ULTÍMAS NOVIDADES EM BIODIVERSIDADE NO BRASIL
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- Lucinda Bennert Regueira
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1 ULTÍMAS NOVIDADES EM BIODIVERSIDADE NO BRASIL Rana Gosain O Brasil detém aproximadamente 23% dos recursos biológicos do planeta - território fértil para abuso e exploração de valores biotecnológicos. Rana Gosain investiga as opções de proteção O Brasil tem espécies de plantas conhecidas, 30% das quais são comestíveis. As autoridades brasileiras documentaram 394 espécies de mamíferos, 502 espécies de anfíbios, 468 espécies de répteis, espécies de peixes e espécies de pássaros. Além disso, o Brasil tem um dos solos mais férteis do planeta, o que contribuiu para a sua economia agrícola altamente diversificada. Com o advento da biotecnologia, os recursos biológicos mundiais, especificamente as plantas, os insetos e os microorganismos, se tornaram componentes vitais de pesquisa farmacêutica e agrícola. Precisamente, em virtude do enorme valor econômico da sua biodiversidade, o Brasil se incorporou como membro da Convenção de Diversidade Biológica (CBD) na Conferência do Rio em junho de O propósito da Conferência foi o de estabelecer um programa de ações para combater uma ampla gama de problemas ambientais, incluindo o aquecimento global, a destruição de florestas tropicais e a preservação dos recursos biológicos mundiais. A maior parte dos recursos inexplorados do planeta se encontra no mundo em desenvolvimento, basicamente na região tropical, enquanto que os detentores da tecnologia para explorar esses recursos se encontram, na sua maioria, no hemisfério setentrional. Rio de Janeiro: Av. República do Chile, 230/6º floor - Centro - Rio de Janeiro/RJ - Brazil CEP Tel: (55 21) Fax: (55 21) São Paulo: Rua Iguatemi, 192/73 Itaim Bibi - São Paulo/SP - Brazil CEP Tel/fax: (55 11) law@daniel-advogados.com.br g
2 Disposições básicas * A Convenção de Biodiversidade reconhece o valor intrínseco da diversidade biológica e a importância da conservação e do uso sustentável de recursos genéticos vegetais para satisfazer as necessidades de alimentação, saúde e outras da população mundial crescente. * A Convenção exige das suas partes contratantes, em desenvolvimento e desenvolvidas, a conservação e a administração dos seus recursos biológicos. A CBD apresenta obrigações específicas para identificar esses recursos, monitorar o estado deles e conservá-los tanto in situ quanto ex situ (Artigos 7 e 8). * A CBD tenta equilibrar os interesses do norte e do sul; basicamente, os países em desenvolvimento concordaram em preservar os seus materiais genéticos e torná-los disponíveis em troca da tecnologia dos países desenvolvidos e do financiamento do custo de conservação. Os países industrializados reconheceram formalmente o direito de soberania no controle pelas nações individuais sobre os seus recursos genéticos nos seus territórios. * A CBD reconhece a primazia da proteção da PI (Propriedade Industrial) como o fator limitante na liberação de tecnologia - "No caso de tecnologia objeto de patentes e outros direitos da PI, o acesso e a transferência da mesma vão ser proporcionados em termos que sejam consistentes com a proteção efetiva e adequada dos direitos da PI". A CBD foi fonte de várias controvérsias em determinadas providências, particularmente aquelas relacionadas com a transferência e o acesso da tecnologia para recursos genéticos. No que concerne a esse último aspecto, parece lógico que a maior parte dos países desenvolvidos vá querer ter acesso a recursos ainda inexplorados in situ, especialmente as indústrias farmacêuticas e de biotecnologia. A questão é sob que condições os países em desenvolvimento vão permitir acesso às suas fontes genéticas? 2
