homem e aves, caracterizando-se como uma zoonose (SABEDOT et al., 2009) e constitui um sério problema de saúde humana e animal (JÚNIOR & SOUZA, 2008). Alguns prejuízos causados pela ocorrência da enfermidade nos rebanhos caracterizam a importância econômica dessa enfermidade e envolvem: perdas por mortes de animais, redução na eficiência reprodutiva, queda na produção de leite e no ganho de peso, descarte precoce, eliminação de animais de alto valor zootécnico (FUVERKI, 2008; OLIVEIRA et al., 2008; PACHECO et al., 2009) condenação de carcaças e restrição à exportação (OLIVEIRA et al., 2008), além das barreiras sanitárias impostas à comercialização de produtos de origem animal dentre eles o leite e a carne.

89 75 A tuberculose bovina está presente em diversas partes do mundo (RUGGIERO, 2004), sendo a maior prevalência verificada nos países em desenvolvimento (JÚNIOR & SOUZA, 2008; HUMBLET et al., 2009) e a menor em países desenvolvidos, onde o controle e erradicação encontram-se em fase avançada. O controle da tuberculose bovina se fundamenta no bloqueio dos pontos críticos de transmissão da doença. A identificação das fontes de infecção é feita por meio da realização de rotina de testes tuberculínicos com abate dos animais reagentes e justifica-se tradicionalmente por tratar-se de uma doença infecto-contagiosa de caráter zoonótico, por tratar-se de uma zoonose reemergente que apresenta risco a saúde pública, e impõe limitações ao comércio internacional de bovinos e seus subprodutos, além de diminuir a produtividade dos animais afetados. No quadro global de combate à tuberculose e proteção da saúde humana é indispensável, também, a erradicação da tuberculose bovina, sendo a susceptibilidade do homem ao M. bovis uma das principais razões da importância dessa zoonose nos bovinos (BATISTA et al., 2004). Levantamentos epidemiológicos, caracterizando-se como vigilância epidemiológica da tuberculose bovina, permitem conhecer em quais situações epidemiológicas se encontram os rebanhos, auxiliam na determinação das estratégias regionais aplicáveis inclusive para a certificação de áreas livres além de efetuar uma análise permanente da sensibilidade e especificidade das provas tuberculínicas em uso e as demais técnicas diagnósticas em estudo, orientando assim as ações para alcançar o objetivo maior de controlar e erradicar esta enfermidade. A proposta desse estudo se justifica pela a importância da tuberculose bovina no cenário mundial, como causadora de inúmeros prejuízos de ordem sócio-econômica, nos rebanhos, além das restrições sanitárias impostas pelos grandes mercados

90 76 consumidores, que cada vez mais exigem qualidade garantida, e para que os produtos possam ter aceitação e competitividade, além do impacto em saúde pública por tratar-se de uma zoonose re-emergente. O objetivo desse estudo é caracterizar a tuberculose bovina nos circuitos pecuários que correspondem a regiões de relevância econômica no Estado da Bahia, através da espacialização em mapas temáticos das variáveis com maior freqüência de associação a ocorrência de tuberculose bovina, contribuindo para o fornecimento de subsídios com vistas a possíveis alterações das estratégias do programa de controle e/ou erradicação dessa endemia nos referidos circuitos pecuários. MATERIAL E MÉTODOS Foi realizado um estudo de corte transversal, através do qual o Estado da Bahia foi dividido em quatro circuitos pecuários, considerando-se os padrões epidemiológicos no que se refere aos sistemas de produção diferenciados, as práticas de manejo, finalidade de exploração, tamanho dos rebanhos, sistema de comercialização da região e contando com a capacidade operacional e logística da Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB) com vistas à realização das atividades de campo. Para cada circuito produtor, foi conhecido o número de propriedades com bovinos e o número total de bovinos (machos e fêmeas) com idade igual ou superior a dois anos. Cada um dos circuitos produtores representou uma realidade epidemiológica distinta e, praticamente, independente. O Mapa 1 demonstra a divisão do Estado da Bahia em circuitos produtores pecuários, com destaque para os circuitos pecuários 1 e 2, alvo deste trabalho.

91 77 Figura 2 Divisão do Estado da Bahia em circuitos pecuários Salvador 2012 Os dois circuitos são compostos por 231 municípios e propriedades, sendo amostradas 652, e, fêmeas acima de 24 meses, sendo amostradas fêmeas. O estudo foi planejado por responsáveis técnicos do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal (PNCEBT), a equipe do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal (VPS) da faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP), da Universidade de Brasília (UnB) e da Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB) e realizado entre outubro de 2008 e novembro de A amostragem foi realizada em duas etapas, em cada circuito produtor, incluindo sorteio aleatório de um número pré-estabelecido de propriedades/unidades de criação com atividade reprodutiva (unidades primárias da amostra) e um número de fêmeas e machos bovinos com idade igual ou superior a 24 meses, denominadas unidades secundárias da amostragem. A escolha de unidades primárias foi realizada através do cadastro de propriedades rurais com atividade reprodutiva de bovinos e/ou bubalinos. Se a propriedade não pode ser visitada, por qualquer motivo, foi escolhida outra, nas

92 78 proximidades, com características de produção próximas da propriedade anteriormente sorteada. O número de propriedades selecionadas por circuito produtor foi estimado pela fórmula para amostra simples aleatória (THRUSFIELD, 2007), conforme os seguintes parâmetros: Prevalência estimada de 20%, nível de confiança de 95% e erro de 5%. A escolha dos animais na propriedade foi feita através do método aleatório sistemático, sendo estabelecido o seguinte critério: onde existiam até 99 bovinos, machos e fêmeas, na faixa etária igual ou superior a dois anos, foram amostrados 20 animais com idade igual ou superior a dois anos de idade, ou todos os animais desta faixa etária quando eles eram em quantidade inferior a 20. Quando existiam 100 ou mais bovinos, machos e fêmeas, com idade igual ou superior a dois anos de idade, foram amostrados 40 animais dentro desta faixa etária estipulada. Foram excluídas das amostras as fêmeas que estavam no período de peri-parto, ou seja, aproximadamente 15 dias antes do parto e nos 15 dias após o parto. Nas propriedades onde existiam, claramente, dois rebanhos distintos, apenas o rebanho principal foi alvo do estudo (aquele de real valor econômico ou com o principal objetivo da produção), no qual os animais estavam submetidos às mesmas condições de manejo (condições de risco) e às mesmas medidas de controle. Para coleta de dados foi utilizado um questionário epidemiológico através do qual foram colhidas informações relacionadas às práticas de manejo empregadas, incluindo do tipo de exploração, tipo de criação, número e tipo de ordenha, produção leiteira, uso de inseminação artificial, relacionadas à exposição a possíveis fatores de risco, dentre eles a presença de outras espécies na propriedade (ovinos, caprinos, eqüídeos, suínos, aves comerciais, cães, gatos), espécies de vida livre, pastagem em divisa com mata, testes de diagnóstico, aquisição de bovinos, local de abate dos animais, aluguel ou compartilhamento de

