A Governança Global da Propriedade Intelectual e os Recursos Biológicos
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- Célia Fragoso de Lacerda
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2 A Governança Global da Propriedade Intelectual e os Recursos Biológicos André de Mello e Souza Diretoria de Estudos e Relações Econômicas e Políticas Internacionais (DINTE) Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)
3 Principais Regimes Internacionais de PI com Implicações para o Uso e a Propriedade da Biotecnologia Acordo sobre Aspectos de Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados a Comércio (TRIPS); Convenção Internacional para a Proteção de Novas Variedades de Plantas (UPOV); Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB); Tratado Internacional sobre Recursos Genéticos para a Alimentação e Agricultura da FAO (TIRFAA-FAO)
4 Tabela 1. Principais regimes internacionais de biotecnologias Regime UPOV Ano em que entrou em vigor Número de países membros Foco temático Mecanismo de enforcement Conflito com outros acordos ou tratados Agricultura Nacional CDB 1978 UPOV Agricultura Nacional CDB 1991 CDB Meioambiente Não existente TRIPS, UPOV TRIPS Comércio Internaciona l (OMC) TIRFAA Agricultura Contratos entre membros envolvidos CDB, TIRFAA TRIPS, UPOV
5 União Internacional para a Proteção de Novas Variedades de Plantas (UPOV), 1978 O objetivo da Convenção é proteger novas variedades vegetais por direitos de propriedade intelectual sui generis concedidos aos reprodutores de plantas... e, ao fazê-lo, encorajar o desenvolvimento dessas variedades Para os direitos dos reprodutores serem concedidos, as novas variedades vegetais devem satisfazer dois critérios estabelecidos pela Ata de 1978 da Convenção UPOV: 1. As variedades vegetais têm de apresentar uniformidade, não apresentando maior variação nas suas características únicas e relevantes do que seria esperado; 2. As características únicas e relevantes da nova variedade vegetal têm de ser estáveis, de forma que a planta continue a apresentá-los depois de repetidos ciclos de propagação (UPOV, 1978)
6 UPOV 1978 Exceção que permite replantio do agricultor Direitos sobre variedades não se aplicam a atos praticados em âmbito privado e para propósitos não comerciais, como os cultivos de subsistência Exceção que permite reprodutores de utilizar variedades protegidas para a criação de novas variedades vegetais sem a permissão do detentor dos direitos Proíbe dupla proteção Permite que cada país-membro defina quais espécies de plantas são protegidas e quais são excluídas de qualquer forma de proteção
7 União Internacional para a Proteção de Novas Variedades de Plantas (UPOV), 1991 A partir da Ata de 1991 da Convenção UPOV, os requisitos de novidade foram acrescentados aos necessários para concessão da proteção de variedades vegetais: 3. A variedade vegetal tem de ser nova, o que significa que ela não pode ter sido comercializada previamente; 4. A variedade vegetal tem de ser distinta de outras variedades conhecidas;
8 UPOV 1991 Expande a proteção dos direitos dos reprodutores sobre: (1) a produção e reprodução/multiplicação dos vegetais, seu acondicionamento com propósito de propagação, sua oferta para venda, sua venda ou outros tipos de marketing, suas exportações, importações e sua armazenagem para outros propósitos; (2) o material fruto da colheita, ou a planta inteira ou suas partes; (3) os produtos desenvolvidos diretamente a partir do material da colheita das variedades protegidas como, por exemplo, óleo de soja e milho; (4) a variedade cuja produção requer o uso repetido de uma ou mais variedades protegidas; (5) a variedade essencialmente derivada de outra, protegida ou não claramente distinguível das protegidas
9 UPOV 1991 Torna exceção do agricultor facultativa... enquanto a exceção do reprodutor é obrigatória Estende prazo de proteção de 15 para 20 anos para culturas anuais ou temporárias; e de 18 para 25 anos para culturas perenes, no mínimo, sendo esses prazos contados a partir da data de concessão dos direitos Proibição à dupla proteção foi abolida, Países-membros não podem mais excluir determinadas culturas da proteção: todas as espécies de todos os gêneros devem estar sujeitas às prescrições da Convenção UPOV (UPOV, 1991) Maior parte dos países em desenvolvimento não aderem à UPOV