3 Legislação brasileira Lei de Propriedade Industrial Brasileira 9279/96: alguns anos após o encontro da Conferência do Rio, o Brasil passou a adotar a lei de PI moderna, que é, basicamente, condescendente com o TRIPs Contrariamente à maioria dos países em desenvolvimento, o Brasil escolheu proteger os microorganismos transgênicos via patentes. Essa lei de PI regula os direitos e as obrigações relativas aos direitos de propriedade industrial. O artigo 18 exclui a proteção de patentes para seres vivos, como um todo ou em parte, exceto microorganismos transgênicos que satisfazem os três requisitos para patenteabilidade - novidade, atividade inventiva e aplicação industrial. Um ano mais tarde, o Brasil promulgou a Lei 9456/97, que proporciona a proteção de variedades de plantas. Essa lei provou ser ineficiente em termos de proteção, pois propicia proteção meramente para o material reprodutor da planta e não para a própria variedade de planta. A Medida Provisória (um instrumento legal que tem força de lei) foi emitida em 23 de agosto de 2001, para regulamentar a proteção e o acesso aos recursos genéticos, ao conhecimento tradicional e à partilha de benefícios. O Artigo 2 estabelece que o acesso aos recursos genéticos brasileiros tem que ser autorizado pelo governo federal e contempla a partilha de benefícios no caso de uso e comercialização. Da mesma forma que para a proteção do conhecimento tradicional, o Artigo 8 da Medida Provisória estabelece que o estado reconhece o direito das comunidades e localidades indígenas para decidir a respeito do uso dos seus conhecimentos associados com os recursos genéticos. A disposição essencial é, no entanto, o Artigo 31, que requer que o requerente/detentor da patente indique a fonte biológica do material genético e o país de origem. Projeto de lei de Marina Silva para Acesso aos Recursos Genéticos Domésticos: Esse projeto de lei de Nº 306/95, datado de 5 de novembro de 1995, foi enviado ao Congresso em O Senado 3
4 votou o artigo de lei, mas o Congresso tem ainda que aprová-lo. De acordo com o texto do artigo de lei, o acesso aos recursos genéticos vai depender dos contratos entre as autoridades competentes designadas pela Comissão Executiva e a parte interessada. Proposta de uma Emenda Constitucional - PEC 618/98, datada de 21 de agosto de 1998: A comissão executiva encaminhou uma proposta ao Congresso que objetiva incluir "recursos genéticos" no Artigo 20 da Constituição Brasileira, que trata dos valores da União. A reivindicação é que os recursos genéticos deveriam ter um regime legal similar àquele que regula a riqueza mineral. Decreto Presidencial para a Política Nacional em Biodiversidade: O decreto 4.339, datado de 22 de agosto de 2002, institui os princípios e as orientações para a implementação de política nacional em biodiversidade (PNBio). O Decreto Presidencial cria várias estruturas distintas para a Política Nacional em Biodiversidade A reivindicação é que os recursos genéticos devam ter um regime legal similar àquele que regula a riqueza mineral O Brasil adotou determinadas posturas em relação à propriedade intelectual e à biotecnologia, que estão de acordo com alguns outros países em desenvolvimento. Essas posições podem ser resumidas como: 1) exigem que os requerentes mencionem o material da fonte biológica e o país de origem nos pedidos de patente, de modo a partilhar os benefícios da exploração comercial do produto com o Governo Brasileiro ou com uma comunidade indígena; 2) garantem que as obrigações no Acordo do TRIPs estão consistentes com a CBD; e 3) estabelecem proteção, que é aplicável ao conhecimento tradicional de comunidades locais e indígenas. Não obstante, o Brasil não eximiu os microorganismos de patenteabilidade, a despeito da controvérsia de que não há base científica para a distinção entre microorganismos e plantas e animais. 4
5 O Brasil deu sinais claros de que a biodiversidade é uma política prioritária no contexto da lei ambiental local. Nesse sentido, o Brasil tem desde então participado ativamente em seminários internacionais e em discussões com autoridades locais e comunidades indígenas em busca de soluções para a proteção adequada dos seus ricos recursos Plantas medicinais foram apropriadas e patenteadas no exterior No ano passado, 66 representantes de 40 países participaram de um seminário em Manaus, Brasil, para discutir o papel da propriedade intelectual na proteção da biodiversidade e do conhecimento tradicional. O tópico principal da discussão focalizou tornar as disposições ao Acordo do TRIPs compatíveis com aquelas da Convenção de Biodiversidade (CBD) assinadas por 168 países durante o encontro da Reunião de Cúpula sobre a Terra no Rio em Em dezembro de 2001, representantes de 25 grupos indígenas (ameríndios), incluindo 14 curandeiros, participaram de um encontro patrocinado pelo INPI na cidade de São Luís no norte do Brasil. O tema do encontro - Conhecimento e Ciência dos Índios Brasileiros e a Propriedade Industrial. As conclusões