93 79 pastos e utensílios, além do risco de transmissão para seres humanos através de informações relacionadas ao manuseio e consumo de leite. Foi realizada análise univariada, utilizando o teste do qui-quadrado e teste do exato de Fisher (ZAR, 1996) com vistas a verificar a presença de associação entre a variável dependente e os potenciais fatores de risco, sendo selecionadas as variáveis com p 0,20 para regressão logística. (HOSMER; LEMESHOW, 1989). Na análise multivariada, calculou-se a odds-ratio (razão de chances) entre os expostos e não expostos aos fatores considerados de risco. Os cálculos foram realizados no programa IBM SPSS Statistics 20. As coordenadas obtidas durante a realização dos trabalhos de campo foram adicionadas ao Banco de Dados Epidemiológico (BDE), possibilitando sua representação em mapas temáticos. Foi possível também a representação do status epidemiológico das propriedades (foco ou livre). Os mapas temáticos foram construídos com o auxílio do software ArcGIS (versão 10.0), a partir da base da cartográfica georreferenciada do Estado da Bahia e das informações dos pontos georreferenciados das propriedades obtidos através de GPS. O protocolo de diagnóstico incluiu a realização de tuberculinização comparada ou Teste Cervical Comparativo (TCC) de acordo com o preconizado e normatizado pelo Manual Técnico do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal PNCEBT (LAGE, 2006). As propriedades classificadas como foco foram aquelas com até vinte bovinos amostrados e pelo menos um resultado positivo, assim como, aquelas com quarenta bovinos amostrados com dois ou mais animais positivos, detectados através do procedimento diagnóstico. Com vistas a garantir o cumprimento do que preconiza a legislação em vigor e ao mesmo tempo esclarece criadores e população foi publicada portaria estadual n.o 353/2008 vinculando a destruição do animal na propriedade a

94 80 partir de resultado positivo ao teste sendo estabelecido um valor simbólico ao criador partícipe do inquérito. Visando resguardar os criadores que participaram do estudo epidemiológico no que se refere à identidade dos mesmos e das propriedades envolvidas, não foram divulgados os nomes dos criadores e propriedades e, os sacrifícios, quando necessários foram realizados pelos técnicos da ADAB com absoluta descrição. Os cálculos das prevalências aparentes ponderadas e os respectivos intervalos de confiança (95%) foram realizados utilizando os Programas IBM SPSS Statistics 20 e Epi Info 7.0 (CDC, 2011). RESULTADOS E DISCUSSÃO As prevalências de focos de tuberculose bovina e de animais positivos no estado foram 1,6% e 0,21% respectivamente. Nos circuitos pecuários 1 e 2, que correspondem às mesorregiões do extremo oeste, Vale São Franciscano, Centro-Sul e Sul Baiano e, alguns municípios da Centro-Norte e Nordeste Baiano, as prevalências de focos foram de 2,0% e 2,9%, e as prevalências de animais nos referidos circuitos foram de 0,08% e 0,66% respectivamente. Na caracterização do circuito 1 pode-se observar que a freqüência da variável tipo de exploração leite (39,2%) foi maior que a mista (34,6%) e corte (26,2%), sendo as variáveis propriedade com tipo de exploração leiteira e mista fortemente associadas à ocorrência de tuberculose bovina no referido circuito. Importante observação nessa área que apresenta histórico de destaque no cenário nacional nesta atividade e onde está localizado o maior número de estabelecimentos de beneficiamento de leite do Estado (79 distribuídos em 43 municípios), destacando-o como importante bacia leiteira, onde estão localizadas as propriedades com as maiores produções do estado. No que se refere

95 81 ao tipo de criação, observou-se uma maior freqüência no tipo extensiva (92,4%), comparando-se com o tipo de criação semi-confinado (7,6%), não deixando dúvidas da expressividade do referido tipo de criação no circuito supracitado, apesar de não ter apresentado correlação com a ocorrência de focos na região. Não foi observada nenhuma propriedade com animais confinados neste circuito. Levando-se em conta a maior freqüência do tipo de exploração leite, no que se refere à variável número de ordenhas, a realização de uma ordenha por dia teve maior freqüência (68,2%), seguida de não ordenhar (27,1%) e duas a três ordenhas por dia (4,7%), no circuito. Quanto ao tipo de ordenha, a manual apresentou maior freqüência (70,7%) em relação à mecânica ao pé (1,5%) e a mecânica em sala de ordenha (1,2%). Dentre outras variáveis que apresentaram maiores freqüências observou-se a raça mestiça (53,2%), a presença de eqüinos na propriedade (94,5%), a presença de cães na propriedade (76,5%) e a aquisição de animais diretamente de outras fazendas (85,1%). Não houve diferenças significativas entre as freqüências da presença e ausência de gato na propriedade (48,0% e 52,0%, respectivamente), existência ou não de espécies silvestres de vida livre na propriedade (52,3% e 47,7%, respectivamente), presença de cervídeos (15,7%), capivaras (20,3%) e marsupiais (18,6%) na propriedade. Como destaque nesse circuito foi observada a presença média de 30 fêmeas acima de 24 meses de idade nas propriedades apresentando forte associação à ocorrência de focos de TB na região. No circuito 2, as maiores freqüências da variável tipo de exploração foram o tipo corte (42,0%) seguida do tipo mista (40,7%), não havendo diferença significativa entres as duas, apresentando o tipo leite a menor freqüência do circuito (17,3%). No que se refere ao tipo de criação observou-se a predominância do tipo extensivo (70,7%), mas com um percentual significativo do tipo semi-confinado (29,0%), o que não foi observado no circuito 1. A realização de uma ordenha por dia apresentou maior

96 82 freqüência (67,1%) em comparação com a realização de duas a três ordenhas por dia (2,6%), assim como o tipo de ordenha manual (69,1%). Nesse circuito houve a predominância: da raça mestiço (52,1%), assim como da raça zebu (43,3%), da presença de eqüinos na propriedade (76,9%), presença de cão na propriedade (73,3%), da existência de pastagens fazendo divisa com mata (68,4%), da realização de testes de diagnóstico para tuberculose bovina (68,4%), da aquisição de animais diretamente de outras fazendas (71,3%), do abate de animais em estabelecimentos sem inspeção veterinária (53,1%) e não entregar leite (64,8%). Observando as freqüências relatadas nos circuitos 1 e 2 do Estado da Bahia, pode-se constatar que trata-se de uma área composta de quatro mesorregiões, que englobam 17 microrregiões do Estado. Área importante tanto do ponto de vista de extensão territorial e quantitativo de propriedades quanto em relação ao aspecto sócioeconômico, incluindo a presença de percentual significativo tanto de rebanhos de leiteiros como de rebanhos de corte. A região, assim como o estado demonstra a utilização de poucos recursos que poderiam aumentar a produção e produtividade de carne e leite, dentre eles o uso da inseminação artificial como principal método de reprodução dos bovinos. Pode-se observar uma homogeneidade em relação à distribuição de algumas variáveis qualitativas caracterizando a tipologia da criação, incluindo as maiores freqüências para o tipo de criação extensiva, a raça mestiça e a presença de eqüinos e cães na propriedade. Frequências elevadas também foram observadas para a realização de uma ordenha por dia e para o tipo de ordenha manual, demonstrando uma baixa tecnificação das propriedades. Em rebanhos de corte a tuberculose bovina é menos freqüente, apresentando maior incidência em rebanhos leiteiros, em virtude da aglomeração de animais e manejo intensivo (JÚNIOR & SOUSA, 2009).Contudo, já foi possível a