10 A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) Associa a conservação e o uso sustentável da biodiversidade do planeta à proteção do conhecimento tradicional Artigo 15(5) da Convenção estabelece que o acesso aos recursos genéticos deve estar sujeito ao consentimento prévio fundamentado da Parte Contratante provedora desses recursos Artigo 15(1) reconhece os direitos soberanos dos Estados sobre seus recursos naturais e que a autoridade para determinar o acesso a recursos genéticos pertence aos governos nacionais e está sujeita à legislação nacional Artigo 15(7) estabelece que... cada Parte Contratante deve adotar medidas legislativas, administrativas ou políticas (...) para compartilhar de forma justa e eqüitativa os resultados da pesquisa e do desenvolvimento de recursos genéticos e os benefícios derivados de sua utilização comercial e de outra natureza com a Parte Contratante provedora desses recursos. Essa partilha deve dar-se de comum acordo
11 A CDB Não foi ratificada pelos EUA COP de 2010 em Nagoya aprovou protocolo segundo o qual os países têm soberania sobre os recursos genéticos de sua biodiversidade e que o acesso a essa biodiversidade só poderá ser feito com o consentimento desses países Além disso, caso o acesso resulte na elaboração de um produto, os lucros de sua produção e comercialização serão obrigatoriamente compartilhados com o país de origem Contudo, o Protocolo não garantiu o acesso facilitado à justiça nem a negação do patenteamento no exterior em casos de descumprimento, conforme almejavam muitos países em desenvolvimento Como resultado, tal anuência continua sendo exigida somente pelas leis nacionais, e a repartição de benefícios é efetuada caso a caso
12 O Acordo sobre os Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (TRIPS) Estabelece padrões mínimos para proteção dos direitos de propriedade intelectual, os quais estendem e especificam obrigações relativas ao escopo, objeto e duração dessa proteção Artigo 27 3(b) determina que os membros podem considerar como não patenteáveis:... plantas e animais, exceto microorganismos e processos essencialmente biológicos para a produção de plantas ou animais, excetuando-se os processos não-biológicos e microbiológicos. Não obstante, os Membros concederão proteção a variedades vegetais, seja por meio de patentes, seja por meio de um sistema sui generis eficaz, seja por uma combinação de ambos. O disposto neste subparágrafo será revisto quatro anos após a entrada em vigor do Acordo Constitutivo da OMC Não houve acordo quanto ao significado de revisão : Países desenvolvidos tenham sustentado que se tratava de uma revisão de implementação Países em desenvolvimento consideravam que a revisão deveria abrir a possibilidade de emendar o próprio Artigo 27.3(b)
13 Inconsistências entre TRIPS e CDB? TRIPS não exige cumprimento de obrigações da CDB: consentimento prévio fundamentado da Parte Contratante provedora de material genético ou conhecimentos tradicionais associados; repartição justa e eqüitativa com essa Parte dos benefícios derivados da utilização dos mesmos Países em desenvolvimento: emenda de TRIPS Países desenvolvidos: não há inconsistência; obrigações da CDB podem ser incluídas em leis nacionais
14 O Tratado Internacional sobre Recursos Fitogenéticos para Agricultura e Alimentação (TIRFAA-FAO) Único acordo multilateral que contém cláusulas legalmente vinculantes com relação aos recursos genéticos, embora restrito às plantas Busca evitar os altos custos de transação resultantes de intercâmbios bilaterais por meio do estabelecimento de um sistema multilateral que facilite o acesso e repartição de benefícios dos recursos genéticos Artigo 12.3 impede recebedores de reivindicar quaisquer direitos, sejam eles de propriedade intelectual ou outros, que limitem o acesso facilitado aos recursos fitogenéticos para alimentação e agricultura, ou suas partes e componentes genéticos, na forma recebida do sistema multilateral Contudo, tratado não visa burlar as cláusulas de TRIPS, nem proíbe o patenteamento dos recursos fitogenéticos de uma forma geral, mas somente daqueles recebidos do sistema multilateral, e na forma dele recebida Usa muitos termos ambíguos
15 Tabela 2 Adesão dos países selecionados em regimes internacionais de biotecnologia TRIPS 1 UPOV UPOV CDB 3 Brasil 01/01/ /04/ /02/1994 TIRFAA- FAO Assinou e ratificou em 22/05/2006 China 11/12/ /04/ /01/1993 Não assinou EUA 01/01/ /11/ /02/ /06/1993 Assinaram em 01/11/2002 Índia 01/01/1995 Não é membro 18/02/1994 Assinou e ratificou em 10/06/2002 Japão 01/01/ /09/ /12/ /05/1993 Não assinou UE 01/01/ /07/ /07/ /12/1993 Assinou em 06/06/2002 Fonte: Elaborado pelo autor com base em WTO (2008) para TRIPS; UPOV (2011) para UPOV; CBD (2011) para CDB; e FAO (2011) para TIRFAA-FAO. Notas: 1. Data em que o país se tornou membro da OMC; 2. Data em que o país se tornou membro da UPOV; 3. Data de ratificação (ou aprovação) da CDB, exceto para os EUA que apresenta a data de assinatura da mesma.
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