tiradas do encontro foram apresentadas em uma carta e encaminhadas para um comitê intergovernamental no WIPO, que foi criado para discutir as novas regras para a proteção de recursos genéticos e o conhecimento tradicional. Diversidade biológica e biopirataria A flora e a fauna das florestas tropicais brasileiras se estendem por toda a sua massa terrestre. Em vista do seu tamanho e localização geográfica, é muito difícil, e praticamente impossível, reprimir a perda considerável e irreversível de diversidade biológica. O Ministro do Meio Ambiente adotou projetos recentes para a proteção de 184 áreas importantes para a preservação da biodiversidade. Há 5
6 várias alegações de biopirataria, em particular, de plantas medicinais que foram apropriadas e patenteadas no exterior. Os exemplos dessas plantas são: * Espinheira Santa, planta usada para combater azia, patenteada no Japão; * Nó de cachorro, usada por índios como um remédio eficaz para dor de cabeça; essa substância foi patenteada no Japão; e * Curare, usada por tribos indígenas como veneno em pontas de flechas; nos Estados Unidos da América, a substância é comercializada por três empresas multinacionais como relaxantes musculares. As tentativas para monitorar, conservar e administrar os seus recursos de ambos o acesso perdulário doméstico e estrangeiro desregularizado provaram ser ineficientes, principalmente talvez, em virtude da legislação local A Medida Provisória não prevê sanções penais para esses crimes ambientais, mas meramente sanções administrativas contra os que infringem a lei ambiental. É inquestionável que as nações em desenvolvimento devam preservar e proteger as suas diversidades biológicas. A proteção da sua diversidade biológica é um direito de controle soberano de direito de todas as nações. No entanto, "recursos genéticos", na maior parte dos casos, têm sido interpretados de forma abrangente De uma perspectiva de patente, pode-se argumentar que os "recursos genéticos" são destituídos de valor econômico, até que cientistas ou pesquisadores identifiquem as características úteis e exploráveis do material, invistam em pesquisa e desenvolvimento e, por fim, produzam um produto comercial. O desenvolvimento comercial de um recurso genético pode consumir centenas de milhões de dólares e anos de esforços e ensaios. Conseqüentemente, é problemático equiparar diversidade biológica com recursos naturais, como petróleo, depósitos de gás natural, pedras preciosas e minerais, pois o valor de cada um desses recursos naturais é bem conhecido e o único investimento a ser feito é a extração industrial. 6
7 Proteção do conhecimento indígena A maioria dos países ainda não encontrou um meio adequado para proteger o conhecimento e os recursos indígenas, simplesmente porque esse conhecimento e os recursos associados que foram usados no passado, são atualmente usados e vão continuar a ser usados por clãs, tribos e povos indígenas. Conseqüentemente, o conhecimento e os recursos se tornaram disponíveis para o público e não são patenteáveis, devido à falta de novidade. Países, tais como a Venezuela, optaram por criar bases de dados para armazenar os seu conhecimento tradicional, a sua cultura e os seus recursos. Até essa data, mais de referências documentadas foram compiladas e dados suplementares, tais como fotografias e fitas de vídeo, estão também disponíveis, para ilustrar povos indígenas apresentando partes de plantas e animais e maneira na qual podem ser manipulados. Na ausência de direitos de propriedade intelectual efetivos, alguns países preferiram utilizar acordos contratuais. A título de exemplo, um grupo de povos indígenas, que são os detentores de um conhecimento ou recurso particular, formalizariam um contrato com terceiros, que irão explorar o conhecimento ou recurso indígena. Terceiros irão, obviamente, reembolsar a parte indígena com royalties, com base nos lucros resultantes. A maioria de nós tem conhecimento do acordo comercial entre a INBio da Costa Rica e o Merck. O compromisso da INBio é o de colaborar com a indústria privada para criar mecanismos que auxiliem na preservação das áreas de proteção da Costa Rica, enquanto que o Merck tem interesse na colaboração com a INBio, para obter amostras genéticas, incluindo plantas e insetos, para avaliar as aplicações farmacêuticas e agrícolas. Foi acordado que as invenções originárias da colaboração de pesquisa seriam de propriedade do Merck e que a INBio receberia royalties das vendas por sua contribuição a qualquer invenção