97 83 observação de um percentual significativo do tipo de criação semi-confinado no circuito 2, que engloba principalmente a mesorregião extremo oeste baiano, o que sinaliza para a melhoria da tecnificação nos rebanhos mas ressalta a necessidade de maior controle sanitário em virtude do confinamento ser considerado um importante fator de risco associado à ocorrência de TB (LILENBAUM, 2007). Em estudo retrospectivo realizado por IZAEL (2009), pode-se observar que em relação ao sistema de criação 81% dos animais positivos eram provenientes de sistema semi-intensivo. A predominância do tipo de ordenha manual em ambos os circuitos, assim como do abate de animais em estabelecimentos sem inspeção veterinária destaca o contato de animais e seres humanos contribuindo com um dos meios de transmissão da enfermidade e destacando o caráter ocupacional da mesma. Lilenbaum (2007) destaca a importância da inclusão em um programa de controle e erradicação da TB uma investigação acerca das práticas de manejo adotadas nos rebanhos visando a identificação de fatores que provavelmente influenciam na prevalência da doença. Quanto às características sanitárias, verificou-se a prática de aquisição de animais diretamente de outras fazendas. Nos últimos dois anos não houve aquisição de bovinos e quando há aquisição os animais não são tuberculinizados, característica observada também por VALENTE (2009) que verificou ser a quantidade brasileira de exames muito baixa se comparada a outros países. A propriedade possuir mais de 18 fêmeas acima de 24 meses de idade como possível fator de risco para a transmissão da tuberculose bovina, observada nos dois circuitos corrobora com o demonstrado por Griffin et al., (1996) que destacou o tamanho do rebanho como um importante fator de risco para a ocorrência de TB. As variações foram observadas nas variáveis tipo de exploração com predominância do tipo de exploração leite no circuito 1 e corte no circuito 2, na presença de espécies silvestres de vida livre na propriedade predominante no circuito 1,

98 84 na realização de testes para diagnóstico de tuberculose, destacado apenas no circuito 2 e no abate de animais em estabelecimento sem inspeção veterinária com maior freqüência no circuito 2. No que se refere ao rebanho bovino, observou-se um predomínio de propriedades com rebanhos entre 100 e 499 animais no circuito 1, em acordo com Lilenbaun (2007), que refere assim como outros autores o tamanho do rebanho é um forte fator de risco associado á transmissão da tuberculose bovina, possuindo os animais duas vezes a probabilidade de estarem positivos para a enfermidade em relação aos rebanhos menores. A aquisição de bovinos não apresentou freqüência esperada nos dois circuitos, ficando o destaque para a não realização de tuberculinização quando da aquisição de animais e anterior à introdução no rebanho, denotando uma reduzida preocupação com a questão sanitária dos rebanhos. A distribuição espacial permitiu uma melhor visualização da distribuição da categoria tipo de exploração, havendo a predominância do tipo leite no circuito 1, enquanto que no circuito 2 a predominância foi do tipo corte (figura 2), além da presença de fêmeas acima de 24 meses em quantidade superior a 18, com maior concentração no circuito 1 (figura 3) e da distribuição das propriedades focos em ambos os circuitos (figura 4). No que se refere ao status sanitário dos rebanhos, não se observou na distribuição espacial aglomeração espacial de focos em ambos os circuitos que apresentaram 16 dos 19 focos observados no estado (2,5%), correspondendo a 21 fêmeas na faixa etária acima de 24 meses positivas para tuberculose bovina de um total de 24 fêmeas positivas (0,002%). A observação de focos de maneira dispersa em ambos os circuitos chama a atenção para a localização em área importante de trânsito de animais como da produção leiteira demonstrada espacialmente.

99 85 Figura 3 - Tipos de exploração pecuária nos circuitos pecuários 1 e 2 Figura 4 - Rebanhos com mais de 18 fêmeas de bovinos com idade 24 meses

Panorama Geral da Ovinocultura no Mundo e no Brasil

Panorama Geral da Ovinocultura no Mundo e no Brasil Revista Ovinos, Ano 4, N 12, Porto Alegre, Março de 2008. Panorama Geral da Ovinocultura no Mundo e no Brasil João Garibaldi Almeida Viana 1 Os ovinos foram uma das primeiras espécies de animais domesticadas

Leia mais

Analise o gráfico sobre o número acumulado de inversões térmicas, de 1985 a 2003, e a) defina o fenômeno meteorológico denominado inversão

Analise o gráfico sobre o número acumulado de inversões térmicas, de 1985 a 2003, e a) defina o fenômeno meteorológico denominado inversão 11 GEOGRAFIA Nas épocas de estiagem, a dispersão de poluentes é dificultada e a qualidade do ar piora muito na cidade de São Paulo, afetando, consideravelmente, a saúde das pessoas. NÚMERO DE INVERSÕES

Leia mais

Árvore da informação do agronegócio do leite. identificação animal e rastreamento da produção de bovinos de leite

Árvore da informação do agronegócio do leite. identificação animal e rastreamento da produção de bovinos de leite Árvore da informação do agronegócio do leite identificação animal e rastreamento da produção de bovinos de leite 1. Introdução Claudio Nápolis Costa 1 A exposição dos mercados dos diversos países às pressões

Leia mais

ANÁLISE MERCADOLÓGICA DE EMBRIÕES ZEBUÍNOS PRODUZIDOS A PARTIR DA TÉCNICA DE FERTILIZAÇÃO IN VITRO - FIV

ANÁLISE MERCADOLÓGICA DE EMBRIÕES ZEBUÍNOS PRODUZIDOS A PARTIR DA TÉCNICA DE FERTILIZAÇÃO IN VITRO - FIV ANÁLISE MERCADOLÓGICA DE EMBRIÕES ZEBUÍNOS PRODUZIDOS A PARTIR DA TÉCNICA DE FERTILIZAÇÃO IN VITRO - FIV Autor: Jorge Dias da Silva (SILVA, J. D.) E-mail: jorge@simaoedias.com Tel: 34 9202 1195 1 - INTRODUÇÃO

Leia mais

APRESENTAÇÃO DA CERTIFICAÇÃO OCUPACIONAL

APRESENTAÇÃO DA CERTIFICAÇÃO OCUPACIONAL APRESENTAÇÃO DA CERTIFICAÇÃO OCUPACIONAL A Agência de Certificação Ocupacional (ACERT) é parte integrante da Fundação Luís Eduardo Magalhães (FLEM) Centro de Modernização e Desenvolvimento da Administração

Leia mais

sistemas automatizados para alimentação: futuro na nutrição de precisão

sistemas automatizados para alimentação: futuro na nutrição de precisão matéria da capa sistemas automatizados para alimentação: futuro na nutrição de precisão Texto: Sandra G. Coelho Marcelo Ribas Fernanda S. Machado Baltazar R. O. Júnior Fotos: Marcelo Ribas O avanço tecnológico

Leia mais

Boletim Epidemiológico

Boletim Epidemiológico Secretaria Municipal de Saúde de Janaúba - MG Edição Julho/ 2015 Volume 04 Sistema Único de Saúde TUBERCULOSE VIGILÂNCIA Notifica-se, apenas o caso confirmado de tuberculose (critério clinico-epidemiológico

Leia mais

DISCUSSÕES UE/EUA RELATIVAS AO ACORDO SOBRE EQUIVALÊNCIA VETERINÁRIA

DISCUSSÕES UE/EUA RELATIVAS AO ACORDO SOBRE EQUIVALÊNCIA VETERINÁRIA MEMO/97/37 Bruxelas, 3 de Abril de 1997 DISCUSSÕES UE/EUA RELATIVAS AO ACORDO SOBRE EQUIVALÊNCIA VETERINÁRIA Na sequência da conclusão dos acordos da OMC de 1993 no sector agrícola, a União Europeia (UE)

Leia mais

Mercado. Cana-de-açúcar: Prospecção para a safra 2013/2014

Mercado. Cana-de-açúcar: Prospecção para a safra 2013/2014 Mercado Cana-de-açúcar: Prospecção para a safra 2013/2014 Por: WELLINGTON SILVA TEIXEIRA As mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global suscitam as discussões em torno da necessidade da adoção

Leia mais

Estado da tecnologia avançada na gestão dos recursos genéticos animais

Estado da tecnologia avançada na gestão dos recursos genéticos animais PARTE 4 Estado da tecnologia avançada na gestão dos recursos genéticos animais A caracterização de raças e ambientes de produção precisa ser melhorada para fomentar políticas de decisão na gestão dos recursos

Leia mais

Art. 2º Esta Instrução Normativa entra em vigor 180 (cento e oitenta dias) dias após a data de sua publicação.

