CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE MATO GROSSO
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1 PARECER CRM-MT Nº 34/2011 INTERESSADO: Unimed Cuiabá CONSELHEIRO CONSULTOR: Dr. Alberto Carvalho de Almeida ASSUNTO: Tratamento através de procedimento experimental de Psicocirurgia DATA DA APROVAÇÃO: 06 de março de 2012 RELATÓRIO DO CONSELHEIRO CONSULTOR I. O QUESTIONAMENTO A Unimed Cuiabá solicita ao CRM-MT, um parecer técnico sobre a indicação do procedimento; neurocirurgia funcional estereotáxica (hipotalamotomia póstero medial- Cirurgia de Sano) Cingulotomia ou Capsulotomia Unilateral, para um paciente menor de idade 14 anos portador de quadro de auto e heteroagressividade desmotivada associada a retardo mental (oligofrenia erética-retardo mental moderado CID-F71), sem resposta ao tratamento clínico farmacológico por mais de 05 (cinco) anos. A Unimed Cuiabá tem dúvidas, se a cirurgia solicitada para o paciente ainda é um procedimento experimental e se tem amparo legal do CFM e solicita os seguintes esclarecimentos: 1. A Psicocirurgia aplicada ao caso em pauta caracteriza procedimento experimental? 2. Em caso afirmativo, estará esta Cooperativa infringindo as Resoluções do Código de Ética Médica ao não autorizar o citado procedimento? 3. Em caso negativo, por se tratar de paciente menor de idade e com deficiência mental comprovada, em qual legislação técnica pode esta Cooperativa se pautar para autorizar o procedimento e quais os documentos formais devem ser solicitados dos responsáveis, a fim de evitar questionamentos futuros? O termo de consentimento é o suficiente?
2 Por se tratar de paciente menor de idade e com deficiência mental, à luz da legislação atual, deverá haver consulta formal ao Ministério Público para autorização do procedimento? II. HISTÓRICO A partir da segunda metade do século XIX, passou a existir um interesse crescente da psiquiatria em tentar correlacionar alguns distúrbios do comportamento a alterações cerebrais. Em 1888, Gottlieb Burckhardt realizou as primeiras intervenções neurocirúrgicas, utilizando uma técnica denominada topectomia. Décadas depois, Antônio Egas Moniz, voltou a propor o emprego da neurocirurgia para controlar os transtornos mentais com lesões no lobo frontal, com algum sucesso. Essa modalidade de neurocirurgia, à época, foi denominada leucotomia pré-frontal, e os procedimentos neurocirúrgicos para o controle de comportamento passaram a ser conhecidos pelo termo psicocirurgia. Nas décadas de 1930 e 1940, nos Estados Unidos, muito em função do grande número de pacientes internados em hospitais psiquiátricos, a eletroconvulsoterapia e a psicocirurgia foram muito utilizadas, de modo generalizado e até indiscriminado. Na década de 50, com o surgimento dos antipsicóticos, dos antidepressivos e incremento das psicoterapias, houve uma grande diminuição dos pacientes internados e da necessidade da psicocirurgia. Apesar dessa evolução e da melhora dos pacientes com essas técnicas menos invasivas, tem-se evidenciado, no entanto, que uma parcela desses pacientes não demonstra melhora clínica significativa e, dada a gravidade de seus transtornos, um alto grau de incapacidade psicossocial é frequentemente desenvolvido. Paralelamente, nas últimas décadas, houve um aperfeiçoamento das técnicas neurocirúrgicas, as quais progressivamente tornaram- se mais precisas, menores, e evoluindo com relativamente poucos eventos adversos e complicações. Como conseqüência, observou-se o
3 ressurgimento gradativo do interesse por procedimentos neurocirúrgicos para tratamento dos transtornos mentais, particularmente em casos de extrema gravidade e refratários aos tratamentos convencionais. III. ASPECTOS ÉTICOS A Resolução CFM Nº 1598/2000, que dispõe sobre a necessidade da existência de normas brasileiras para a assistência psiquiátrica consonantes com os padrões internacionais e que contemplem a realidade assistencial nacional traz dentre os seus artigos: Art. 6º - Nenhum tratamento deve ser administrado a paciente psiquiátrico sem o seu consentimento esclarecido, salvo quando as condições clínicas não permitirem a obtenção desse consentimento, e em situações de emergência, caracterizadas e justificadas em prontuário, para evitar danos imediatos ou iminentes ao paciente ou a outras pessoas. único Na impossibilidade de obter-se o consentimento esclarecido do paciente e ressalvadas as condições previstas no caput deste artigo, deve-se buscar o consentimento de um responsável legal. Mas, essa mesma resolução revogou resoluções anteriores, 1407 e 1408/94, que dispunham de mecanismos de regulação de realização de psicocirurgias, sem contemplá-las, deixando em aberto essa questão específica. Em 2011 o CREMESP aprovou uma Resolução específica, com a adoção de princípios para a proteção de pessoas portadoras de transtornos mentais, passíveis de serem submetidas á psicocirurgias, trazendo entre seus artigos, o mesmo Artigo 6º da resolução do CFM é: Art. 2º- A psicocirurgia, assim como outros tratamentos invasivos e irreversíveis para transtornos mentais, somente será realizada mediante consentimento do paciente ou seu
4 responsável, e mediante a manifestação de um corpo externo de profissionais designado para este fim pelo CREMESP. Art. 3º- Compete ao Presidente do CREMESP indicar o corpo externo de profissionais mencionado no artigo anterior e atestar a pertinência ética do procedimento. 1º- O corpo externo de profissionais será composto de um médico neurocirurgião, um médico neurologista, um médico psiquiatra e um profissional não médico da área de saúde mental. 2º- o corpo externo de profissionais, ao se manifestar, deverá estar convencido de que o tratamento proposto é o que melhor a atender às necessidades de saúde do paciente. Art. 4º- Após o convencimento técnico e ético, o CREMESP comunicará ao Ministério Público Estadual a aprovação para a realização do procedimento cirúrgico. IV. COMENTÁRIOS Como podemos notar a última resolução do CFM revogou as resoluções anteriores que normatizavam a realização da psicocirurgia, levando então o CREMESP a fazer uma resolução para voltar a trazer normas para essa situação delicada que é a utilização da psicocirurgia para pacientes com distúrbios de comportamento. Sou a favor que o CFM retome essa discussão e enquanto isso, sugiro que a indicação dessa cirurgia seja avaliada por um corpo externo de profissionais; um neurocirurgião, um psiquiatra, uma psicóloga e uma assistente social, indicados pelos respectivos Conselhos dos profissionais indicados. Os Conselhos indicariam os profissionais, mas as custas desse trabalho ficaria por conta do paciente, de seus responsáveis, do serviço público ou dos planos de saúde. V. RESPOSTA AOS QUESTIONAMENTOS
5 ) Sem analisar o caso em pauta, por acreditar que cada caso de solicitação de psicocirurgia seja avaliado tecnicamente pelo corpo externo de profissionais, a psicocirurgia não é um procedimento experimental. 2) Prejudicada. 3) Como já exposto acima, além do termo de consentimento do paciente, ou de seu responsável, a indicação da cirurgia deve ser avaliada por outros profissionais, que não aqueles que a indicaram. 4) Prejudicada, por ser um questionamento de ordem jurídica e não técnica ou ética. Este é meu parecer, salvo melhor juízo desta plenária. Dr. Alberto Carvalho de Almeida Conselheiro Consultor
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