8 Na ausência de direitos de propriedade intelectual efetivos, alguns países preferiram utilizar acordos contratuais Na África do Sul, o Instituto Botânico Nacional fez um acordo similar com a Ball Horticulture, uma empresa norte-americana. O acordo estipulou que as espécies de plantas locais seriam oferecidas à Ball Horticulture para experimentos. Há um amplo consenso de que, até que se encontre uma legislação adequada para a proteção dos direitos da PI dos povos indígenas, o melhor modo para proteger o conhecimento ou recurso deveria ser via contratos ou acordos cooperativos entre os povos indígenas ou o governo e a terceiros interessados na exploração do conhecimento ou recurso particular. Associação Brasileira da Propriedade Intelectual A Comissão de Biotecnologia da Associação Brasileira da Propriedade Intelectual vem desempenhando um papel ativo desde 1999 nas discussões de acesso a recursos genéticos e ao conhecimento tradicional. Este ano, a Comissão examinou o conteúdo da carta resultante do encontro com os índios brasileiros em São Luís. A Comissão debateu, ainda, um sistema adequado para a proteção de conhecimento tradicional e avaliou o segmento de biotecnologia do texto da minuta da FTAA. As conclusões já foram incluídas no mesmo. Em junho deste ano, representantes governamentais participaram da terceira sessão do Comitê Intergovernamental de Propriedade Intelectual e Recursos Genéticos, Conhecimento Tradicional e Folclore, durante a qual realçaram seis pontos básicos. 1) As bases de dados para identificação de conhecimento tradicional e dos recursos genéticos deveria ser utilizadas cuidadosamente, devido à biopirataria. 2) Um sistema "sui generis" para a proteção de conhecimento tradicional deveria ter uma base holística. 8
9 3) O novo conceito de "domínio público" deveria ser baseado nas experiências de outros países, tais como China, Índia, Venezuela e Panamá. 4) O conhecimento tradicional deveria abranger todos os tipos de comunidades e não apenas as indígenas. 5) O Brasil ainda não incluiu "folclore" e "conhecimento tradicional" sob o mesmo conceito. 6) A ausência de uma definição para o termo "conhecimento tradicional" não deveria ser um obstáculo para a implementação de um sistema "Sui Generis" (consultar CUP, WTO, TRIPs, que também não definem esse conceito de "invenção"). A opinião da Comissão de Biotecnologia no aspecto mencionado acima é que a proteção do conhecimento tradicional deveria residir em medidas defensivas, isto é, usando bases de dados, e proporcionando uma distribuição eqüitativa dos benefícios, quando essas bases de dados forem ser usadas comercialmente. Nesse meio tempo, os estudos e as discussões sobre a preservação e a proteção da biodiversidade brasileira estão sendo feitos intensamente pelos representantes governamentais e aqueles que militam na área de patentes. O Ministro do Meio Ambiente é favorável ao planejamento de leis específicas para o combate a biopirataria no contexto da lei ambiental e o INPI e as associações de PI estão determinados a encontrar as melhores formas de proteção da biodiversidade, do conhecimento tradicional e dos recursos associados. Sobre o Autor: Rana Gosain é um Agente da PI do Brasil registrado e detém uma qualificação de pós-graduado em propriedade intelectual. Trabalha no campo da propriedade intelectual por mais de 20 anos e é especialista na área de patentes e desenhos industriais. Já foi Presidente da Comissão de Patentes na Associação Brasileira da Propriedade Intelectual, da qual continua a ser um membro ativo. As suas áreas de interesse e prática específicas são de produtos farmacêuticos e biotecnologia. Sobre a Empresa: 9
10 Daniel Advogados - Em 1959, Percy Daniel fundou a Daniel & Cia., recebendo posteriormente como sócios o seu irmão, a sua irmã e o seu filho Denis Allan Daniel, que se tornou o sócio-sênior em Em 2002, para atender inteiramente as necessidades legais dos seus clientes, a firma mudou o seu nome corporativo para Daniel Advogados, para refletir a ampliação das suas áreas de prática além da propriedade intelectual, para abranger entretenimento, antitruste, propaganda falsa, nomes de domínio, arbítrio da proteção ao consumidor e franquia. 10
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