Art. 2º Esta Instrução Normativa entra em vigor 180 (cento e oitenta dias) dias após a data de sua publicação. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO GABINETE DO MINISTRO INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 63, DE 27 DE DEZEMBRO DE 2013 O MINISTRO DE ESTADO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, no uso das atribuições

Leia mais

SUPLEMENTAÇÃO DE BEZERROS DE CORTE

SUPLEMENTAÇÃO DE BEZERROS DE CORTE SUPLEMENTAÇÃO DE BEZERROS DE CORTE Nos primeiros meses de vida os bezerros obtêm grande parte dos nutrientes de que precisa do leite materno, que é de fácil digestão para o animal que ainda é jovem. Em

Leia mais

Mudanças demográficas e saúde no Brasil Dados disponíveis em 2008

Mudanças demográficas e saúde no Brasil Dados disponíveis em 2008 Mudanças demográficas e saúde no Brasil Dados disponíveis em 2008 José Cechin Superintendente Executivo Carina Martins Francine Leite Nos últimos meses, vários relatórios publicados por diferentes instituições

Leia mais

Recomendada. A coleção apresenta eficiência e adequação. Ciências adequados a cada faixa etária, além de

Recomendada. A coleção apresenta eficiência e adequação. Ciências adequados a cada faixa etária, além de Recomendada Por quê? A coleção apresenta eficiência e adequação metodológica, com os principais temas relacionados a Ciências adequados a cada faixa etária, além de conceitos em geral corretos. Constitui

Leia mais

POLÍTICA AGRÍCOLA NOS ESTADOS UNIDOS. A) A democratização da terra ou da propriedade da terra (estrutura fundiária)

POLÍTICA AGRÍCOLA NOS ESTADOS UNIDOS. A) A democratização da terra ou da propriedade da terra (estrutura fundiária) Espaço Agrário 1 POLÍTICA AGRÍCOLA NOS ESTADOS UNIDOS Introdução! Os Estados Unidos detêm hoje o índice de maior produtividade agrícola do planeta. Apesar de empregarem apenas 3% de sua População Economicamente

Leia mais

PED ABC Novembro 2015

PED ABC Novembro 2015 PESQUISA DE EMPREGO E DESEMPREGO NA REGIÃO DO ABC 1 Novembro 2015 OS NEGROS NO MERCADO DE TRABALHO DA REGIÃO DO ABC Diferenciais de inserção de negros e não negros no mercado de trabalho em 2013-2014 Dia

Leia mais

Fortalecimento da cadeia produtiva do leite Elizabeth Nogueira Fernandes Chefe Adjunto de Transferência de Tecnologia

Fortalecimento da cadeia produtiva do leite Elizabeth Nogueira Fernandes Chefe Adjunto de Transferência de Tecnologia Audiência Pública Comissão de Agricultura e Reforma Agrária Fortalecimento da cadeia produtiva do leite Elizabeth Nogueira Fernandes Chefe Adjunto de Transferência de Tecnologia Cadeia produtiva do leite

Leia mais

PERFIL EMPREENDEDOR DOS APICULTORES DO MUNICIPIO DE PRUDENTÓPOLIS

PERFIL EMPREENDEDOR DOS APICULTORES DO MUNICIPIO DE PRUDENTÓPOLIS PERFIL EMPREENDEDOR DOS APICULTORES DO MUNICIPIO DE PRUDENTÓPOLIS Elvis Fabio Roman (Bolsista programa universidade sem fronteiras/projeto associativismo apícola no município de Prudentópolis), e-mail:

Leia mais

Informe Técnico: Vigilância das Meningites no Estado de Santa Catarina

Informe Técnico: Vigilância das Meningites no Estado de Santa Catarina GOVERNO DE SANTA CATARINA Secretaria de Estado da Saúde Superintendência de Vigilância em Saúde Diretoria de Vigilância Epidemiológica Gerência de Vigilância de Doenças Imunopreveníveis e Imunização Informe

Leia mais

Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes 1

Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes 1 Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes 1 Fernanda De Negri Luiz Ricardo Cavalcante No período entre o início da década de 2000 e a eclosão da crise financeira internacional, em 2008, o Brasil

Leia mais

A DEMANDA POR SAÚDE PÚBLICA EM GOIÁS

A DEMANDA POR SAÚDE PÚBLICA EM GOIÁS Título: A DEMANDA POR SAÚDE PÚBLICA EM GOIÁS Projeto de pesquisa: ANÁLISE REGIONAL DA OFERTA E DA DEMANDA POR SERVIÇOS DE SAÚDE NOS MUNICÍPIOS GOIANOS: GESTÃO E EFICIÊNCIA 35434 Autores: Sandro Eduardo

Leia mais

Epidemiologia da Transmissão Vertical do HIV no Brasil

Epidemiologia da Transmissão Vertical do HIV no Brasil Epidemiologia da Transmissão Vertical do HIV no Brasil Letícia Legay Vermelho*, Luíza de Paiva Silva* e Antonio José Leal Costa** Introdução A transmissão vertical, também denominada materno-infantil,

Leia mais

5 Considerações Finais 5.1 Conclusão

5 Considerações Finais 5.1 Conclusão 5 Considerações Finais 5.1 Conclusão Nos dias atuais, nota-se que a marca exerce papel relevante para criar a diferenciação da empresa e de seus produtos tanto no mercado interno como nos mercados internacionais.

Leia mais

O USO DO ÁLCOOL ENTRE OS JOVENS: HISTÓRIA, POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS, CONSEQÜÊNCIAS SOCIAIS E TRATAMENTO.

O USO DO ÁLCOOL ENTRE OS JOVENS: HISTÓRIA, POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS, CONSEQÜÊNCIAS SOCIAIS E TRATAMENTO. ANTONIO WILKER BEZERRA LIMA O USO DO ÁLCOOL ENTRE OS JOVENS: HISTÓRIA, POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS, CONSEQÜÊNCIAS SOCIAIS E TRATAMENTO. 1ª Edição Arneiroz Edição do Autor 2013 [ 2 ] Ficha catalográfica. Lima,

Leia mais

TRANSMISSÃO VERTICAL DO HIV E SÍFILIS: ESTRATÉGIAS PARA REDUÇÃO E ELIMINAÇÃO

TRANSMISSÃO VERTICAL DO HIV E SÍFILIS: ESTRATÉGIAS PARA REDUÇÃO E ELIMINAÇÃO Ministério da Saúde TRANSMISSÃO VERTICAL DO HIV E SÍFILIS: ESTRATÉGIAS PARA REDUÇÃO E ELIMINAÇÃO Brasília - DF 2014 Ministério da Saúde TRANSMISSÃO VERTICAL DO HIV E SÍFILIS: ESTRATÉGIAS PARA REDUÇÃO

Leia mais

DESENVOLVENDO COMPETÊNCIAS MATEMÁTICAS Marineusa Gazzetta *

DESENVOLVENDO COMPETÊNCIAS MATEMÁTICAS Marineusa Gazzetta * DESENVOLVENDO COMPETÊNCIAS MATEMÁTICAS Marineusa Gazzetta * RESUMO: Neste texto apresento algumas considerações sobre as competências e habilidades matemáticas a serem desenvolvidas no Ensino Fundamental,

Leia mais

Sistemas de produção e Índices zootécnicos. Profª.: Valdirene Zabot

Sistemas de produção e Índices zootécnicos. Profª.: Valdirene Zabot Sistemas de produção e Índices zootécnicos Profª.: Valdirene Zabot O que é uma CADEIA? É um conjunto de elos onde cada um depende dos demais. Na cadeia de produção da carne e do couro, o bovino é ó elo

