REQUERIMENTO DE INFORMAÇÃO nº, de 2009 (DO SR. FERNANDO GABEIRA)

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1 REQUERIMENTO DE INFORMAÇÃO nº, de 2009 (DO SR. FERNANDO GABEIRA) Requerimento de Informação ao Senhor Ministro da Cultura sobre as normas de proteção do patrimônio histórico incidentes no Distrito de Trancoso, Município de Porto Seguro, e a atuação do IPHAN, órgão vinculado. Senhor Presidente, Com fundamento no art. 50, 2º, da Constituição Federal, combinado com os artigos 115, inciso I, e 116, ambos do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, solicito a Vossa Excelência que seja encaminhado ao Senhor Ministro da Cultura Pedido de Informação, tendo em vista (i) a necessidade de se conhecer as normas de proteção do patrimônio histórico e cultural incidentes no Distrito de Trancoso, Município de Porto Seguro, (ii) a atuação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IPHAN para salvaguarda deste patrimônio, bem como (iii) o fato de recentemente diversas entidades da sociedade civil organizada terem pedido ao órgão federal em epígrafe e ao órgão estadual da Bahia (Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural IPAC) a adoção de medidas conjuntas para instituição de outros de instrumentos de proteção, tais como o registro de patrimônio imaterial e uma série de tombamentos, este Requerimento tem por objetivo esclarecer:

2 1- Levando-se em consideração que todo o município de Porto Seguro foi tombado pelo Decreto-Lei n /1973 e sua posterior re-ratificação pela Portaria Ministerial n. 140/2000, que ampliou seu perímetro pergunta-se quais as normas de proteção do patrimônio histórico e cultural incidentes no Distrito de Trancoso, especialmente sob as áreas tombadas e envoltórias? 2- Com o tombamento de determinados imóveis, logradouros, paisagens, etc é necessária a posterior edição de normas que disponham sobre as áreas e bens tombados e seus entornos, trazendo especificidades e critérios objetivos para tratar, dentre outros, dos usos recomendados e tolerados, recuos, letreiros, de logradouros afetados pelas medidas de proteção, etc. Foi o que ocorreu com as cidades de Ouro Preto, Paraty e Petrópolis, com amparo nas atribuições conferidas ao IPHAN. Assim, com igual ou maior razão para Trancoso, quais são as normas num nível de detalhamento mais específico para o Distrito? 3- Considerando que para a proteção do patrimônio o IPAHN tem também competência para ações fiscalizatórias, questiona-se, no Distrito de Trancoso, quantas, com que amparo legal e em que ano foram feitas (i) lavraturas de auto de infração, (ii) embargos extrajudiciais de obra ou atividade, (iii) demolição de obra irregular, (iv) outras sanções. Também, quantas denúncias recebeu e quantas foram apuradas?

3 JUSTIFICAÇÃO O Distrito de Trancoso possui grande importância histórica, pois foi palco das primeiras construções e vilas jesuítas no Brasil e muito antes habitado por povos indígenas. Nos anos de 1538 e 1551 chegaram as primeiras levas de povos africanos, sendo deportados à então Capitania de Porto Seguro. Neste mesmo período (meados de 1500) vieram os jesuítas com a missão de catequizar os indígenas, imprimindo-lhes o cristianismo. Os jesuítas desempenharam um importante papel na colonização do litoral, estabelecendo residências em Porto Seguro e Ilhéus e criando, a partir destes pontos, a fundação de vilas e povoados com traçados característicos, tais como a de São João Batista dos Índios (hoje Trancoso, em 1586) e a de Patatiba, atual Vale Verde. Estas representam duas das nove missões jesuítas que se tem notícia, sendo que todas as outras foram dizimadas pelos ataques dos povos indígenas Aimorés. Por ser de difícil acesso, Trancoso permaneceu praticamente isolado até A delimitação da Praça São João Batista, conhecida como o Quadrado, com seu formato típico das missões jesuítas, ainda hoje tem o seu traçado muito semelhante ao da época. A partir da década de setenta Trancoso começou a ser alterado profundamente. Houve um adensamento do uso e ocupação do solo, até então marcado pelo baixo povoamento e pelo extrativismo florestal, a terra se valorizou, e parcelas carentes da população local foram deslocadas para áreas mais distantes da

4 Praça central, expandindo desordenadamente o perímetro urbano para o interior. Com a abertura da BR-101 iniciou-se a integração da região à economia nacional. O elevado investimento na atividade turística alterou os setores da economia com a ampliação do setor terciário voltado para serviços ligados ao turismo e induziu um rápido crescimento populacional, registrado em 87,41% para o período de no município de Porto Seguro. Em contraste com as tentativas mal-sucedidas do passado em se desenvolver a região (extração madeireira, ocupação de terras por Capitanias Hereditárias, cultivo de cana-deaçúcar, etc.), hoje o local abriga uma forte e dinâmica economia turística, sensivelmente calcada sob os atributos culturais, paisagísticos e históricos. A natureza, com sua beleza cênica e paisagística, é um rico patrimônio de Trancoso, envolvendo praias, falésias e unidades de conservação que abrigam espécies endêmicas. Trancoso concentra uma das mais ricas ocorrências de biodiversidade do país e do mundo, considerado recentemente pelo Ministério do Meio Ambiente como de prioridade extremamente alta para conservação por sua diversidade e fragilidade ambiental, e por ser local de convívio singular com os patrimônios histórico, cultural e natural, podendo-se, do alto do Quadrado, contemplar tal beleza paisagística da mesma forma como fizeram os primeiros colonizadores. Ainda que Trancoso seja protegido por diversos marcos legais, como (i) o tombamento do município de Porto Seguro em 1973 e sua re-ratificação de abril de 2000 que aumentou seu perímetro, incluindo Trancoso (Decreto-Lei n /73 e

5 Portaria Interministerial n. 140/2000, respectivamente); (ii) a Área de Proteção Ambiental Caraíva-Trancoso (Decreto Estadual n /1993); (iii) e normas contidas no Plano Diretor do Município de Porto Seguro (2006), considera-se necessária a implementação de um plano de gestão que articule os diferentes instrumentos e envolva a participação dos diferentes atores, assegurando a preservação dos patrimônios cultural, histórico e ambiental. Não menos importante, é sabido que tais regulamentos não chegam a corresponder à necessidade de uma normatização mais específica sobre os bens e áreas tombadas, considerando todo o acervo paisagístico-urbano-arquitetônico, como é o caso em relação ao recuo dos imóveis, cores e formas das fachadas, traçados de praças e logradouros, volumetria, a colocação de letreiros, usos recomendados e tolerados, taxa de ocupação máxima, paisagem, relação entre áreas edificadas e não edificadas, etc. Por esses motivos, Senhor Presidente, faz-se necessária a obtenção das informações ora requeridas, que possibilitem subsidiar os encaminhamentos apropriados, no âmbito do Parlamento Brasileiro. Sala das Sessões, de março de 2009 Deputado FERNANDO GABEIRA PV/RJ