Leia mais

Conhecendo o vírus v. Vírus da Imunodeficiência Humana VIH

Conhecendo o vírus v. Vírus da Imunodeficiência Humana VIH Conhecendo o vírus v da Sida Vírus da Imunodeficiência Humana VIH Conhecendo o Vírus da Sida O vírus entra na corrente sanguínea; Determina a posição exacta e reconhece os linfócitos T helper, fixando-se

Leia mais

5 Considerações finais

5 Considerações finais 5 Considerações finais A dissertação traz, como foco central, as relações que destacam os diferentes efeitos de estratégias de marca no valor dos ativos intangíveis de empresa, examinando criticamente

Leia mais

CONHECENDO O CHILE ATRAVÉS DE SEU SETOR AGRO E ALIMENTOS. www.prochile.gob.cl

CONHECENDO O CHILE ATRAVÉS DE SEU SETOR AGRO E ALIMENTOS. www.prochile.gob.cl CONHECENDO O CHILE ATRAVÉS DE SEU SETOR AGRO E ALIMENTOS www.prochile.gob.cl O Chile surpreende pela sua variada geografia. Suas montanhas, vales, desertos, florestas e milhares de quilômetros de costa,

Leia mais

ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DA MINA DE URÂNIO EM CAETITÉ, LAGOA REAL E LIVRAMENTO DE NOSSA SENHORA NO ESTADO DA BAHIA

ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DA MINA DE URÂNIO EM CAETITÉ, LAGOA REAL E LIVRAMENTO DE NOSSA SENHORA NO ESTADO DA BAHIA ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DA MINA DE URÂNIO EM CAETITÉ, LAGOA REAL E LIVRAMENTO DE NOSSA SENHORA NO ESTADO DA BAHIA ESTUDO CONDUZIDO PELO CENTRO DE SAÚDE DO TRABALHADOR E ECOLOGIA HUMANA

Leia mais

IMPLANTAÇÃO DOS PILARES DA MPT NO DESEMPENHO OPERACIONAL EM UM CENTRO DE DISTRIBUIÇÃO DE COSMÉTICOS. XV INIC / XI EPG - UNIVAP 2011

IMPLANTAÇÃO DOS PILARES DA MPT NO DESEMPENHO OPERACIONAL EM UM CENTRO DE DISTRIBUIÇÃO DE COSMÉTICOS. XV INIC / XI EPG - UNIVAP 2011 IMPLANTAÇÃO DOS PILARES DA MPT NO DESEMPENHO OPERACIONAL EM UM CENTRO DE DISTRIBUIÇÃO DE COSMÉTICOS. XV INIC / XI EPG - UNIVAP 2011 Rogério Carlos Tavares 1, José Luis Gomes da Silva² 1 Universidade de

Leia mais

Como estimar peso vivo de novilhas quando a balança não está disponível? Métodos indiretos: fita torácica e hipômetro

Como estimar peso vivo de novilhas quando a balança não está disponível? Métodos indiretos: fita torácica e hipômetro Como estimar peso vivo de novilhas quando a balança não está disponível? Métodos indiretos: fita torácica e hipômetro Introdução O principal objetivo nos sistemas de criação de novilhas leiteiras é conseguir

Leia mais

sociais (7,6%a.a.); já os segmentos que empregaram maiores contingentes foram o comércio de mercadorias, prestação de serviços e serviços sociais.

sociais (7,6%a.a.); já os segmentos que empregaram maiores contingentes foram o comércio de mercadorias, prestação de serviços e serviços sociais. CONCLUSÃO O Amapá tem uma das menores densidades populacionais, de cerca de 2,6 habitantes por km 2. Em 1996, apenas três de seus 15 municípios possuíam população superior a 20 mil habitantes e totalizavam

Leia mais

COMPETITIVIDADE EM PECUÁRIA DE CORTE

COMPETITIVIDADE EM PECUÁRIA DE CORTE ARTIGOS TÉCNICOS 04/2006 Júlio Otávio Jardim Barcellos Médico Veterinário, D.Sc - Zootecnia Professor Adjunto Depto Zootecnia UFRGS julio.barcellos@ufrgs.br Guilherme Cunha Malafaia Aluno do Curso de Pós

Leia mais

CAPITAL DE GIRO: ESSÊNCIA DA VIDA EMPRESARIAL

CAPITAL DE GIRO: ESSÊNCIA DA VIDA EMPRESARIAL CAPITAL DE GIRO: ESSÊNCIA DA VIDA EMPRESARIAL Renara Tavares da Silva* RESUMO: Trata-se de maneira ampla da vitalidade da empresa fazer referência ao Capital de Giro, pois é através deste que a mesma pode

Leia mais

Geografia. Exercícios de Revisão I

Geografia. Exercícios de Revisão I Nome: n o : E nsino: Médio S érie: T urma: Data: Profa: 1 a Geografia Exercícios de Revisão I 1 Analisando o mapa a seguir, correlacione a incidência de malária e da doença do sono com as condições naturais

Leia mais

DADOS POPULACIONAIS DO REBANHO OVINO GAÚCHO

DADOS POPULACIONAIS DO REBANHO OVINO GAÚCHO DADOS POPULACIONAIS DO REBANHO OVINO GAÚCHO Diego Viali dos Santos, MSc., médico veterinário do Serviço de Epidemiologia e Estatística (SEE) da Divisão de Fiscalização e Defesa Sanitária Animal (DFDSA)

Leia mais

O PROCESSO EPIDÊMICO

O PROCESSO EPIDÊMICO O PROCESSO EPIDÊMICO 1. INTRODUÇÃO Uma determinada doença, em relação a uma população, que afete ou possa vir a afetar, pode ser caracterizada como: Presente em nível endêmico; Presente em nível epidêmico;

Leia mais

A situação do câncer no Brasil 1

A situação do câncer no Brasil 1 A situação do câncer no Brasil 1 Fisiopatologia do câncer 23 Introdução O câncer é responsável por cerca de 13% de todas as causas de óbito no mundo: mais de 7 milhões de pessoas morrem anualmente da

Leia mais

Situação das capacidades no manejo dos recursos genéticos animais

Situação das capacidades no manejo dos recursos genéticos animais PARTE 3 Situação das capacidades no manejo dos recursos genéticos animais Os países em desenvolvimento precisam fortalecer as capacidades institucional e técnica. É necessário melhorar a formação profissional

Leia mais

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA FARROUPILHA PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA FARROUPILHA PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA FARROUPILHA PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO ANEXO I. PROJETO DE CURTA DURAÇÃO 1. IDENTIFICAÇÃO 1.1 Título do

Leia mais

PRODUÇÃO E ÁREA COLHIDA DE SOJA NO NORDESTE

PRODUÇÃO E ÁREA COLHIDA DE SOJA NO NORDESTE Ano V Agosto de 2011 Nº 13 INFORME RURAL ETENE Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste - ETENE Ambiente de Estudos, Pesquisas e Avaliação - AEPA PRODUÇÃO E ÁREA COLHIDA DE SOJA NO NORDESTE

Leia mais

Inovação aberta na indústria de software: Avaliação do perfil de inovação de empresas

Inovação aberta na indústria de software: Avaliação do perfil de inovação de empresas : Avaliação do perfil de inovação de empresas Prof. Paulo Henrique S. Bermejo, Dr. Prof. André Luiz Zambalde, Dr. Adriano Olímpio Tonelli, MSc. Pamela A. Santos Priscila Rosa LabGTI Laboratório de Governança

Leia mais

FICHA BIBLIOGRÁFICA. Título: Perfil da Mulher Metalúrgica do ABC. Autoria: Subseção DIEESE/Metalúrgicos do ABC

FICHA BIBLIOGRÁFICA. Título: Perfil da Mulher Metalúrgica do ABC. Autoria: Subseção DIEESE/Metalúrgicos do ABC FICHA BIBLIOGRÁFICA Título: Perfil da Mulher Metalúrgica do ABC Autoria: Subseção DIEESE/Metalúrgicos do ABC Equipe técnica responsável: Fausto Augusto Junior; Zeíra Mara Camargo de Santana; Warley Batista

Leia mais

DIAGNÓSTICO DE DOENÇAS INFECTO-CONTAGIOSAS EM UM PROGRAMA DE SAÚDE PENITENCIÁRIO BAIANO.

DIAGNÓSTICO DE DOENÇAS INFECTO-CONTAGIOSAS EM UM PROGRAMA DE SAÚDE PENITENCIÁRIO BAIANO. DIAGNÓSTICO DE DOENÇAS INFECTO-CONTAGIOSAS EM UM PROGRAMA DE SAÚDE PENITENCIÁRIO BAIANO. Vanderleia Nascimento Silva¹; Andréia Beatriz Silva dos Santos 2 1. Bolsista da FAPESB/UEFS, Graduanda em Medicina,

Leia mais

PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO EM VOLEIBOL

PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO EM VOLEIBOL PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO EM VOLEIBOL Gabriel Weiss Maciel Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil Henrique Cabral Faraco Universidade do Estado de Santa Catarina,

Leia mais

Jornal Brasileiro de Indústrias da Biomassa Biomassa Florestal no Estado de Goiás

Jornal Brasileiro de Indústrias da Biomassa Biomassa Florestal no Estado de Goiás Jornal Brasileiro de Indústrias da Biomassa Biomassa Florestal no Estado de Goiás O Estado de Goiás está situado na Região Centro-Oeste do Brasil e, segundo dados oficiais, ocupa área territorial de 340.111,783

Leia mais

Eixo Temático ET-10-002 - Direito Ambiental OS IMPASSES DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PARA ATIVIDADE OLEIRA EM IRANDUBA (AM): ENTRE A LEI E OS DANOS

Eixo Temático ET-10-002 - Direito Ambiental OS IMPASSES DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PARA ATIVIDADE OLEIRA EM IRANDUBA (AM): ENTRE A LEI E OS DANOS 434 Eixo Temático ET-10-002 - Direito Ambiental OS IMPASSES DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PARA ATIVIDADE OLEIRA EM IRANDUBA (AM): ENTRE A LEI E OS DANOS Neyla Marinho Marques Pinto¹; Hamida Assunção Pinheiro²

Leia mais

NOTA TÉCNICA N o 014/2012

NOTA TÉCNICA N o 014/2012 NOTA TÉCNICA N o 014/2012 Brasília, 28 de agosto de 2012. ÁREA: Área Técnica em Saúde TÍTULO: Alerta sobre o vírus H1N1 REFERÊNCIA(S): Protocolo de Vigilância Epidemiológica da Influenza Pandêmica (H1N1)

Leia mais

Brasil avança em duas áreas da Matemática

Brasil avança em duas áreas da Matemática PISA 2003 - BRASIL O Brasil mostrou alguns avanços na segunda edição do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). Foi o que mais cresceu em duas das áreas avaliadas da Matemática, melhorou

Leia mais

Avaliação Econômica. Relação entre Desempenho Escolar e os Salários no Brasil

Avaliação Econômica. Relação entre Desempenho Escolar e os Salários no Brasil Avaliação Econômica Relação entre Desempenho Escolar e os Salários no Brasil Objetivo da avaliação: identificar o impacto do desempenho dos brasileiros na Educação Básica em sua renda futura. Dimensões

Leia mais

1.6 Têxtil e Confecções. Diagnóstico

1.6 Têxtil e Confecções. Diagnóstico 1.6 Têxtil e Confecções Diagnóstico A indústria de artigos têxteis e confecções é marcada atualmente pela migração da produção em busca de mão-de-obra mais barata ao redor do mundo, facilitada pela baixa

Leia mais

INTRODUÇÃO. Entendemos por risco a probabilidade de ocorrer um dano como resultado à exposição de um agente químico, físico o biológico.

INTRODUÇÃO. Entendemos por risco a probabilidade de ocorrer um dano como resultado à exposição de um agente químico, físico o biológico. INTRODUÇÃO No nosso dia-a-dia enfrentamos diferentes tipos de riscos aos quais atribuímos valor de acordo com a percepção que temos de cada um deles. Estamos tão familiarizados com alguns riscos que chegamos

Leia mais

SONDAGEM ESPECIAL PRODUTIVIDADE RIO GRANDE DO SUL. Sondagem Especial Produtividade Unidade de Estudos Econômicos Sistema FIERGS

SONDAGEM ESPECIAL PRODUTIVIDADE RIO GRANDE DO SUL. Sondagem Especial Produtividade Unidade de Estudos Econômicos Sistema FIERGS SONDAGEM ESPECIAL PRODUTIVIDADE 32,1% das empresas da indústria de transformação não aumentaram sua produtividade nos últimos 5 anos. Na indústria da construção este percentual sobe para 46,9%. 25% das

Leia mais

Este capítulo tem como objetivo, tecer algumas considerações. Epidemiologia, Atividade Física e Saúde INTRODUÇÃO

Este capítulo tem como objetivo, tecer algumas considerações. Epidemiologia, Atividade Física e Saúde INTRODUÇÃO 1 Epidemiologia, Atividade Física e Saúde Efi gênia Passarelli Mantovani Especialista em Atividade Física e Qualidade de Vida Unicamp Vera Aparecida Madruga Forti Profa. Dra. do Departamento de Estudos

Leia mais

NOTA CEMEC 05/2015 INVESTIMENTO E RECESSÃO NA ECONOMIA BRASILEIRA 2010-2015: 2015: UMA ANÁLISE SETORIAL

NOTA CEMEC 05/2015 INVESTIMENTO E RECESSÃO NA ECONOMIA BRASILEIRA 2010-2015: 2015: UMA ANÁLISE SETORIAL NOTA CEMEC 05/2015 INVESTIMENTO E RECESSÃO NA ECONOMIA BRASILEIRA 2010-2015: 2015: UMA ANÁLISE SETORIAL Agosto de 2015 O CEMEC não se responsabiliza pelo uso dessas informações para tomada de decisões

Leia mais

Uso de Substâncias Psicoativas

Uso de Substâncias Psicoativas Uso de Substâncias Psicoativas X Direção Veicular ALOISIO ANDRADE Psiquiatra e Homeopata XI Jornada Mineira de Medicina de Tráfego Belo Horizonte - MG 18 e 19/07/2014 I-Dados Estatísticos - O Brasil ocupa

Leia mais

Comparação do ganho de peso e desempenho de bezerras alimentadas com leite de descarte e leite normal durante a fase de aleitamento

Comparação do ganho de peso e desempenho de bezerras alimentadas com leite de descarte e leite normal durante a fase de aleitamento Comparação do ganho de peso e desempenho de bezerras alimentadas com leite de descarte e leite normal durante a fase de aleitamento Vinicius Emanoel Carvalho 1, Thiago Paim Silva 1, Marco Antônio Faria

Leia mais

APRESENTAÇÃO DA CERTIFICAÇÃO OCUPACIONAL

APRESENTAÇÃO DA CERTIFICAÇÃO OCUPACIONAL APRESENTAÇÃO DA CERTIFICAÇÃO OCUPACIONAL A Agência de Certificação Ocupacional (ACERT) é parte integrante da Fundação Luís Eduardo Magalhães (FLEM) Centro de Modernização e Desenvolvimento da Administração

Leia mais

Sumário executivo. ActionAid Brasil Rua Morais e Vale, 111 5º andar 20021-260 Rio de Janeiro - RJ Brasil

Sumário executivo. ActionAid Brasil Rua Morais e Vale, 111 5º andar 20021-260 Rio de Janeiro - RJ Brasil Sumário executivo Mais de um bilhão de pessoas sofre com as consequências da inanição é mais que a população dos Estados Unidos, Canadá e União Européia juntas. Em julho desse ano, a reunião de cúpula

Leia mais

Os Atletas e os Medicamentos Perguntas e Respostas

Os Atletas e os Medicamentos Perguntas e Respostas Os Atletas e os Medicamentos Perguntas e Respostas O que posso fazer para evitar um caso positivo motivado pela utilização de um medicamento? Existem duas formas de obter um medicamento: através de uma

Leia mais

BOAS PRÁTICAS NA PRODUÇÃO LEITEIRA Revisão de Literatura

BOAS PRÁTICAS NA PRODUÇÃO LEITEIRA Revisão de Literatura BOAS PRÁTICAS NA PRODUÇÃO LEITEIRA Revisão de Literatura 1 LIMA, Eduardo Henrique Oliveira; 2 NORONHA, Cássia Maria Silva; SOUSA, Edgar João Júnio¹. 1 Estudante do Curso Técnico em Agricultura e Zootecnia

Leia mais

Teste seus conhecimentos: Caça-Palavras

Teste seus conhecimentos: Caça-Palavras Teste seus conhecimentos: Caça-Palavras Batizada pelos médicos de diabetes mellitus, a doença ocorre quando há um aumento do açúcar no sangue. Dependendo dos motivos desse disparo, pode ser de dois tipos.

Leia mais

INVESTIMENTOS NA INDÚSTRIA

INVESTIMENTOS NA INDÚSTRIA INVESTIMENTOS NA INDÚSTRIA Informativo da Confederação Nacional da Indústria Ano 3 Número 01 dezembro de 2011 www.cni.org.br Investimentos realizados em 2011 Indústria investe cada vez mais com o objetivo

Leia mais

Mercado de Trabalho. O idoso brasileiro no. NOTA TÉCNICA Ana Amélia Camarano* 1- Introdução

Mercado de Trabalho. O idoso brasileiro no. NOTA TÉCNICA Ana Amélia Camarano* 1- Introdução NOTA TÉCNICA Ana Amélia Camarano* O idoso brasileiro no Mercado de Trabalho 30 1- Introdução A análise da participação do idoso nas atividades econômicas tem um caráter diferente das análises tradicionais

Leia mais

Evolução da população do Rio Grande do Sul. Maria de Lourdes Teixeira Jardim Fundação de Economia e Estatística. 1 - Introdução

Evolução da população do Rio Grande do Sul. Maria de Lourdes Teixeira Jardim Fundação de Economia e Estatística. 1 - Introdução Evolução da população do Rio Grande do Sul. Maria de Lourdes Teixeira Jardim Fundação de Economia e Estatística Área Temática: Emprego e Mercado de Trabalho, Demografia Econômica. 1 - Introdução Este texto

Leia mais

SAÍDA DO MERCADO DE TRABALHO: QUAL É A IDADE?

SAÍDA DO MERCADO DE TRABALHO: QUAL É A IDADE? SAÍDA DO MERCADO DE TRABALHO: QUAL É A IDADE? Ana Amélia Camarano* Solange Kanso** Daniele Fernandes** 1 INTRODUÇÃO Assume-se que idade avançada e invalidez resultam em perda da capacidade laboral, o que

Leia mais

ANÁLISE DOS RESULTADOS DOS PROGRAMAS DE APOIO ÀS PMEs NO BRASIL Resumo Executivo PARA BAIXAR A AVALIAÇÃO COMPLETA: WWW.IADB.

ANÁLISE DOS RESULTADOS DOS PROGRAMAS DE APOIO ÀS PMEs NO BRASIL Resumo Executivo PARA BAIXAR A AVALIAÇÃO COMPLETA: WWW.IADB. ANÁLISE DOS RESULTADOS DOS PROGRAMAS DE APOIO ÀS PMEs NO BRASIL Resumo Executivo PARA BAIXAR A AVALIAÇÃO COMPLETA: WWW.IADB.ORG/EVALUATION ANÁLISE DOS RESULTADOS DOS PROGRAMAS DE APOIO ÀS PMEs NO BRASIL

Leia mais

A Propaganda de Medicamentos no Brasil

A Propaganda de Medicamentos no Brasil A Propaganda de Medicamentos no Brasil As principais propagandas de medicamentos no Brasil tiveram início ainda na década de 80 do século XIX. Desde então, o que se constatou foi um crescimento contínuo

Leia mais

OLIMPIADAS DE MATEMÁTICA E O DESPERTAR PELO PRAZER DE ESTUDAR MATEMÁTICA

OLIMPIADAS DE MATEMÁTICA E O DESPERTAR PELO PRAZER DE ESTUDAR MATEMÁTICA OLIMPIADAS DE MATEMÁTICA E O DESPERTAR PELO PRAZER DE ESTUDAR MATEMÁTICA Luiz Cleber Soares Padilha Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande lcspadilha@hotmail.com Resumo: Neste relato apresentaremos

Leia mais

Derrotar o cancro do útero

Derrotar o cancro do útero Portuguese translation of Beating cervical cancer The HPV vaccine questions and answers for parents of girls in Year 9 Derrotar o cancro do útero A vacina HPV perguntas e respostas para os pais de jovens

Leia mais

GEOGRAFIA Professores: Ronaldo e Marcus

GEOGRAFIA Professores: Ronaldo e Marcus GEOGRAFIA Professores: Ronaldo e Marcus Comentário Geral Prova com estruturação clássica com divisão entre questões de geografia física, econômica e humana com maior peso para os conceitos envolvendo o

Leia mais

Conhecimentos Específicos

Conhecimentos Específicos PROCESSO SELETIVO 2014 02/12/2013 INSTRUÇÕES 1. Confira, abaixo, o seu número de inscrição, turma e nome. Assine no local indicado. 2. Aguarde autorização para abrir o caderno de prova. Antes de iniciar

Leia mais

Pesquisa inédita avalia conhecimento da população sobre a tuberculose

Pesquisa inédita avalia conhecimento da população sobre a tuberculose Pesquisa inédita avalia conhecimento da população sobre a tuberculose Uma pesquisa quantitativa de opinião pública realizada pelo Núcleo de Pesquisas da Universidade Federal Fluminense (DataUFF) demonstra

Leia mais

ESTRATÉGIAS CORPORATIVAS COMPARADAS CMI-CEIC

ESTRATÉGIAS CORPORATIVAS COMPARADAS CMI-CEIC ESTRATÉGIAS CORPORATIVAS COMPARADAS CMI-CEIC 1 Sumário Executivo 1 - A China em África 1.1 - Comércio China África 2 - A China em Angola 2.1 - Financiamentos 2.2 - Relações Comerciais 3 - Características

Leia mais

Exercícios sobre Japão

Exercícios sobre Japão Exercícios sobre Japão 1. A imagem abaixo mostra um triste fato da rotina japonesa, a ocorrências de eventos tectônicos. Marque a opção que relaciona corretamente as condições físicas encontradas em território

Leia mais

Mercado Mundial de Carne Ovina e Caprina

Mercado Mundial de Carne Ovina e Caprina Mercado Mundial de Carne Ovina e Caprina Brasília, julho de 2007 Matheus A. Zanella 1 Superintendência Técnica da CNA Este artigo apresenta um panorama dos principais indicadores do mercado mundial de

Leia mais

Eixo Anhanguera-Bandeirantes virou polo lean, diz especialista

Eixo Anhanguera-Bandeirantes virou polo lean, diz especialista Eixo Anhanguera-Bandeirantes virou polo lean, diz especialista Robson Gouveia, gerente de projetos do Lean Institute Brasil, detalha como vem evoluindo a gestão em empresas da região O eixo Anhanguera

Leia mais

O QUE É A ESCALA RICHTER? (OU COMO SE MEDE UM TERREMOTO)

O QUE É A ESCALA RICHTER? (OU COMO SE MEDE UM TERREMOTO) 1 O QUE É A ESCALA RICHTER? (OU COMO SE MEDE UM TERREMOTO) Ilydio Pereira de Sá Atualmente, com o crescimento da tecnologia e da informação, tem sido muito comum o noticiário sobre catástrofes, principalmente

Leia mais

Curso de Formação de Conselheiros em Direitos Humanos Abril Julho/2006

Curso de Formação de Conselheiros em Direitos Humanos Abril Julho/2006 Curso de Formação de Conselheiros em Direitos Humanos Abril Julho/2006 Realização: Ágere Cooperação em Advocacy Apoio: Secretaria Especial dos Direitos Humanos/PR Módulo III: Conselhos dos Direitos no

Leia mais

A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO NO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO NO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO NO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO Adriana Botelho Taliarine dritaliarine@hotmail.com Darci de Jesus Ramos Prof. MSc. José Ricardo Favoretto Fatec Itapetininga - SP RESUMO: O aumento da

Leia mais

O EMPREGO DOMÉSTICO. Boletim especial sobre o mercado de trabalho feminino na Região Metropolitana de São Paulo. Abril 2007

O EMPREGO DOMÉSTICO. Boletim especial sobre o mercado de trabalho feminino na Região Metropolitana de São Paulo. Abril 2007 O EMPREGO DOMÉSTICO Boletim especial sobre o mercado de trabalho feminino na Abril 2007 Perfil de um emprego que responde por 17,7% do total da ocupação feminina e tem 95,9% de seus postos de trabalho

Leia mais

ESCRITÓRIO TÉCNICO DE ESTUDOS ECONÔMICOS DO NORDESTE ETENE INFORME RURAL ETENE PRODUÇÃO E ÁREA COLHIDA DE CANA DE AÇÚCAR NO NORDESTE.

ESCRITÓRIO TÉCNICO DE ESTUDOS ECONÔMICOS DO NORDESTE ETENE INFORME RURAL ETENE PRODUÇÃO E ÁREA COLHIDA DE CANA DE AÇÚCAR NO NORDESTE. O nosso negócio é o desenvolvimento ESCRITÓRIO TÉCNICO DE ESTUDOS ECONÔMICOS DO NORDESTE ETENE INFORME RURAL ETENE PRODUÇÃO E ÁREA COLHIDA DE CANA DE AÇÚCAR NO NORDESTE Ano 4 200 Nº 20 O nosso negócio

Leia mais

ADMINISTRAÇÃO GERAL MOTIVAÇÃO

ADMINISTRAÇÃO GERAL MOTIVAÇÃO ADMINISTRAÇÃO GERAL MOTIVAÇÃO Atualizado em 11/01/2016 MOTIVAÇÃO Estar motivado é visto como uma condição necessária para que um trabalhador entregue um desempenho superior. Naturalmente, como a motivação

Leia mais

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio. Balança Comercial do Agronegócio Junho/2012

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio. Balança Comercial do Agronegócio Junho/2012 MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio Balança Comercial do Agronegócio Junho/2012 I - Resultados do mês Em junho de 2012 as exportações

Leia mais

Perguntas e Respostas sobre o vírus A(H7N9)* Questions and answers about the vírus A(H7N9)

Perguntas e Respostas sobre o vírus A(H7N9)* Questions and answers about the vírus A(H7N9) Republicação de Artigo * Questions and answers about the vírus A(H7N9) Centers for Disease Control and Prevention Uma nova cepa do vírus da influenza aviária foi descoberta em aves e pessoas na China.

Leia mais

A Influência da Crise Econômica Global no Setor Florestal do Brasil

A Influência da Crise Econômica Global no Setor Florestal do Brasil A Influência da Crise Econômica Global no Setor Florestal do Brasil 1. INTRODUÇÃO Ivan Tomaselli e Sofia Hirakuri (1) A crise financeira e econômica mundial de 28 e 29 foi principalmente um resultado da

Leia mais

6. Considerações Finais

6. Considerações Finais 6. Considerações Finais O estudo desenvolvido não permite nenhuma afirmação conclusiva sobre o significado da família para o enfrentamento da doença, a partir da fala das pessoas que têm HIV, pois nenhum

Leia mais

Saneamento básico e seus impactos na sociedade

Saneamento básico e seus impactos na sociedade UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI URCA CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA - CCT DEPARTAMENTO DE CONSTRUÇÂO CIVIL Saneamento básico e seus impactos na sociedade JUAZEIRO DO NORTE OUTUBRO 2012 FRANCISCO TAVARES

Leia mais

Programa Sol Amigo. Diretrizes. Ilustração: Programa Sunwise Environmental Protection Agency - EPA

Programa Sol Amigo. Diretrizes. Ilustração: Programa Sunwise Environmental Protection Agency - EPA Programa Sol Amigo Diretrizes Ilustração: Programa Sunwise Environmental Protection Agency - EPA 2007 CONTEÚDO Coordenador do programa... 3 Introdução... 4 Objetivos... 5 Metodologia... 6 Avaliação do

Leia mais

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1. Energia cinética das precipitações Na Figura 9 estão apresentadas as curvas de caracterização da energia cinética aplicada pelo simulador de chuvas e calculada para a chuva

Leia mais

A PERCEPÇÃO DE JOVENS E IDOSOS ACERCA DO CÂNCER

A PERCEPÇÃO DE JOVENS E IDOSOS ACERCA DO CÂNCER A PERCEPÇÃO DE JOVENS E IDOSOS ACERCA DO CÂNCER Levi Ramos Baracho; Jordano da Silva Lourenço, Kay Francis Leal Vieira Centro Universitário de João Pessoa - UNIPÊ INTRODUÇÃO O câncer ainda é tido como

Leia mais

MÉTODOS ANALÍTICOS UTILIZADOS PARA DETERMINAÇÃO DE FÁRMACOS CONTAMINANTES DO MEIO AMBIENTE

MÉTODOS ANALÍTICOS UTILIZADOS PARA DETERMINAÇÃO DE FÁRMACOS CONTAMINANTES DO MEIO AMBIENTE MÉTODOS ANALÍTICOS UTILIZADOS PARA DETERMINAÇÃO DE FÁRMACOS CONTAMINANTES DO MEIO AMBIENTE Eliza de Souza Lopes 1 Ludimila Raydan Mota Barbosa 1 Vanessa de Souza Gamarano 1 Adriana Nascimento de Sousa

Leia mais

2. Nesse sistema, ocorre uma relação de protocooperação entre algas e bactérias.

2. Nesse sistema, ocorre uma relação de protocooperação entre algas e bactérias. PROVA DE BIOLOGIA QUESTÃO 01 Entre os vários sistemas de tratamento de esgoto, o mais econômico são as lagoas de oxidação. Essas lagoas são reservatórios especiais de esgoto, que propiciam às bactérias

Leia mais

Metadados. 1. Introdução. 2. O que são Metadados? 3. O Valor dos Metadados

Metadados. 1. Introdução. 2. O que são Metadados? 3. O Valor dos Metadados 1. Introdução O governo é um dos maiores detentores de recursos da informação. Consequentemente, tem sido o responsável por assegurar que tais recursos estejam agregando valor para os cidadãos, as empresas,

Leia mais